sexta-feira, dezembro 09, 2011

MEDO, DELÍRIO E MAGIA NA PSICODÉLICA LONDRES DE 1969

Não existe autor de quadrinhos mais espantoso – e meticuloso – do que o inglês Alan Moore.

Na  nova HQ da sua série A Liga Extraordinária, Século: 1969, ele continua a divertidíssima saga de personagens famosos da literatura às voltas com o possível surgimento do anticristo na Londres do final dos anos 1960 – com direito à toda aquela obsessão por detalhes e a narrativa cerebral que o tornaram universalmente cultuado.

Segunda parte da história iniciada em Século: 1910 (publicada ano passado no Brasil), 1969 acompanha o grupo liderado por Mina Murray (personagem de Drácula, de Bram Stoker) o rejuvenescido Allan Quatermain (de As Minas do Rei Salomão, de H. R. Haggard) e Orlando (do livro homônimo de Virginia Woolf) tentando impedir que o mago Oliver Haddo traga o anticristo à Terra.

Descrito assim, pode até parecer uma grande bobagem. Mas, como toda obra mooreana, 1969 é um grande jogo com o leitor mais atento. Auxiliado pelo artista e co-criador Kevin O’Neill, ele cria uma narrativa que pode ser desdobrada em múltiplos níveis de leitura.

Até por que, a exemplo de Grant Morrison, outro escritor inglês envolvido com bruxaria, Moore encara suas obras como atos de magia em si. Como diz o  personagem Andrew Norton (criado pelo escritor de FC Ian Sinclair): “Certas ficções atraem energias subterrâneas”.

Dito isto, é bom lembrar que nos dias de hoje, a máscara de V de Vingança (obra fundamental de Moore) assombra líderes mundiais como símbolo do movimento Occupy Wall Street.

No plano mais superficial de leitura de 1969, há as referências visuais. Escritor e desenhista se esmeram em espalhar pelas páginas as mais inesperadas sugestões da cultura pop.

Nas HQs de Moore, nada, absolutamente nenhum detalhe, por mais ínfimo que seja, está ali por acaso. Nas cenas de rua, por exemplo, é possível perceber versões “realistas” de  personagens como Zé do Boné (das tiras) e Recruta Zero, caminhando despreocupadamente.

Isso para não citar os vários personagens obscuros retirados de livros de ficção pulp e seriados de TV, com os quais os protagonistas topam a todo momento.

O “vilão” da história, por exemplo, Oliver Haddo, é criação de um dos mais amados escritores britânicos, W. Somerset Maugham (1874-1965) – o qual, por sua vez, se inspirou no ocultista Aleister Crowley (1875 -1947)  para dar vida a Haddo, no livro O Mágico (1908).

Já Kosmo Gallion, que, em 1969, é discípulo de Haddo, surgiu em um episódio do seriado sessentista inglês The Avengers (depois adaptado em um filme de 1998, com Uma Thurman).

Parte da crítica estrangeira tem reclamado dessa obsessão do inglês, sugerindo que a série sucumbiu ao próprio peso, já que ela seria hoje mais um compêndio de citações e esconde-esconde de personagens e menos uma narrativa bem amarrada.

Concerto no Hyde Park

No nível das metáforas, o próprio escritor declarou ao site Newsarama que “se há alguma moral aqui é que ‘os tempos mudam’. Invariavelmente, através da história, essa tem sido a lição: ‘os tempos mudam’”.

Com três protagonistas imortais, Moore tem o gancho perfeito para tratar do assunto, já que cada um deles lida de uma forma diferente com sua condição.

Em 1969, Mina Murray, mordida por Drácula há pouco menos de um século, começa a demonstrar seu desgaste emocional com a impossibilidade de morrer, testemunhando a mudança dos tempos.

