Um enfarto e uma fratura no braço não foram o bastante para tirar
Robertinho de Recife de campo, que volta agora com sua antiga banda de
hard rock / heavy metal instrumental, Metal Mania
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Robertinho de Recife em 2014. Foto: Hanah Khalil |
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O guitarrista e produtor Robertinho de Recife tem mais vidas do que um gato. Na ativa desde os anos 1970, foi considerado virtuose já aos 12 anos.
Acompanhou cantores de sucesso da Jovem Guarda e viajou aos Estados Unidos ainda adolescente, apresentando-se com diversas bandas.
Nos anos 1970, firmou parceria com Fagner e Zé Ramalho – e ainda hoje produz os discos de ambos.
Em paralelo, desenvolveu sua carreira solo, fazendo muito sucesso nos anos 1980 com hits como Baby-Doll de Nylon (parceria com Caetano Veloso) e O Elefante, com letra de Fausto Nilo e cantada pela sua então esposa, Emilinha
Borba - ops, é Lima.
Pouco tempo depois, animado com a ascencão do hard rock nos Estados Unidos e a popularização do heavy metal no Brasil (na época da febre do Rock in Rio I), lançou o álbum Robertinho de Recife & Metal Mania (1985), álbum histórico do gênero.
Em 1988 fundou a banda Yahoo, que fazia versões de baladas do hard rock mais comercial, de bandas como Def Leppard e Aerosmith.
Em 1990, radicalizou e lançou o álbum instrumental Rapsódia Rock.
Desde então, retirou-se para os bastidores da indústria e produziu muitos artistas.
Agora, 30 anos depois do primeiro álbum, retorna com a banda Metal Mania, com o álbum Back For More.
Nesta entrevista (ou longa conversa), ele conta dos problemas de saúde que o fizeram querer retornar, da sua carreira, do seu estilo de tocar, do período nos EUA e do até do pessoal do manguebeat.
ENTREVISTA: ROBERTINHO DE RECIFE
Você teve uma experiência de quase morte e quando voltou resolveu reformar o Metal Mania. Como foi isso?
Robertinho de Recife: Isso quem me falou foi o médico. Ele falou ‘cara, pra mim você tá praticamente morto, seu coração tá todo entupido aí, completamente’. Ai eu perguntei: ‘eu vou morrer’? ‘Olha, cara, eu não quero que você durma, não vou te sedar por que você vai ficar falando comigo, vou começar um procedimento, vou tentar abrir alguma coisa aqui para poder te dar um fôlego de vida’. Esse médico é muito amigo meu e não me esconde nada. Minha mulher é baiana e eu dei adeus a ela, achei que ia morrer, mesmo. Aí na cirurgia botei seis stents, um número meio exagerado, tanto que os planos de saúde não cobrem. 'Ah, isso tudo não, não pode estar tão ruim assim. Se tá com seis é por que está morto'. Enfim, daí eu fiquei na UTI, eu tava defronte uma porta e fiquei pensando: 'se eu sair daqui por essa porta – se eu não para o inferno (risos) – eu quero voltar a fazer meu show com o Metalmania. Por que eu comecei a compor as coisas que estão neste disco ali mesmo, na UTI. Outras não, tem mais de 20 anos, eu compus depois do MM, mas nunca foram gravadas. E as músicas foram mudando, mudando, mas tendo como base aquelas coisas lá, como Kingdom Hymn, que é do tempo do Rapsódia Metal (1990), mas não entrou no disco. Mesmo Voo de Ícaro, que está no Rapsódia, a gente toca com outra roupagem agora. Tentei fazer esse disco como se fosse um retrospecto de tudo o que foi feito, é como se fosse um filme da minha vida, Inclusive tem uma música chamada All That We Lived Together (Tudo o que vivemos juntos) que é como fosse o que passei, tudo o que vivi, é uma música cheia de partes e cada parte me lembra alguma coisa, tem uma coisa meio Van Halen, passa por tudo. E eu que curti muito o metal, não só tocando ali, mas admirando os caras que tocavam.
Como fã?
