O ex-Cascadura Alex Pochat lança seu primeiro CD solo na Sala do Coro do TCA, com muitas participações especiais
"As pessoas estão tão viciadas em música simplória e rasteira que não conseguem mais decodificar coisas mais elaboradas". Alex Pochat, o autor da frase acima, não está preocupado se o disco dele vai vender milhares de cópias. O que realmente o preocupa é que cada um que ouça sua música, entenda, de fato, a sua mensagem.
Seu primeiro CD será lançado hoje, em um show que promoverá, no palco da Sala do Coro do TCA, a inusitada reunião de músicos da cena rock local com diversos outros da Escola de Música da UFBA, onde Alex cursa Composição & Regência.
O show será aberto com uma orquestra de câmara tocando em conjunto com sua banda Os Cinco Elementos, With a Little Help From My Friends, do Beatles. "Será uma homenagem a todos os amigos que me ajudaram a gravar esse CD. Essa orquestra de câmara se chama Clube dos Corações Solitários e seu repertório é basicamente composto de músicas do Beatles", esclarece.
"Na verdade, esse disco fecha um ciclo para mim. Ele deveria ter sido lançado anos atrás", revela Pochat, que começou seu trabalho com Os Cinco Elementos ainda no ano 2000, tocando em todos os barzinhos e clubes do circuito underground.
Apesar de já estar defasado em relação ao momento atual do músico, o CD em questão é um impressionante trabalho que conjuga o som de bandas dos anos 70 como Rita Lee & Tutti-Frutti, Casa das Máquinas, Som Nosso de Cada Dia e Raul Seixas, com sua filosofia espiritualizada de vida.
Ex-usuário de drogas, Pochat hoje trilha o caminho da religiosidade oriental. Já viajou à Índia por três vezes em busca de iluminação espiritual. "Eu freqüento a Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris, na cidade de Mount Abu, Rajastão, que é um centro de estudo do Raja Yoga, uma modalidade da Yoga sem exercícios físicos, só com meditação e filosofia", explica o músico.
Essa espiritualidade se reflete com força em seu trabalho, principalmente nas suas letras, que chegam a lembrar Tim Maia na fase Racional - ainda que Pochat não queira doutrinar ninguém.
O CD que será lançado hoje, contudo, deverá ser lembrado como um momento muito especial do rock local, pois poucas vezes se viu um trabalho tão elaborado quanto esse. É um som vigoroso, sólido, com muitos instrumentos incomuns em discos de rock, como trompete, cítara, sax e flauta.
"Meu próximo projeto é montar uma orquestra de rock. Eu quero juntar os dois pólos: a música erudita com a popular via rock ‘n‘ roll. Misturar mesmo", avisa. Quem viver, ouvirá.
Alex Pochat & Os Cinco Elementos
Lançamento do CD
Segunda-feira (24 de setembro), 20H
Sala do Coro do TCA Pça. Dois de Julho, s/n, Campo Grande (3339-8014)
Ingresso (acompanha o CD) R$ 20 Meia: R$ 10
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
sábado, setembro 22, 2007
segunda-feira, setembro 17, 2007
AS HQS DA VIDA PRIVADA
Álbuns de HQ adulta privilegiam o drama (e a comédia) das pessoas comuns
Já foi o tempo em que as histórias em quadrinhos se limitavam a mostrar em suas páginas apenas pessoas voando e trajando roupas colantes, patos falantes ou turmas de crianças levadas. As HQs cresceram, amadureceram, e hoje, disputam espaço nas livrarias junto aos romances, apresentando histórias fechadas dirigidas ao público adulto, tendo como personagens centrais pessoas normais, sem super-poderes ou atividades "emocionantes", como policiais de rua ou detetives particulares.
Três bons lançamentos dessa vertente de quadrinhos chegaram recentemente às livrarias: Doze razões para amá-la (Devir), Mesa para dois (Devir) e Estranhos no Paraíso - Tempos de colégio (HQ Maniacs). As duas primeiras são histórias francamente românticas e de narrativa intimista, enquanto a segunda fica entre o humor e o drama familiar, todas conseguindo bons resultados ao contar suas histórias e envolver o leitor.
As HQs com pessoas comuns não são exatamente coisa nova. Salvo engano, pode-se dizer que Will Eisner, o autor de Spirit - que aliás, era um herói sem nenhum superpoder, além de ser muito astuto e bom de briga - praticamente inaugurou o gênero ao lançar em 1978 o álbum Um Contrato com Deus (recentemente relançado pela editora Devir em edição de capa dura), onde contava histórias de quatro pessoas comuns que viviam em um cortiço, numa certa Avenida Dropsie.
Embora haja controvérsias, o álbum é considerado o marco histórico do surgimento das graphic novels (romance gráfico). De lá para cá, o estilo explodiu, gerando um grande mercado de trabalho para escritores e artistas com legiões de fãs de todas as idades.
