Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
segunda-feira, fevereiro 28, 2005
VOLTA, MÁRIO!
Sim, mas....
Eu sei que vocês tão putos.
Eu sei que vocês não agüentam mais abrir o Rock Loco e não ver minhas sábias palavras e justas pedradas e elogios. Eu sei que Braminha bota pra ver tálba lascar ni banda na minha ausência. Mas Braminha é um homem ocupado, muitas vezes não pode lhes dar toda a atenção que vocês merecem. Já eu não passo de um verme (por enquanto) desocupado a maior parte do tempo, por mais que isso me doa. Só que, além de desocupado, este rockloquista também não passa de um pé-rapado, alguém que precisa sair pelas ruas a procurar um emprego fixo, ou no mínimo trabalhos frila que lhe garantam o aluguel no fim do mês.
É... trabalho, emprego!
Como assim, vocês nunca ouviram falar nisso?
> Comentário atrasado: E o Viola, hein? Mal chegou, já foi pro saco... Mas que viola, hein?.. (Ok, essa última foi péssima. Mas não tão ruim quanto o nosso pobre Bahia).
> O Omelete noticiou uma lista com os 100 melhores álbuns ingleses segundo os leitores do jornal The Sun e da revista especializada em metal / rock pesado Kerrang. Confira abaixo os vinte primeiros colocados na pesquisa.
01. Black Sabbath ? ?Black Sabbath?02. Iron Maiden ? ?The number of the beast?03. Sex Pistols ? ?Nevermind the bollocks?04. Led Zeppelin ? ?IV?05. Black Sabbath ? ?Paranoid?06. Muse ? ?Absolution?07. Clash ? ?London calling?08. Queen ? ?Sheer heart attack?09. Iron Maiden ? ?Iron Maiden?10. Manic Street Preachers ? ?The Holy Bible?11. Led Zeppelin ? ?Physical graffiti?12. Judas Priest ? ?British steel?13. Def Leppard - Hysteria14. Black Sabbath ? ?Volume 4?15. Darkness ? ?Permission to land?16. Ozzy Osbourne ? ?Blizzard of ozz?17. Wildhearts ? ?Earth vs the Wildhearts?18. Lostprophets ? ?Start something?19. Queen ? ?A Night at the opera?20. Muse ? ?Origin of symmetry?
Rapaz, como diria Mário Kertesz (ou seja lá como se escreve seu nome), que coisa, não? Nunca pensei que veria o Def Leppard (nº 13) numa lista de melhor alguma coisa nesse mundo, quanto mais na de 100 melhores álbuns ingleses, por mais carinho que tenha pelos seus três primeiros discos. É, antes do baterista perder o braço em um acidente de carro, às vésperas de se apresentar no Rock in Rio I, O DEF LEPPARD ERA UMA BANDA LEGAL! Desculpem, tive de gritar para que ninguém se faça de desentendido depois. Mas esse negócio do Def Leppard é sério, mesmo. Podem perguntar pra Cláudio Esc no Clash City Rockers.
É bom lembrar que ela (a pesquisa) foi feita por leitores da revista Kerrang e do jornal The Sun, ambos órgãos da imprensa inglesa. E ela tá errada desde o princípio por um motivo muito simples: jornalista não tem nada que perguntar pra leitor qual é o melhor álbum de porcaria nenhuma, nem do rock inglês, nem da mpb, do rock baiano, de sua rua, porra nenhuma. ?Porra Franchico, você também é escroto pra caralho, o leitor também tem que ter voz, pô! Né não, é??, pergunta o jovem leitor abismado com a agrestia (habitual?) do maluco que escreve neste conceituado órgão de defesa da liberdade de expressão.
Né, não. Jornalista pergunta pro público inglês (leitor da Kerrang, sempre é bom lembrar) quais são os 100 melhores álbuns ingleses de todos os tempos. Aí pega e vem: Def Leppard em 13º lugar (com um disco que nem é de sua melhor fase). Black Sabbath em primeiro eu até libero. Mas Iron Maiden em segundo, aí já é demais. Judas Priest em 12º. O resto, não tô nem a fim de comentar mais nada. É razão o bastante pra nunca mais perguntar mais nada à ninguém.