Como fã, acima de tudo eu sou fã, não esses caras que ficam... tem gente que não é fã de ninguém, né? (Risos) Só dele próprio. Eu não. As pessoas falavam 'ah, ele copia não sei quem'... Cara eu vejo alguém tocando alguma coisa, olha eu não sou de copiar, tá? Mas eu vi Van Halen fazendo aquelas coisas, eu 'pô, essa técnica aí eu quero fazer também', mas só que eu vou fazer minha própria coisa. Entendeu? Ele toca Eruption? Eu vou fazer meinha Eruption, que é o Voo de Ícaro. Tipo usando a mesma técnica, mas contando a minha hsitória. Isso você pode fazer. Por que aí eu torno aquilo pessoal. O meu metal é pessoal. Inclusive, no tempo que o Metal Mania foi lançado (1985), o pessoal falava 'ah, é heavy metal'? Eu falava 'não, é heavy lata'. (Risos). Por que naquele tempo foi que tinha baixado aquelas latas, sabe, que veio, umas latas cheias de maconha? Então, eu fazia heavy lata! (Risos) Por que é brasuca, tem essa coisa, tem humor também, é um barato isso. Inclusive eu vi uma coisa que um conterrâneo teu aí fez, eu gostei, meu amigo... aquele que anda descalço, como é que chama?
Luis Caldas?
Isso! Eu vi e achei sensacional! Ele é um grande músico. Inclusive, a primeira vez que eu toquei no Carnaval da Bahia foi em cima do (trio elétrico) Trás-Os-Montes e eu toquei heavy metal. Toda vez que eu me encontro com Moraes e Luis, que era o cantor. Ele viu, e eu entrei com o MetalMania. Eu toquei no Carnaval da Bahia o MetalMania (risos). Ele falou 'Você é louco, só você podia fazer uma coisa dessas, tocar metal no Carnaval!' Eu tocava Iron Maiden tocava Ozzy (Osbourne), aí... (risos). E foi uma coisa que a galera curtia muito mas não entendia. 'Pô esse cara não tá tocando frevo? Mas ele não é de Recife?'. Eu sempre tive esse conflito comigo. Como você sabe, eu sou nordestino, com muito orguho, com muito orguho. E isso é muito visível. Está no meu nome, em tudo o que eu fiz, nas pessoas que eu acompanhei, Fagner, Zé Ramalho... O Zé Ramalho aliás, é muito heavy metal.
Não a toa ele já fez parceria até com o Sepultura!
Exatamente! As músicas dele são heavy metal, cara! Os textos dele, é o mesmo texto do Iron Maiden, daqueles caras lá! Dessas bandas que tem um texto mais épico,entendeu? O Zé é muito visionário. Enfim, eu sou uma pessoa que fui muito questionado, muito! 'Ah, esse cara não é aquele que fez o Baby Doll de Nylon?' (Nota: a letra de Caetano Veloso). Sim, fiz, Baby Doll de Nylon é uma música minha, com o grande Caetano Veloso, entende? Eu só tenho a me orgulhar!
Quem questionou tanto?
Foram os fundamentalistas do metal. Por que tem um pessoal que é fundamentalista, entende? Que eu respeito, claro, OK! Querem a pureza da coisa...
Mas é cada um com sua verdade, né?
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No tempo do Metal Mania original, nos anos 80 |
É, mas eu sou... Eu entrei no metal colorido, entendeu? (Risos) O metal de Los Angeles era colorido naquela época...
Mötley Crüe, Ratt...
Sim, pois é. Inclusive o nome do meu disco é Back For More, aí todo mundo diz 'ah, ele foi em cima de uma música do Ratt com o mesmo título'. Eu adoro essa música, mas não foi não, por que é 'Voltando para mais'. Que ótimo, que bom, eu adoro o Ratt. (Risos). Adoro o Ratt, gostava do Mötley Crüe, o Quiet Riot, a gente abriu para o Quiet Riot no Brasil.
Bem lembrado. Li a resenha do show na época, na revista (extinta) Metal.