HQ de DR - Doze razões para amá-la, de Jamie S. Rich (roteiro) e Joëlle Jones (desenhos), é basicamente, uma HQ de D.R. (Discutir a Relação), aquele momento do qual os homens costumam correr como o diabo da cruz na vida real.
Em 12 vinhetas curtas com títulos de canções de música pop, acompanhamos o caso de Evan e Gwen, um jovem casal apaixonado com idas e vindas, desconfianças e desencontros comuns em qualquer relação. O forte da HQ são os longos diálogos travados entre o casal, lembrando os romances atuais de autores de acento pop, como o inglês Nick Hornby (Alta fidelidade).
Gwen é muito segura de si e talvez não saiba exatamente o que sente pelo rapaz, enquanto Evan, que tem os quatro pneus arriados pela moça, sofre tentando mantê-la ao seu lado. A história não segue uma ordem cronológica definida, concentrando-se em mostrar apenas os momentos mais significativos da relação. Sensível e bem estruturada, deverá arrancar suspiros de leitores (as) mais românticos (as).
Já Mesa para dois, dos irmãos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, tem um ritmo e temática diferentes. Se em 12 razões para amá-la acompanhamos diversos momentos de uma relação já estabelecida em uma narrativa fragmentada, Mesa para dois se concentra, em narrativa linear, no encontro de duas pessoas que só ao final da história poderão - ou não - ficar juntas. Júlia, a personagem principal, é uma garçonete que arruma um segundo emprego como assistente de um escritor.
Sem que ela saiba porém, tudo e todos a sua volta parecem conspirar para que um colega seu de trabalho, apaixonado pela garota, acabe por conquistá-la. Os desenhos de Moon são encantadores e o ritmo suave da história a tornam desde já um dos melhores lançamentos nacionais do ano. Na verdade, a HQ mais parece um roteiro pronto para um curta-metragem, de tão bem resolvida que é.
Não à toa, os irmãos paulistas são hoje dois nomes em ascenção no concorrido mercado americano, com trabalhos para várias editoras de lá - muitos ainda inéditos no Brasil.
Francine & Katchoo - Estranhos no paraíso - Tempos de colégio é parte da série Strangers in paradise, do americano Terry Moore, publicada nos EUA desde 1993.
As personagens principais são as melhores amigas Francine Peters e Katina Choovanski, a Katchoo. Enquanto a primeira é uma morena estabanada com problemas de peso, a segunda é uma jovem que sofreu com os abusos sexuais praticados pelo padrasto ainda na adolescência, época enfocada pelo autor no álbum em questão. Na série regular - recentemente encerrada nos EUA - as duas moram juntas, mas vivem o dilema de se assumirem ou não como um casal lésbico.
Katchoo ama Francine, que ama David, um rapaz tímido com ligações obscuras no passado da primeira. Intrincada, a trama de Estranhos no Paraíso ganhou muitos fãs nos EUA e também no Brasil pelo carisma das personagens principais, esplendidamente desenhadas por Moore, que domina a arte de pôr no papel expressões faciais exatas, perfeitas.
Tempos de Colégio, o álbum da vez (a editora atual lançou um outro álbum no ano passado), volta ao passado das personagens e mostra aos leitores, como, afinal, elas se conheceram.
Trata-se de um ótimo ponto de entrada para novos leitores, já que a história não exige nenhum conhecimento prévio da série. O tom varia entre a comédia de costumes (a cargo de Francine e seus parentes) e o drama familiar (por conta do abuso sexual que Katchoo sofre do padrasto, com a omissão da própria mãe).
Três álbuns, três ótimas opções de leitura.
sexta-feira, setembro 14, 2007
SUANDO A CAMISA HAVAIANA
Capitão Parafina & Os Haoles lançam CD que bate a maior onda
Separe sua melhor camisa florida, seu bermudão mais berrante e deixe seu pranchão a postos, pois hoje o mar estará propício a altos tubos e manobras radicais. A trilha sonora já está garantida com o CD do Capitão Parafina e Os Haoles, tranqüilamente uma das melhores novidades do rock baiano dos últimos tempos.
O power trio, formado pelo próprio Capitão (guitarra e vocais) e Os Haoles Topa (bateria) e C.H. (baixo), lança hoje, com um show gratuito na Saraiva Megastore (Shopping Salvador), seu primeiro disco. Frutos do Mar, o CD, é um refrescante sopro de brisa marinha, criatividade e despretensão (no melhor sentido da palavra) no sempre subestimado e desprezado cenário rockeiro local. Leve, acessível e muito bem produzido por Tadeu Mascarenhas, o CD é uma delícia praieira do início ao fim, alternando faixas instrumentais com outras vocais.
As músicas são curtas, diretas, dançantes, bem humoradas - por vezes até românticas - e exalam uma aparente simplicidade que dotam o trabalho de uma pegada pop inequívoca, tornando-o plenamente acessível ao grande público - como diversas outras bandas do rock local já o são, fato que o empresariado local finge não ver.
