André T., Tadeu Mascarenhas e Jera Cravo, os produtores que botam o rock baiano na fitaEles têm um trabalho que, longe de dar lucro, às vezes pode dar até prejuízo. A razão de continuarem fazendo o que fazem - e acreditando nisso - só pode ser traduzida em uma única palavra, por mais batida e até mesmo brega que ela possa parecer: amor.
Amor à arte, no caso - mais especificamente, amor ao rock n‘ roll. Não há outra explicação. Eles são André T., Jera Cravo e Tadeu Mascarenhas, produtores fonográficos voltados principalmente para o rock local. Claro, eles não são os únicos. Há outros, talvez até tão bons quanto os três. Mas eles se destacam - pela dedicação integral, pelo tempo de serviço e pelo volume de trabalho.
A verdade é que, com eles, a Bahia ganhou produtores especializados em rock. Até meados dos anos 1990, os discos desse estilo gravados em solo baiano, com raríssimas exceções, tinham uma sonoridade - para dizer o mínimo - inadequada. Porque eram gravados por técnicos formados no grande mercado da música baiana, ou seja, o axé.
Sem produtores especializados, as bandas locais acabavam tendo de se autoproduzir no estúdio. Sendo formadas na sua grande maioria por jovens inexperientes, que nunca haviam entrado em um estúdio antes, os resultados acabavam sendo frustrantes - para as próprias bandas e também para os fãs. Os discos da Úteros em Fúria (Wombs in Rage, Natasha Records, 1993) e dos Dead Billies (Don‘t Mess With The Dead Billies, WR Discos, 1995), são dois exemplos clássicos de registros frustrados de grandes bandas.
Quem freqüentava os shows de ambas certamente se decepcionou muito com o resultado em CD, pois o som poderoso e cheio de tesão que se ouvia nas apresentações ao vivo não se traduziu nas faixas gravadas em estúdio. O resultado foram discos com um sonzinho de nada, achatado, sem brilho, que têm no registro histórico seu maior valor.
Mas hoje, a história é bem diferente. Bandas e artistas de estilos bem diversos entre si como Cascadura, Retrofoguetes, Demoiselle, Cobalto, Capitão Parafina, Radiola, Pessoas Invisíveis, Mirabolix, Nancyta, Alex Pochat, Paulinho Oliveira e muitos outros podem entrar no estúdio de olhos fechados e mãos dadas com esses caras. Eles conhecem o som, as referências e a sonoridade de cada uma delas - na fonte.
Para chegar até aqui, porém, foi uma longa estrada, e muitos outros fatores também tiveram seu papel. "Eu acho que primeiro rolou uma grande democratização da tecnologia. Hoje você tem muito mais acesso aos materiais para fazer o trampo", avalia Jera Cravo. Já para Tadeu, a culpa é dos Beatles. "Basicamente, é isso: George Martin e afins. Desde guri, você começa a futucar no gravadorzinho em casa e daqui a pouco vc tem um monte de cabo e microfone do seu lado. É uma coisa meio esquizofrênica, mesmo", ri.
Cada um deles tem um perfil diferente um do outro, que se define mais ou menos nos estilos que cresceram ouvindo. Jera tem um gosto mais pesado, pendendo para o hardcore e o heavy metal mais moderno. Tadeu é da escola setentista, Beatles e classic rock. André já é mais difícil de enquadrar, trafegando com desenvoltura desde o trip hop inicial de Rebeca Matta até a surf music dos Retrofoguetes e o rock contemporâneo da formação atual da Cascadura.
Mas a dedicação ao trabalho e o rigor estético aplicado no estúdio é o mesmo. “Somos três chatos“, assume Jera. "Chega a galera e você fala: 'Velho, não é assim que funciona, precisa ensaiar, precisa prestar atenção nisso, naquilo'. Acaba funcionando. Já tive bandas que gravaram três vezes comigo. A primeira foi um terror. A última já foi legalzinha", diz.
"A gente se envolve, se doa, pega os instrumentos, 'não, deixa que eu afino'! Aí eles começam a se preocupar em comprar um instrumento legal, regular o instrumento, afinar, estudar, praticar. A gente é meio que educador também", revela Tadeu.
"E começam a ter noção de outras coisas. Às vezes, você botar (numa gravação) quarenta guitarras, trinta teclados - tudo ao mesmo tempo - simplesmente não vai soar", acrescenta André.
ROCK BA 2007 - Para os três, o rock baiano vive seu melhor momento - apesar de tudo. "Eu tenho ouvido algumas coisas do resto do Brasil, e sim, as bandas baianas estão entre as melhores do País. E vou dizer uma coisa: não é por que são meus amigos e trabalho com eles não, mas a Retrofoguetes, para mim, é a melhor banda de surf music do mundo! Eu já ouvi um monte de banda de surf e eles são os melhores", se entusiasma André.