Abrimos também para o Deep Purple na época – e não posso ainda divulgar, mas vamos abrir o show de um monstro desses do rock. Um grande nomes, está sendo discutido neste momento com os empresários na América para eu poder abrir para um grande nome que vem para cá. Tá quase rolando. Tem muitas condições que eles dão para nós. Já tivemos muitos problemas como banda de abertura, dividindo o show com essas bandas grandes. Por que eles tratam você como banda de abertura, você tem direito a pouca luz, não pode usar o equipamento todo... Graças a Deus, sempre fui autossuficiente nisso, sempre tive um equipamento que, mesmo que eles desligassem tudo, tava tudo certo. E a gente fazia tanta palhaçada no palco, que mesmo que desligassem as luzes todas, eu tava tão brilhante - com as roupas tão brilhantes (risos) - que até no escuro eu aparecia! Você tem que ir preparado. Começa assim, o show começa, aí ali pelo meio já vem o empresário gritando: 'Baixa!' (risos) 'Desliga as luzes que esses caras não podem tomar o show!' (Risos). Com toda humildade, mas é que, pô, teve show que eu acho que a gente agradou bastante.
André Barcinski contou em seu livro Pavões Misteriosos que você foi aos EUA ainda na adolescência, tocar com musicos de blues. Como foi isso? Com quem você tocou lá?
Cara, é o seguinte: em Recife eu tinha uma banda muito boa, chamava Os Bambinos. A gente fazia um som de rock de vanguarda em Recife, na linha assim Mutantes, mas sem ser cópia.
Psicodélica.
Psicodélica, isso. Muita coisa de Hendrix, daquelas bandas do principiozinho do rock pesado, Steppenwolf, a gente mexia com essas coisas. E aí uns americanos, o Arto Lindsay, sabe o Arto Lindsay?
Sim, claro! Na época ele morava lá em Pernambuco, não é isso?
É, então, ele apareceu com uns americanos de uma banda chamada Contribution. E essa banda me convidou para uma tourzinha com eles. Tocamos em Natal, João Pessoa, Recife, em alguns lugares inclusive tocamos nas escolas americanas que tem várias no Nordeste. Quando eles voltaram (para os Estados Unidos), levaram uma fita minha, e o baixista, o Carl (inaudível) levou um cassete - não, na época era fita de rolo, nem cassete tinha! E ele levou, uns caras adoraram e eu fui para lá. Chegando lá, a banda que ele tinha mostrado minha fita era uma banda de country! (Risos). Quando fui fazer a audição com os caras, quando eles começaram a tocar, eu falei 'ih, essa não é a parada que eu quero tocar aqui'. Tava no tempo do Woodstock e eu era hiponga total, eu queria era usar distorção, (pedal de efeito) wah-wah, sabe? Eu queria desarvorar ali e no country não dava. Aí eu joguei a toalha e fiquei lá dando canjas, tocando aqui e ali. Até que fui convidado para tocar com o Watch Pocket, que era um grupo muito famoso na época, pelo menos ali pelo sul dos Estados Unidos, e tinha uma música que tinha sido sucesso aqui no Brasil, Mamy Blue. (Canta) 'Oh, Mamy Blue'... Aqui teve muitas regravações, inclusive Agnaldo Timóteo regravou. A versão original dos caras é bem rara, nem nos Estados Unidos você acha. Um dia eu vi aqui, um pedreiro com nossa versão, a original, no celular! (risos) O cara tava fazendo um serviço aqui em casa. Eu falei 'cara! Me dá isso aí!'. Ele ficou de me dar e nunca me deu. Mas enfim, eu fiquei lá e na época eu fiz amizade com várias pessoas e tem uma pessoa que está aí na Bahia hoje mesmo, a Cassandra Wilson.
Sim, grande cantora de jazz!
Ela tá aí na Bahia hoje. (Quarta-feira, 14 de janeiro de 2015, quando esta entrevista foi gravada).
Tá aqui? Não sabia.