5 anos de praia - Formada em 2002 pelo Capitão e Topa, a CP&H surgiu como surgem 99% das boas bandas de rock, seja aqui ou no Havaí: "Fizemos a banda pra farrear, pra gente se divertir mesmo, sem qualquer pretensão", conta o band leader.
O primeiro show foi no final daquele mesmo ano, na festa de reveillon na casa de praia de um amigo. "A repercussão foi tão boa, que começamos a fazer vários shows por aí. Aí a coisa começou a ficar séria", lembra o Capitão.
Séria, mas não chata. O Capitão começou a se esmerar em compor músicas próprias, inspirado nas suas influências de bandas como João Penca & Seus Miquinhos Amestrados, Ultraje a Rigor, Os Ostras, e é claro, Beach Boys e os patronos da surf music local, os Retrofoguetes, com quem hoje compartilham o mesmo baixista, C.H.
A partir daí, a trajetória da banda pode ser resumida naquela frase batida, mas que quase ninguém aplica: "não sabendo que era impossível, foi lá e fez". Em vez de ficar reclamando da falta de espaço para tocar, o grupo tocou em todos os lugares possíveis: do Nhô Caldos à boate Fashion Club, além de Belo Horizonte e Aracaju.
"A gente não tinha essa, ligava pras produtoras queixando mesmo. Já tocamos em lugares em que bandas com muito mais tempo de estrada que a gente nunca tocou", revela o Capitão do rock.
12 tubos auditivos alucinantes
Dentro de uma concha de aparente despretensão e simplicidade, esconde-se uma pérola musical muito bem resolvida - na concepção, execução e produção. Assim pode ser descrita a estréia do Capitão Parafina & Os Haoles.
A produção de Tadeu Mascarenhas, uma das peças fundamentais no processo de profissionalização do rock local, junto aos seus colegas andré t e Jera Cravo, tem tudo a ver com isso, chegando até mesmo a sofisticação de encaixar no som simples e direto da banda instrumentos como escaleta, trumpete, trombone, sax tenor, sax barítono, piano, violoncelo e calimba.
Despretensão? Pois sim.
O resultado que sai das caixas de som é um CD redondinho, em que é simplesmente impossível pular qualquer uma das 12 faixas, pois todas são igualmente boas - e melhor ainda, diferentes entre si.
Não há aquelas músicas supérfluas que só servem para preencher o disco, algo tão comum no rock contemporâneo, onde as bandas hypadas - pela crítica sulista e seu patético séquito virtual de vaquinhas de presépio - apresentam um ou dois hits e o resto só enche lingüiça e a paciência dos ouvintes.
Aqui, não. Mesmo ensolarado, o disco é uma obra coesa - todas as faixas fazem sentido. É um passeio pelo dia-a-dia praieiro e a imaginação fértil desses garotos de praia.Há o romantismo deslavado de Um Amor Como o Seu, o swing pesado à la Rocket From The Crypt de Fugindo Desesperadamente de Um Helicóptero Malvado Na Densa Selva Sombria e Úmida Com Muitos Perigos (ufa!), o pop sofisticado de Ode à Califórnia, o tributo inconsciente aos Retrofoguetes de Comer Caranguejo é Delicioso, Mas Arranha a Virilha e o desarranjo intestinal de Surf Bosta. São 12 belas ondas, e todas elas rendem grandes tubos. Na dúvida, pegue todas.
Frutos do Mar
Capitão Parafina & Os Haoles
R$ 17, 90
www.palcomp3.com.br/capitaoparafina
www.capitaoparafina.com.br/
Separe sua melhor camisa florida, seu bermudão mais berrante e deixe seu pranchão a postos, pois hoje o mar estará propício a altos tubos e manobras radicais. A trilha sonora já está garantida com o CD do Capitão Parafina e Os Haoles, tranqüilamente uma das melhores novidades do rock baiano dos últimos tempos.
O power trio, formado pelo próprio Capitão (guitarra e vocais) e Os Haoles Topa (bateria) e C.H. (baixo), lança hoje, com um show gratuito na Saraiva Megastore (Shopping Salvador), seu primeiro disco. Frutos do Mar, o CD, é um refrescante sopro de brisa marinha, criatividade e despretensão (no melhor sentido da palavra) no sempre subestimado e desprezado cenário rockeiro local. Leve, acessível e muito bem produzido por Tadeu Mascarenhas, o CD é uma delícia praieira do início ao fim, alternando faixas instrumentais com outras vocais.
As músicas são curtas, diretas, dançantes, bem humoradas - por vezes até românticas - e exalam uma aparente simplicidade que dotam o trabalho de uma pegada pop inequívoca, tornando-o plenamente acessível ao grande público - como diversas outras bandas do rock local já o são, fato que o empresariado local finge não ver.
