terça-feira, dezembro 07, 2010

POPULAR, ERUDITO E VIRTUOSO: QUARTETO IMPRESSONS DE THOMAS SABOGA

Um diálogo fluente entre o erudito e o popular é a marca mais evidente na música de Thomas Saboga, excepcional violonista que recentemente lançou, com seu Quarteto Impressons, um álbum primoroso: O Desague (A Casa Discos).

Trata-se de uma obra superior, plenamente orgânica, daquelas para fechar os olhos e apreciar o movimento das marés ou a curvatura da Terra.

Aclamado por Guinga, um mestre do violão brasileiro, Saboga atua desde 2003 com seu Quarteto, formado por Larissa Goretkin (flauta), Matias Corrêa (contrabaixo), Renata Neves (violino) e o violonista.

No Rio de Janeiro, aonde o grupo se formou, o Quarteto Impressons é presença certa em recitais e eventos de música erudita e / ou de câmara, como a Mostra de Violão Fred Schneiter 2010, na Sala Baden Powell, ocorrida em setembro último.

Piazzolla na cabeça


Compositor prolífico, Saboga impressiona pela pureza que consegue destilar em suas composições, preservando características de choro, samba, música erudita, flamenco e tango nas faixas de O Desague.

E é de um mestre do tango que Saboga aponta vir a sua maior influência: “Por eu me identificar com a sua forma original de ver a música, de se aproximar dela e de manipulá-la, é Astor Piazzolla”, diz.

“Ele foi o compositor que levou mais longe o diálogo entre popular e erudito, além de ser compositor inspirado e um instrumentista excepcional. Mas Tom Jobim, Baden Powell, Chico Buarque, Guinga, entre muitos outros e vários clássicos, como Bach, Beethoven, Villa-Lobos, são referências preciosas para mim, claro”, enumera.

Na música brasileira, Saboga segue a trilha aberta por nomes como Radamés Gnatalli, Ernesto Nazareth e Guinga. “Eu busco essa região de tráfego entre a música erudita e popular. Procuro potencializar uma através da outra e vice-versa. Me parece um caminho criativo com bastante espaço para percorrer, muitas perspectivas, potenciais interessantes”, observa.

Claro que, em um País dominado pelo cinismo e pelo jabá como o Brasil, essa trilha é bem árdua. Para os eruditos, se não tem Bach ou Beethoven, eles tem dificuldade de aceitar. E no mercado popular... pior ainda.

“Na hora de vender, a segmentação do mercado, que funciona por exclusão, consegue deixar a minha música à margem desses dois nichos de mercado”, lamenta.

“Enfim, há sim, essa dificuldade em fazer o trabalho circular. O mercado de uma forma geral anda bem fechado para qualquer novidade. A música para ser ouvida e pensada não tem tido muito espaço”, nota.

Mesmo assim, Thomas, Larissa, Matias e Renata seguem na batalha. “A recepção do público é boa, mas é uma parcela muito pequena que se interessa por essa fatia do mercado. Tivemos um lançamento bem bacana na sala Baden Powell, em maio desse ano, com um bom público”, conta.

No momento, o Quarteto se dedica a divulgar o trabalho pelo Rio de Janeiro e nos veículos de comunicação Brasil afora. “Ainda não temos uma agenda para circular o País, mas espero que, em breve, possamos tocar aí na Bahia e lançar o disco em outras regiões”, faz fé.

Músico aplicado, íntegro, Thomas espera que sua música seja reconhecida pelo que é, e não pelo que as pessoas esperam que seja. “Busco preservar ao máximo a intenção original da composição, não importando para mim se o resultado é sisudo ou risonho. O importante é ser fiel ao que eu quero dizer e comunicar”, conclui.


OUÇA: www.myspace.com/quartetoimpressons

O Desague - A Música de Thomas Saboga / Quarteto Impressons / A Casa Discos / Preço não informado

10 comentários:

Franchico disse...

