sábado, janeiro 31, 2009

CHE - UMA VIDA TRAÇO A TRAÇO

Chega ao Brasil a clássica – e também trágica – biografia em HQ do mito

Com quantas narrativas se constrói um mito? No caso do líder revolucionário, guerrilheiro e ícone pop Ernesto Che Guevara, estas nunca parecem bastar. Todos parecem ter sua versão sobre a vida e as lutas do polêmico médico que se tornou combatente em prol dos menos favorecidos.

No calor do lançamento do épico cinematográfico em duas partes Che, de Steven Soderbergh, com Benício Del Toro no papel-título (a primeira parte estreia em 20 de fevereiro), a editora Conrad soltou nas livrarias a lendária biografia em HQ Che - Os últimos dias de um herói, do argentino Hector Oesterheld (roteiro) e dos uruguaios Alberto e Enrique Breccia (desenhos).

Mas o que uma mera HQ teria a acrescentar ao mito já gigantesco do Ernesto? Isso o leitor é quem decidirá ao ler esta obra, que, por si só, tem uma história tão interessante quanto a do seu próprio biografado.

Perseguidos – Lançada na Argentina apenas três meses após a morte do guerrilheiro nas selvas bolivianas em 1968, a HQ La Vida Del Che (título original) foi um sucesso instantâneo, vendendo de cara dezenas de milhares de álbuns, segundo o prefácio de Rogério de Campos.

Por conta disso, atribui-se à obra um papel importante na construção do próprio mito do Che como herói dos oprimidos.

Esse sucesso todo, porém, foi também a ruína do escritor Oesterheld, um dos maiores nomes das HQs latino-americanas e autor do clássico álbum El Eternauta, em parceria com o desenhista Francisco Solano López – curiosamente, um descendente do general paraguaio.

No início da década de 70, começaram as perseguições da ditadura militar argentina, com a editora original sendo invadida e os originais da obra confiscados e destruídos.

Os leitores, com medo da repressão, destroem os exemplares que têm em casa e começam as intimidações aos autores e suas famílias.

Em 1976, os militares assumem o poder total na Argentina, e, aconselhados pelo secretário de estado norte-americano Henry Kissinger, cujo governo apoiava as ditaduras de direita, resolvem varrer do país todos os comunistas de uma vez.

Massacrados – Oesterheld, claro, estava na lista dos homens fardados. Só que, diferente dos seus similares brasileiros, os militares argentinos não se limitavam a capturar seus adversários. Eles também queriam exterminar com suas famílias.

Resultado: entre junho de 1976 e dezembro de 1977, a ditadura argentina massacrou Oesterheld e suas filhas Beatriz, Diana (grávida), Marina (também grávida) e Estella. Detalhe: as três últimas desapareceram com os respectivos maridos.

Em 1979, o escritor italiano Alberto Ongaro entrevistou um militar argentino e perguntou a ele do destino de Oesterheld. A surreal resposta que ele ouviu fica numa bizarra interseção entre o cruel e o elogio: “Demos um sumiço nele por ter feito a mais bela história do Che que já foi escrita“. Álbum para ler e guardar.

Che - Os últimos dias de um herói
Osterheld / Breccia / Breccia
Conrad
96 p . | R$ 34,90
www.conradeditora.com.br

quinta-feira, janeiro 22, 2009

ARENA 1 2009 APOSTA NA DIVERSIDADE DE ESTILOS

Rumo à consolidação, o festival anual de rock Arena 1 chega a quarta edição batendo ponto no concorrido verão baiano. Gratuito, o evento aposta na diversidade de propostas ao reunir seis bandas do circuito alternativo local neste sábado e domingo, ao cair da tarde.

No primeiro dia, se apresentam Aguarraz, Capitão Parafina & Os Haoles e Neto Lobo & A Cacimba. Já no domingo, sobem ao palco armado na Arena do Jardim dos Namorados (Pituba) as bandas Lampirônicos, Intra e Mortícia.

Inicialmente criado como um veículo de divulgação da banda Meteora, do ex-namorado de Ivete Sangalo, Fábio Martins, o festival vem ganhando corpo e importância nos últimos anos ao oferecer ao público apresentações gratuitas de bandas significativas do cenário pop rock com boa estrutura de som, palco e iluminação.

Se, em anos passados, o Arena 1 apostou em nomes consagrados do rock baiano como Cascadura e Retrofoguetes, em 2009, ele abre espaço para nomes mais recentes, mas em plena ascenção junto ao público rocker / alternativo, como Capitão Parafina & Os Haoles, Aguarraz, Mortícia e Intra.

Os outros grupos, como Lampirônicos e Neto Lobo & A Cacimba já têm público certo entre os fãs de uma boa mistureba pop regional.

No primeiro dia, vale conferir especialmente o carisma do trio de surf music e rock ‘n‘ roll Capitão Parafina & Os Haoles. Além de fazerem um show muito leve e dançante (perfeito para uma noite de verão), ainda divertem com os chistes do vocalista, o Capitão Parafina.

Já a banda Aguarraz, que lançou há pouco seu bem-produzido primeiro CD, tem no apelo pop e na voz da cantora Roberta Simões seus trunfos para conquistar o público. Neto Lobo & A Cacimba, por outro lado, deverá fazer subir a poeira ao botar o povo para dançar seu som suingado, aparentado do forró.

No segundo dia, os Lampirônicos se reencontram com seu numeroso público, fã do seu som pop-regionalista-experimental. A Mortícia, ainda pouco conhecida, traz sua MPB (Música Pesada e Barulhenta) com as irônicas letras do vocalista Leonardo Leão. E a Intra mostra seu som com influências de hardcore melódico, mas sem se limitar ao estilo.


ARENA 1 2009
Sábado e domingo, 18 horas
Com as bandas Aguarraz, Capitão Parafina & Os Haoles, Neto Lobo & A Cacimba (Sábado)
Lampirônicos, Intra e Mortícia (Domingo)
Arena do Jardim dos Namorados, Av. Otávio Mangabeira, Pituba
Entrada gratuita | Doação de um quilo de alimento não-perecível sugerida

quarta-feira, janeiro 21, 2009

O CLUBE DA GUITARRINHA



Instrumento-símbolo do que de melhor já se produziu em termos de música carnavalesca na Bahia, a guitarra baiana sobrevive hoje graças a abnegação da família Macêdo (herdeira de Osmar, um dos dois criadores da guitarrinha, ao lado de Dodô) e dos seus muitos admiradores e seguidores.

