Baia em Nueva York, fotos Christian Pollock |
Mas não um tributo qualquer e sim, uma aposta ousada, digna do homem que eletrificou a música folk, ousadia máxima no ano da graça de 1966.
Em Baia Bossa Dylan, o talentoso brazuca pega o mestre de 78 anos pela mão e o leva para um passeio pelo calçadão de Copacabana, gravando oito de suas mais geniais canções no estilo que consagrou João, Tom e tantos outros.
“Foi uma descoberta natural. Eu estava dedilhando o violão e comecei a cantar You’re a Big Girl Now em samba canção. Depois da terceira estrofe, vi que havia achado algo ali. As baladas do Dylan, com numerosas estrofes, melodicamente iguais e com letras dignas do Prêmio Nobel de Literatura geraram um clima de relax music e narrativas imagéticas”, relata Baia por email desde Nova York, onde reside desde 2017 e onde gravou o álbum.
Depois de se certificar que a mistura Dylan & bossa dava samba, Baia chegou, via recomendações de amigos, ao produtor Sandro Albert, que produziu o trabalho.
"Chamei o meu amigo Igor Eça, filho do Luiz Eça (Tamba Trio) para tocar comigo, em meu estudio, e nos certificamos de que a alquimia era válida de ser experimentada e posta pra frente. Foi aí que o projeto e a minha vida começou a se direcionar para cá, comecei a procurar alguém aqui e uma amiga em comum me apresentou ao Sandro, a ponte estava feita", detalha.
Com ele e uma leva de experientes músicos brasileiros e norte-americanos, Baia registrou oito clássicos dylanescos: You're a Big Girl Now, Mama You Been on My Mind, Blowin’ in the Wind, Jokerman, Simple Twist of Fate, Knocking on Heaven's Door, Lay Lady Lay e You're Gonna Make Me Lonesome When You Go.
“Eu comecei (a selecionar repertório) com músicas não tão conhecidas, revelando um Dylan que nem todos conheciam. Aí mandei as músicas ao Sandro, em Nova Iorque, e ele afirmou que a ideia estava muito boa e fora de qualquer relação com um disco cover”, conta.
“Na visão dele, alguns clássicos tinham que entrar pra levar aos fãs uma um novo olhar sobre canções já regravadas, como Knocking On Heavens Door, por exemplo. Foi um processo gostoso não teve dificuldade ou indecisão”, diz.
Bossa nada ortodoxa
Engana-se, porém, quem acreditou que bastaria ao baiano simplesmente sentar num banquinho e emular João Gilberto – caso este algum dia tivesse gravado Dylan.
Nada ortodoxa, a bossa de Baia Bossa Dylan é bossa moderna, século 21. “Uma abordagem mais moderna foi o que me trouxe até aqui. Os arranjos foram feitos pelo Sandro e depois pensamos nos músicos e nos técnicos para a finalização em NY. Como guitarrista e produtor que já mora aqui há vinte anos e trabalhou com inúmeros nomes como James Taylor, Rod Stewart, Milton Nascimento, Toninho Horta, Lenine e muitos outros, ele não se restringiu à bossa tradicional, como estava no meu violão. Partiu para arranjos em camadas, realçando com cores diferentes cada novo verso, cada refrão, sendo o melhor exemplo a faixa Jokerman que começa com a voz quase solitária e termina lá no alto do arranha céu, com todos atuando intensamente”, detalha.
“A bossa, no caso, também pode virar verbo: bossar o Dylan. Trazer a poesia dele ao conhecimento dos amantes da música brasileira e aos seus fãs levar um novo olhar sobre a obra do roqueiro folk americano”, acrescenta.
"Eu sou dessa família dos que cantam rápido e com letras quilométricas, O Comedor de Calango e O Gerente da Multinacional é um bom exemplo. Mas fiz um trabalho em cima da forma de cantar essas canções sem deturpar as melodias, porem trazendo elas para uma métrica mais requebrada e tropical", conta.
Residente em Nova York, Baia lançou o álbum por lá no dia 1º último, em um show na casa The Cutting Room.
"Foi um conjunto de coisas que se deram naturalmente e eu segui os sinais que me indicavam por onde ir. Levou mais de dois anos desde a ideia até o lançamento e eu tratei o projeto desde o começo como uma escalada: teremos momentos mais fáceis, outros mais difíceis, teremos paradas na encosta para descansar, mas no final lançaremos da forma como planejamos, em NY, com uma banda americana, como se deu recentemente, em 1 de agosto no The Cutting Room. Além do album e do show, dois video clipes também foram lançados: Knocking On Heavens Door e Jokerman, produzidos em NY por Christian Pollock", relata.
“Estou começando a tocar com banda aqui, fiz muitos shows de voz e violão. O Dylan tem um apelo especifico, mas sempre há quem peça para ouvir minhas músicas, que acabam fazendo o show ficar bilingue, que acho que marcará meu trabalho daqui pra frente”, conta.
No dia 24 de novembro, Baia traz o novo trabalho em Salvador, em show acústico na Varanda do SESI: “Aproveito para convidar o publico baiano para se fazer presente nessa apresentação que mostrará um pouco do disco novo, um tanto de mata saudades e uma pequena homenagem aos 30 anos sem Raul Seixas, completado agora em agosto”, conclui. Save the date!
Baia Bossa Dylan / Baia / Produção: Sandro Albert / Disponível nas plataformas digitais