Com todo o respeito às valorosas bandas do metal tradicional citadas na pesquisa, e que justiça seja feita, foi a porta de entrada deste rockloquista que vos escreve no maravilhoso mundo do rock n? roll, aos 12 anos de idade, no longínquo ano de 1984.É verdade, agradeçam à Steve Harris e Bruce Dickinson. Se não fosse por eles, talvez eu nem estivesse aqui. Estaria quem sabe em uma construtora, fumando charutos e demitindo funcionários. Ou atrás do trio elétrico, ou varrendo as ruas ou...
> E aí, cês tão felizes com o show do Placebo aqui em Salvador? Digam aí! Me deixem saber, pô! FALEM COMIGO!
> Semana que vem já vou ter acesso a internet de casa e aí essa bagaça volta ao seu ritmo normal, rapeize.
Aquele abç...
terça-feira, fevereiro 22, 2005
Get Your Ya Ya´s Out
- 2005 começou cedo este ano, se é que me entendem, e vejo uma agitação no mercado fonografico gringo como poucas vezes nos ultimos anos. O mercado americano teve crescimento de vendas em 2004, puxado por...Norah Jones, contradizendo a falacia que a troca de arquivos na net é inimigo dos artistas, é o contrario , ajuda a divulgar as obras e aumenta/desperta o interesse de novos fãs( leia-se consumidores) . Mas como a industria não brinca em serviço a artilharia este ano será pesada, vejam o que nos espera :
- Queens of The Stone Age- lança agora em março o" Lullabies to Paralyze"
- The House of Love- Guy Chadwick e Terry Bickers se reunem depois de mais de uma decada e lançam agora no final de fevereiro "Days Run Away"
- New Order- tambem agora no final de Fevereiro " Waiting for a Silent Call" com o guitarrista Phil Cunningham efetivado como integrante da banda.
- The Who- os lengedarios sobreviventes Daltrey e Townsend lançam na primavera deles um disco de ineditas.Titulo provisorio é Who 2, e esperava-se mais um mico.
- Oasis- disco novo em Maio, sem titulo ainda, mas que tem a faixa A Bell Will Ring rolando por aí.
- Stevie Wonder- lança em abril " A Time To Love" só com ineditas ,depois de uma decada sem lançar nada de novo.Expectativa maxima da industria, e temos que admitir que o Silvinho Maravilha é um dos ultimos genios originais do pop ainda na ativa.
- Coldplay-na primavera deles lançam o aguardado terceiro disco de ineditas. Chris Paltrow(ops, Martin) descartou 42 musicas no estudio. Ainda sem titulo, mas considerado um potencial best-seller.
- Guns n' Roses- parece mentira mas a gravadora promete o "Chinese Democracy" para a primavera deles, sei não, acho que o tempo de Axl passou. Mas a aposta da industria é alta.
- Tambem no forno Moby, Al Greeen, Franz Ferdinand, Babyshambles, Go- Betweens.
Por ultimo quem voltou com a formação original, no momento apenas para shows, foram os seminais (ô palavrinha) GANG OF FOUR!! Mas fazer o que? Os caras são a grande influência das bandas do momento, Bloc Party, Franz Ferdinand, as bandas da DFA como Rapture, LCD Soundsystem... e por ai vai.
O ano promete.
segunda-feira, fevereiro 21, 2005
R.I.P. Hunter S. Thompson
sexta-feira, fevereiro 18, 2005
Local boys will spend a quarter, just to shine the silver bowl, living hard will take its toll. Illegal fun, under the sun, boys...
SO MUCH TO SAY, SO LITTLE TIME
Item! SOLTEM OS FOGOS DE ARTIFÍCIO! Eu já tava ligado por que nesse caso tenho uma fonte (da fonte) privilegiada, mas num queria dizer nada. Lúcio Ribeiro foi lá e entregou o ouro ao bandido. Parece que teremos mesmo um show do Placebo em Salvador já em abril. O evento será no festival Claro que é rock, onde bandas locais (atenção, macacada!) disputarão a chance de tocar em setembro numa grande final em São Paulo. O Placebo fecha a noite. Segundo Lúcio, o anúncio da turnê da banda do viadinho Brian Molko por oito cidade brasileiras (Salvador incluída? vai cair uma chuva de sapos!) será feito pela multi semana que vem. Fiquemos atentos...