Seja como for, para os fãs do escritor, este é mais um capítulo imperdível de sua obra mais recente. O clímax, ambientado em uma recriação do famoso concerto dos Rolling Stones (Orquestra Púrpura na HQ) no Hyde Park em homenagem ao guitarrista Brian Jones (Basil Thomas na HQ), morto em circunstâncias misteriosas – outro gancho perfeito para Moore, que aliás, inicia a HQ mostrando como ele morreu, vista mais acima, clique para ampliar – é de arrepiar, com direito a viagens lisérgicas no plano astral.

Agora, que venha a terceira parte, 2009.

Leia aqui a resenha do Rock Loco para a primeira desta história,  A Liga Extraordinária – Século: 1910.

A Liga Extraordinária – Século: 1969 / Alan Moore & Kevin O’Neill /  Devir/ 96 p./ R$ 48,50 (capa dura)/ R$ 35 (brochura)

14 comentários:

Franchico disse...

Brian Wood, da ótima Vikings, assume nova HQ de Conan. E pelo preview, parece bem legal!

http://omelete.uol.com.br/quadrinhos/conan-confira-um-preview-da-nova-hq-do-barbaro/

Franchico disse...

To whom it may concern....

Conexão Vivo na Sala do Coro abre as portas para
a cena musical baiana



Durante cinco meses, a Sala do Coro do Teatro Castro Alves vai receber 12 artistas selecionados pelo edital do projeto. As inscrições estão abertas até 20 de dezembro.



Dando continuidade ao projeto iniciado em 2010, o Conexão Vivo reafirma o compromisso com o desenvolvimento do setor musical e abre seleção pública aos artistas baianos. O Edital Conexão Vivo na Sala do Coro 2011 irá selecionar 12 atrações que se apresentarão na Sala do Coro do Teatro Castro Alves entre janeiro e maio de 2012. As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas até 20 de dezembro.

Qualquer músico ou banda pode se inscrever, gratuitamente, no projeto pelo portal de relacionamento www.conexaovivo.com.br. As apresentações serão realizadas sempre às segundas–feiras, em datas a serem definidas pela Comissão Organizadora.

Franchico disse...

Quer ver uma coisa bonita?

Uma versão colorida a mão, antiquíssima e que se imaginava perdida, de Viagem à Lua (1902), de George Melies, ganha trilha do Air.

http://omelete.uol.com.br/musica/air-assista-ao-trecho-de-viagem-lua-com-trilha-da-dupla/

cebola disse...

Bom, como aqui o post ainda é sobre mr. Moore (de quem sou muito fã, ainda, viu chico?), repito o coment resposta que fiz no de baixo pra continuar a peleja, hehehe:

Errou no diagnóstico sobre a razão de minha postura, man. Não é nada disso. E ninguém lá colocou ninguém contra a parede pra "arrancar" (eu sei que vc está falando de forma metafórica) suas respectivas posições. Foram dadas de boa vontade e certo estardalhaço. Eu não acredito no novo messianismo de mr Moore, é apenas isto. E acho exagerada esta sanha anti-Miller, é isso também. Artista lá TEM que falar o que pensa?? Tem não, man. É exatamente esta a graça da democracia. Ele fala se, quando, como e onde quiser. Dá forma como esta sendo colocado só falta a crucificação simbólica do nosso christo descolado e o empalamento literal do novo judas dos oprimidos...

Franchico disse...