Uma materinha do belíssimo trabalho desse rapaz Thomas, para iluminar vossos espíritos (e o blog ganhar tempo até a sua próxima matéria bombáááááááástica!)

Mas se puderem, ouçam lá no MySpace, que é um trabalho bonitão, mesmo.

Franchico disse...

É hoje! 22h, 21h em SSa!

http://www.omelete.com.br/series-e-tv/walking-dead-bate-recorde-de-audiencia-no-seu-final/

glauberovsky disse...

chicão, to ouvindo o DUNGEN. muito bom!!! solovera vai curtir...

GLAUBER

Franchico disse...

Demais, né menino Glauber?

Só as quatro primeiras músicas, parece que vão te botar num tapete mágico, direto pra terra dos sonhos psicodélicos molhados.

Peguei essa dica lá no Barcinskão.

Até já tinha ouvido falar nessa banda por aí, mas até então, num tinha levado fé.

Agora preciso ouvir os outros.

Franchico disse...

Menino el Cabong juntou um monte de listas de melhores de 2010 e disponibilizou por lá.

http://www.nemo.com.br/elcabong/

Deixei nos comments um rascunho da milha lista tb.

Franchico disse...

O Prêmio Bahia de Todos os Rocks postou no You Tube sua cobertura oficial da edição deste ano.

http://www.youtube.com/watch?v=cxqd2UhCuVA

Franchico disse...

Um bom recado para ufanistas em geral:

"Brasileiro se acha superior a argentino porque é pentacampeão no futebol. A gente tem um Oscar? Eles têm dois. A gente tem um Nobel? Eles têm três" - Eloar Guazzelli.

Retirado daqui: http://oglobo.globo.com/blogs/Gibizada/

Marcos Rodrigues disse...

Atravessando o brilho do deserto e ganhando as montanhas policromadas, nuas e ocre, violeta pardo e terracota, no alto de um vale dissecado azul, os viajantes encontram um oásis artificial, um castelo fortificado em estilo sarraceno, guardando um jardim escondido.

Como convidados de Hassan-i Sabbah, o Velho da Montanha, eles sobem os degraus cortados na pedra que levam até o castelo. Aqui, o Dia da Ressurreição veio e passou – os do lado de dentro vivem fora do Tempo profano, que é mantido a distância com lanças e veneno.

Por trás de torres crenuladas e de longas janelas talhadas, estudiosos e fedains velam em estreitas celas monolíticas. Mapas do céu, astrolábios, destiladores e retortas, pilhas de livros abertos sob a luz da manhã – uma cimitarra descoberta.

Cada um dos que entram no reino do Imã-de-seu-próprio-ser transforma-se num sultão de revelação inversa, num monarca da anulação e da apostasia. Num aposento central, entrecortado pela luz e adornado com uma tapeçaria de arabescos, eles se recostam em almofadas e fumam longos narguilés de haxixe perfumado com ópio e âmbar. Para eles, a hierarquia do ser compactou-se num ponto adimensional do real – as correntes da Lei foram quebradas – eles terminam seu jejum com vinho. Para eles, o exterior de todas as coisas é o interior delas, sua face verdadeira revela-se diretamente. Mas os portões do jardim estão camuflados com terrorismo, espelhos, rumores de assassinos, trompe l’oeil, lendas.

Na entrada um aviso: "YOU MAY BE WELCOME, BUT PLEASE NOTE: THERE SOME SUBTLE CODES"

Aos nobres frequentadores deste blog a senha está aqui: http://clashcityrockers.blogspot.com/ Este é apenas o primeiro.

Marcos Rodrigues disse...

Sabem quem são os senhores por trás desse magnífico som http://www.myspace.com/newbureau ?

Terça, eu conto.

Marcos Rodrigues disse...

Pocket Radio - podcast especial Tuesday Autonomous Zone. Ta' no ar. http://pocketradio.podomatic.com/entry/2010-12-13T18_41_35-08_00