Festival Música em Trancoso atrai atrações de primeira linha do erudito, jazz, MPB e até do tango, para concertos em teatro próprio
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Trio Moda Tango e convidados, de Nestor Marconi . Fotos Jean de Matteis |
Chega neste sábado, 14, ao último dia a quarta edição do festival Música em Trancoso, uma bela iniciativa que leva concertos de música erudita, MPB e jazz ao charmoso distrito de Porto Seguro, bem frequentado pelo jet set.
Com oito dias de atividades entre concertos, masterclasses e aulas de iniciação musical, o MeT tem suas atividades concentradas no impressionante Teatro L'Occitane Trancoso (leia mais sobre ele
aqui), construído especialmente para o festival.
Inaugurado no ano passado, a casa ainda busca estabelecer outras atividades ao longo do ano.
O festival é criação da alemã Sabine Lovatelli, uma charmosa sessentona, que aos 25 anos empreendeu uma fuga espetacular da Alemanha Oriental ao lado de um italiano - Carlo - que havia conhecido um dia antes e com quem se casou uma semana depois. (Veja sua incrível história de vida
aqui).
No Brasil desde 1971, criou a Associação Cultural Mozarteum Brasileiro, o qual produz o Música em Trancoso - com patrocínio da marca francesa de cosméticos que dá nome ao teatro, mais um punhado de outras multinacionais (cujos diretores tem casa em Trancoso), via leis de incentivo do Ministério da Cultura.
"Era mais uma ideia de criar um evento para ajudar a população local a driblar a sazonalidade e prolongar a alta temporada", conta Sabine.
"Para as pessoas gostarem, criamos uma programação simpática. Então começamos no clássico, depois bossa, jazz, essa semana tem tango. Nosso critério é que seja muito bem classificado, que sejam músicos de primeira linha", afirma.
Garimpando talentos
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Teatro L'Occitane Trancoso, projeto do arquiteto François Valentiny, de Luxemburgo |
De fato. Este ano, o MeT trouxe duas orquestras (Experimental de Repertório e Sinfônica de Ribeirão Preto), mais 31 nomes consagrados do erudito, jazz, MPB e até do tango, como Vesselina Kasarova (cantora lírica), Benoit Fromanger (maestro), Joe Locke (vibrafonista), Fabiana Cozza, Paulinho da Viola, Nestor Marconi (bandoneonista argentino) e muitos outros.
Além de tocar nos concertos, os músicos ministram masterclasses gratuitas, para as quais acorrem jovens instrumentistas do Brasil inteiro.
Na segunda-feira, ao encerrar sua masterclass, o violinista romeno Lorenz Nasturica-Herschcowici estava radiante ao lado de dois jovens - um rapaz e uma moça - de São Paulo.
"Preciso falar com Sabine. Ela precisa encaminhar esses dois para uma bolsa na Filarmônica de Berlim", disse à reportagem.
"Já descobrimos uma menina da Bahia, esqueci o nome dela", conta Sabine. "Foi nas masterclasses do primeiro ano. Eles me falaram, 'essa é boa, tem talento, vale a pena investir'. Agora ela já está no segundo ano na Academia da Filarmônica de Berlim, pois consegui esta bolsa para ela", afirma.
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Cesar Camargo e Paulinho da Viola, na segunda-feira dia 9.03 |
Cesar convida Paulinho
Também na segunda-feira o MeT abrigou, provavelmente, o dia mais concorrido desta edição.
Não era para menos: era o dia de Cesar Camargo Mariano, curador de duas noites desde o início do festival, receber Paulinho da Viola no palco.
Com a classe e a graça de sempre, o mestre maravilhou o público com belas interpretações de sucessos (Sinal Fechado, Foi um Rio que Passou em Minha Vida) e canções menos conhecidas (Retiro, Onde a Dor Não Tem Razão).
No dia seguinte, Paulinho falou ao Caderno 2+ sobre a ocasião: "Quando o Cesar me ligou falando do projeto, eu topei na hora", disse.
"A participação do público, o teatro fantástico, é uma coisa assim - foi uma surpresa agradável. O ideal é que tivéssemos projetos assim em vários pontos do país, em cidades que não são as capitais, levando arte, interação, aulas, com um público diferente. Isso é muito importante", vê.
