sexta-feira, abril 10, 2009

CARLÃO NA FRENTE DE BATALHA

Carlos Lopes, ex-Dorsal Atlântica e atual Mustang, solta de uma só vez CD, revista e romance – tudo independente

Um exército de um homem só. Assim pode se definir o músico, jornalista e agitador cultural carioca Carlos Lopes. Mais conhecido como o líder da pioneira banda de heavy metal Dorsal Atlântica (já extinta), o cabeludo que se amarra em roupas vermelhas está lançando, de uma só tacada, o quarto CD da sua atual banda – Mustang –, uma revista e um livro.

Tudo na base da independência, sem pedir licença. Verborrágico, com mil idéias na cabeça ao mesmo tempo, seria fácil achar que ele está sem foco. Ledo engano. Carlos sabe exatamente o que quer e o que fala.

“Hoje em dia, quando você lê jornal, lê os blogs, você vê que o nível de informação aumentou de uma forma absurda. Hoje, ninguém sabe mais para onde a indústria cultural está indo, o que vai acontecer. Ao mesmo tempo, tudo o que se lança fica pulverizado demais. Aí começa a imperar o lugar comum: CD acabou, revista acabou, tudo acabou. O resultado é que público de rock está mais estereotipado e conservador de que nunca, as pessoas gostam de viver dentro dos seus grupos, elas precisam pertencer, elas lutam para cair em zonas de conforto. Conforme tua visão vai ficando mais crítica, você começa a ficar mais independente e vê como todo mundo é conservador. Cara, estamos num século novo com os mesmos dilemas do século passado! As gerações novas tem um continuísmo horrível. Aí, ou tu vira funcionário público ou acredita na sua arte“.

Como se vê, o rapaz não está nessa para brincadeira e sua escolha é clara. Foi acreditando em si mesmo e na sua arte que ele fundou, há pouco mais de três anos, uma das revistas eletrônicas mais interessantes da internet: O Martelo (www.omartelo.com).

Abordando temas diversos como rock, soul music, contracultura, teorias conspiratórias, movimentos sociais, arte pop e de vanguarda, o site chega a gora a sua primeira edição “física“, na forma de uma revista que traz encartado, à moda da desativada Outracoisa (a revista do Lobão), o novo CD da sua banda, a Mustang: Santa Fé.

“Se dizem que o CD está morrendo, por que não lançá-lo juntamente com uma revista, que também dizem que está morrendo? Dois mortos enterrados em um só caixão! Beleza!“, brinca.

Os Jotas – Em paralelo, Carlos ainda encontrou fôlego para lançar seu terceiro livro, o romance O segredo J - Conspiração Herodes. Fascinado desde criança por teorias conspiratórias, ele conta que o livro é fruto de uma pesquisa de cinco anos.

A partir da constatação de que tanto os mortos mais ilustres do rock quanto os da política tinham seus nomes sempre iniciados com ”J”, Carlos juntou aí suas duas maiores paixões: música e e as tais teorias.

”Aos olhos dos conservadores, a coisa da contracultura tava ficando muito grande. Aí começaram ser eliminados todos aqueles rockstars com o nome J. Aí aqui no Brasil se foram Juscelino, Jango e Carlos Lacerda. Os três morreram num intervalo de tempo muito curto. Isso me deu um clique. Parti então daquela coisa tropicalista de pegar uma coisa estrangeira e adaptar pro Brasil. E quanto mais eu cavoucava, mais fazia sentido, pois todos os exames de legistas tem falhas: Marilyn, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Brian Jones, JFK, Lennon... Minha teoria é que, na cabeça dos conspiradores, para passar a uma próxima fase da história, você tem que eliminar o passado”, descreve.

Na revista, boas entrevistas exclusivas com Pitty, John Sinclair (fundador do partido dos Panteras Brancas), Kika Seixas, Marcos Motossierra e matérias sobre Otis Redding e Paul Weller, entre outros.

Santa Fé + revista O Martelo
Mustang
Independente
R$ 9,99
www.omartelo.com

O segredo J
Carlos Lopes
Oficina de Livros
Preço não divulgado
carloslopes68@gmail.com


Santa Fé - Comentário
Rápido e caceteiro: Carlos Lopes tem boas ideias, letras interessantes e é um compositor prolífico. Em Santa Fé, ele parte do seu background hard rock / metal nas direções mais diversas dentro do universo rock 'n' roll. O CD tem country, blues, balada, mod, glam, soul e punk. OK. Isso, porém, não disfarça sua maior deficência: a falta de um parceiro criativo que seja produtor / arranjador ou um músico mais refinado mesmo - não que Lopes seja um cara tosco. Mas alguém que pegasse suas composições e criasse arranjos precisos e podasse os excessos faria toda a diferença no resultado final. Do jeito que está, é um bom CD de rock gravado ao vivo, sem grandes pretensões - mas com todas as pretensões do mundo. Se é que vocês me entendem.