Sim, ela e a Rhonda Richmond. São duas cantoras que eu produzi lá nos Estados Unidos. Eu era para estar aí com elas, mas estou muito ocupado, não deu para eu ir. Elas vem aqui para o Rio amanhã. Você podia fazer uma matéria linda com ela, ela está aí por que quer gravar umas coisas baianas. A Rhonda Richmond, que é produtora dela, gravou cinco músicas de um baiano, o Assunção de Maria, que é um poeta baiano, lá de Juazeiro. É parceiro do Geraldo Azevedo e várias pessoas nos Estados Unidos estão gravando músicas desse cara, saiu um livro lá em inglês, com os poemas dele e eles (os americanos) se apaixonaram. E elas estão aí justamente para colher essa inspiração da Bahia. A Bahia é muito rica, né? E agora os caras tão querendo muito, principalmente a Cassandra, que tem um pé na África. Um pé não, tem o corpo inteiro na África no trabalho dela. Mas fiz um monte de coisa lá nos Estados Unidos, toquei em um programa de televisão logo antes do BB King, até hoje sou... a gente conhece o BB King, eu produzi o (guitarrista americano) Jesse Robinson há dois anos atrás, no Mississipi. Inclusive esse Jesse Robinson também gravou Assunção de Maria (Nota: todas as letras do álbum de Stray Star, de 2012, são de Assunção de Maria, retiradas do seu livro Em Busca de Mim e traduzidas para o inglês por Carl Kolb). Tem muita coisa saindo aí, cara. E ninguém sabe.
Acho que ninguém está divulgando nada disso, né? Confesso minha ignorância.
Não, não está. E por que? Por que isso é um movimento que eu começei a fazer lá no Mississipi. Eu sou fã do Assunção. E eu levei as coisas dele para lá e todo mundo se apaixonou. O que eu digo é o seguinte: o blues estava muito bem, mas ainda tinha problema de quem escrevia as letras. O blues tá sempre... ainda estava todo mundo cantando as mesmas coisas, entende? Faltava uma poesia forte no blues. Aí comecei a investir nessa coisa e a coisa mais próxima que eu vi do blues foi o Assunção de Maria. A poesia dele é muito carregada desse espírito blue. E aí eu fui lá produzir, mas aí a gente já tá saindo (do assunto da entrevista). Sabe o grande problema, é que eu sou produtor também, e eu no momento tô querendo falar do MetalMania. (risos)
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Robertinho à frente do reformado Metal Mania. Foto Hanah Khalil |
É, vamos voltar ao Metal Mania. Quando você pensou em remontar o Metal Mania não teve medo do pessoal considerar uma coisa meio ultrapassada não? De lá para cá o metal mudou tanto...
Cara em tudo que eu faço, eu tenho primeiro que agradar a mim. Se eu for agradar ao mercado, eu vou ter que fazer aquelas coisas... Yahoo. Entendeu? (risos). Eu tenho que ser muito honesto comigo. Mesmo por que é o seguinte: ei não estou indo batalhar um mercado. Não estou atrás de reconhecimento, muito embora esteja sendo muito bem recebido. O disco foi lançado dia 16 apenas para download. E quais são as estatísticas: no iTunes estávamos na 52ª posição no Top Downloads Brasil. Saíram mais de 45 publicações, o Globo e tal, tudo na primeira página inteira do caderno de cultura, mesma coisa nos jornais de Pernambuco, Rio Grande Norte, Pará, Paraíba, o Uol também me deu a capa do site, a Rolling Stone vai sair uma reportagem também. Então, eu tô sendo muito bem recebido. Eu nem esperava isso. É apenas um momento meu de celebração, vou curtir. E tudo foi assim, a gente começou a ensaiar por que eu ia fazer apenas um show, não ia gravar um disco. Esse ensaio foi ouvido pelo diretor da Sony, por que eu tava produzindo Zé Ramalho, ele ouviu e falou 'caraca me dá uma cópia disso'. Levou e me ligou no dia seguinte 'velho eu não paro de ouvir. Vamos lançar isso'. Aí eu 'cê tá louco cara'. (Risos)
É bastante incomum uma Sony lançar um material com esse perfil hoje em dia, né?
Pois é, nem eu teria coragem de oferecer nada! Por que primeiro eu ia levar um fora, 'não, a gente não está contratando ninguém'. Eu achei que ele tava querendo me agradar. O disco do Zé Ramalho e do Fagner tá vendendo pra caramba e eles estão felizes. Porra nenhuma! (risos) Não era nada disso. Três dias depois me chega um contrato pelo correio, eu 'caraca, é verdade mesmo'. Eu liguei pro cara 'é isso mesmo? Cinco anos de contrato?' Ele falou 'cinco anos!'. Eu nunca assinei contrato de cinco anos, era geralmente um ano, três no máximo. Cinco anos! (Risos). Eu falei 'esse cara tá achando que eu vou morrer mesmo! (Risos) Então vamos lançar enquanto ele não morre'! Eu falei 'obrigado Deus!'. Tá tudo dando certo, caminhando, a atenção que vocês da imprensa estão me dando, muita gente me procurando... porra, é só felicidade, cara. Fico muito honrado, não esperava. Por que desde que eu me afastei da carreira solo eu investi no anonimato. Você vê que eu não aparecia. Eu detesto ser pipoca de festa, entendeu? Agora, se eu entrar nunca festa, querido, eu vou ser o bolo! (Risos)
Oito ou oitenta, né?