5 anos de praia - Formada em 2002 pelo Capitão e Topa, a CP&H surgiu como surgem 99% das boas bandas de rock, seja aqui ou no Havaí: "Fizemos a banda pra farrear, pra gente se divertir mesmo, sem qualquer pretensão", conta o band leader.
O primeiro show foi no final daquele mesmo ano, na festa de reveillon na casa de praia de um amigo. "A repercussão foi tão boa, que começamos a fazer vários shows por aí. Aí a coisa começou a ficar séria", lembra o Capitão.
Séria, mas não chata. O Capitão começou a se esmerar em compor músicas próprias, inspirado nas suas influências de bandas como João Penca & Seus Miquinhos Amestrados, Ultraje a Rigor, Os Ostras, e é claro, Beach Boys e os patronos da surf music local, os Retrofoguetes, com quem hoje compartilham o mesmo baixista, C.H.
A partir daí, a trajetória da banda pode ser resumida naquela frase batida, mas que quase ninguém aplica: "não sabendo que era impossível, foi lá e fez". Em vez de ficar reclamando da falta de espaço para tocar, o grupo tocou em todos os lugares possíveis: do Nhô Caldos à boate Fashion Club, além de Belo Horizonte e Aracaju.
"A gente não tinha essa, ligava pras produtoras queixando mesmo. Já tocamos em lugares em que bandas com muito mais tempo de estrada que a gente nunca tocou", revela o Capitão do rock.
12 tubos auditivos alucinantes
Dentro de uma concha de aparente despretensão e simplicidade, esconde-se uma pérola musical muito bem resolvida - na concepção, execução e produção. Assim pode ser descrita a estréia do Capitão Parafina & Os Haoles.
A produção de Tadeu Mascarenhas, uma das peças fundamentais no processo de profissionalização do rock local, junto aos seus colegas andré t e Jera Cravo, tem tudo a ver com isso, chegando até mesmo a sofisticação de encaixar no som simples e direto da banda instrumentos como escaleta, trumpete, trombone, sax tenor, sax barítono, piano, violoncelo e calimba.
Despretensão? Pois sim.
O resultado que sai das caixas de som é um CD redondinho, em que é simplesmente impossível pular qualquer uma das 12 faixas, pois todas são igualmente boas - e melhor ainda, diferentes entre si.
Não há aquelas músicas supérfluas que só servem para preencher o disco, algo tão comum no rock contemporâneo, onde as bandas hypadas - pela crítica sulista e seu patético séquito virtual de vaquinhas de presépio - apresentam um ou dois hits e o resto só enche lingüiça e a paciência dos ouvintes.
Aqui, não. Mesmo ensolarado, o disco é uma obra coesa - todas as faixas fazem sentido. É um passeio pelo dia-a-dia praieiro e a imaginação fértil desses garotos de praia.Há o romantismo deslavado de Um Amor Como o Seu, o swing pesado à la Rocket From The Crypt de Fugindo Desesperadamente de Um Helicóptero Malvado Na Densa Selva Sombria e Úmida Com Muitos Perigos (ufa!), o pop sofisticado de Ode à Califórnia, o tributo inconsciente aos Retrofoguetes de Comer Caranguejo é Delicioso, Mas Arranha a Virilha e o desarranjo intestinal de Surf Bosta. São 12 belas ondas, e todas elas rendem grandes tubos. Na dúvida, pegue todas.
Frutos do Mar
Capitão Parafina & Os Haoles
R$ 17, 90
www.palcomp3.com.br/capitaoparafina
www.capitaoparafina.com.br/
segunda-feira, setembro 10, 2007
TOME-LHE MICRO-RESENHAS
O Superman de Alan Moore
Após deixar a DC Comics no final dos anos 80, ainda quente de sucessos como Monstro do Pântano, V de Vingança e Watchmen, obras que mudaram a percepção das HQs mundo afora, o escritor Alan Moore passou um tempo fazendo frilas para a independente Image Comics. Fez Wildcats (o ótimo álbum Volta pra casa ainda pode ser encontrado nas bancas), Spawn e Supremo, série criada pelo desenhista picareta Rob Liefeld como um genérico de Superman. Como costuma fazer em todas as séries que assume, Moore zerou o personagem ao criar para ele todas as histórias que queria fazer para o Superman original, mas a DC não deixava.De maneira brilhante, o autor revitaliza todos os elementos que faziam parte da mitologia do Superman, como a Supermoça, Krypto O Supercão, a Zona Fantasma, a cidade engarrafada de Kandor e muitos outros em uma jornada do personagem em busca de sua própria identidade. Ao mesmo tempo, Moore conta nas entrelinhas a própria história da indústria dos quadrinhos, desde os anos 30. A necessidade de heróis em tempos de guerra, a paranóia anti-comunista nos anos 50 e o subsequente banimento das HQs de heróis, a ascenção dos quadrinhos de crime e horror, a falência do American Way of Life, a contracultura dos anos 60, a estética da revista Mad, tudo isso vai sendo abordado pelo escritor em idas e vindas no tempo. Aí é que reside o único ponto fraco deste belo álbum da Devir: se nas seqüências de flashback a excelente arte é do parceiro Rick Veitch (Monstro do Pântano), nas atuais, quem responde pelos desenhos é Joe Benett, que apenas reproduz o surrado padrão Image dos anos 90: uma cópia tosca de Jim Lee (X-Men) - que já era ruim. Fora isso, é um álbum nota 10.