Item! Amanhã (19 de fevereiro) tem show da Sangria no lançamento do cd da banda Mundo Tosco (who?). A Sangria deve tocar por último, então não se preocupe em chegar tão cedo, a menos que você seja fã (ou queira conhecer) o som da banda anfitriã e da Automata, que também participa do evento. A partir das 22 h no The Best Hall (Antiga Queops - Rua Manoel Antonio Galvão, 1075 - Última a direita sentido Ucsal Orla), fica num hotel ali na orla, é facinho de achar. Se for lá, aproveite e parabenize o ubber verme Apú, guitarrista da Sangria que completa 34 verões nesse mesmo dia... Ingresso: R$ 10,00 (consumação)
Item! E o movimento blogger / rocker de Salvador não pára de crescer. Mais uma venerável figura do cenário inaugurou seu blog recentemente e nós aqui do Rock Loco achamos muito bom e mandamos nossa saudação: em http://www.meusom.blogspot.com/, o veterano Nei Bahia (co-autor de algumas das melhores faixas do primeiro cd do Cascadura, é bom lembrar a estatura do rapaz) deverá (imagino) comentar sobre seus músicos e músicas preferidas, além de dar o seu pitaco em questões candentes do meio. Adicionem e confiram regularmente.
Item! E deu no Omelete: vai ser no fantástico festival de Coachella, na Califórnia, o primeiro do retorno dos Cocteau Twins, maravilhosa banda de rock etéreo que fez história nos anos 80. Quem não se derreteu ao ouvir discos como Blue Bell knoll e Heaven or Las Vegas, entre muitos outros, não sabe o que é a vida. Que sejam bem vindos (na verdade, não deviam nem ter acabado, pra começo de conversa).
Item! Essa deu no Universo HQ: Preacher sai pela Devir. A genial série em 65 números do psicopata irlandês Garth Ennis será publicada pela editora Devir ainda esse ano. Sua editora anterior no Brasil, a Brainstore, perdeu mesmo seus direitos de publicação a apenas 6 números do desfecho da série. A má notícia para quem a acompanhou esse tempo todo é que a Devir começará a publicar Preacher do iniciozinho. Bom pra quem nunca leu. A série será publicada em edições encadernadas, o que é bom, pois também adianta o lado. Pra gente aqui, que não tem sequer uma gibiteria na cidade, o jeito vai ser pedir pelo correio. Foda, mas é o jeito. Quem nunca leu, procure faze-lo. Altamente recomendada. Mais adiante eu posto um textinho aqui falando mais profundamente sobre Preacher e seu mentalmente perturbado autor. Na mesma notícia, a Devir promete publicar outras séries fodonas no Brasil, clica lá e confira.
Item! Mais uma do Universo HQ: Lara Croft JÁ ERA! Alguém aí tá sentindo falta? Se ainda não, fique tranqüilo, nem vai dar tempo. No máximo em 2006 ela volta com novo visual. Clica aí no link e confira a notícia completa e a sensacional capa (assinada pelo especialista em gostosas Adam Hughes) de Tomb Raider 50, último número (por equanto) de sua revista mensal publicada pela Top Cow / Image.
Item! Essa é mais uma para comemorar: os chincheiros móres Cheech & Chong estrelam um Novo filme em breve. Quem já se borrou de rir com clássicos da lesação como Queimando tudo (Up in smoke) e Altos sonhos (disponíveis na GPW), não perde por esperar. Dúvida: seu filmes antigos (produzidos na virada dos 70 para os 80) eram tosquíssimos, será que eles se adaptam à Hollywood atual? Tomara que arrumem um roteirista a altura de todo o seu talento. Respire fundo e segure.
Luciano: me dá o placar?