É oito ou oitenta! Se eu chegar, eu quero que todo mundo abra passagem senão eu prefiro não entrar na festa. Por que eu não tô pedindo, não vou entrar sem ser convidado. Então tá rolando as coisas. E o público que me cobrava no Facebook... Hoje eu recebi uma mensagem pepelo Face de um cara me contando que pagou R$ 300 pelo disco Rapsódia Rock.
Pelo vinil?
Não, pelo CD! É que saiu em CD, mas ele é muito raro. Na época, vendeu 35 mil cópias. Para um disco instrumental, 35 mil cópias era muito na época! Só que a indústria queria que eu fizesse coisas como o Yahoo, que vendia mais de 100 mil cópias. E eu já tinha me tornado produtor, com um compromisso muito grande, de atender vários clientes.
Algumas faixas tem um clima bem épico, grandiloquente mesmo, é como se vc estivesse tentando tocar o céu.
Adorei isso, vou roubar essa coisa! (Risos) É, eu quero tocar o céu! Adorei isso! Porra, obrigado pela frase! (Risos) Mas foi tipo assim: se resta mesmo pouco tempo, eu tô cheio de stent, de parafuso no braço. Quando eu comecei os ensaios e comecei a me divertir muito de novo, e conseguir fazer, mesmo com todas as limitações, por que dói pra tocar! Eu quebrei o braço há dois anos atrás, tenho 18 parafusos. Então eu estar conseguindo fazer tudo isso, eu 'cara, dá para se divertir. Uau'. Eu achei que nunca mais ia conseguir entrar no ringue, entendeu? É esse desafio que tá sendo bacana. E agora, qual a diferença daquele tempo? Agora eu não tenho mais compromisso de levantar bandeira de nada. É Metal Mania por que eu quero que os metaleiros saibam que eu estou fazendo metal de novo. Por se for ver mesmo, não é muito parecido com o primeiro Metal Mania. Embora no show a gente vai tocar aquelas músicas lá 'bate o pé, bate a mão, a cabeça e o coração', a galera vai querer ouvir. Continuamos ensaiando, a gente pretende fazer um show muito bacana e levar para essas pessoas, 'olha aí cara, essa é a oportunidade', por que eu também não pretendo ficar para sempre na estrada. Eu não vou abandonar minha carreira de produtor. Meus artistas, eu não vou abandona-los nunca! Então quem quiser ver o Robertinho, quando anunciar, vai ser tal dia. Bicho, vá lá por que depois não vai ter de novo. 'Ah, depois eu vou, ele volta outro dia'. Não vai não, querido. Não vai. Outra coisa muito importante: esse disco não vai ser lançado em CD. Esse é um formato que eu estou torcendo que saia de vez de circulação. Eu nunca gostei do CD. Tanto que meu último lançamento foi em vinil. Até o Rapsódia foi em vinil. A primeira vez que eu peguei um CD na mão falei de cara: 'isso aqui eu detesto'. Joguei na lata de lixo. Eu tava na EMI Odeon. O diretor artístico Jorge Davidson me mostrou 'olha aqui, já viu como é um CD? Toma aqui um pra você'. Eu olhei, peguei a caixa já quebrou na minha mão. Ai fui ver as letrinhas pequenininhas, a capinha... Aí eu falei 'velho, isso não é produto'. Pum, joguei fora. Isso não é produto. Eu não quero estar nisso aí. Como artista, eu acho o CD um lixo. Parece uma embalagem de remédio. (Risos) Então me ouça no vinil grandão ou no download. Por que o download pelo menos é barato!
O que achou de toda aquela cena manguebeat que emergiu nos anos 90? Você nunca foi procurado por eles não?