Supremo - A Era de Ouro
Alan Moore, Joe Bennet, Rick Veitch e outros
Devir
168 págs.
R$ 45
www.devir.com.br
Os bons tempos voltaram?
Parece que agora vai. Depois das fracassadas tentativas de ressuscitar os musicais em filmes pavorosos como Moulin Rouge, Chicago e Dreamgirls, a refilmagem do Hairspray (1988) original de John Waters - agora como um musical - chega trazendo um clima bem Grease, de inocência e anos 60. É difícil avaliar sem ter visto o filme, mas pela classe do som, promete. O Hairspray 2007 conta com um elenco pra lá de estrelado cantando no filme e e no CD, como John Travolta (no papel de uma mulher gorda!), Michelle Pfeiffer, Christopher Walken e Queen Latifah, além de Zac Efron (de High School Musical). Destaque para Good Morning Baltimore, The Nicest Kids in Town e It‘s Hairspray. Divertido. Estréia em Salvador essa sexta-feira.
Hairspray
Vários
Universal
R$ 30,50
www.hairspraymovie.com
Paulo Coelho - O Compositor
Vários
Universal
R$ 29
www.universalmusic.com.br
Excelência técnica ao vivo
Também intitulado Chaos Ridden Years, este Stockholm Knockout Live apresenta em DVD e CD duplo - vendidos separadamente - a performance matadora e ensurdecedora da banda finlandesa de heavy metal Children of Bodom. Uma das bandas mais queridas atualmente pela moçada das camisetas pretas, o grupo é o arquétipo do metal eslavo: extremo, veloz, berrado, cheio de notas e tocado com virtuose clássica. Afinal, lá no mundo civilizado, as crianças aprendem a ouvir música erudita desde cedo, o que explica o altíssimo nível técnico dos músicos de lá - especialmente os de metal.
Stockholm Knockout Live
Children of Bodom
Universal
R$ 39
www.cobhc.com
Meu nome não é Luka
Sem lançar CD desde 2001, Suzanne Vega volta à ativa com Beauty and Crime - ao mesmo tempo uma sensível ode à sua Nova Iorque natal e um exorcismo dos fantasmas do 11 de setembro. Houve quem o comparasse à obra-prima New York (1989), de Lou Reed - um óbvio disparate. Reed é gênio. Já Vega é uma moça esforçada, que mandou bem neste CD de sonoridade sofisticada e belas melodias costuradas pela sua voz doce - intacta desde os tempos de Luka (1987). No disco, Vega passeia da bossa nova ianque (Pornographer's Dream) ao folk rock do Village (Zephyr and I), faixa que conta com a ilustre presença de Lee Ranaldo (Sonic Youth) na guitarra - também em mais duas faixas.
Beauty and Crime
Suzanne Vega
EMI / Blue Note
R$ 29,90
www.suzannevega.com
Após deixar a DC Comics no final dos anos 80, ainda quente de sucessos como Monstro do Pântano, V de Vingança e Watchmen, obras que mudaram a percepção das HQs mundo afora, o escritor Alan Moore passou um tempo fazendo frilas para a independente Image Comics. Fez Wildcats (o ótimo álbum Volta pra casa ainda pode ser encontrado nas bancas), Spawn e Supremo, série criada pelo desenhista picareta Rob Liefeld como um genérico de Superman. Como costuma fazer em todas as séries que assume, Moore zerou o personagem ao criar para ele todas as histórias que queria fazer para o Superman original, mas a DC não deixava.De maneira brilhante, o autor revitaliza todos os elementos que faziam parte da mitologia do Superman, como a Supermoça, Krypto O Supercão, a Zona Fantasma, a cidade engarrafada de Kandor e muitos outros em uma jornada do personagem em busca de sua própria identidade. Ao mesmo tempo, Moore conta nas entrelinhas a própria história da indústria dos quadrinhos, desde os anos 30. A necessidade de heróis em tempos de guerra, a paranóia anti-comunista nos anos 50 e o subsequente banimento das HQs de heróis, a ascenção dos quadrinhos de crime e horror, a falência do American Way of Life, a contracultura dos anos 60, a estética da revista Mad, tudo isso vai sendo abordado pelo escritor em idas e vindas no tempo. Aí é que reside o único ponto fraco deste belo álbum da Devir: se nas seqüências de flashback a excelente arte é do parceiro Rick Veitch (Monstro do Pântano), nas atuais, quem responde pelos desenhos é Joe Benett, que apenas reproduz o surrado padrão Image dos anos 90: uma cópia tosca de Jim Lee (X-Men) - que já era ruim. Fora isso, é um álbum nota 10.