Para reunir essa galera e ajudar a divulgar o instrumento, Aroldo, um dos irmãos Macêdo, criou o Clube da Guitarra Baiana, promovendo, desde 2004, diversos encontros itinerantes.

No clima do verão, portanto, nada mais agradável do que testemunhar mais uma reunião do Clube, hoje e na próxima quarta-feira (28), no Teatro Sesc Senac Pelourinho.

Estarão lá músicos de diversas vertentes, como Morotó Slim (da banda Retrofoguetes), Fred Menendez (do cenário da música instrumental), Robertinho Barreto (da banda Lampirônicos) e outros, além do clã Macêdo em peso, claro.

Eventos como esse são importantes até para se demonstrar – aos jovens e eventuais turistas – que a música de carnaval feita na Bahia já foi uma das mais criativas do mundo (com ênfase no “já foi“).

"É importante mostrar que a guitarra baiana está viva", afirma Aroldo, certo de que, se na avenida, o espaço para ela hoje é pouco, no coração do povo ele não tem tamanho.

Clube da Guitarra Baiana Com Aroldo Macêdo, Armandinho Macêdo, Robertinho Barreto, Morotó Slim, Fred Menendez, Gabriel Macêdo e Betinho Macêdo
Hoje e dia 28, as 19 horas
Teatro do Sesc Senac / Pelourinho (3324-4520)
Largo do Pelourinho,19, Centro Histórico
R$ 5

segunda-feira, janeiro 19, 2009

40 ANOS DESDE A DECOLAGEM DO ZEPPELIN



Até 1969, um preceito roqueiro dividia a humanidade em dois tipos de pessoas: aqueles que preferiam os Beatles e aqueles que preferiam os Rolling Stones. A partir de 12 de janeiro de 1969, porém, um terceiro elemento foi inserido nessa classificação: aqueles que passaram a preferir o Led Zeppelin.

A superlativa banda de Jimmy Page (guitarra), Robert Plant (voz e gaita), John Paul Jones (baixo e teclados) e John Bonzo Bonham (bateria), formada em agosto de 1968, lançou seu primeiro álbum, auto-intitulado, exatos 40 anos atrás, cravando mais uma pequena / grande revolução em um período histórico coalhado de revoluções.

Criada pelo próprio Page e seu empresário, o "paquidérmico Peter" Grant, o Led Zeppelin foi, desde o primeiro instante, a banda que viria a cristalizar deforma definitiva todo um estilo de se fazer rock: pesado, viril, olímpico, épico, solar, espontâneo e absolutamente arrebatador. Depois do Led, nada foi como antes no mundo roqueiro.

Tantas qualidades são resultado da química – ou melhor: da mágica – perfeita que surgiu do encontro desses quatro músicos abençoados com talentos individuais muito, muito acima da média. Quando se juntaram em uma banda, esses talentos atingiram um patamar que se revelou ainda maior que a mera soma dos quatro.

Na América do Norte, grupos como Blue Cheer, Iron Butterfly e Vanilla Fudge já praticavam o cruzamento de blues primevo com rock e psicodelia que viria a caracterizar o surgimento do chamado hard rock.

Mas nenhum deles, nem mesmo os Yardbirds, super banda inglesa antecessora direta do Zeppelin (saiba mais no texto ao lado) e que revelou os talentos de Eric Clapton, Jeff Beck e do próprio Jimmy Page, acertou tanto no manejo desses ingredientes (blues, rock, psicodelia) quanto o este quarteto. Até por que eles não se limitaram ao blues e ao rock psicodélico.

Chiaroscuro – Ao fundar o Led Zeppelin, Jimmy Page, na realidade, estava realmente querendo fazer algo totalmente novo, adicionando violões folk de acento celta, um certo misticismo e dinâmicas diferenciadas no andamento das músicas.

Como conta o biógrafo Stephen Davis no seu livro Hammer of the Gods: The Led Zeppelin Saga: “Jimmy explicou a Robert sua idéia para um novo tipo de ‘música pesada‘, com toques mais leves e lentos, música com dinâmica, luz e sombra – chiaroscuro. Falaram de uma banda na qual o cantor e o guitarrista teriam a mesma importância“.

Não que a agitadíssima Swingin' London da época já não estivesse acostumada à ousadias estético-musicais: bandas como Pink Floyd e Cream já estavam estabelecidas na época. Mas o que o Led Zeppelin trouxe para o cenário foi, não apenas um peso a mais, uma subida de tom a mais, mas também um imaginário criativo como ainda não se havia visto / ouvido.

A começar pelas apresentações ao vivo. Jimmy Page, o gênio de cabelos cacheados e múltiplos recursos, não se limitava a tocar a guitarra apenas com as mãos. Em músicas como Dazed and Confused, sacava de um arco de violoncelo para criar efeitos de fritar o cérebro até de quem estava, digamos, sóbrio na platéia. Em outras, trazia para o palco um theremin, exótico – e até então, pouco conhecido – instrumento eletrônico russo criado em 1919 por um cientista maluco.

Robert Plant, com sua pinta de Thor, o deus nórdico do trovão, era o vocalista de rock definitivo: seu vozeirão parecia capaz tanto de invocar tempestades, quanto acalmar dragões mitológicos.

John Paul Jones era o músico de formação clássica e sensibilidade melódica irrepreensível, louco por blues e para demonstrar suas habilidades ao vivo.

Já Bonzo era o troglodita de baquetas em punho, dono de uma pancada brutal, mas tanbém de técnica e precisão igualmente perfeitas.

Membros foram escolhidos a dedo entre os melhores



Em meados de 1968, James Patrick Page era um jovem e promissor talento musical. Como um dos session men (músicos de estúdio) mais requisitados da Grã-Bretanha, estava acostumado a participar de gravações com os nomes mais quentes do pop britânico da época, como Donovan, P.J. Proby, Lulu e até da clássica banda The Kinks, entre vários outros.

Além disso, ainda havia ingressado (em 1966), no The Yardbirds, sucedendo uma nobre linhagem de guitarristas que haviam passado pela banda: ninguém menos que Eric Clapton (que saiu para integrar o Cream) e Jeff Beck (que resolveu formar seu próprio grupo).