Jera concorda, mas considera que "em termos de cenário e de sobrevivência desse cenário, aí estamos num dos piores momentos. O público também é menor e menos fiel do que era nos anos 90, na época da Dois Sapos & Meio, Lisergia, Inkoma. Qualquer showzinho era o Idearium lotado, 400 cabeças. Hoje, Retrofoguetes e Astronautas (PE) na Boomerangue, que é um espaço muito melhor, dá 70 pagantes", contabiliza.
Apesar de todas as dificuldades, contudo, Tadeu, Jera e André não páram de produzir, muitas vezes, dando conta de vários projetos ao mesmo tempo. O que significa dizer que vem muita coisa boa por aí entre o final de 2007 e o início de 2008.
Só André T. toca, no momento, quase uma dezena de projetos, em diversos estágios de produção. "Estão para sair os discos de estréia da Anacê e da Aguarrás, duas bandas de rock. Terminei agora o disco de Nancyta e estou no meio do segundo do Retrofoguetes. Tem também os CDs da Pandora, Neto Lobo & A Cacimba, Demoiselle - esse tá bem legal - e estou fazendo também um disco em dupla com o DJ Mauro Telefunksoul", enumera.
Jera Cravo tem engatilhado o primeiro CD da Minerva, "banda do ex-guitarrista da Automata, ficou bem legal. Tem o da Lou com a vocalista nova (Danny Nascimento), que tá gravando lá no meu estúdio, mas o produtor é Jorge Solovera. Tem ainda para sair os CDs da minha banda, Hoje Você Morre, Efeito Joule (hardcore) e também o da banda Elipê. Modéstia a parte, gostei muito do resultado desses aí", adianta.
Tadeu se encontra finalizando os CDs das revelações Dão & A Caravana Black e Marcela Bellas. "A Radiola já vai começar a gravar o segundo disco. Tem também a banda do Júlio Caldas, Petercantropus Erectus e o Jazz Rock Quartet, de Dom Lula Nascimento (bateria) e Luciano Souza (guitarra)" conta Tadeu.
Caro, barato - Apesar da produção ininterrupta, as dificuldades de produzir um disco de rock - ou algo parecido - na Bahia ainda são bem grandes. Diferente das bandas de axé / pagode / arrocha, que quase sempre têm dono, ou seja, uma produtora por trás bancando as horas de estúdio, os integrantes das bandas de rock local se viram como podem para pagar sua gravação.
"A maioria dos trabalhos que a gente pega é o cara que tem um emprego em algum lugar, não é músico profissional, vai juntando uma grana, cada um dá uma parte. Boa parte das bandas de rock é assim. A maior clientela é essa, então a gente tem que facilitar muito. 'Ah, vamo dividir em não-sei-quantas-vezes'", ri André.
"Eu fico olhando as vezes no estúdio, o quanto a gente já investiu em equipamento, dá fácil assim uns R$ 200 mil, se for contar instrumento, equipamento, tudo o que tem lá. Aí eu penso assim no preço que eu cobro por hora. 'Você é louco, cara, isso não existe'... Mas se eu for cobrar o preço real, que deveria estar cobrando, aí eu expulso essa clientela", considera Tadeu.
A verdade é que, se por um lado, a tecnologia de gravação ficou realmente barata - está aí o Pró-Tools, software de gravação amplamente disseminado - a tecnologia de captação de áudio, como microfones e amplificadores, continua bem dispendiosa.
"Tem microfone que custa R$ 11 mil. Se você for pensar, é um carro, né?", se espanta Tadeu. "Amplificadores de guitarra também são caríssimos. Pra você montar um bom estúdio, ainda precisa ter bons cabos de microfone, tudo isso vai adicionando no valor", pesa André.
De qualquer forma, a tecnologia de gravação mais barata "tornou possível que a gente com um único microfone bom, poucos recursos, consiga fazer a coisa, porque a gente tem criatividade, mete a mão, futuca e faz mesmo. A gente conhece, tem a referência do que é aquele som, porque é isso que nos diferencia como produtores de rock. É o cara que conhece o rock, que tem a referência, que conhece o conceito do som, o que é uma guitarra, uma bateria de rock mesmo", pontua Tadeu, dispensando a falsa modéstia.
"É aquele cara que ouviu o Back in Black (AC/DC) e ficou coçando a cabeça, 'como é que eles fizeram isso?'", ri André. "É isso aí, velho, a gente com um canal, um microfone, mais alguns genéricos, a gente se vira", conclui Jera.