Supremo - A Era de Ouro
Alan Moore, Joe Bennet, Rick Veitch e outros
Devir
168 págs.
R$ 45
www.devir.com.br
Os bons tempos voltaram?
Parece que agora vai. Depois das fracassadas tentativas de ressuscitar os musicais em filmes pavorosos como Moulin Rouge, Chicago e Dreamgirls, a refilmagem do Hairspray (1988) original de John Waters - agora como um musical - chega trazendo um clima bem Grease, de inocência e anos 60. É difícil avaliar sem ter visto o filme, mas pela classe do som, promete. O Hairspray 2007 conta com um elenco pra lá de estrelado cantando no filme e e no CD, como John Travolta (no papel de uma mulher gorda!), Michelle Pfeiffer, Christopher Walken e Queen Latifah, além de Zac Efron (de High School Musical). Destaque para Good Morning Baltimore, The Nicest Kids in Town e It‘s Hairspray. Divertido. Estréia em Salvador essa sexta-feira.
Hairspray
Vários
Universal
R$ 30,50
www.hairspraymovie.com
Bom nas letras, péssimo nos livros
Antes de descobrir o caminho dos milhões e da fama mundial com sua mistura de filosofia de boteco, misticismo de araque e auto-ajuda, Paulo Coelho já tinha atrás de si uma sólida carreira como um dos melhores letristas do Brasil. Esta coletânea caça-níqueis concede aos fãs do escritor um amplo painel de sua travessuras nos anos 1970, especialmente com os notórios parceiros Raul Seixas e Rita Lee em clássicos imortais do rock nativo, como As Minas do Rei Salomão, Al Capone, Como Vovó Já Dizia e Esse Tal de Roque Enrow. Há ainda curiosidades como o involuntariamente hilariante mega hit Sou Rebelde (na voz de Lílian), depois identificada como hino do movimento punk nacional (podem perguntar pra Big Brother!). E também Porque, com Sonia Santos, boa cantora que gravou dois LPs e depois sumiu também é bem legal e vale a audição.Paulo Coelho - O Compositor
Vários
Universal
R$ 29
www.universalmusic.com.br
Excelência técnica ao vivo
Também intitulado Chaos Ridden Years, este Stockholm Knockout Live apresenta em DVD e CD duplo - vendidos separadamente - a performance matadora e ensurdecedora da banda finlandesa de heavy metal Children of Bodom. Uma das bandas mais queridas atualmente pela moçada das camisetas pretas, o grupo é o arquétipo do metal eslavo: extremo, veloz, berrado, cheio de notas e tocado com virtuose clássica. Afinal, lá no mundo civilizado, as crianças aprendem a ouvir música erudita desde cedo, o que explica o altíssimo nível técnico dos músicos de lá - especialmente os de metal.
Stockholm Knockout Live
Children of Bodom
Universal
R$ 39
www.cobhc.com
Meu nome não é Luka
Sem lançar CD desde 2001, Suzanne Vega volta à ativa com Beauty and Crime - ao mesmo tempo uma sensível ode à sua Nova Iorque natal e um exorcismo dos fantasmas do 11 de setembro. Houve quem o comparasse à obra-prima New York (1989), de Lou Reed - um óbvio disparate. Reed é gênio. Já Vega é uma moça esforçada, que mandou bem neste CD de sonoridade sofisticada e belas melodias costuradas pela sua voz doce - intacta desde os tempos de Luka (1987). No disco, Vega passeia da bossa nova ianque (Pornographer's Dream) ao folk rock do Village (Zephyr and I), faixa que conta com a ilustre presença de Lee Ranaldo (Sonic Youth) na guitarra - também em mais duas faixas.
Beauty and Crime
Suzanne Vega
EMI / Blue Note
R$ 29,90
www.suzannevega.com
segunda-feira, setembro 03, 2007
LEMBRANÇAS DO INFERNINHO
A lendária casa noturna Madame Satã (SP), que marcou época nos anos 80, é relembrada em ótimo livro de Marcelo Leite de Moraes
Imagine entrar numa casa pintada de preto, e de cara, se deparar com uma mulher enjaulada comendo repolho, bebendo uísque no gargalo e soltando uns berros de vez em quando. Essa era a primeira impressão que se tinha ao entrar no antigo Madame Satã, lendária casa noturna paulista. A história do Madame e as muitas lembranças que ficaram daquela época estão agora reunidas no livro Madame Satã - O templo do underground dos anos 80, do jornalista Marcelo Leite de Moraes.