Apesar de tudo isso, Jimmy acabou mesmo foi com um tremendo abacaxi nas mãos: em julho de 68, a banda acabou definitivamente, após uma série de perrengues, deixando um contrato para uma turnê na Escandinávia ainda em aberto. Sem poder contar com os antigos companheiros, Jimmy, encorajado pelo empresário dos ‘Birds, Peter Grant, decidiu ir à cata de novos músicos para integrar o The New Yardbirds.

O baixista não foi problema. John Paul Jones era um velho conhecido de Page nos estúdios da Inglaterra e já o havia avisado, durante as gravações do álbum Hurdy Gurdy Man, de Donovan, que estaria dentro de qualquer projeto que Page encabeçasse – caso este último o convidasse.

Para cantar, Page inicialmente queria o jovem Terry Reid, então um nome promissor no cenário pop inglês. Este declinou do convite, pois já tinha uma turnê, abrindo para os Rolling Stones, acertada para aqueles dias. Reid sugeriu então a Page que procurasse um cantor conterrâneo seu (da cidade industrial de Birmingham), Robert Plant, que cantava no grupo Band of Joy.

(Em tempo: pouco depois, Reid viria a recusar mais um convite para cantar numa banda: Deep Purple. Taí um sujeito muito azarado).

Page e Grant foram então a Birmingham, assistir ao show da Band of Joy. Conta Stephen Davis: “Foram recebidos na porta traseira por um ‘cara grande e com uma juba na cabeça‘ que pensaram ser um segurança. Mas quando o viram no palco com seu caftã mouro e colar de contas, cantando Somebody to Love com um soprano blueseiro de sereia, olharam um para o outro, aquele olhar. ‘Só ouvir aquilo mexeu com os meus nervos‘, Page diria mais tarde.“

Depois que Page ofereceu mundos e fundos a Plant, este caiu na conversa macia do primeiro e aceitou entrar na banda.

Plant, excitadíssimo com a possibilidade real de se tornar um astro do rock, foi até Oxford, tentar convencer seu velho amigo John Bonzo Bonham, um versátil baterista, a deixar seu emprego com o cantor Tim Rose e embarcar no projeto.

Foi preciso uma campanha conjunta de Page, Plant, Jones e Grant, para que Bonham aceitasse o convite, como relata Stephen Davis: ”Robert enviou oito telegramas para o bar de Bonzo, o Three Men in a Boat, em Walsall. Estes foram seguidos de quarenta telegramas de Peter Grant. Ainda assim Bonzo não queria entrar. O sucesso dos shows com Tim Rose tinha trazido outras ofertas. Joe Cocker o queria, e Chris Farlowe lhe oferecera um emprego. Era uma decisão dura. (...) Mas, como Bonzo diria mais tarde: ‘Eu decidi que gostava mais da música deles do que da de Cocker ou Farlowe‘. Assim, Bonzo finalmente aceitou a banqueta da bateria com os New Yardbirds. A formação estava completa”.

Muita gente, contudo, não levou fé na nova super banda britânica. Keith Moon, baterista do The Who, provocou os rapazes, dizendo que a empreitada ”afundaria como um zepelim de chumbo”, segundo conta o jornalista Chris Welch no livro Dazed and Confused.

Como bons ingleses, reverteram a ofensa com ironia típica, adotando-a como nome: Led Zepppelin. No final daquele ano, Peter Grant colocou-os em estúdio, para gravar o primeiro LP. O resto é história.

Volta-não-volta durou todo o 2008



Depois do retorno de Jesus Cristo, a volta mais esperada pela humanidade ao redor do mundo deve ser mesmo a do Led Zeppelin. Desde meados dos anos 80, quando se apresentou no Live Aid (1985) – com Phil Collins na bateria! – os boatos, o assédio e as propostas indecentes tiveram início. E nunca mais abandonaram os membros remanescentes.

O mais próximo que se chegou de um Led Zeppelin redivivo foi testemunhado por exíguos e sortudos 10 mil espectadores, no dia 10 de dezembro de 2007, na O2 Arena de Londres.

O concerto, em homenagem a memória de Ahmet Ertegun, o empresário turco que fundou a Atlantic Records, reuniu Page, Plant, Jones e o baterista Jason Bonham, filho de Bonzo, foi – segundo resenhas – irrepreensível, acendendo as esperanças de que 2008 seria o ano do retorno definitivo, enfim.

Que nada. Plant, que tinha acabado de lançar um álbum de bluegrass em parceria com a cantora country Alisson Krauss, chamado Raising Sand, foi peremptório em afirmar que não estava mais interessado em embarcar numa turnê cansativa, bem como não queria mais passar o tempo que lhe resta de vida tocando “música alta“.

De fato, é um direito que lhe assiste. Um gigante do rock, Plant foi recentemente aclamado como A Maior Voz da História do Rock numa votação proposta por uma rádio inglesa. Nem precisava disso. Sua contribuição musical e performática para a evolução do estilo é inegável e inestimável.

Outro golpe final nas esperanças dos fãs foi a declaração dada por Peter Mensch, empresário de Jimmy Page, no dia 8 último: “O grupo é passado. Se você não os viu em 2007, você os perdeu. Já era. Não poderia ser mais claro que isso“. O curioso é que, apenas 24 horas antes, ele afirmou que o grupo sairia em turnê com outro cantor no lugar do renitente Robert Plant, como se especulou ao longo de todo o ano de 2008.

Mesmo isso ele também negou na mesma entrevista do dia 8: "Eles tentaram uns cantores, mas a coisa não funcionou com nenhum deles“, confessou.

Uma mudança tão brusca de opiniões só pode sinalizar uma entre duas possibilidades: ou Page deu um carão no rapaz e mandou-o negar tudo para só confirmar na hora de um anúncio oficial, ou a coisa realmente gorou de uma vez por todas.

Como se vê, nada relativo ao Led Zeppelin é simples. O que sobrevive, sem dúvida, é a música e a mítica que eles deixaram, intactas por que são únicas.

Ao longos das décadas e, com certeza, durante muitas outras ainda por vir, o Led Zeppelin continuará sendo uma referência para todo mundo que já se aventurou neste planeta selvagem e cheio de surpresas chamado rock ‘n‘ roll.