Eles me procuraram. Meu irmão era amigo do Chico Science desde antes dele aparecer. Olha, Chico passou pela minha mão várias vezes. Meu irmão me mandou uma fita cassete do Chico. 'Olha, tem um pessoal aqui que é meu amigo e tal'. O Fred ZeroQuatro era amigo dele. Só que na época eu tava produzindo um monte de coisa. Ai eu falei 'tá bom, vou ver aqui na gravadora'. Teve um dia que eu cheguei na Sony e o Jorge Davidson era o diretor artístico, ele chegou e me disse que tinha uma coisa para eu ouvir. 'Por que se você gostar vou te dar para você produzir'. Quando botou eu falei 'Chico Science. Eu conheço, cara!' Aí ele falou, 'pô, eu tô entre você e o Liminha para produzir'. Eu falei, 'cara, já ouvi, acho muito legal, agora, para o Chico, é melhor o Liminha produzir'. Por que? Eu já sou de Recife, vai ficar uma coisa muito.... Eu acho que eu ajudei o Chico nisso, entende?
Não sei se você sabe, mas essa produção do Liminha do primeiro disco do Chico foi muito criticada na época.
É, mas eu acho que Liminha deu um toque ali. Deu uma coisa bacana ali, peraí. Inclusive ele tava produzindo todo o pessoal da época, o Rappa, o Planet Hemp, que tinha tudo a ver. Eu falei pro Jorge: 'não sou fominha de bola'. Mas sabe qual foi o meu problema? Eu estava produzindo a Angélica! (Risos) Eu falei, 'não vou ter tempo de me dedicar', tinha que ir para Recife fazer pré-produção com eles lá, depois vir para cá. Na época eu não tinha estúdio. Eu falei quer saber de uma coisa: deixa lá com o Liminha, a produção não tinha muito dinheiro... Deixa o Liminha fazer. Ele vai fazer bem e para os caras vai ser melhor. Por que se eu entrasse, ia 'pernambucalizar' mais ainda, entende? Acho que não ia ser legal para eles. Eu como produtor, eu sei se eu posso quando vou produzir alguém. O que eu posso fazer, o que eu não posso fazer e quem seria melhor para fazer. Também quando eu me meto velho... Zé Ramalho ninguém se atreva a fazer lá, sabe? (Risos) Não vai fazer tão bem quanto eu por que eu conheço bem. A gente trabalha eu e Zé numa harmonia brutal! Antes dele falar uma coisa eu já tô respondendo para ele.
Quando traz esse show a Salvador?
Cara, eu vou aonde me chamarem. Eu adoro Salvador. Sou casado com uma baiana e sou fã de muita gente aí da música. Luis Caldas que é meu amigo demais, Pepeu, Moraes, Armando (Macedo), a Thati, guitarrista que eu produzi. Adoro ela, adoro. Tem tantos que eu fico com medo, tipo 'porra, o cara não falou meu nome'. Adoro a Bahia. Bahia e Recife é a mesma coisa, eu considero a mesma coisa. Quer dizer, é aquela coisa, cada um com suas características, mas acho muito parecido, os pernambucanos se dão muito bem com os baianos. Quantos casais de baianos e pernambucanos eu conheço? Se completam, eu acho.
Robertinho, foi um prazer enorme falar com você.
O prazer foi meu, inclusive ganhei uma frase! (Risos)
Pode usar!
É, eu tô querendo tocar o céu! Você vai ver vou botar no Facebook! Olha, quando eu for para aí... Eu sou muito amigo do Távio Miranda. É um cara que hoje mora em São Paulo, faz os melhores amplificadores do Brasil. Baiano. Ele me falou outro dia que eu deveria fazer um workshop em Salvador, que tem um monte de guitarrista querendo.
Sabe o que eu queria? Ver você aqui no Carnaval com Armandinho, em cima do trio. Ia arrepiar geral!
É, né? Só precisa alguém me chamar, eu não posso me convidar. Se você me vê em algum lugar, é por que me convidaram e insistiram. Eu não gosto de ser entrão. Por que tem muita gente que diz 'ah, Robertinho não'. Pô, que é isso, bicho? Você está desinformado, não é tão fácil, não! (Risos)
Back For More / Robertinho de Recife & MetalMania / Sony Music / Disponível apenas no iTunes / Breve em LP de vinil