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
Barato bom é o da barata
Enfim: baiano no cinema se comporta como se estivesse assistindo a um dvd no conforto do lar, no home theater que ele pagou uma fortuna e só tem para mostrar aos amigos que pode. Mas acho que o errado aqui sou eu, que ainda vou ao cinema assistir ao filme com atenção. As cadeiras são tão confortáveis, o ar-condicionado é tão potente, né? É o lugar perfeito para se espreguiçar e bater um bom bate-papo. Deus, me proteja da barbárie dessa escumalha imberbe, que o resto a gente dá um jeito. E salve, André Setaro! (Sora! Quando vai rolar o homem no RL?)
O filme? Ah, o filme! Na moral, meio assim assim. Scorcese já fez coisa beeeeeeeem melhor. Agora ele ganha o Oscar. Sabe como é, essa tal de Academia não é chegada a premiar artistas no auge. Tem que ser no declínio. Deve ser melhor para os negócios. Falando sério, agora: os atores estão fantásticos (inclusive o viadinho do Di Caprio), a produção é milionária, o velho cheirador dá um show de direção como sempre, mas sei lá... ficou faltando algo. Alguém aí sabe o que é? Alguém? Alguém? Ferris? Ainda assim, meu preferido desses filmes de Oscar aí ainda é Sideways ? Entre umas e outras. Imperdível, excelente etc e tal. E claro que não vai ganhar porra nenhuma. Veja antes que saia de cartaz.
ROCK. Rock, rock, rock. Alguma novidade por aí? Essa época pós carná ainda é meio devagar, pouca coisa acontecendo por aqui (que eu saiba). Por enquanto, soube que Roney Jorge e seus Ladrões de Bicicleta gravaram várias músicas novas no Estúdio em Transe, me disse o próprio dono do estabelecimento, o bom e velho Vandex. ?Tá lindo, bicho?, resumiu o homem da Guizzzmo. Vem coisa boa por aí, aguardemos.
A furiosa Sangria também andou fazendo o mesmo alguns dias antes em um estúdio na Pituba. Eles inclusive gravaram o clássico uterino Deep down my throat, que já agitava a galera nos shows. Em breve nas paradas, Sangria 2, o segundo EP da banda. Preparem seus ouvidos.
Recebi ainda esse email da galera gente boa da Declinium, ativíssima banda de Camaçari:
Aê galera, vai rolar no Astrolábio Bar, Camaçari-Ba, dia 26 de Fevereiro, ás 20:00hs. O premiado, Astronautas ? PE (www.astronautas.org), e tbm as bandas, Declinium (www.declinium.cjb.net) e a A Fábrica (http://afabrica.nafoto.net), bandas recém indicadas para o prêmio Rock Independente Bahia 2004. Vamos prestigiar essas grandes bandas! Ingresso: R$ 6,00 Acesse o site: www.declinium.cjb.net e o blog: www.declinium.blog.aol.com.br para saber mais.
Para terminar, como diria o sensacional Zumbi do Mato, eu só quero um potinho de inhanhanha...
sábado, fevereiro 12, 2005
Notas Aleatorias sobre Generalidades
- Confirmado (já ha algum tempo), o Cream com sua formação original: Jack Bruce, Eric Clapton e Ginger Baker; se reune para uma serie de 4 shows em maio no Royal Albert Hall, local da ultima apresentação da banda em 1969. Não existe previsão de se gravar um disco, muito menos de musicas novas. Maquina do tempo é isso aí.