Desde grupos mais recentes, como The Black Keys, Wolfmother e o obviamente fã White Stripes, passando por Def Leppard, Kingdom Come e Soundgarden, até o U2 e os rappers (que adoram samplear as batidas do Bonzo), o Led Zeppelin sobrevive no coração e na memória dos fãs – mesmo daqueles que nunca o viram ao vivo.

Discografia comentada

Led Zeppelin é como os Beatles e os Stones: nunca sai de moda, nem de catálogo. Abaixo, breves comentários sobre sua discografia oficial.

Led Zeppelin
A gênese do peso. A capa, com o dirigível Hindemburg em chamas sobre New Jersey – meio cataclisma, meio símbolo fálico – não poderia ser mais significativa. Hits: Good Times Bad Times, Communication Breakdown.

Led Zeppelin II
Lançado em outubro do mesmo ano, mostra o Led mais entrosado e com a proposta já mais bem definida. Traz o hino Whole Lotta Love, além de Thank You (balada de chorar de linda), entre outras gemas igualmente ricas.

Led Zeppelin III
Apesar de ser o mais folk e acústico dos álbuns do Led Zeppelin, o III traz ainda o peso galopante de Immigrant Song e a arrebatadora Since I‘ve Been Loving You, mãe de todos os blues e lamento definitivo. Genial.

Led Zeppelin IV
Três palavras: Stairway to Heaven. A balada rock mais famosa e épica de todos os tempos tem ainda a companhia de hits igualmente inspirados, como Black Dog, Rock ‘n‘ Roll e Going to California.

Houses of the Holy
A criatividade ainda ascendente do Led parece não ter fim, cravando mais um LP onde cada canção é um clássico instantâneo. Tem até reggae! É impossível pular qualquer faixa ao ouvir.

Physical Graffiti
O vestibular para os zeppelinmaníacos. Depois de passar por este álbum duplo é que se percebe se a pessoa é fã mesmo. Considerado o auge criativo do grupo, marca também o início do fim.

The Song Remains The Same
Duplo ao vivo e trilha do filme homônimo, tem ótimos momentos, mas perde em comparação a lançamentos póstumos, como o BBC Sessions. Prefira o filme em DVD.

Presence
Os abusos de drogas, loucuras em turnês e brincadeiras com o oculto (de Jimmy Page) começaram a cobrar seu preço. Gravado por Plant em convalescença após um acidente, tem dois hits: Achilles Last Stand e Tea For One.

In Through The Out Door
O último Led Zeppelin ainda trazia a dupla de frente alquebrada por diversos contratempos. Não a toa, é o disco com o maior número de composições de Jones. Subestimado, o LP soa brilhante ainda hoje.

Coda
Lançado dois anos após a morte de Bonzo (em 1980) e a subsequente extinção do grupo, Coda é irregular para um LP do Zep, mas traz boas sobras de estúdio e registros ao vivo imperdíveis para os fãs.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

A VIRADA DE MESA DO SUBSTITUTO

O ex-Iron Maiden Blaze Bayley volta a Salvador para único show. Baianos da banda Pandora abrem a noite

A melhor e a pior coisa que já aconteceu com Blaze Bayley, que se apresenta com sua banda hoje na Boomerangue, foi ter feito parte do Iron Maiden, um dos mais populares grupos de heavy metal de todos os tempos.

Foi bom, por que se não fosse por isso, ele não seria mundialmente famoso – fato que, em última análise, possibilita ao músico se apresentar em pontos remotos do mapa-múndi roqueiro. Como Salvador, por exemplo.

O lado ruim da coisa – se é que se pode classificar isto como algo realmente negativo – é que, para o resto da vida, ele será lembrado como “aquele cara que tentou substituir Bruce Dickinson no Iron“. Tarefa na qual – os fatos históricos não mentem – ele não foi lá muito bem-sucedido.

Isto não quer dizer que o rapaz, hoje aos 45 anos, não tenha seu valor no mundo metálico. Dono de uma voz de timbre bastante pessoal e capaz de compor boas canções pesadas, Bayley pode não ser o último biscoito do pacote, mas, depois que saiu do Iron Maiden, angariou até mais respeito e admiração entre os apreciadores do estilo, com performances ao vivo cheias de energia e álbuns-solo razoavelmente bem cotados pela crítica especializada.

não foi em vão – Há, inclusive, quem diga que seus álbuns-solo são melhores do que aqueles dois gravados com o Maiden, a saber, The X Factor (1995) e Virtual XI (1998).

Ainda assim, sua passagem pela lendária banda não foi em vão. Após a volta do vocalista clássico Bruce Dickinson, os dois singles de maior sucesso sua fase, Man on the Edge e Futureal, ambas co-escritas por ele, continuaram fazendo parte do repertório dos shows do Iron. Da mesma forma, Bayley aproveita para executar diversos hits da ex-banda nos seus shows solo.

Em extensa turnê (de 11 datas) de divulgação do seu quarto CD solo, The Man Who Would Not Die, pelo Brasil, Bayley oferece aos fãs a chance de conferir sua boa fase atual ao vivo.

The Man... é o seu quarto disco-solo desde o estágio no Iron. Antes disso, Bayley chegou a gravar cinco álbuns com sua primeira banda, Wolfsbane.

Viúvo – Apesar da moral em alta com os fãs, Bayley passou maus-bocados ultimamente. No dia 27 de setembro último, sua esposa, Debbie, faleceu após alguns dias em coma, decorrente de uma dupla hemorragia cerebral. O fato, inclusive, adiou a presente turnê, inicialmente prevista para outubro de 2008.

Outra notícia curiosa sobre Bayley é que, algum tempo após sua saída do Iron Maiden, o cantor arrumou um “emprego sério“ numa loja de acessórios automotivos na Inglaterra, país onde nasceu, para ajudar a financiar a gravação dos seus discos.

Nesta turnê, Blaze Bayley se apresenta com a banda que gravou seu último álbum, formada por Nico Bermudez e Jay Walsh nas guitarras, David Bermudez no baixo e Lawrence Paterson na bateria.

Os fãs baianos mais ardorosos ainda poderão conhecer e trocar algumas palavras com cantor pessoalmente, na tarde de autógrafos que acontece também hoje, no bar / casa de shows alternativos Rock Sandwich.