Responsável pela ida de Paulinho à Trancoso, César Camargo ensaiava com sua banda á beira da piscina de uma pousada quando falou com a reportagem: "O relacionamento com o festival Música em Trancoso começou uns quatro ou cinco anos antes do primeiro (ano do festival). Portanto, participei de toda a filosofia da coisa", conta.
"Até que a Sabine teve a ideia de me dar uma noite. No decorrer, ela teve a ideia também de fazer a segunda noite com convidados, o que achei ótimo. Então esse é o meu envolvimento com o festival, desde o primeiro", afirma.
"Como ela me deu liberdade total, parto da ideia de informar, trazer cultura. Não teria sentido fazer uma noite, por mais que tenha rótulo de Noite Bossa Nova, e abrir tocando O Barquinho, que todo mundo já está cansado de ouvir", conclui.
O repórter viajou a Trancoso a convite da organização do evento
ENTREVISTAS
Paulinho da Viola
Como o senhor recebeu este convite do César (Camargo Mariano)? Festival em Trancoso? O senhor não estranhou, não?
Paulinho da Viola: Eu já conhecia Trancoso, mas por gentileza de um amigo, que me cedeu a casa de um outro amigo, ele estava hospedado lá e eu vim, achei lindíssimo. Passeamos muito e tudo. Isso tem alguns anos. Quando o Cesar me ligou falando do projeto, o objetivo maior do projeto e tudo, me convidou e eu topei na hora. "Olha, tudo bem, vamos fazer". Primeiro eu não via o César há muito tempo. Segundo, o que ele me falou do projeto foi isso mesmo: a participação, o teatro fantástico, é uma coisa assim, foi uma surpresa agradável, fiquei surpreso, por que você não espera. E a participação do público que é... tem pessoas de fora também, mas tem muita gente do local também, que vai. Eu acho que isso pode - já resultou num projeto muito interessante, que vai certamente despertar a atenção de muita gente e o negócio é daqui pra frente, como vai ser. Por que, com toda razão, todo mundo vai querer participar de um projeto desse, claro. E o ideal é que tivéssemos projetos assim em vários pontos do país, feito dessa forma em cidades que não são as capitais, levando a arte, essa coisa da interação, as aulas, com um público diferente, isso é muito importante.
O senhor é um sambista, sua base é o samba e o choro.
Paulinho da Viola: Isso, o choro.
Mas por exemplo, Sinal Fechado não é um samba, né?
Paulinho da Viola: Não.
Ela é assim, uma música... incrivelmente vanguardista. (Risos) Na minha modesta opinião, claro. Parece que foi escrita ontem ou vai ser escrita amanhã.
Paulinho da Viola: (risos) É verdade.
O senhor tinha consciência disso?
Paulinho da Viola: Não, eu não tinha essa consciência. O processo de feitura de Sinal Fechado passa por algumas coisas. Primeiro, na época... três coisas eram muito importantes. Primeiro, os festivais de música. Os festivais, os autores de minha geração - e de outras gerações também, mas principalmente o pessoal jovem, de minha geração na época, queria fazer coisas diferentes. Quando você ia para um festival, você queria uma ideia diferente, queria propor alguma coisa, isso era normal e muitos artistas fizeram isso.
Havia um estímulo a criatividade.
Paulinho da Viola: Ah, havia, um estímulo - e o festival estimulava isso. Segundo, esse grupo também, do qual eu fazia parte, eu já vinha estudando música. E aí eu me interessei mais por estudar música. Tiver professores e é claro que, se você tem um professor com uma formação diferente da sua, ele não só se interessa pela sua formação, ele quer saber como é o seu mundo, né? A minha professora era um pouco assim. Ela veio de uma outra formação entendeu? Chamava-se Esther Scliar, foi professora de vários músicos da minha geração. E de repente está diante de um aluno que vem de choro, do samba, de escola de samba. E isso foi muito - eu acho, certo? Isso foi muito bom pra mim e muito bom pra elas. Nós trocamos o conhecimento técnico dela e eu falando de minhas origens, o que eu fazia e tudo. Isso foi muito legal pra gente, muito legal. Infelizmente, ela faleceu muito cedo, mas enquanto convivemos, foi muito importante para mim. E depois, havia aí já de uma forma inconsciente que isso oi feito, eu tinha um amigo que, volta e meia, ele cruzava comigo. Isso foi de 1969 para 70. Ele cruzava comigo, mas não falava nada. Eu tinha convivido muito com ele antes. Ele dizia: "olha, tenho uma coisa muito importante pra te falar". Mas eu ficava assim, "puxa!", esperando que ele falasse.