LEIA MAIS TRECHOS DA ENTREVISTA DE CARLOS LOPES

"Já vendi a primeira edição toda do livro. Agora em maio vou para a Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu. Você tem que continuar acreditando que você pode fazer arte independente. Vou fazer meu trabalho de guerrilheiro. Quando fui fazer o disco, foi o mesmo chororô. "Quer saber de uma coisa", eu pensei, "eu já to lançando um livro mesmo, vou lançar tudo junto, CD, livro, revista..."

"Outro dia eu li que nos EUA só 5% da população lê livros. Cara, eu tenho que voltar as minhas próprias raízes, buscar minha própria verdade. Sabe o Lula quando negou a crise? Eu fiz a mesma coisa: eu não tenho crise de mercado, não tenho crise de criatividade, nem de coragem. O meu site eu faço todo sozinho, com alguns colaboradores. O processo me lembra muito quando eu fiz meu primeiro zine, recortando revista e colando. A maioria tá acovardada demais, ficam querendo agradar."

"Eu tenho horror de Led Zeppelin, Deep Purple... Isso é bom pra dar aula de guitarra."

"Eu nao estou a fim de fazer parte de grupo, quem vai ver a gente, pode ser qualquer um. Mas eu não gosto de ficar me explicando."

"O CD foi todo composto a partir de de dois casos. O primeiro foi a morte de minha mãe por mal de alzheimer. Aquilo me marcou demais. Logo depois embarquei num relacionamento com uma ex-namorada, quando eu descobri que ela tava viciada em cocaína. Quando caí nisso, eu compus essse disco inteiro. Ele fala sobre duas mortes muito sérias de duas mulheres. Na verdade, tudo é sempre sobre a mulher, que pode ser teu anjo e teu demonio, teu céu e teu inferno, e você transforma tudo em arte e usa o ouvido dos outros como terapia."

"Você rala e nada acontece. Aí tem uma hora que as coisas começam a acontecer. Você tem que acreditar no poder da tua locomoçao, da sua comunicação. Não tem que seguir a história de ninguem. Aí você bebe e cheira para se alienar da dor. Mas isso é errado, você não pode se alienar da tua dor. Você pode transforma-la em arte."

"Vivemos em um marasmo que é vendido como lindo. Você tem que depurar (esse monte de informação) senão fica maluco. Então foquei nas coisas básicas: amor pela sua mãe, amor por um amigo, amor por uma mulher."

"Eu gosto de Beyonce, cara! Não tenho preconceito."

"A gente devia estar sendo tropicalista o tempo inteiro, até o talo."

10 comentários:

Franchico disse...

Utilidade pública.

Algum maluco muito desocupado - para nossa sorte - pegou o livro 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer e está disponibilizando tudo para baixar.

A lista vai dos anos 50 até uns 2 anos atrás e muita coisa ainda está por ser adicionada.

Mas já tem uma porrada de coisas legais para baixar. A dica foi do blog Ilustrada no Pop, da Folha.

O link é esse:

http://nobrasil.org/1001-discos-para-ouvir-antes-de-morrer/

Fábio Cascadura disse...

Apesar de não digerir bem as músicas dos discos do Carlos Vandalo, dentro do seu projeto Mustang, admiro muito sua trajetória.
Ele já escreveu seu nome na história do rock brasileiro com o Dorsal e ainda assim continua, com coragem, emitindo sua visão das coisas através da arte, de modo crítico e sem hipocrisía.
Acho que essa iniciativa dele, corajosa, estimula mais ainda a nós, artístas, a sairmos da zona de conforto e partirmos para uma ação mais agressiva dentro do mercado de música.
Vale e vou conferir.

Marcos Rodrigues disse...

"A gente devia estar sendo tropicalista o tempo inteiro, até o talo."

Bullshit.

Franchico disse...

Aproveitando o comentário do companheiro Fábio, eu diria que o que o Lopes precisa mesmo é de um andré t. para chamar de seu.

;-)

Marcão, dava tudo - menos beijo na boca, claro - para assistir a um debate entre vc e Carlão. Ia ser muito divertido. Pelo menos para a assistência, of course....

Marcos Rodrigues disse...

Não consigo me ver debatendo com o Carlos, Chicão. São mundos paralelos. Mas não é nada grave. Ele fala besteiras, eu também falo. O presidente Lula também.

Anônimo disse...

o rock caetaneou

Franchico disse...

Não o Loco.

Nei Bahia disse...

Carlos é um cara esforçado, batalhador...mais...só isso.
Falta talento e as vezes a gente envolvido na história da tal "atitude rock", confunde as coisas.

A fase é velha mais perfeita:
de boa vontade o inferno tá lotado!!

osvaldo disse...

Hahahaha. Nei Bahia e Marquinhos estão com a macaca. Respeito o esforço e acredito na sinceridade de Carlos Vandalo , mas como disse Nei, as vezes só isto não basta. Em todo caso boa sorte a louvavel iniciativa.

Anônimo disse...

Sinceramente,
prefiro bandas como a mustang, baranga, madame saatan e carro bomba que levam o rock adiante do que a maioria das bandas do hype alternativo que são "queridinhas" de muita gente aí
cláudio "ac/dc" moreira