Antes de Bayley, a banda baiana de thrash metal Pandora abre a noite, divulgando seu primeiro álbum, Four Seasons, a ser lançado ainda neste semestre.

Blaze Bayley e Pandora | Hoje, às 20 horas | Boomerangue (3334-5935 / 5577) | Rua da Paciência, 307, Rio Vermelho | R$ 40 (pista) e R$ 50,00 (camarote) | Classificação etária: 18 anos

Tarde de autógrafos: hoje, 17 horas | Rock Sandwich | Rua Oswaldo Cruz, 599, Rio Vermelho | Entrada gratuita

terça-feira, janeiro 13, 2009

CATARSE NA CONCHA ACÚSTICA

Sepultura inicia turnê mundial com gás total em Salvador, mas o público não compareceu tanto

Se é certa a tradição que diz que começar uma turnê pela Bahia dá sorte, graças as bênçãos dos orixás, o Sepultura está mais do que bem encaminhado, após abrir seu giro mundial de divulgação do CD A-Lex anteontem, na Concha Acústica do TCA.

Apesar do público razoavelvelmente reduzido (1,6 mil, num lugar que cabem 5 mil), o Sepultura não decepcionou seus fãs, fazendo um show catártico e ensurdecedor. A banda subiu ao palco da Concha pouco depois das 20 horas, sob uma intensa iluminação vermelha.

No escuro da platéia, via-se apenas o brilho de centenas de telefones celulares e câmeras digitais apontadas para o palco, enquanto os músicos detonavam a primeira música, Filthy Rot, do A-Lex, cujo lançamento mundial é no próximo dia 23.

Mas nem só de músicas novas foi feito o show do Sepultura. Refuse / Resist, clássico do álbum Chaos A.D. (1993), foi a quarta de um set list bem equilibrado, que mesclou os hits da primeira fase da banda, com o ex-vocalista Max Cavallera, e músicas dos discos com seu substituto, o gigantesco americano Derrick Green.

Este último, muito simpático, se apresentou da seguinte maneira ao público: “Oi! Eu sou Derrick Green! Eu sou americano e falo português pra c...!“. A Concha quase foi abaixo.

O guitarrista Andreas Kisser, que se apresentou ora com uma Fender Stratocaster, ora com com uma linda Flying V, agitou a cabeleira e esmerilhou suas cordas com a competência de sempre, enquanto o baixista Paulo Jr. se manteve no seu estilo discreto e pacato.

(Ainda sobre Kisser: se muitos guitarristas se notabilizaram por saberem fazer a guitarra chorar, simulando dor e tristeza, Kisser tem uma incrível habilidade para faze-la gritar como se estivesse sendo estuprada por vinte demônios super-dotados nas profundas dos infernos. Gênio).

Já o membro novato, o baterista Jean Dolabella, mostrou serviço, espancando suas peles sem dó e com muita técnica, emulando bem o estilo impiedoso do ex-batera Ígor Cavellera. Houve quem não gostasse, como um comentário entreouvido no meio do público: ”Pô, o show tá massa, mas parece que botaram o roadie na bateria!”. Maldade...

Clássico após clássico, o público ia se acabando na frente da banda, enquanto o resto do povo assistia embasbacado ao massacre – no palco e fora dele: Desperate Cry, Dead Embryonic Cells, Beneath The Remains, War for Territory, Arise e o cover de Orgasmatron, do Motorhead.

Depois dessa leva, saíram do palco. Retornaram cinco minutos depois, trazendo consigo Jairo Guedz, guitarrista que, em 1984, foi um dos fundadores do Sepultura em Belo Horizonte, com o baixista Paulo Jr. e os irmãos Cavallera.

Visivelmente satisfeito por tocar na Concha diante de uma turba enlouquecida, detonou com a banda pedradas da primeira fase do Sepultura, como Necromancer e Troops of Doom. Depois de um cover instantâneo de Blitzkrieg Bop (Ramones), os cinco encerraram o show com o hit Roots. O público, com muitas caravanas vindas do interior, foi embora esgotado – e feliz da vida.

LOCAIS DETONAM – Antes do Sepultura, o metal baiano mostrou sua força, com bons shows das duas bandas de abertura: Malefactor e Minus Blindness.

A primeira, um sexteto com 17 anos de carreira que já conta com turnês européias e quatro álbuns lançados no currículo, abriu os trabalhos por volta das 17h30. Praticando um death / black metal épico, que, não por acaso, destaca bases com escalas medievais e camas de teclados progressivos, a Malefactor mostrou ter um público fiel nas primeiras fileiras, cantando junto todas as músicas da apresentação.

Já o vocalista Lord Vlad demonstrou uma técnica bastante apurada, indo sem esforço do grunhido gutural ao berro agudo à la Bruce Dickinson.

A Minus Blindness, supostamente um jovem power trio (recebeu um segundo guitarrista no meio do show), parece ter bastante potencial, com ótimos instrumentistas. Uma banda a se acompanhar com interesse.

VEJAM AQUI GALERIA DE FOTOS DE MARGARIDA NEIDE:
http://www.atarde.com.br/fotos/index.jsf?id=1049239&foto=69394#1

sexta-feira, janeiro 09, 2009

LARANJA MECÂNICA SEGUNDO O SEPULTURA

Sepultura traz a Salvador repertório do novo CD, A-Lex, e nova formação. Locais Malefector e Minus Blindness abrem evento, que ainda terá participação de Jairo, guitarrista fundador da banda



O Sepultura que, recentemente, surpreendeu fãs e espectadores ao aparecer tocando uma bossa-nova em um comercial de TV é a mesma banda que promete ensurdecer o público que comparecer à Concha Acústica neste domingo, quando apresentará – em primeira mão para os baianos – o repertório do novo álbum do grupo, A-Lex, a ser lançado no próximo dia 23.

E não, eles não vão tocar Coquinho – a bossa criada especialmente para o tal VT, disponível para download em MP3 no site oficial do grupo. “Aí já seria demais, né?“, ri o guitarrista Andreas Kisser. ”Mas vamos mostrar muita coisa do álbum novo, e também passear pela história inteira da banda”, garante, em entrevista por telefone.