Nunca havia tempo?
Paulinho da Viola: Não havia tempo, era sempre correndo, e "olha, a gente precisa conversar, tem umas coisas aí". Era sempre assim. Era um momento de grande tensão, de medo, de uma série de coisas, né? E aquilo me marcou muito. E a primeira ideia que eu tive para fazer essa música foi levar em consideração isso: duas pessoas que querem falar e não conseguem. Primeiro eu imaginei - eu tive assim uma espécie de um sonho, né, que eu estava dentro de um ônibus e tinha uma pessoa na frente do ônibus, um ônibus cheio e a pessoa queria falar comigo e não conseguia. E saltava do ônibus, o ônibus partia, ela ficava me dando adeus, querendo falar e não conseguia, por que eu também não conseguia sair do ônibus. Isso foi uma visão ou foi um sonho, eu tenho uma impressão que foi um sonho, por que eu sei exatamente onde aconteceu, toda vez que eu passo ali eu me lembro disso. E depois isso evoluiu para a coisa do sinal. Aí já é o processo de você começar a tocar e essas coisas vão se arrumando, vão se arrumando. Em vez do ônibus cheio, não sei o que, eram duas pessoas que se encontram num sinal e uma quer falar com a outra, é claro que no sinal você está preocupado se o sinal vai abrir ou vai fechar e você não consegue falar praticamente nada. Você fala, "Olha, me liga depois", não sei o que. A ideia era essa. E é claro que aí estava a minha preocupação com essa coisa dos dois amigos que não conseguem se falar.
A incomunicabilidade.
Paulinho da Viola: A falta de comunicação, né? A impossibilidade de uma comunicação mais efetiva. Então, muito tempo depois, algumas pessoas vieram dizer - ah, outra coisa: quando ela foi feita, foi em forma de canção. Eu posso inclusive cantar essa música como se fosse uma canção. Mas aí depois eu falei "não, a canção vai ser uma coisa dolente demais". Ela já foi gravada muito lentamente, isso vai ficar... não vai dar essa ideia de tensão que eu gostaria, que são duas pessoas que tentam se comunicar, tentam falar e tudo e não conseguem e jogam para um futuro. "Ah, a gente vai se ver, me procura" e tal. Aí eu adotei essa forma do arpejo, com alguns intervalos, entendeu? Que davam um pouco essa ideia dessa tensão. Com alguns intervalos, a segunda menor e tudo, os silêncios também. A ideia foi essa. Mas eu não tinha consciência (de que era uma composição de vanguarda). Eu sabia que estava fazendo uma coisa diferente daquilo que eu fazia. Mas não era... Algumas pessoas depois falaram "poxa, você fez uma coisa que era talhada para aquele tempo que a gente vivia". Tive um amigo que me falou isso e era exatamente isso. Aí que eu tomei essa consciência, foi um negócio meio inconsciente. Não tive a menor intenção de fazer uma música que definisse, retratasse ou dissesse "olha, nosso tempo é esse e tal". Não, eu não tinha essa intenção.
César Camargo Mariano
Como começou seu relacionamento com o festival? Você é curador de uma noite específica desde a primeira edição.
César Camargo Mariano: O relacionamento com o festival Música em Trancoso começou uns quatro ou cinco anos antes do primeiro (ano do festival). Portanto, participei de toda a filosofia da coisa. Por que eu tenho, temos um relacionamento muito bom, Sabine e eu, há muitos anos já. E sempre ela conversou comigo sobre isso e tal, "olha, eu tô com vontade de fazer assim, de convidar não sei quem para fazer um teatro, o arquiteto não sei quem, o cara que vem lá da França"... Enfim, sempre conversamos isso, mas muito antes do festival, então eu me sinto parte de tudo que acontece aqui. Até que por fim, ela teve a ideia de me dar uma noite. No decorrer, ela teve a ideia também de fazer a segunda noite com os convidados, o que eu achei ótimo. Então esse é o meu envolvimento com o festival, desde o primeiro.
