quinta-feira, junho 05, 2008

MICRO-RESENHAS QUE DÃO NO COURO

Bardo punk na maturidade

Com o talento amadurecido pelas décadas de luta no underground, Wander Wildner chega ao seu quinto – e muito provavelmente, melhor – álbum de músicas inéditas, La Cancion Inesperada. Mais melancólico, mas também mais esperto, o punk brega deste gaúcho universal vem embalado na luxuosa produção da dupla Kassin e Berna Ceppas, darlings da nova MPB (Orquestra Imperial etc), que, inteligentemente, ressaltaram a voz roufenha do cantor em elaborados arranjos acústicos, incluindo sanfonas (ou gaita, para os sulistas), violões, violoncelos, clavinetes, órgãos e teclados Rhodes. A ênfase, como ele mesmo vem dizendo em entrevistas, não é mais no rock, e sim, nas – inesperadas – canções. Destacando-se entre estas, portanto, pode-se citar como pontos altos do CD a regravação do clássico regional Amigo Punk (da Graforréia Xilarmônica), O Reverendo Rock Gaúcho, Um Bom Motivo e a linda faixa título. Desde já, um dos discos do ano.
La Cancion Inesperada
Wander Wildner
Independente
R$ 22,90
www.wanderwildner.com.br


Da vingança fatal enquanto arte

Uma das HQs mais elogiadas dos últimos tempos, 100 Balas tem seu primeiro encadernado relançado no Brasil, com os cinco primeiros números do original americano. Trama policial de estilo realista e sombrio, 100 Balas mostra pessoas que sofreram na mão de criminosos recebendo a visita de um sujeito sinistro chamado Agente Graves. Ele entrega à essas pessoas uma maleta com um revólver, cem balas irrastreáveis e as provas contra o desafeto em questão. Como cada um lida com essa oferta do Agente é a grande graça da história, além da conspiração secreta por trás de tudo isso. Lindos desenhos do argentino Eduardo Risso numa das HQs mais inteligentes da atualidade.
100 Balas - Atire primeiro
Azzarelo / Risso
Pixel Media
128 p. | R$ 14,90
pixelquadrinhos.com.br



Nascido pronto para qualquer pista

Já se disse por aí que Ready for The Floor era única coisa boa deste CD, que o Hot Chip perdeu a mão e até que o disco era ruim mesmo, com exceção da faixa já citada. De fato, Ready for the Floor, com sua linha de baixo elástica, é a música de maior impacto do CD. De fato também, o álbum anterior, The Warning (2006), era melhor como um todo. Contudo, Made in the Dark não soa como um retrocesso na evolução do Hot Chip rumo ao estrelato mundial, mas apenas mais um passo nesse sentido. Faixas como Shake a Fist, Hold On e One Pure Thought são a prova disso. Salvo engano, o Hot Chip representa para esta época o que o New Order foi para a sua própria: pop eletrônico indie de ponta.
Made in the Dark
Hot Chip
EMI
R$ 28,90
www.hotchip.co.uk


Rock de família que bate na trave

Atuante na cena alternativa local já há alguns anos, a banda Anacê lança o primeiro CD, O Mundo, trazendo um rock pop limpo, bem comportado e família – até porque todos os integrantes são parentes. Uma banda “família“, literal e esteticamente, já que o som é perfeitamente acessível à pessoas de qualquer idade. O que seria ser uma qualidade, porém, acaba se tornando um ponto fraco. A despeito da produção sempre correta de andré t., das boas execuções e da bela voz da band leader Candice, é possível notar que a Anacê precisa desenvolver uma personalidade mais definida, além de ousar mais nas composições, ainda meio quadradas. Potencial, eles têm – só falta desenvolver.
O Mundo
Anacê
Independente
R$ 5
www.anace.com.br


Retorno à Avenida Dropsie

"Will Eisner não estava apenas à frente do seu tempo; os dias de hoje ainda estão tentando alcançá-lo". A frase, do premiado escritor americano John Updike (Coelho Corre), dá uma ligeira idéia do peso e da importância do criador do personagem Spirit e do próprio conceito de graphic novel (romance gráfico, ainda que sobre isso haja controvérsias). Falecido em 2004, Eisner dedicou toda a sua vida a criar, desenhar, escrever, ensinar, divulgar e aperfeiçoar o ofício da arte seqüencial. Em A força da vida, ele voltou seu olhar mais uma vez para os sofridos habitantes da Avenida Dropsie (distrito novaiorquino do Bronx e título de outro álbum seu), lar de uma comunidade de judeus pobres, como ele mesmo foi. O comunismo americano, a luta proletária, a pobreza, a guerra, o preconceito, as relações humanas e o próprio sentido da vida são apenas alguns dos temas abordados em mais esta obra-prima de um gênio da literatura ilustrada. Obrigatório.
A força da vida
Will Eisner
Devir
152 p. | R$ 38
www.devir.com.br


Nas baladas em NY, com Moby

Apesar de colecionar alguns singles bastante agradáveis ao longo de sua carreira, o DJ, produtor e músico americano Moby sempre cultivou uma imagem de eco-xiita vegetariano chatonildo dura de engolir. Com seu novo álbum, Last Night, ele tenta mostrar ao público o verdadeiro Moby: um baladeiro novaiorquino que bebe, dança e curte a night até de manhã. O álbum é conceitual, com a seqüência das faixas acompanhando uma noite de curtição pelos clubes da cidade, da preparação para sair (Ooh Yeah), passando pelo auge do delírio na pista (Disco Lies) até a volta pra casa, acabado e de alma lavada (Last Night). Um belo tributo à noite da cidade que nunca dorme.
Last Night
Moby
Mute / EMI
R$ 32,90
www.moby.com


Branca de Neve não é mais aquela

Fábulas, a série atual de maior sucesso do selo Vertigo, parte da premissa de que, após serem expulsos de suas terras mágicas por uma entidade maligna conhecida como O Adversário, todos os personagens dos contos de fadas migraram de mala e cuia para Nova Iorque. Lá, vivem em um condomínio administrado por Branca de Neve e policiado pelo Lobo Mau, que assumiu forma humana e se reabilitou. Oscilando entre o cômico, o policial e o dramático, Fábulas prende o leitor pela narrativa muito bem amarrada, diálogos instigantes e as muitas referências espalhadas pelas páginas.
Fábulas - Lendas no Exílio
Willingham / Medina
Pixel Media
128 p. | R$ 23,90
www.pixelquadrinhos.com.br

4 comentários:

Franchico disse...

O CD novo da mega-fodástica banda My Morning Jacket tá todinho em stream no MySpace:

http://www.myspace.com/mymorningjacket

Só a incrível música-título, Evil Urges, já vale buscar esse disco por aí. Recomendadíssimo.

The Rocks disse...

Olá cara, então passei aqui pra elogiar essas resenhas...acho seus comentarios sempre interessantes e gosto de ouvir falar de bandas novas.
Parabéns, falow

Franchico disse...

Valeu, Rocks! Volte sempre e boa sorte com sua banda, valeu? Abç!

Franchico disse...

O fantástico primeiro álbum da banda The Primitives está todinho no blog 17 Seconds:

http://www17seconds.blogspot.com/

Lá tem tb o Watusi, do Wedding Present, de... uh, presente, da primeira à última faixa...