Rogério, Brust, T612, Tripa 77 e Sputter, em foto de Jane Figueiredo |
Ícone da cena, a banda liderada pela figuraça / vocalista / poeta / filósofo de bike Rodrigo Sputter Chagas comemora 18 anos com um super show nesta sexta-feira, com Ivan Motosserra, Fracassados do Underground e DJ Ivan Motosserra.
O show marca o fim de um ano meio sabático para os Honkers, sendo apenas o segundo que eles fizeram em 2016 – o primeiro foi em junho.
Para 2017, Sputter, Felipe Brust (guitarra, voz), T612 (baixo), Rogério Gagliano (guitarra) e Tripa 77 (batera) vão tentar lançar um álbum novo, prometido há tempos.
Mas agora, a ideia é lavar a alma deste ano caótico.
“Vamos expurgar vibrações negativas e fazer com que não criemos musgo e vamos rolar por aí, ladeira acima. Tocar, tocar e tocar. Ver as pessoas dançar e tirar a caretice que está impregnada em alguns setores do rock”, promete Sputter.
Caos, destruição e diversão
Carecas barrigudos desdentados by Jane Figueiredo |
“Fôlego tem, não sei saúde. Chegamos aos 18 barrigudos, sem grana, carecas, sem dente. Mas com um tesão da porra em cima do palco. Coloque-nos em cima do tablado e saberemos como destruí-lo”, diz.
Do alto de quase duas décadas de atividades, é hora de fazer um balanço da trajetória da banda.
“Difícil dizer quantos shows, cidades e estados nós tocamos, pois no Brasil só não tocamos na Região Norte, mas com certeza foram centenas, não duvido ter chegado aos quatro dígitos. Tocamos no Brasil e na Argentina, agora convites pra tocar por esse mundo não faltou, falta é $$ pra ir. O balanço é positivo, pelas amizades que fizemos com as pessoas e bandas, nos divertimos muito, tanto é que nunca enjoamos de subir no palco, toda vez que subimos parece que é a primeira vez e a última, pois tocamos numa intensidade como se não houvesse amanhã. Gostaríamos de ter ido mais longe do que fomos, mas as dificuldades são tamanhas, muitas vezes além do que sonhamos / desejaríamos. Mas posso dizer sem tiração de onda, que por onde passamos, deixamos nossa marca e as pessoas pensando 'que diabos foi isso que aconteceu no palco???'”, afirma.
Formada em 1998, os Honkers são hoje uma das últimas bandas formadas naquela década ainda em atividade.
"Creio que da metade dos anos 90 pro final, que ainda tá na ativa junto conosco, e nunca parou, é a Modus Operandi (se não me engano, os caras tem 20 anos). A Declinium creio que tem a nossa idade, mas nem mesmo os caras sabem dizer ao certo o tempo de banda deles, então fica difícil calcular. De 1998 pra cá, tanta coisa mudou, melhorou, piorou... O que me intriga tanto é como que a tecnologia ajudou tanto as bandas, as pessoas, a terem acesso, se conectarem, pesquisarem, sem precisar sair de casa, do celular, sem ter que escrever carta, pagar interurbano caro, juntar um trocado pra comprar um disco, gravar uma fitinha K7, imaginar como era tal banda e tal disco. Mas, ao mesmo tempo, não saem de casa para ir num show, não se encontram ao vivo pra ver as ruas, trocar uma ideia, enxergar o mundo lá fora. Antes, ir numa loja de discos era uma coisa inimaginável para as pessoas jovens de hoje, mas, toda vez que você ia, conhecia alguém, idéias novas, um universo se abria. Hoje, temos o universo em um clique, mas a mente fechada no mesmo instante. Alguns vão dizer que é perigoso sair na rua, mas antes era madrugar, dormir no ponto, pegar um milagroso pernoitão perdido na noite. Hoje em dia, com tantos carros engarrafando as ruas, aplicativos para chamar veículos para te levar em sua residência e as pessoas preferem ficar entulhadas, enclausuradas, fazendo sabe-se lá que diabos em casa. Enquanto o mundo gira ao seu redor. As pessoas antigamente, por mais difíceis que fossem as informações para se acessar, eram mais antenadas do que hoje em dia, se não eram, desculpe-me, prefiro um anos 90 'ilhado' do que um século 21 'enclausurado' no seu celular. Contato humano muitas vezes zero, creio que por isso o povo do rock atual tá nessa onda reacionária, não conhece as ruas sinuosas, o povo de sua cidade. Sem contato humano e vive arrotando pseudo-filosofia de facebook. Seja offline, seja herói", discursa Sputter.