A SEGUIR, A TRANSCRIÇÃO COMPLETA DO BATE-PAPOPRA COMEÇO DE CONVERSA
JERA CRAVO: Eu acho que primeiro rolou uma grande democratização da tecnologia. Hoje vc tem muito mais acesso aos materiais para fazer o trampo. E como vc falou, todo mundo aqui cresceu ouvindo rock mesmo desde cedo e isso influenciou bastante. Eu não lembro de ter sido gravado aqui - na época em que eu tocava - por ninguém que ouvisse rock direto. Talvez Alfredo, do Estúdio Verde. Mas ele nem ficava direto com a galera, por que ele era o dono do estúdio... Mas o primordial foi isso, a escola da galera e a mudança dos tempos, né?
ANDRÉ T.: Acho que hj em dia, todo mundo tem mais acesso à informação. Os anos 80 foram bem estranhos, por vários motivos, até pela reserva de mercado brasileiro também, então os estúdios eram bem mais pobres do que hoje. Se grava rock melhor hoje em dia, mas ao mesmo tempo, também se grava axé melhor. O pessoal que grava axé está fazendo um trabalho melhor do que fazia anos atrás. A gente tem mais acesso à informação e mais acesso aos equipamentos. Claro, algumas pessoas se dedicam mais àlgumas coisas do que outras. Não dá para chegar e fazer bem tudo. Então, sim, eu acho que nós nos dedicamos à isso, por que ouvimos isso o tempo todo.
TADEU MASCARENHAS: Rapaz, a culpa é dos Beatles! Basicamente, é isso: George Martin e afins. É bem por aí, é coisa de paixão, mesmo. Desde guri, vc começa a futucar no gravadorzinho que tem dentro de casa e daqui a pouco vc tem um monte de cabo e microfone do seu lado. É uma coisa meio esquizofrênica, mesmo. Não tem muita teoria para explicar, não...
JC: Eu acho que muita gente que trabalhava no meio aqui antes, meio que caía na profissão por que era roadie ou operador de PA, que caía pra gravar, sacou?
TM: Temos que admitir que a maior escola de técnicos que teve aqui foi baseada no axé, né? Então, era a WR mesmo que fazia tudo aqui. Então, na hora de gravar um bom disco, na hora de se gastar dinheiro, o pessoal ia pra lá. Por que tinha equipamento. Então os técnicos aprenderam a gravar gravando axé.
BACKGROUNDJC: Comecei a tocar em 96, eu acho, numa banda que já existia, chamada Peacemaker, que era meio crossover, metal, tipo Biohazard na época. Depois, fui pra Pimps, depois eu viajei pra Los Angeles, e lá fora moneti uma outra banda chamada Dive, mas só fizemos uma gravaçãozinha simples. Na volta, entrei no Automata, toquei também com a Cobalto, Astronautas (de Recife), estou com a Lou e uma banda de hardcore chamada Hoje Você Morre. Os discos mais legais que eu trabalhei foram o da Automata, os dois últimos da Cobalto foram muito bons, os da Malefector foram divertidos de fazer, por que os caras são bem engraçados. Teve também o disco da Madame Satan, de Belém, que foi massa. Estou mixando agora a Tolerância Zero, banda lá de São Paulo, Elipê e também da Hoje Você Morre.
TM: Rapaz, eu fui batizado por Cascadura, né? Com dezesseis aninhos de idade, entrei pro mundo do rock, sentei no colo do tio Fábio e aí depois, teve algumas coisas que não foram muito adiante, mas aí agora, depois que eu montei o Estúdio (Casa das Máquinas), já com uma estrutura melhor, gravei Radiola, Manuela Rodrigues... O negócio é que a galera que eu produzo, acabo tocando junto. É o produtor-dobradinha. É difícil, a gente se joga, faz um negócio todo criativo e tal, chega na hora do show, eu tenho que tocar também para sair igual... Tem a Vinil 69 que gravou lá, e levou pro André mixar. Tem a Headhunter, Ungodly. Aliás, as bandas mais divertidas de gravar são as da galera do metal. Zé Paulo da Headhunter é uma figura... Formidável Família Musical, também.
JC: Tadeu é chegado na galera hippie, né? Pochat, Formidável Família...
TM: É, o rock dos anos 70 é a fase que eu mais gosto. Disparado. Claro que as outras décadas tem seus valores também, mas...
JC: Já eu pulo dos 60 para o final dos 80, dos que eu escuto mais. Não ouço muita coisa dos anos 70, não.
AT: Começei a tocar em 82...
JC: Que cara véio da porra! (risos)
AT: Aí toquei em Mostras de Som do Vieira, na época da Úteros e tal. Eu tinha uma banda com o Daniel Boaventura, chamava Banzai. Aí quando fiz 18 anos, fiz faculdade de música, me profissionalizei, toquei com um bocado de gente. Em 92, fui para os Estados Unidos, passei 4 anos, fiz faculdade de comunicação. Voltei em 96, passei quatro anos tocando com Carlinhos Brown (teclado e guitarra) e produzindo. Fiz os dois primeiros discos de Rebeca Matta, trabalhei no CD da Crac!, produzi Nancyta, Retrofoguetes, os dois últimos da Cascadura, tem um bocado de coisa, que agora não lembro.