É possível dizer que, se não fosse o Satã, a história do rock brasileiro naquela década - e sua explosão - talvez não tivesse acontecido, ou teria sido totalmente diferente. Praticamente todas as bandas do período, do RPM ao Camisa de Vênus tocaram no Satã. Centro de tudo o que era moderno, alternativo, gótico e punk nos anos 80, a casa da da Rua Conselheiro Ramalho, no bairro da Bela Vista aglutinou todos os descontentes e malucos do período.
Foi a casa certa, na hora certa, na cidade certa. Era o início da redemocratização, o início de uma nova década e de uma certa retomada cultural, que desembocou no estouro do BRock. E foi lá que a maioria das bandas despontaram para o sucesso. O RPM, por exemplo, foi contratado pela CBS (hoje Sony Music) após lotar a casa por várias noites seguidas.
Era o lugar em que tudo podia acontecer. A começar pelos personagens pitorescos da casa, como a citada Mulher-Repolho, "interpretada" pela performer Amélia Gonçalves, ou o Mãozinha, um sujeito esquisito que ficava sentado ao lado do american bar e não falava com ninguém. O negócio dele era botar a mão no chão para as meninas pisarem em cima. "As meninas que usavam escarpin, salto 15, de repente sentiam uma coisa macia onde estava pisando: era a mão do cara. Ele ia lá devagar e colocava a mão. As meninas pisando e ele curtindo", relembra Clemente, vocal dos Inocentes, uma instituição do punk brasileiro.
O autor lembra que, numa única noite, o Madame Satã era capaz de apresentar atrações totalmente díspares como um desfile de moda, um lançamento de revista, noite de autógrafos de desenhistas, shows de mímica, strip-tease e também das bandas Ratos de Porão, Pin-Ups e outras. "Tudo em uma noite apenas, tudo junto, uma verdadeira salada mista", define.
No livro, resultado do Trabalho de Conclusão de Curso de Marcelo em Jornalismo na Faculdade Anhembi-Morumbi em 2002, estão reunidos muitas e muitas histórias dos mais diversos personagens - muitos deles impensáveis no mesmo ambiente. Até porque o Madame era, definitivamente, o lugar mais bem frequentado da época. Músicos de todas as bandas iam lá e se revezavam entre o palco e a platéia, dependendo da noite. "No Madame Satã acontecia que um dia você era a platéia, e na semana seguinte, a banda no palco", conta Edgard Scandurra (Ira!) no livro.
Muitos baianos, residentes ou de passagem por São Paulo, testemunharam o agito do lugar na época. Inclusive bandas locais, como Camisa de Vênus, Ramal 12 e 14º Andar, tocaram naquele palco lendário, como lembra Cláudio Lacerda, cantor da Ramal: "O Madame era o símbolo da época e nós tocamos para a casa lotada. O público realmente prestava atenção nas bandas, diferente de outros lugares".
Nem tudo foram flores para os baianos que ousavam se aventurar no Madame, contudo. O empresário Osvaldo Silveira, também conhecido como DJ Brahmz, lembra que os punks locais ameaçaram o pessoal do Camisa de Vênus de faca em punho. "Foi Clemente quem salvou os caras. Como ele era - ainda é - meio que um líder do movimento, conseguiu conter os punks enquanto os caras do Camisa saíam de fininho. Por conta desse clima, eu mesmo nunca tive coragem de pisar lá. Eu ia no Rose Bom Bom, que era um pouco menos imprevisível", lembra rindo, citando outra casa noturna famosa da época.
Jerry Marlon, então baixista do 14º Andar, também pontua que era bem difícil pros rockers baianos se enturmarem com os paulistas. "Eles não aceitavam a gente. Sabe como é, baiano indo tocar rock em São Paulo... eles não levavam muita fé", considera.
O ponto forte do livro é mesmo a grande quantidade de depoimentos de músicos e artistas que frequentaram o Madame, com causos hilariantes. Por exemplo, a rixa entre João Gordo e Cazuza. "Toda vez que o Cazuza ia lá, vinha me aporrinhar e eu descia o cacete nele. Virou folclore. Teve uma vez que eu estava no bar, e de repente, olhei pra baixo e ele estava agachado, abraçado nas pernas do Ezequiel Neves, olhando para mim. Aí ele disse: 'odeio você'. Dei um pisão na cara dele, umas bicas de coturno, mandei ver", conta João.
Essa e muitas outras histórias e considerações sobre o sexo, as drogas, a música, as danças e loucuras do Madame estão neste livro, em uma leitura muito prazerosa.
Matéria publicada no Caderno 2 do jornal A Tarde, no dia 4 de setembro de 2007.
Imagine entrar numa casa pintada de preto, e de cara, se deparar com uma mulher enjaulada comendo repolho, bebendo uísque no gargalo e soltando uns berros de vez em quando. Essa era a primeira impressão que se tinha ao entrar no antigo Madame Satã, lendária casa noturna paulista. A história do Madame e as muitas lembranças que ficaram daquela época estão agora reunidas no livro Madame Satã - O templo do underground dos anos 80, do jornalista Marcelo Leite de Moraes.