"Em termos de importância histórica, a tour que fizemos de carro em 2005, saindo do bairro de Roma (Cidade Baixa) e indo parar em Pilar (na argentina), rodando o Brasil 'todo' (com exceção da região Norte) foi algo inédito até então. Cinco caras numa Santana Quantum, com cinco malas, três guitarras, dois baixos, ampli, ferragens de batera e outras bugingangas, creio que nenhuma banda nacional tinha feito, depois, um monte fez, mas nessa pegada de viajando 38 dias e tocando, nunca tinha ouvido falar antes. Só não fomos até Uruguai e Paraguai porque os shows terminaram sendo cancelados, mas de Roma até Pilar, o universo era pequeno e o infinito nos esperava. Sobre o (nosso momento) menos glorioso, penso em que ontem foi uma porcaria e amanhã vai ser excelente, o que foi ruim passou, tocar dia 30 (e tocar mais ainda em 2017) vai ser mágico. A formação atual tá com uma pegada monstra, mais punk impossível, nunca tocamos tão alto e rápido, nem parece que alguns membros da banda já passaram dos 40 e eu tou quase lá. PJ, o membro honorário da banda e nosso oráculo, já tá com 50, por isso pra ele sair da Cidade Baixa fica difícil, só aparece nos momentos especiais", conta.
O colunista é testemunha. Depois dos Dead Billies, os Honkers sempre fizeram os shows mais arrasadores e imprevisíveis. Não raro, Sputter termina o show pelado, entre escombros.
“'Sempre diferente, sempre o mesmo', é o lema da Fred Perry, conosco não é diferente. Nem mesmo O Sombra sabe o mal que habita na apresentação dos Honkers. Então é ver pra crer, caos e destruição, diversão garantida. Leve sua armadura e se jogue no meio da esbórnia. Mas ninguém vai se machucar. Não seriamente, pois há respeito e amizade em nossos shows. E vamos tocar uma baladinha, pra poder refrescar os corações”, conclui.
NHL ESPECIAL / The Honkers, Ivan Motosserra, Fracassados do underground e DJ Ivan Motosserra Pamponet / Sexta- feira (30), 22 horas / Dubliner’s Irish Pub / R$ 10 (poste seu nome na página do evento), R$ 15
NUETAS
Big Niver é hoje
O aniversário de Rogério Big Bross é só dia 30, mas o homem aproveita seu evento Quanto Vale o Show? e comemora hoje mesmo. No palco do Dubliner’s, Martin (guitarrista de Pitty) com Cadinho Almeida (baixo) e Leo Bittencourt (bateria), mais Du Txai & Os Indizíveis e DJ Bruno Aziz. 20 horas, no Dubliner’s, pague quanto quiser.
Minha 400ª coluna
Por coincidência, a última coluna Coletânea de 2016 é também a quadricentésima assinada por mim desde que assumi este espaço em 2008, ainda no saudoso Caderno Dez!. Sim, tenho as 400 registradas e arquivadas. Iniciada na década passada por Luciano el Cabong Matos, por aqui já passaram também Ricardo Cury, Mário Jorge Heine, Lucas Cunha e Gabriel Serravale. Da MPB ao death metal, a Coletânea é o lar da música independente. Espero poder continuar dizendo isso daqui a um ano. Feliz 2017!