FORMAÇÃOTM: Nenhuma formação. Aprendi fazendo.
JC: Eu já metia a mão antes, mas fiz um curso de seis meses na Musicians Institute (MI), em Los Angeles. No meio do curso, já estava trampando. Fiz muita coisa em igreja, por incrível que pareça, operando PA, manutenção em estúdio, na Igreja Adventista do 7º Dia e uma outra lá que era coreana, então não sei nem te dizer o que era aquilo (risos). Cândido (Amarelo Neto) também, mais ou menos na mesma época.
AT: Não fiz curso não. Mas tem dois argentinos aqui em Salvador, técnicos de gravação, que me ensinaram muito, eu tenho um respeito absurdo por eles: Bocha e Jeti Corleto. Já fiz muita coisa com eles e aprendi muito. Temos diferenças estéticas, de como fazer mas tenho um respeito enorme por eles. Inclusive, foi Bocha que gravou o primeiro compacto do Camisa de Vênus (Controle Total / Meu Primo Zé, 1982).
TM: Tinha o Nestor Madrid também, que nunca se intitulou produtor de rock, mas produziu muita banda de rock, era quem estava mais próximo à esse conceito do rock.
PRODUÇÕES VINDOURASTM: Dão & A Caravana Black, Marcela Bellas, Radiola vai começar a gravar o segundo disco, tem também o disco do grupo do Júlio Caldas, Petercantropus Erectus... E também a Jazz Rock Quartet, que são caras importantíssimos pro rock baiano, meio que começaram tudo aqui...
JC: Tem um que já está pronto, mas não saiu ainda que é o da Minerva, banda do ex-guitarrista da Automata, ficou bem legal. Tem o da Lou, que tá gravando lá no meu estúdio, mas quem tá produzindo mesmo é o Só Love (Jorge Solovera), Tem o CD da minha banda, Hoje Você Morre, tem a Efeito Joule (hardcore)...
AT: O problema é esse, que a gente vai fazendo um bocado de coisa ao mesmo tempo, acaba esquecendo... Vai sair agora o disco da Anacê, Aguarrás, também de rock, também o primeiro disco. Terminei agora o disco de Nancyta, estou no meio do segundo do Retrofoguetes, tem também o Pandora, Neto Lobo & A Cacimba, Demoiselle - esse tá bem legal - e estou fazendo também um disco em dupla com o DJ Mauro Telefunksoul.
RENOVAÇÃO DO CENÁRIOAT: Eu não sou tão pretensioso assim, não. O mercado baiano, brasileiro, digamos, é muito, mas muito maior do que a escala em que gente trabalha. Claro que tem um artista ou outro que a gente trabalha que começa a aparecer um pouco mais na mídia, mas ainda é um trabalho muito formiguinha, manufaturado, embrionário, para ter essa pretensão de querer mudar alguma coisa.
TM: Mas é (um trabalho) consistente. Eu acho que a mudança acontece. O que é mais legal (no nosso trabalho) é que a gente acaba criando referências para outras pessoas. Tem várias pessoas que apreciam, e chegam e dizem, "pô, o trabalho desse cara aqui é legal" e tal. Isso acaba virando um incentivo para que outro vá e faça uma coisa legal, bem feita, isso termina criando meio que uma rede.
AT: Já teve gente de axé, gente grande, que eu não imaginei nunca que iria conhecer alguns artistas independentes que a gente trabalha, e que comentou pra mim e disse "adorei o disco de fulano ou sicrano". Eu fiquei surpreso. Se chegou nessa pessoa, deve estar chegando em outras pessoas também. Mas eu não sei até que ponto isso reverbera assim...
JC: Mas é natural. A gente só faz o trabalho da gente, não tem uma pretensão de "ah, vou mudar esse cenário" e tal. É uma consequência. Eu acho que é uma mudança a longo prazo. Por exemplo, eu tô com meu estúdio desde 2002. São cinco anos e um quebradinho. Então vc ainda encontra aquelas bandinhas da galera mais nova que tá começando, e quer gravar sem nem ensaiar direito. Aí grava a primeira vez, toma na cara, vê que na próxima vez, já não vai ser assim. Então eu acho que daqui mais uns cinco anos...
TM: Na verdade, eu acho que a gente mesmo, daqui a uns 10 anos, já estaremos numa outra... não é que daqui a pouco não vou estar mais gravando, mas a gente já vai estar com um volume de trabalho mais...
JC: É isso que eu acho interessante. Por exemplo, nós três aqui, nós somos chatos.
TM: Pra caralho.
JC: Pelo menos, eu sou, e desconfio que vocês também são, sacou? Então é aquele esquema: chega a galera e você fala na boa: "velho, não é assim que funciona, precisa ensaiar, precisa prestar atenção nisso, naquilo", sacou? E acaba funcionando. Eu já tive bandas que gravaram assim, três vezes comigo. A primeira foi um terror. A última já foi legalzinha.