-Alias saiu uma nova re-reedição, agora no formato SACD, do ultra classico Layla do Clapton, sorry, Derek & the Dominoes. Mais interessantes foram as entrevistas que Clapton( antes mais conhecido como Deus) deu sobre o periodo. E mais uma vez se confirma o estrago causado pelo disco Music from Big Pink do The Band. Segundo Clapton, foi a obsessão com a musica do Band que levou o Blind Faith à dissolução, e seu mergulho ( de Clapton) na Americana, primeiro com os obscuros Delaney & Bonnie, que depois forneceu a contragosto a espinha dorsal dos Dominoes: Jim Gordon, Bobby Whitlock e Carl Raddle. Duanne Allman só entrou depois, de forma totalmente casual, pra se tornar o principal catalizador do som da banda . A ideia de Clapton de ser apenas "um dos caras" da banda, não deu certo, é claro, seu "disfarce" foi rapidamente descoberto. O saldo final da aventura foi: um pesado vicio em heroina por parte de todo a banda, no caso de Clapton 3 anos de inatividade só "perseguindo o dragão", danos irreparaveis aos ingenuos Delaney & Bonnie, pressão em cima de Duanne para largar os irmãos na Allman´s Bros. Band(coisa que Duanne recusou, e 1 ano e meio depois tava morto), uma obra-prima do rock classico e por ultimo o roubo da mulher do melhor amigo, no caso Clapton roubando Patti Boyd de George Harrison. E Clapton ainda faz uma musica sobre o roubo, "Have You Ever Loved a Woman", incluida no disco, na qual contem a perola maxima da verminagem, " nunca deixe sua mulher sozinha com seu melhor amigo". Muy amigo.
-Tambem confirmado já há algum tempo, o grande Paul Rodgers( um dos melhores vocalistas do rock) substituirá Freddie Mercury(?????) numa turnê do Queen( apenas Taylor e May, Deacon pulou fora). Coisa mais estranha, Rodgers, um dos expoentes do cock- rock no Free e no Bad Company, substituindo o explicitamente gay Mercury não deixa de causar surpresa. A conferir, mas parece mico.
- No Sundance Film Festival estreiou "New York Doll" sobre Arthur"Killer" Kane, finado baixista do seminal New York Dolls, e que deve fazer carreira nos festivais de cinema mundo afora.
That´s it.
terça-feira, fevereiro 08, 2005
A PELEJA DOS RETROFOGUETES CONTRA A HIPOCRISIA DO ESQUEMÃO NA TERRA DA ALEGRIA SEM RAZÃO
Parece praga de algum faraó. Antes das enfadonhas e inconseqüentes águas de março tomarem as providências cabíveis, Salvador sempre é palco no verão de uma meia dúzia de polêmicas fúteis. Apesar de rigorosa pesquisa, feliz ou infelizmente, ainda não cheguei a uma conclusão sobre o porquê de tal fenômeno. Duas hipóteses: talvez a culpa seja do sol inclemente, que azucrina e aperreia o juízo dos nativos, ou pode ser também por causa daquele nunseioquê mágico que a Bahiatursa propaga para otários, turistas e afins. No meio de tantas dúvidas, porém, um dado é incostestável: nesta Bahia besta e bela, comprova-se, a cada ano, também no campo das polêmicas, a seguinte tese do profeta Paulo Mendes Campos: "Antigamente, as coisas eram piores, mas depois foram piorando, piorando...".
Calma, crianças, calma, não vou listar todas as polêmicas desta temporada, que, confirmando a profecia acima, são muito mais desanimadoras do que as dos anos anteriores. O que vou fazer é... muito pior. Tratarei de uma "polêmica" que não deu no rádio nem está nas bancas de jornais: a peleja de Zeca Freitas contra os Retrofoguetes, na já histórica apresentação dos enfants terribles da Cidade Baixa no XIII Festival Instrumental de Música da Bahia, no glorioso Teatro Castro Alves.
Agora, chega de entretantos e vamos aos finalmentes. Tá na Constituição Federal: todos têm o direito de ter ojeriza ao Rock. Conheço uma porção de gente boa que o abomina. Portanto, Zeca Freitas pode muito bem detestar a música de três acordes. Porém, ai, porém, o que ele fez foi coisa bem diferente. E asquerosa. Aos fatos. (E vale destacar que tais fatos ocorreram instantes antes dos Retrofoguetes começarem a tocar). Para se justificar com as madames que infestavam o local, e que também acham que o rock é música barata, democrática, sem nenhum valor, Zeca Freitas disse que a escolha do Retrofoguetes para tocar no festival foi "meio dolorosa, pois deixava de fora quem estudava e se dedicava à música com mais afinco".