Sim, Cebola, claro que qualquer pessoa, incluindo os "artistas" só falam quando, se e como quiserem. Mas – e aí está a graça da democracia de novo (só que por outro ângulo) – é a obrigação da imprensa perguntar a todos que estão trabalhando dentro do sistema: "E aí, o que vc acha do Occupy? Eles estão certos? Vc concorda? Discorda? Como vc vê o fato de que 99% da população mundial trabalha duro e se lasca para manter 1% de bilionários deitados em berço esplêndido?" Para Miller, ninguém nem precisou perguntar! O próprio cara escreveu no blog dele a posição dele lá - equivocada do início ao fim, mas é a opinião dele. O sujeito pode ser um redneck paranoico em último grau, mas pelo menos tem a decência de assumir isto, não fica fazendo papel de bonzinho, de politicamente correto. Será que aqui veríamos Luciano Huck fazendo o mesmo? Ou o homem da bandana amestrada? Ou aquela cantora de meningite? NÃO MESMO! Não só por que essa gente é hipócrita até o último fio de cabelo, mas também por que ninguem na imprensa vai se arriscar a fazer uma pergunta dessas a esses caras, por que no dia seguinte, ele vai estar na fila dos desempregados. Enfim: artista não TEM quem falar o que pensa. Mas a imprensa TEM sim, que perguntar e tirar a máscara de boa gente dessa gentalha milionária às custas de jabá e da ignorância generalizada. E isso, meu culpa, mea maxima culpa, nós não fazemos. E isso é o que mais me incomoda.

Franchico disse...

Ah! Só para concluir: vc quis dizer empalamento metafórico, né? O "literal" seria realmente enfiar uma tora de madeira pelo ânus de Frank Miller até ela sair pela boca. Isso é literal. ;-)

cebola disse...

Não, eu quis dizer literal mesmo. Conforme está escrito! A "crucificação" seria simbólica, visto que aconteceria com o neo-hippie/Christ. O empalamento, literal, pelo ódio anti o novo pau-pra-toda-crítica, mr. Miller, o mau. Quanto ao papel da imprensa, assino embaixo em tudo o que vc falou. Nunca discordei ou sequer sugeri discordar disto, não entendi o porque desta explanação...enfim...
Quanto à forma como as opiniões foram dadas...Não faz diferença nenhuma. Miller falou no seu blog, expondo sua opinião crítica, de forma livre e espontanea, e até, conforme foi depois provado, perigosa para o seu marketing pessoal. mr. Moore respondeu à perguntas de uma imprensa livre e democrática e também ávida por uma boa (e justa) polêmica. Um virou O Messias, o outro, Belzebu!

Franchico disse...

Ah, tá certo, entendi! "Só falta"... Perfeito.

Ah, a explanação toda foi mais pra cuspir fora certas coisas que ficam entaladas na garganta e surgem quando comparamos os comportamentos dos milionários de lá e o comportamento dos milionários daqui. A mera constatação da nossa boa e velha hipocrisia cabocla.

Nos vemos na night, que hj vai ser boa! ;-)

E seu Marcionílio, não quero nem saber de caruru. Apareça! Isto é uma convocação.

cebola disse...

Deixando claro: O que mr Miller disse sobre o movimento é exagerado e simplista demais, concordo. O problema é que falar mal de coisas como "ocuppy" tá virando crime contra a sociedade. Se ele tivesse exposto esta opinião anti-ocuppy de forma mais articulada e, digamos, delicada, acho que a reação poderia até ser a mesma. A postura de Moore é também coerente com tudo o que ele sempre disse. O que não quer dizer que seja necessariamente acima de críticas. Nem o tal do Movimento. É isso que eu quero dizer, afinal.

cebola disse...

AH É!!! PARABENSS MUDDAFUCKA!! Vou te dar um bonequinho vodu de Frank miller proce se divertir, heheheee.

Franchico disse...

Uhú!!!!

Franchico disse...

Vem disco novo do Stone Roses por aí.

http://omelete.uol.com.br/musica/stone-roses-fecha-contrato-para-novo-disco/

Tomara que não seja uma decepção. Se for pra voltar, que seja com algo a dizer, né? Voltar só para encher os bolsos de $$$$ não vale!

Franchico disse...

Se a Scarlettzinha quer, eu também quero!

http://omelete.uol.com.br/vingadores/cinema/avengers-os-vingadores-scarlett-johansson-fala-sobre-viuva-negra/

Ô se quero!

Marina Prado Barral disse...

um regalo pra chicón!

http://grooveshark.com/#/playlist/Lokilist/64683332

GLAUBEROVSKY