TM: Isso é desgastante pra caralho. A gente se envolve, se doa pra caralho, pega os instrumentos, "não, deixa que eu afino"! (Risos)
JC: As vezes rola uma parada, você fica meio o "tiozão" da história. "Não, man, não é assim, relaxe, pá". A partir do momento em que mais gente for trabalhando de maneira mais séria, daqui para uns cinco, dez anos, a coisa pode melhorar. Mas por enquanto, ainda tá bem "gueto caótico". Eu acho.
TM: Mas isso é normal. Essas bandas novas, quando você tem o primeiro contato, vc fica: "porra!". Aí eles se preocupam. Tanto é que, quando acontece isso, se a gente grava uma banda, quando ela voltam na segunda vez, ela já volta muito melhor, sacou?Eles se ligam em como é que tem que ser a coisa, começam a se preocupar em comprar um instrumento legal, regular o instrumento, vamo afinar, vamo estudar, vamo praticar antes e tal. Eles começam a ter noção dessa realidade. A gente é meio que educador também.
AT: E começam a ter noção de outras coisas também. Não só de ter que estudar, mas também que, as vezes, você botar (numa gravação) quarenta guitarras, trinta teclados - tudo ao mesmo tempo - simplesmente não vai soar. Não vai adiantar. As pessoas vão começando a entender que, em estúdio, não é assim. Não é...
JC: Não é show, né? O problema é esse. Não vale tudo. É aquele esquema: "aumenta aí, véi! Aumenta a bateria, aumenta o baixo, aumenta a guitarra"... Vai aumentando, sacou? Não precisa aumentar. É só a galera se tocar. É complicado.
TM: Tem dias que o desgaste psicológico é brutal.
JC: Quando você está gravando com uma galera boa, que já tá ligada, sabe como é que faz, aí é de foder. Dá risada, pára meia hora pra descansar...
TM: Quando eu gravava com um sujeito chamado Mauro Taim, ele chegava, sentava na minha bateria, uma Pearl, uma que é toda pela metade, sem pele de resposta, chata de afinar, né? Todo baterista que chega lá eu tenho que ir lá afinar. Não sou nem baterista, mas sei mais ou menos como é que afina ela. Aí, Mauro chega lá, tum, tum, tum, "vambora!". Botou o microfone, quinze minutos, REC. Primeiro take. Tá lá, a música pronta, perfeita, não precisa consertar nada, todas as caixas são iguais, todos os bumbos são iguais, tá pronto. Aí você ouve assim, e fala: "porra, bicho, já pensou se todos os dias fosse assim, com um músico desse tipo assim, que nível, que rendimento, que velocidade de produção a gente não teria"? Porque o problema é o desgaste. Mauro Taim é um músico aí, ele nem tá aqui agora, tá na França. Tô citando ele por que é um bom exemplo.
JC: O contrário disso é o cara que grava a faixa em duas horas e vc passa mais seis editando.
TM: PQP! Aí vc pega para gravar uma voz, vc leva seis horas pra fazer uma música, para depois afinar, para depois consertar, num sei o quê e num fica bom. Grava de novo, chama de novo... É um problema.
MOMENTO ATUAL DO ROCK BAIANOAT: Eu acho que é o melhor momento de todos os tempos.
JC: Eu acho que o público ainda é um pouco menor e menos fiel do que era nos anos 90, na época da Dois Sapos & Meio, Lisergia, Inkoma, na época em que eu frequentava. Eu nem era músico nem nada, era público. Eu lembro que qualquer showzinho era o Idearium lotado, quatrocentas cabeças. Hoje em dia, por exemplo: Retrofoguetes e Astronautas (PE) na Boomerangue, que é um espaço muito melhor, tudo melhor e dá 70 pagantes.
AT: O maior problema que a gente tem é de espaço. Isso é um problema, realmente. Eu me referi à qualidade das bandas.
TM: O que o Brasil está conhecendo aqui da Bahia são as bandas. Não é o cenário das casas de show, que isso, pelo amor de Deus, isso não existe.
AT: Mas em nível criativo, eu tenho ouvido algumas coisas do resto do Brasil e sim, as bandas baianas estão entre as melhores do País. Não é bairrismo nem nada, mas... Em todos os estilos. Olhe, vou te dizer uma coisa: não é por que são meus amigos e trabalho com eles, mas a Retrofoguetes, para mim, é a melhor banda de surf music do mundo! Eu já ouvi um monte de banda de surf e eles são os melhores do mundo!
TM: É verdade. Porque a surf music é uma coisa meio caricatura, muito difícil de fazer a sério. Muito difícil de tirar um som ali. E o som deles é perfeito, funciona. Desde o Dead Billies, eles já tinham aquele som.
