segunda-feira, março 23, 2015

"CANTIGAS DE GARAGEM" TRAZ BANDA DE FÔLEGO RENOVADO

Mesmo sem plateia no estúdio, novo DVD do Raimundos é uma paulada

Raimundos 2015: Digão, Caio, Marquim e Canisso. Foto Cesar Ovalle
Enquanto uns se arrependem e se ajoelham em busca do perdão divino, outros se mantém de pé na tempestade, um sorriso sacana nos lábios.

Felizmente, os Raimundos remanescentes Digão e Canisso pertencem ao segundo grupo, como se pode ver no novo DVD ao vivo Cantigas de Garagem.

Ao lado dos membros mais recentes Marquim (guitarra) e Caio (bateria), a resistente dupla, original de uma das bandas mais importantes do rock brasileiro nos anos 1990, segue firme e forte em um cenário completamente diferente do daquela época.

Se a cena já é outra, o mesmo não se pode dizer da pegada hardcore brutal do quarteto, que surge afiadíssima nesta gravação ao vivo em estúdio, crua e direta, mas sem a presença de plateia.

“Isso era algo que nunca tínhamos feito, rolava essa vontade de mostrar a banda mais detalhadamente”, conta Digão, por email.

Em 17 faixas, a banda  apresenta o repertório completo do seu último álbum, Cantigas de Roda (2014) e, claro, clássicos como Bê a Bá, Esporrei na Manivela, Eu Quero Ver o Oco e Puteiro em João Pessoa.

Já em Dubmundos, ska punk envenenado, o quarteto recebe a ilustre participação (previamente gravada) do rapper Sen Dog, do grupo norte-americano Cypress Hill, sucesso na malucada nos anos 1990.

Faixa de Cantigas de Roda, a versão original de Dubmundos já contava com o rapper, conta Digão: “Dubmundos era a única música que não estava pronta quando fomos gravar em Los Angeles”.

“Queríamos uma participação gringa e durante as gravações, o Billy (Graziadei, vocalista da banda Biohazard e produtor do disco) convidou o Sen Dog pra dar uma sacada no trabalho. Tínhamos algumas opções, mas no final optamos pelo Sen Dog,  que mandou bem demais”, relata.



Apego à raiz punk rock

Lançado no início do ano passado, Cantigas de Roda foi o álbum que marcou uma espécie de retorno definitivo da banda ao cenário nacional, com um novo trabalho lançado por gravadora major (Som Livre), aparições em programas de TV e grandes festivais.

Digão conta que esse retorno é uma espécie de união entre trabalho duro e persistência.

“E ainda fizemos isso com pouco dinheiro! Vendo pelo panorama desse mercado que é muito mais vendido do que antigamente, sinto-me muito orgulhoso pelo que conseguimos! E ainda tem muita água pra passar debaixo dessa ponte”, afirma o músico.

Quanto a parceria com a gravadora, ele conta que “a Som Livre tem mostrado trabalho e é o que queremos. Estamos com uma ótima distribuição e propaganda aonde há muito não aparecíamos”, vê.

“Estar com o pé no chão é o melhor caminho pra longevidade, por isso estou achando bom estar numa grande gravadora agora. Talvez antes não fosse a hora certa. Mas continuamos o nosso trabalho independente, assim todos se ajudam e a coisa anda”, diz.

Não que aqui e ali o grupo não ouça propostas indecorosas dos empresários: “Antes de gravar o Cantigas, fomos em algumas gravadoras e ouvimos essa história”, confirma.

“Mas ninguém melhor que nós mesmos pra saber que seria um tiro no pé. Prefiro mil vezes ser fiel as minhas raízes que correr atrás de um sucesso barato e passageiro”, afirma.

Mulher de Fases no trio

Famosa mesmo entre quem não é exatamente roqueiro, o Raimundos, não custa lembrar, já foi sucesso até no carnaval de Salvador (em 2001), quando o hit Mulher de Fases foi tocado por nove entre dez trios elétricos na avenida.

“Devido ao sucesso que foi na época, isso era uma coisa inevitável, nunca me importei! Tá na boca do povo, tá com Deus”, felicita-se Digão.

E esse repertório mais pop segue no play list da banda: “Não fomos nós que renegamos o passado. Mulher de Fases, A Mais Pedida e 90% ou mais das músicas dos Raimundos é de minha autoria e do Canisso também, então não vejo mal algum. Imagina os Rolling Stones não tocarem Satisfaction nos shows?”, ri.

Ao longo deste ano, a banda deverá trabalhar na divulgação do DVD, mas em 2016 volta com trabalho inédito: “Acredito que novidades somente em 2016. Agora o que vai ser não posso dizer. E se o fizesse, teria que lhe matar depois”, brinca o band leader.

Enquanto isso, esperam voltar à Salvador: “Por mim o mais rápido possível. Salvador tem uma alma roqueira forte apesar de ser a terra do Axé! Amo tocar aí, só estou esperando os convites”, conclui.