Ora, ora. Então, por que diabos convidou o trio? "...Porque não temos nada contra o Rock. Prova disso é que na década de 80 abrimos espaço para este tipo de manifestação. Eu mesmo emprestei minha variante velha para Nicolau Rios, que entrou no palco com ela. Foi uma loucura!". Foi uma loucura, santa? Ah, então tá! (Por formação religiosa, sou contra espacamento, mas quando a palavra loucura é empregada assim, sem a menor cerimônia, juro que minhas convicções ficam abaladas). Devolvendo as aspas para a Raposa Velha, que não parava de pedir desculpas à vetusta platéia. "Pois bem, senhoras e senhores, não temos nada contra o Rock. Mas, como disse anteriormente, fiquei temeroso de trazer os Retrofoquetes porque eles não têm sofisticação harmônica. Mas, é bacana. Desde o ano passado, Fernando Marinho (o outro organizador) já havia me mostrado o CD deles e eu achei...bacana".
Algo bem bacana o que Zeca Freitas fez, né não? Bem típico do comportamento escroto e dissimulado que impera há muito nesta terra.Logo após esta "amável apresentação", as cortinas se abriram. O nervosismo era claro e evidente. A imensidão do Castro Alves não é graça. Rex, de pé, tentou ainda ironizar, pedindo desculpas a ele por qualquer coisa e falou algo do tipo: "É verdade, nossa música não tem harmonia, tem agonia". O estado do trio, de encantamento (e talvez repulsa), lembrou-me, não sei bem ao certo porquê, a apresentação do Buena Vista Social Clube no Carnegie Hall. No entanto, ao lembrar da lambança de Zeca Freitas, pensei imediatamente que a saída talvez fosse a força bruta. Porém, os meninos dos Retrofoquetes são muito mais perversos. Decidiram responder com os tais três acordes. Tocaram com uma intensidade alucinante e monstruosa. Não teve lugar nem mesmo para a tradicional imperfeição. ("Pela primeira vez, não errei uma só nota", confessou Morotó pouco depois do show). Em pouco menos de uma hora, eles mostraram à parte descrente da platéia que o bom gostismo não é o essencial à música. É vero que alguns imbecis nas poltronas ainda urruram algumas bobagens. Mas, aí já era tarde. Não dava mais nem vontade de mandar eles tomarem no ás de loscopita. A batalha já tava vencida.
Desta vez, a hipocrisia saiu perdendo feio. Se eu fosse Zeca Freitas, teria colocado a viola no saco e pedido desculpas.
quinta-feira, fevereiro 03, 2005
Disease of Conceit
Propina:
Para tentar convencer o colunista Ricardo Feltrin, responsável pela página, a publicar a foto na edição de domingo, único dia em que saía colorida, a assessora ofereceu dinheiro, cash, trocadinho, saído da boca da bilheteria da boate. Eu disse que não tinha conversa, que isso seria tão corrupto como aceitar dinheiro de um político para falar bem dele.
(...) No dia seguinte, me ligou a assessora da dançarina e jogou descaradamente: disse que, já que eu não queria dinheiro, a sua cliente estava propondo algo bem melhor. Ela daria a si mesma de presente para mim, por uma noite inteira, para eu fazer o que quisesse...
O colunista disse passar bem e a cover de Demi Moore não brilhou no jornal domingueiro.
Aforismos:
A fama é a soma de todos os mal-entendidos que se reúnem em torno de um homem. Rainer Maria Rilke (1875-1926), poeta tcheco.
Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem. Millôr Fernandes, escritor e jornalista.
A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular, é indispensável ser medíocre. Oscar Wilde (1854-1900), escritor irlandês
You're not right in the head and nor am I and this why I like you
Rob Zombie é um doente. Quem já conhecia seu trabalho à frente da extinta banda White Zombie nos anos 90 sabe da obsessão do rapaz por filmes de terror, assassinos seriais e outros quesitos mórbidos. Finda a banda (que não era das piores, dentro das limitações do seu estilo pesado, pré nü-metal), Rob dedicou-se a lançar esporádicos discos-solo e a construir uma errática ainda que constante (cuma?) carreira de ator em diversos filmes de Hollywood: dos mais vagabundos aos razoáveis. Tudo para chegar aqui, à Casa dos 1000 corpos, seu primeiro filme como diretor e roteirista, e que chegou por esses dias às menos piores locadoras da cidade.