JC: É incrível, mesmo.
AT: A Dead Billies era a melhor banda do Brasil (na sua época). Mas tem gente fazendo um trabalho muito consistente. A Radiola está fazendo um trabalho consistente. As bandas de metal estão trabalhando muito bem. Pô, a Cobalto... Negócio internacional, mesmo. Cascadura está numa fase super legal, sendo reconhecida no Brasil todo. Criativamente, tá fantástico.
TM: Agora, em nível de espaço (para tocar), tá foda.
JC: Em nível de cenário e de sobrevivência desse cenário, aí estamos num dos piores momentos, eu acho. O reconhecimento local, também não muda.
TM: Os shows são sempre as mesmas pessoas que vão. Cebola, Cláudio Escória... (risos) é a mesma galera sempre, desde que e tenho 15 anos de idade (risos). São sempre os mesmo espectadores. A diferença é que agora, com o lance do acesso à cultura (via internet), a gente tá conhecendo muito mais as coisas daqui e coisas boas.
JC: Antigamente, para vc divulgar a banda, era na carta. Vc mandava os flyerzinhos por carta pra galera dos fanzines.
TM: Naquela época, a Cascadura tinha caixa postal, né? Fábio ia lá, abria a caixa para ver a correspondência, eu nem consigo imaginar isso mais (risos).
ESTOURO DE PITTYTM: Eu acho que isso foi bom no sentido de incentivar a molecada a montar suas bandas. Como a Canto dos Malditos na Terra do Nunca, eu acho aquela menina (Andréa) bem influenciada por ela, né?
JC: E tem uma minoriazinha dos que curtem Pitty, acaba pesquisando e descobrindo muita coisa daqui sacou? Mas é uma minoria. Mas (Pitty) é um produto bem dirigido...
TRABALHO MAIS SATISFATÓRIO (BEM SUCEDIDO)AT: Para mim, é sempre o último. A idéia é essa.
TM: Foda é quando "o último" não é de uma banda tão boa, né?
AT: Mas tem gente que eu já gravei dois, três discos, e tecnicamente, o último é melhor, só que eu gostei mais do primeiro. Agora, respondendo a sua pergunta, eu tô super feliz com o disco novo de Nancyta que ainda vai sair até o fim do ano. Tô ainda gravando o segundo dos Retrofoguetes, tô super feliz também, os caras tão tipo, pirando completamente no estúdio. (risos). Todo dia a gente vai aprendendo alguma coisa.
TM: Pô, tem um monte de disco que eu gosto. O primeiro disco da Radiola eu acho muito bom, até porque levou uns dois ou três anos pra ficar pronto. Sem dinheiro, fazia aos poucos, do jeito que dava. Tem um um outro que levou anos pra ficar pronto, chamado A Coisa, que é um espetáculo de teatro, com poesias da língua portuguesa, só que com uma banda junto. Mas não é uma banda fazendo fundo musical para as declamações nem é melodia na poesia ou poesia musicada, nada assim. É com Jackson Costa, ele é o ator, o personagem, é um negócio muito louco, que mistura tudo que você imaginar, bem cultura popular mesmo, vai além do rock, extrapola. Mas falando de rock, o 2 de Fevereiro, da Radiola, tem uma sonoridade e do resultado final.
JC: Eu acho que o disco da Minerva, foi a coisa que, sonoramente, mais me agradou. Tecnicamente, a execução, talvez não tenha sido não, mas o som... Ainda não saiu, provavelmente saia só na internet, em MP3, o que é uma pena. Eu faço um cd-rzinho e guardo pra mim. Os caras não tão com grana pra prensar (os CDs), nem eu, tá todo mundo sem grana. O vocalista parece que vai viajar também, aí...
TM: Tem a Headhunter também, que pô, é um som cruel. Aquele vocal de (Sérgio) Balloff, vc falou dos Retrofoguetes que é a melhor banda de surf, eu falo que Ballof é um dos melhores vocalistas de metal do mundo.
AT: É engraçado, porque Salvador tem esses caras assim, né? Tem Ballof, tem Bruninho da Pandora, tem uns caras assim que mandam incrivelmente bem,
TM: A voz de Ballof parece uma montanha, uma coisa gigante. E ele bebe Coca-Cola natural, né? Pra dar o pigarro, deixar a voz gutural, mesmo. E ele fala, "se eu não tomar essa coca aqui, não faz o pigarro e a voz não sai tão brutal". E a gente pergunta, "Ballof, vc não fica rouco, não?" Ele: "Não". (risos). Acho que no começo assim, ele ficava rouco, mas com o passar dos anos, ele desenvolveu uma técnica. Você ouve, parece que ele está destruindo a voz, uma coisa absurda. Gruuaaaarrrrrr! (ruge) Mas é uma técnica dele, que ele mesmo desenvolveu. Ninguém ensinou a ele. Se ele não tivesse essa técnica, ele já tava mudo, não tinha mais voz. Do jeito que ele canta...