Cantigas de Garagem / Raimundos / Som Livre / DVD: R$ 27,90 / CD: R$ 19,90 / www.raimundos.com.br/ www.somlivre.com.br

11 comentários:

Franchico disse...

Nostalgia da década passada...

https://www.facebook.com/2000underbahia

Fiquei até impressionado com a quantidade de festas em que discotequei, entre 2004 / 2010, mais ou menos...

Mas a época do Miss Modular / Feira Hype / Remix-se foi legal demais. Pra mim, a última fase legal desse cenário que eu frequentei...

Franchico disse...

Pense num vatapá gigantesco. Agora pense em um ventilador, igualmente enorme.

http://www.brasilpost.com.br/2015/03/23/celebridades-swiss-leaks_n_6922896.html?utm_hp_ref=brazil

Até o quase ministro (e doador master da campanha) de Aécio apareceu.

Fora os ilustres baianos, globais, a maioria captadores de recursos da Lei Rouanet.

QUIBELEZA, MAINHA!

Franchico disse...

Quem for no Lolapalooza SP esse fim de semana corre o risco de ver isso aqui:

http://omelete.uol.com.br/musica/noticia/jack-white-e-robert-plant-tocam-the-lemon-song-no-lollapalooza-argentina/

Rodrigo Sputter disse...

pra mim morreu ali entre 2005 e 2006...tipo os últimos respiros dos defuntos...pq eu diria q em 2004...mas 2005 rolou ainda uma rebarba...

não se pode falar que editais, incentivos tem carta marcada não man...é proibited...hehehehe

e taí 2 caras que são geniais no que fazem...mas num sou pirado neles...

Ernesto Ribeiro disse...

.

Gostei particularmente da alfinetada elegante que Mister Castro aplicou no ex-vocalista que renasceu em Cristo e embarcou numa viagem sem volta para a Igreja. Nada como um texto bem escrito...

Franchico disse...

Textinho espetacular, que dá uma ideia bem clara do buraco sem fundo em que estamos metidos - além de mostrar o quanto são ingênuos e bobinhos (massa de manobra, mesmo) os que se expõem em rede social bradando contra isso, aquilo ou aquilo outro:

http://www.brasilpost.com.br/guilherme-spadini/o-marketing-do-odio-e-o-fim-da-politica_b_6923572.html?utm_hp_ref=brazil

Isso, continuem destilando ódio, gritando ao vento e servindo aos marqueteiros - de ambos os lados.

Franchico disse...

Caramba, meu filme preferido do John Hughes chegou aos 30 anos!

https://br.cinema.yahoo.com/fotos/clube-dos-cinco-confira-como-slideshow/

Acho que já vi esse filme umas 15 vezes ou mais desde 1988, quando o assisti pela primeira vez...

Rodrigo Sputter disse...

creio que nunca vi o "clube dos 5", sério-eehhheh

não achei q Chico deu alfinetada...pelo que li ele escreveu apenas o que aconteceu...e aí quem achar q tem carapuça que vista...e se o cara tá feliz...bom pra ele...o batera da banda saiu...pq será?

e se os caras querem continuar...que continuem tocando a zorra...literalmente...nunca fui fã...mas os caras sempre forram esporreiros no som...ao vivo porrada pura...mas tb o público fazia a parte deles...e o marketing tb...afinal...era ainda a época das grandes gravadoras...o 1o disco é bacana...e perto deles...as bandas de "rock" atual, soam tipo restart...quer dizer...as bandas que tentam nos vender...

Ernesto Ribeiro disse...

.

Uma coisa não exclui a outra: Chico deu uma alfinetada, quando ele escreveu apenas o que aconteceu.

Ernesto Ribeiro disse...

.

O panelaço da barriga cheia de ódio

Juca Kfouri

09/03/2015

Nós, brasileiros, somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de Imposto de Renda só no ano passado.

Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci.

O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção.

Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda freqüentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade.


Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca.
Como eu sou.
Elite branca, termo criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas enxerga.

Como Luís Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse:

“Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres. O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar. Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente. Não é preocupação ou medo. É ódio. Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. Continuou defendendo os pobres contra os ricos.
O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres.
Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força. Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita. Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho. E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo.”


Nada diferente do que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem que os escândalos do mensalão e da Petrobras demonstram que jamais se roubou tanto no país.


“Santa hipocrisia. Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não ia parar nas redes sociais.”


Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.


Aliás, como bem lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: “Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha”.


Já na zona leste, em São Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta, porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos “bons serviços” da Eletropaulo e da Sabesp.


Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado.


Que as vozes de Bresser Pereira e Semler prevaleçam sobre as dos Bolsonaros é o mínimo que se pode esperar de quem queira, verdadeiramente, um país mais justo e fraterno.

Franchico disse...

Kfouri, como sempre, acertando bem no alvo. Não há o que acrescentar aí. Bravo!