É possível dizer que, se não fosse o Satã, a história do rock brasileiro naquela década - e sua explosão - talvez não tivesse acontecido, ou teria sido totalmente diferente. Praticamente todas as bandas do período, do RPM ao Camisa de Vênus tocaram no Satã. Centro de tudo o que era moderno, alternativo, gótico e punk nos anos 80, a casa da da Rua Conselheiro Ramalho, no bairro da Bela Vista aglutinou todos os descontentes e malucos do período.
Foi a casa certa, na hora certa, na cidade certa. Era o início da redemocratização, o início de uma nova década e de uma certa retomada cultural, que desembocou no estouro do BRock. E foi lá que a maioria das bandas despontaram para o sucesso. O RPM, por exemplo, foi contratado pela CBS (hoje Sony Music) após lotar a casa por várias noites seguidas.
Era o lugar em que tudo podia acontecer. A começar pelos personagens pitorescos da casa, como a citada Mulher-Repolho, "interpretada" pela performer Amélia Gonçalves, ou o Mãozinha, um sujeito esquisito que ficava sentado ao lado do american bar e não falava com ninguém. O negócio dele era botar a mão no chão para as meninas pisarem em cima. "As meninas que usavam escarpin, salto 15, de repente sentiam uma coisa macia onde estava pisando: era a mão do cara. Ele ia lá devagar e colocava a mão. As meninas pisando e ele curtindo", relembra Clemente, vocal dos Inocentes, uma instituição do punk brasileiro.
O autor lembra que, numa única noite, o Madame Satã era capaz de apresentar atrações totalmente díspares como um desfile de moda, um lançamento de revista, noite de autógrafos de desenhistas, shows de mímica, strip-tease e também das bandas Ratos de Porão, Pin-Ups e outras. "Tudo em uma noite apenas, tudo junto, uma verdadeira salada mista", define.
No livro, resultado do Trabalho de Conclusão de Curso de Marcelo em Jornalismo na Faculdade Anhembi-Morumbi em 2002, estão reunidos muitas e muitas histórias dos mais diversos personagens - muitos deles impensáveis no mesmo ambiente. Até porque o Madame era, definitivamente, o lugar mais bem frequentado da época. Músicos de todas as bandas iam lá e se revezavam entre o palco e a platéia, dependendo da noite. "No Madame Satã acontecia que um dia você era a platéia, e na semana seguinte, a banda no palco", conta Edgard Scandurra (Ira!) no livro.
Muitos baianos, residentes ou de passagem por São Paulo, testemunharam o agito do lugar na época. Inclusive bandas locais, como Camisa de Vênus, Ramal 12 e 14º Andar, tocaram naquele palco lendário, como lembra Cláudio Lacerda, cantor da Ramal: "O Madame era o símbolo da época e nós tocamos para a casa lotada. O público realmente prestava atenção nas bandas, diferente de outros lugares".
Nem tudo foram flores para os baianos que ousavam se aventurar no Madame, contudo. O empresário Osvaldo Silveira, também conhecido como DJ Brahmz, lembra que os punks locais ameaçaram o pessoal do Camisa de Vênus de faca em punho. "Foi Clemente quem salvou os caras. Como ele era - ainda é - meio que um líder do movimento, conseguiu conter os punks enquanto os caras do Camisa saíam de fininho. Por conta desse clima, eu mesmo nunca tive coragem de pisar lá. Eu ia no Rose Bom Bom, que era um pouco menos imprevisível", lembra rindo, citando outra casa noturna famosa da época.
Jerry Marlon, então baixista do 14º Andar, também pontua que era bem difícil pros rockers baianos se enturmarem com os paulistas. "Eles não aceitavam a gente. Sabe como é, baiano indo tocar rock em São Paulo... eles não levavam muita fé", considera.
O ponto forte do livro é mesmo a grande quantidade de depoimentos de músicos e artistas que frequentaram o Madame, com causos hilariantes. Por exemplo, a rixa entre João Gordo e Cazuza. "Toda vez que o Cazuza ia lá, vinha me aporrinhar e eu descia o cacete nele. Virou folclore. Teve uma vez que eu estava no bar, e de repente, olhei pra baixo e ele estava agachado, abraçado nas pernas do Ezequiel Neves, olhando para mim. Aí ele disse: 'odeio você'. Dei um pisão na cara dele, umas bicas de coturno, mandei ver", conta João.
Essa e muitas outras histórias e considerações sobre o sexo, as drogas, a música, as danças e loucuras do Madame estão neste livro, em uma leitura muito prazerosa.
Matéria publicada no Caderno 2 do jornal A Tarde, no dia 4 de setembro de 2007.
Assinar:
Postagens (Atom)