MAIOR EXTRAVAGÂNCIAAT: Já fiz um coro com mais de cinquenta canais de vocal. Mas... pra quem ouve Beach Boys, né, isso é normal... Tem coisa que a gente grava, depois distorce tudo, passa de trás pra frente, de cabeça pra baixo... Mas isso também é normal. Extravagância mesmo seria chegar e dizer, "ah, vou botar a Orquestra Sinfônica", mas ninguém tem dinheiro mesmo.
TM: Eu já gravei orquestra. É, realmente, uma extravagância. Uma faixa custou R$ 8 mil. Cachê, com tudo. Uma loucura.
GRAVANDO O ROCK BAIANOAT: Tem uma parte do equipamento, que realmente, ficou muito mais barata. Mas outra parte continua sendo caríssima.
JC: O que é bom, o preço nunca desce.
AT: É isso, para comprar bons microfones, esse tipo de coisa, tudo isso é caríssimo.
TM: Tem microfone que custa R$ 11 mil. Se você for pensar, é um carro, né?
AT: Tem amplificadores de guitarra também, que são caríssimos. Um bom amplificador de microfone também, de nível: caríssimo. Agora, a parte digital, realmente, caiu muito, muito de preço. Hoje em dia, você pode ter um bom sistema de gravação no seu computador barato. Mas a captação continua sendo cara. Pra você montar um bom estúdio, ainda precisa ter bons cabos de microfone, tudo isso vai adicionando no valor. Então, sim, parte da coisa tá muito mais barata. Outra parte, não. A tecnologia de gravação barateou. Mas a de captação continua bem cara.
JC: O equipamento bom ainda é caro. Mas o problema é que apareceram todos os genéricos, chineses e tal.
TM: Tornou possível a gente com um microfone bom, com poucos recursos, conseguir fazer a coisa, porque a gente tem criatividade, vai lá, mete a mão, futuca e faz mesmo, entendeu? A gente conhece, tem a referência do que é aquele som, porque é isso que diferencia a gente como produtor de rock. É o cara que conhece o rock, que ouviu o rock, que tem a referência, que conhece o conceito do som, o que é uma guitarra, uma bateria de rock mesmo. Rock dos anos 50, 60, 70, 80...
AT: É aquele cara que ouviu o Back in Black (AC/DC) e ficou coçando a cabeça, "como é que eles conseguiram fazer isso?".
TM: Exatamente...
JC: Isso aí, velho, a gente com um canal, com um microfone, mais alguns genéricos, a gente se vira...
AT: Agora, a maioria dos trabalhos que a gente pega, é o cara que chega, tem um emprego em algum lugar, não é músico profissional, vai juntando uma grana, cada um vai dando uma parte... Boa parte das bandas de rock é assim mesmo. A maior clientela é essa, então a gente tem que facilitar muito. "Ah, vamo dividir esse pagamento é em não-sei-quantas-vezes", vamo fazendo...
TM: Eu fico olhando assim as vezes no estúdio, o quanto a gente já investiu em equipamento, dá fácil assim uns R$ 200 mil, se for contar instrumento, equipamento, tudo o que tem lá. Aí eu penso assim no preço que eu cobro por hora... "Você é louco, cara, isso não existe"... Mas se eu for cobrar o preço real, que deveria estar cobrando, aí eu expulso essa clientela.
ARTISTA DOS SONHOSAT: Paul McCartney junto com Ringo! (Risos)
JC: Aí pra completar a banda, bota Pete Townsend.
TM: Eu queria gravar uma música: Beatles, junto com os Beach Boys. (Risos) Brian Wilson com Paul McCartney...
AT: Eu ia chorar o tempo todo.
JC: NInguém ia conseguir trabalhar!
TM: A gente botava areia dentro do estúdio, sacou? Botava um piano na areia pra Brian Wilson ficar assim (faz cara de doidão)...
AT: No Brasil, eu gostaria de fazer um dia o Paralamas. Eu respeito muito os caras.
JC: Se eu pudesse, eu faria Nação Zumbi.
TM: Então eu fico com Los Hermanos! (Risos)
AT: Em Salvador, a gente ainda vai trabalhar junto um dia, já conversamos sobre isso, mas eu ainda quero fazer alguma coisa com Vandex. Sou fã de carteirinha do cara.
PRODUTOR MODELOAT: George Martin é hour-concour, né? É melhor nem falar dele, por que o cara está em outro nível.
JC: Foi o pioneiro, né. Em termos de rock, não tinha ninguém antes dele...
TM: Mas não é só o pioneiro, o que ele fez foi lançar as bases. Ele revolucionou com quatro canais... Foi o cara certo no momento certo.