Um momento legal também será a participação do primeiro guitarrista da banda, Jairo Guedz, um dos fundadores do Sepultura ao lado dos irmãos Cavallera e do baixista Paulo Júnior (único remanescente original). Jairo saiu do grupo por volta de 1986 ou 87, abrindo a vaga para o paulista Andreas, que, de fato, integrou a formação clássica que levou o nome da banda ao seu auge nos anos 90.

Antes de sair, porém, Jairo gravou os dois primeiros registros fonográficos, o EP de estreia Bestial Devastation (1985) e o LP Morbid Visions (1986). ”O Jairo está passando um tempo aí em Salvador, aí conversamos e ele vai subir no palco para tocar umas coisas bem antigas, do tempo em que ele estava na banda”, conta Andreas.

A-LEX – Mas o foco do show é mesmo o repertório do novo CD A-Lex, um álbum conceitual baseado no livro Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1962), do escritor britânico Anthony Burgess. ”É uma obra que a gente conhece há muito tempo – mais o filme do Stanley Kubrick, na verdade”, corrige Andreas.

”Então a gente conhece bem a história. o livro serviu para dar mais profundidade às descrições, aos detalhes e letras. Foi uma experiência legal, feita num período curto. Escrevemos tudo em 3 ou 4 meses. Também é o primeiro CD com o (novo baterista) Jean Dolabella. Então estávamos bem motivados”, descreve.



O título do álbum, além de um trocadilho com o nome do protagonista de Laranja Mecânica, o psicótico Alex, também significa ”sem lei” em russo, segundo o músico.

”No livro e no filme as gangues têm uma linguagem própria, que é uma mistura de russo com o inglês cockney”, explica, referindo-se ao modo tipicamente londrino de falar, surgido nos bairros proletários.

Músico habilidoso e desprovido de preconceitos, Andreas é também um dos maiores arroz de festa do show business brasileiro (sem qualquer demérito por isso), tendo tocado com nomes improváveis para alguém oriundo do cenário metal, como Júnior (ex-Sandy), Paralamas do Sucesso e até o Scorpions, na sua recente turnê brasileira.

Além do Sepultura, as bandas baianas Malefector e Minus Blindness também subirão ao palco para mostrar seus trabalhos.

A primeira é, há mais de uma década, uma das mais significativas representações locais do estilo, tendo angariado respeito e admiração dos bangers, tanto na Bahia quanto fora dela.

Já a Minus Blindness, mais recente, aproveita para lançar seu primeiro álbum, Choleric The Aversion.

ROCK VERÃO SALVADOR 2009 | Com as bandas Sepultura, Malefector e Minus Blindness | Domingo, 16 horas | Concha Acústica do Teatro Castro Alves (3117-4899) | Praça Dois de Julho, s/n, Campo Grande | R$ 30 e R$ 60 (primeiros 4 mil) | R$ 40 e R$ 80 (restantes) | 16 anos

CONFIRA MAIS ALGUNS TRECHOS DA ENTREVISTA COM ANDREAS KISSER

Conhece bandas de metal baianas?
Malefector eu conheço, já tocamos juntos antes. A Minus Blindness eu ainda não ouvio. Mas eu curto algumas coisas do metal baiano.

Como foi gravar bossa nova?
A música foi feita especialmente para o comercial. No Grammy Latino tocamos Garota de Ipanema ao vivo também. A idéia é essa, de fazer algo totalmente inusitado, e o impacto foi positivo. O derrick cantou com aquele sotacão americano, ficou bem autêntico, uma coisa bem nossa mesmo.

Vc é um músico de metal totalmente sem preconceitos, coisa rara nesse meio.
A música tem esse privilégio de não ter fronteira, ela deixa as portas abertas. É um privilégio ser brasileiro e conhecer tanta música de norte a sul. Aprendo muito tocando com o pessoal, conhecendo os músicos, é uma escola. E o radicalismo não está só no metal, está na sociedade inteira, na religião e na política, principalmente onde tem tanta gente retrógrada. A música abre portas, na momento em que você conhece culturas diferentes, começa a entender o por que das coisas, perde os medos e passa a respeita-las.

Como é ser colunista do site Yahoo?
Recebi o convite para ser blogueiro da seção de música com o Kid Vinil e o Régis Tadeu, no ano passado. É uma coisa bem livre, eu conto minhas experiências.

E a turnê do novo disco?
Em fevereiro começamos pelo leste europeu e depois vamos pros EUA.

Como tem sido a reação dos fãs aos novos integrantes?
O Jean Dolabella era do Udora, é um puta músico, pode tocar qualquer coisa, professor de música e profissional mesmo. E sempre foi fã do sepultura, viu os shows quando era moleque. E a receptividade tem sido muito positiva. Com o material novo, ele está super adaptado.

Ele participou do processo de composição do A-Lex?
Quando alguém entra no Sepultura é para participar, trazer suas características.

Como está a relação com os irmãos Cavallera?
Com Ígor é tranquilo, ele saiu na boa e nos damos bem. Mas com o Max a gente não conversa desde que ele saiu da banda (em 1996). O Ígor saiu num esquema de transição. Ele tá fazendo o que gosta, o que tá a fim de fazer.

terça-feira, janeiro 06, 2009

MEGA LEVA DE MICRO-RESENHAS PARA IR VOLTANDO AOS POUCÕES

Pesadelos violentos em HQ

A terceira encarnação da famosa série de HQ Sandman, de Neil Gaiman, chega ao seu segundo tomo, Prelúdios & Noturnos Volume 2. Com preço bem mais em conta que a edição anterior, esta torna a saga do Senhor do Sonhar bem mais acessível aos leitores brasileiros – e ainda vem com nova colorização e extras, como textos de Karen Berger (editora original da série) e Leandro Luigi De Manto (editor original no Brasil, ainda nos anos 80). Nesta edição, Sandman continua sua busca pelos seus pertences místicos, roubados após permanecer 70 anos prisioneiro de um feiticeiro inglês decalcado de Aleister Crowley. Na sua busca, terá de enfrentar um antigo vilão do Universo DC, o Doutor Dee. O confronto rendeu uma das HQs mais violentas e cruéis de todos os tempos (nº 6 original). Para aliviar, o álbum fecha com a primeira aparição da irmã do Sandman, a Morte (em pessoa), cuja figura icônica se tornaria modelo de beleza para a tribo gótica. Clássico.
Sandman - Prelúdios e noturnos Vol. 2
Gaiman / Vários
Pixel Media
132 p. | R$ 29,90
www.pixelquadrinhos.com.br