Nele, Rob Zombie deu um jeito de juntar todas as suas obsessões em um só pacote. Suas referências são óbvias: Massacre da serra elétrica, Quadrilha de sádicos (bem como todos os outros filmes do início de carreira do diretor Wes Craven), Charles Manson e sua Família, Ed Gein, John Wayne Gacy, Ted Bundy e outros psicopatas de plantão. É aquela velha história: grupo de jovens americanos bem alimentados e estúpidos cai nas mãos de um grupo bizarro de assassinos seriais que se escondem no interior sombrio e isolado dos Estados Unidos. Perdidos no cú da América. O que vai acontecer é previsível. Mas o que garante a diversão (doentia, mas ainda assim, divertida) desse filme é exatamente a mão pesada de seu diretor, que fez do seu filme uma aula de perversão, tortura e assassinato em grande estilo.
Rob Zombie não poupa seu espectador de nada: torturas, desmembramentos, escalpelamentos, facadas, esguichos de sangue. Tem até uma missa negra no melhor estilo caipira psicopata, coisa de deixar qualquer fã do gênero arrepiado. (Coisa que não acontecia comigo mesmo há muito tempo, devo confessar.) Ou seja, este aqui não é o seu Shyamalan costumeiro, que dá medo, mas mostra muito pouco. Aqui, a bagaçeira é exposta da maneira mais bizarra e explícita possível.
Esteticamente, o filme é um híbrido: como se passa no ano de 1977, ele tem muito do visual desses filmes básicos do terror americano, como os já citados Texas Chainsaw massacre e The hills have eyes (os títulos originais). Ao mesmo tempo, esse visual setentista é a todo momento recortado por inserções de vídeos mais contemporâneos com uma linguagem próxima à da MTV e à utilizada nos clips do próprio Rob Zombie, não por acaso, quase todos dirigidos por ele mesmo. O efeito é legal, funciona dentro da proposta insana do filme.
Destaque para o elenco experiente em filmes B escolhido por Zombie: Bill Moseley, que fez o engraçadíssimo personagem Chop Top no Massacre da serra elétrica 2, está brilhante no papel de líder da gang sinistra e Sid Haig, que trabalhou em Kill Bill Volume 2, também está perfeito como o Capitão Spaulding, um palhaço dono de um museu pra lá de assustador. Na verdade, todo o elenco escalado para os papéis de psicopata convence legal o espectador de sua loucura.
Para quem vai ficar de bobeira nesse carnaval, então, é o canal assistir esse filme. Claro que nem se compara ao terror que instaura nas ruas e emissoras de TV essa época do ano, mas dá pra sentir uns arrepios e se divertir a valer com esse singelo filminho. Assista com sua mãe, ela vai adorar. É como diz a frase na camisa de um dos personagens: "if I want to listen to an asshole, I'll fart". Mais ou menos: se eu quiser ouvir um cuzão, eu peido. Frase perfeita para o nosso carnaval, né não? Só uma dica final: caso vá aos Estados Unidos, nunca, jamais em hipótese alguma, saia sem destino pelas estradas sombrias do sul sem pelo menos uma 12 (carregada) para o caso de eventuais ataques de psicopatas caipiras canibais.
Ah, que saudade de Sal Paradise, Dean Moriarty e suas alegres e reveladoras viagens de carro pelos inocentes Estados Unidos das décadas de 40 e 50....
ADENDO: Ah, você se amarra em histórias reais de assassinos, psychos, assaltantes, terroristas e outras perebas sociais? Então confira esse site aqui, meu filho. O Crime Library tem de tudo em detalhes, de Bonnie & Clyde e Al Capone até Osama Bin Laden, passando pelos clássicos citados Manson Family, John Wayne Gacy e Ted Bundy, entre muitos outros, famosos e anônimos. Diversão para toda a família. Em inglês.