JC: Também ele pegou uma banda revolucionária.
TM: Quincy Jones é outro louco.
JC: Quincy Jones é um doente! (Risos)
AT: Eu gosto muito do (Robert) Mutt Lange. AC/DC, Def Leppard... Casou com Shania Twain, grava todos os discos dela... O cara é foda.
JC: Tem dois que eu acho foda. Um é o Rick Rubin (Johnny Cash, Red Hot Chilli Peppers, Slayer, Tom Petty), que é um cara cru, é justamente o oposto do que seria um George Martin. E tem o contrário do Rick Rubin, que é o Bob Ezrin (Pink Floyd, Alice Cooper, Kiss), tem um trabalho mais recente dele, uma banda que chama 30 Seconds To Mars, que é uma banda moderna, não tem nada demais, mas o conceito da parada é foda. Mas só o primeiro disco. O segundo é uma merda.
AT: Tem um americano que é demais, chama Mitchell Froom, o cara fez alguns discos dos Los Lobos que são fantásticos, como o Colossal Head (1996)... Ele e um outro, Tchad Blake, são muito bons, mas são da grande mídia. Aí, hoje em dia, quando se fala em produtor, nego "ah, porque Timbaland" (Nelly Furtado, Justin Timberlake), tá na moda falar do cara, de hip hop, mas não não se fala tanto de produtor de disco mesmo...
JC: Me lembrei de outra que eu queria gravar, seria a Bjork. Ela é louca demais, muito bom.
QUEM MERECE SER OUVIDO NA MÚSICA BAIANATM: (na lata) Lazzo Matumbi. Sempre. Ele tem uma das vozes mais incríveis que eu já ouvi. É tipo Ballof, esses caras, que tem uma coisa especial, o harmônico diferente, uma parada diferente.
AT: Pra mim, Armandinho. Que já foi bastante ouvido, mas todo mundo precisa ouvir aquele acara. Pra mim, ele é um Jimi Hendrix, impressionante, um gênio.
PAPEL DO PRODUTOR
AT: Eu acho que isso varia. Depende do trabalho, depende do artista... O bom produtor, o cara inteligente, vai saber se adequar a cada trabalho e mudar seu papel durante o mesmo trabalho. Tem trabalhos que você faz onde você é mais o observador da coisa toda. Você chega e aperta o botão de Stop. "Faça aí, que qualquer coisa, eu tô aqui". Esse é um papel do produtor. No outro extremo, tem vezes que você chega e faz tudo no disco. Você toca todos os instrumentos, todos os arranjos, nota por nota. É certo, é errado? Não. São papéis diferentes. Na maioria das vezes, com banda de rock como eu gosto de trabalhar, eu fico no meio do caminho. Eu tô ali trabalhando com a banda, como se fosse um integrante, só que, na hora da dúvida, "ah, isso vai acontecer ou não?", a palavra final é do produtor.
JC: Eu acho que é uma linha muito tênue entre o engenheiro de som, o produtor e o diretor musical. No fim das contas você acaba fazendo tudo. Se a banda for boa e sabe o que quer, você vira o engenheiro de som. Tem a banda que você vira o quinto ou sexto membro, vota com a galera para chegar uma conclusão mais prática, por que você tem uma visão de fora, já que foram eles que criaram a parada. E tem aquela banda que você vira o diretor musical mesmo, "tira esse refrão que tá muito grande, corta a metade, tira aqui, bota o especial depois"... Varia muito de caso a caso. As vezes o baterista precisa de mais atenção que o guitarrista.
EDITAISAT: Eu, particularmemnte, não faço produção executiva. Não gosto nem de me envolver nessa fase.
JC: Eu também me irrito profundamente com essas coisas. Odeio ter que me envolver em panelas brurocráticas, digamos assim.
TM: Eu arrumei uma pessoa pra fazer isso. (Risos). Eu tenho um sócio, a gente tem uma produtora e aí a gente tá começando a fazer. Chama Plataforma de Lançamento. A idéia é essa: pegar o artista emergente, no primeiro disco para mostrar a cara mesmo.
JC: Eu tenho um selo, mas não me meto muito na parte executiva, não. aTalho Discos. É mais pra lançar, ajudar no que for necessário, distribuição, essas coisas mas não me meto com edital, não rola, não.
AT: Eu não tenho paciência nenhuma com essas coisas, não procuro leis de incentivo, nada. Se alguém chega no estúdio, "ah, consegui, tal", ótimo, vamos gravar. Mas eu não vou atrás não.
IDÉIA PARA AS BANDAS NOVASJC: Diz para elas ensaiarem e buscarem a informação, que tá aí pra todo mundo.
TM: Vão estudar! Ouvir, ouvir...
AT: Escutar muito Beatles.
TM: Ouvir boas coisas. Tocar cada nota com consciência do que tá fazendo.