Rihanna, a boa aluna

Senhoras e senhores, bem-vindos à Las Vegas. Sim, por que não importa em que cidade este show tenha sido gravado: o clima é totalmente fake, como o da cidade americana erguida no meio do deserto. Sim, Rihanna, como cantora pop, tem lá uns dois hits legais (a óbvia Umbrella e Shut Up and Drive), mas seu show é tão espontâneo quanto um exame de toque retal no urologista. Trata-se de um teatrão de revista, milimetricamente calculado e over-produzido para deslumbrar as legiões de fãs adolescentes, com cenários majestosos, explosões, trezentos dançarinos em cena e igual número de troca de figurinos. Fica difícil prestar atenção na música (supostamente, o que as pessoas foram lá ouvir) com tanta coisa brega para desviar a atenção. Mas a idéia é essa mesma, por que não há música para se ouvir. Apenas ruído. Nada muito diferente do que se vê nos mega shows das divas da axé music, portanto. Madonna fez foi escola.
Good Girl Gone Bad Live
Rihanna
Universal
R$ 37,90
www.thisisrihanna.com


Quanto mais as coisas mudam...

Quando o Keane surgiu, cerca de seis anos atrás, tinha como trunfo a “novidade“ de ser um trio que dispensava a guitarra, substituindo-a pelo piano. Apesar de soar bastante derivativa do Coldplay, ainda assim, conseguiu cravar meia dúzia de hits razoáveis. Em seu terceiro álbum, depois de ganhar muita grana e meter o pé na jaca (o vocalista já entrou e saiu de clínicas de rehab), o Keane é agora uma banda comum, que tenta se reinventar atirando em várias direções ao mesmo tempo. Porém, como alguém já disse, quanto mais as coisas mudam, mas elas permanecem as mesmas. Saldo: mais um CD meeiro de uma banda meeira. Salvam-se The Lovers Are Losing e Spiralling.
Perfect Symmetry
Keane
Universal
R$ 26,90
www.keanemusic.com


Rock gaúcho dos bons em DVD

Com 17 anos, a banda gaúcha Acústicos & Valvulados nasceu rockabilly, mas com o tempo, foi se espraiando em outras direções, especialmente o folk, o country rock e o blues, como se pode ver no show acústico deste bem produzido DVD , gravado no Clube Leopoldina Juvenil, de Porto Alegre. Apesar de ser acústico (o que exige outros arranjos para as canções originais), o DVD é uma boa porta de entrada para quem quiser conhecer esta banda, que, se não chega a ser genial, demonstra bastante competência naquilo que se propõe, que é fazer boas canções rock com letras em português. Destaques: O Dia D é Hoje e A Milésima Canção de Amor.
Ao Vivo e a Cores
Acústicos & Valvulados
Antídoto
R$ 37,90
www.acusticosevalvulados.com.br


Mistureba para animar desfiles

Apesar do nome (Garotas Brasileiras), o grupo só tem uma garota (Sabina Sciuba, italiana) e mais três rapazes, sendo um argentino e dois americanos. Tipicamente novaiorquina, faz uma mistura eclética de electro, pop, afro beats, chanson, lounge music e bossa, que segundo sites internacionais, fez um certo sucesso no circuito “in“ de nightclubs da Grande Maçã. Apesar de interessante e da bela voz de Sabina, o CD é irregular, perdendo o fôlego por conta do clima desfile de moda fashion (redundância proposital) que o permeia do início ao fim. Na ânsia de soar descolado, internacional e chique, o grupo se afunda em uma tremenda pasmaceira de novaiorquino deslumbrado.
New York City
Brazilian Girls
Universal / Verve
R$ 27,90
www.braziliangirls.info


Paranaenses-turcos fazem rock irado

O nome esdrúxulo da banda (A Sexta Geração etc) pode até assustar, mas a verdade é que em seu segundo CD, essa rapaziada de Maringá (PR) apresenta mesmo é o bom e velho punk ‘n‘ roll: energético, bom de ouvir tomando cerveja e pulando que nem maluco. Com influências do rock Brasil dos anos 80 (Titãs, principalmente) mas adicionando muita crueza nas guitarras e vocais gritados em uníssono, o grupo consegue fazer um CD que é uma paulada das boas, chegando a lembrar inclusive a sensacional (e estranhamente, pouco hypada) Walverdes (RS).
¿Por Que No Te Callas?
A Sexta Geração da Família Palim do Norte da Turquia
Volume One
Preço não divulgado
www.familiapalim.com.br


Trabalhos sujos, dilemas morais

Uma das melhores séries recentes de espionagem e ação dos quadrinhos, Queen & Country, do escritor Greg Rucka (Whiteout) finalmente chega ao Brasil sob o título Jogos de Poder. Em seu primeiro arco, Operação: Terreno Partido, vemos a agente Tara Chance tendo que fazer o trabalho sujo do governo em uma operação ultra-secreta: assassinar um chefão da máfia russa antes que ele conclua uma mega operação de contrabando de armas e drogas. Rucka é bastante hábil em armar uma boa trama de leitura ágil, fazendo contrapontos com os dilemas morais encarados pela protagonista. Ótimo ritmo cinematográfico.
Jogos de poder - Operação: Terreno Partido
Rucka / Rolston
Devir
128 p. | R$ 26
www.devir.com.br


A caminho do inferno

O que acontece quando uma pessoa não muito boa, que já prejudicou muita gente (tendo inclusive matado algumas delas) morre? Segundo o cristianismo – e o escritor Garth Ennis (Preacher) – vai direto pros braços do Coisa Ruim, ou seja, pro inferno mesmo. É isso que está acontecendo com o mago inglês John Constantine. Depois de fumar trinta cigarros por dia durante mais de vinte anos, o irreverente bruxo britânico dos quadrinhos recebe a notícia que está morrendo de câncer. Festa na casa de Belzebu, que se prepara para receber de braços abertos o canalha que tantas vezes já o havia prejudicado. Essa é a premissa de Hábitos perigosos, saga de estréia do autor irlandês Garth Ennis no título Hellblazer, até hoje um dos mais populares do selo Vertigo. Publicada no Brasil pela primeira vez nos anos 90, na saudosa revista Vertigo (Editora Abril), esta pequena obra-prima das HQs retorna agora em um belo encadernado. Obrigatório para fãs.
Hellblazer - Hábitos perigosos
Ennis / Simpson
Pixel Media
160 p. | R$ 37,90
www.pixelquadrinhos.com.br


O distraído, a ermitã e o canalha

Rosamundo e os outros reúne as crônicas de Stanislaw Ponte Preta (identidade não tão secreta de Sérgio Porto) para seu personagem do título, um sujeito muito, muito distraído. Com ilustrações de Jaguar e prefácio de Sérgio Cabral, esta bem cuidada edição é muito bem-vinda e dá continuidade à publicação das obras completas deste que foi um dos mais importantes e completos cronistas brasileiros. Neste volume, o leitor ainda encontrará outros personagens típicos da fauna ponte-pretiana, como a Tia Zulmira (a ermitã) e o Primo Altamirando (o mau-caráter), que Porto criava a partir da observação do tipos populares brasileiros.
Rosamundo e os outros
Stanislaw Ponte Preta
Agir
224 p. | R$ 34,90
www.ediouro.com.br


Intrigas na idade média

Composto de 4 volumes, a coleção O Terceiro Testamento marca a estréia da Multi Editores no mercado de HQs, com um material de primeira qualidade. OTT é uma aventura de ação e mistério na idade média, entre as perseguições da Inquisição, segredos esquecidos e cenários majestosos – cortesia do francês Alex Alice, que, diferente de muitos dos seus colegas europeus, sabe abrir uma cena de impacto. O roteiro de Xavier Dorison, muito bem amarrado, versa no primeiro volume sobre a descoberta de um pergaminho em um convento que pode arruinar a Igreja Católica. Depois que este cai nas mãos de uma jovem, o Conde de Marbourg se movimenta para protegê-la da Inquisição. Excelente opção para fãs dos quadrinhos franceses, ainda mais com tanta qualidade editorial (capa dura, formatão, papel cuchê) a um preço tão camarada. De distribuição bem limitada, só pode ser adquirida on line ou na comic shop RV Cultura & Arte (Rio Vermelho).
O Terceiro Testamento - Volume 1
Xavier Dorison e Alex Alice
Multi Editores
48 p. | R$ 19,80
www.multieditores.com


Equívocos em série do velho Fat Bob


Uma das maiores pragas surgidas no rock dos últimos 15 anos atende pelo nome de nü metal. Suas bandas mais signsificativas (Korn, Marilyn Manson), ao invés de se voltarem para o metal, sempre se disseram influenciadas pelo goth rock de bandas como The Cure e Sisters of Mercy. Até aí, tudo bem, o problema é que o veteraníssimo Robert Smith, líder do Cure, acreditou nessa balela, e, por incrível que pareça, se deixou influenciar pelos influenciados! Resultado: em crise criativa há quase 20 anos, Smith e asseclas vêm cometendo álbuns cada vez menos relevantes, pois soam equivocadamente ávidos para surfar na onda do nü-metal. Este 4:13 Dream segue a tendência e apenas decepciona velhos fãs, saudosos do bom, velho (e pop) The Cure.
4:13 Dream
The Cure
Universal
R$ 29,90
www.thecure.com


Muita ação e intrigas em Detroit

Um dos mais celebrados autores vivos de romances policiais e western, Elmore Leonard já teve inúmeros livros transpostos para o cinema, como Rum Punch (Jackie Brown, de Tarantino), O Nome do Jogo, Los Angeles - Cidade Proibida e 3:10 to Yuma (Os Indomáveis e sua versão anos 50, Galante e Sanguinário). Em seu livro mais recente, Os amores de Honey, ele retorna com seu detetive Carl Webster, de Detroit (sua cidade natal), que já tinha aparecido em The Hot Kid. Aqui, Webster está às voltas com a femme fatale Honey Dean, casada com um alemão dono de um açougue e simpático aos nazistas, em plena época da 2ª Guerra. Reviravoltas, intrigas, socos, beijos e muita diversão.
Os amores de Honey
Elmore Leonard
Rocco
254 p. | R$ 34,50
www.rocco.com.br


Um repórter árabe entre povos vikings

Um manuscrito de autoria de um viajante árabe, datado de 922 D.C., é o ponto de partida para o escritor americano Michael Crichton (morto no dia 4 último) recriar a cultura, os costumes, lendas e explorações dos povos vikings. Ahmad Ibn Fadlan, enviado às terras do norte a mando do califa de Bagdá, realmente existiu e relatou o que viu e viveu entre os bárbaros eslavos. Seu manuscrito vem sendo remontado, traduzido e decifrado há mais de mil anos por arqueólogos e eruditos do mundo todo. Crichton, a partir dos fragmentos disponíveis, recria de forma cinematográfica a saga de Fadlan entre os vikings e seu encontro com as estranhas e lendárias criaturas peludas, conhecidas como devoradores de mortos. Boa diversão.
Devoradores de mortos
Michael Crichton
Rocco / L&PM
184 p. | R$ 11
www.lpm-editores.com.br


Funk, electro e guitarras à gaúcha

Muito popular no sul do País, a banda gaúcha Comunidade Nin-Jitsu foi uma das responsáveis (junto ao tresloucado De Falla Edu K.) pelo estouro do mix miami bass com hard rock que gerou o sucesso Popozuda Rock n'Roll, tema que embalava os rebolados da Tiazinha e da Feiticeira nos programas mais vagabundos da TV brasileira, anos atrás (sem trocadilho). No seu sexto disco, o grupo parece mais à vontade do que nunca, misturando funk carioca e electro com guitarras pesadas em “pérolas“ como Chuva nas Calcinha, Funkstein, Usa Abusa e Mais Pressão. Fãs do Bonde do Rolê não sabem o que estão perdendo. Ou não...
Atividade na Laje
Comunidade Nin-Jitsu
Olelê Music
R$ 16,90
www.olelemusic.com.br

segunda-feira, janeiro 05, 2009

PUTADA, VOLTEI

Assim que possível, lanço novas matérias ao ar para vosso deleite.

Ainda esta semana.

Stay tuned...