Quando você planeja uma noite dessas, qual é o seu ponto de partida? Você parte de um artista, uma ideia?
César Camargo Mariano: Como ela me deu liberdade total, parto sempre de se fazer um link absoluto dessa filosofia, de não fugir dela. Que é informar, formar cabeças, trazer cultura. Então não tem sentido eu fazer uma noite, por mais que tenha esse rótulo de "Noite Bossa Nova", e digamos, abrir tocando com temas da bossa nova, O Barquinho, coisas que todo mundo já está cansado de ouvir, por que aí eu não estou informando, não estou trazendo nada de novo, não estou evoluindo a cultura em hipótese alguma. Você trazer... axé... trazer essas coisas populares de baixo nível não faz sentido. Então eu sempre parto - dentro dos meus parâmetros, do meu entendimento - de um nível um pouco maior - um pouco, não, bastante maior, compatível com o festival. Por que não me interessa ter uma noite exclusiva deslocada da ideia toda do festival. Tanto essa primeira noite, quanto a segunda. Então esse é o meu trabalho, que resolvi por mim mesmo, de seis meses por ano trabalhar nessas duas noites. Larguei tudo para fazer isso. Durante seis meses, eu me dedico a isso. Por que Ivan Lins (ano passado), por que Leny Andrade (2013), por que Noel Rosa, Paulinho da Viola - eu sempre achei o seguinte: numa noite dessas, é importante mostrar para esse povo o potencial de um músico e o potencial de um compositor, um cantor, um intérprete. Mas não tocando as músicas que as pessoas estão acostumadas, mostrando um outro lado. Então eu chego para o Paulinho ou para o Ivan e pergunto "que música que você gosta, me fala uma música que você adora de outros compositores?". A primeira que vem na cabeça, é com essa que a gente abre a noite. "E outra"? Essa também. É sempre um lado b do artista, que ele não costuma canta, que invariavelmente são músicas ricas que propiciam arranjos novos, leituras diferentes em termos de arranjos, interpretação. Paulinho falou "ah, eu gosto de uma música chamada Retiro". Eu estudei a música e tudo mais. "Olha, vamos fazer com o andamento na metade, bem lenta". Ele, "ah, vamos experimentar". A gente vem pra cá, ficamos quatro cinco dias aqui, nesse lugar maravilhoso, ensaiando, "laboratoriando" essas coisas. Isso é muito rico para todos. "Ah, não sabia que podia ficar assim a música e tal". Nem eu sabia, apesar de ter elaborado os arranjos, mas a coisa vai se transformando, vai virando, a cor, o formato, o tamanho da música, esse laboratório, esse festival na verdade propicia isso, o que é muito rico para todos nós que participamos. Os músicos estrangeiros que vem, não só os eruditos, os populares, sempre trago um de fora, esse ano foi o (vibrafonista norte-americano) Joe Locke, ano passado foi um harpista uruguaio, cada ano uma coisa assim, são conteúdos muito ricos que você pode dar para as pessoas, é o que eu procuro fazer dentro da filosofia do festival. By appointment (a pedido) da Sabine, evidentemente.
No show, você estava contando que tocou com Elizeth Cardoso (cantora que gravou as primeiras canções de Vinícius de Moraes e Tom Jobim), além de um episódio nos anos 1960 durante uma viagem em grupo para o Senegal em que o pessoal do samba da velha guarda ainda tinha uma certa resistência com a bossa nova, quer dizer: você pegou justamente este momento de transição do samba canção para a bossa nova, estava ali no momento da coisa. Era uma revolução necessária, as pessoas estavam esperando por uma coisa nova?
César Camargo Mariano: Não, não foi assim... consciente, programado. O que tinha de concreto nisso tudo, de palpável, é que os músicos mais novos que estavam começando, já naquela época já tinham uma informação um pouco mais ampla do que os criadores anteriores. Isso independente de gênero. O jovem de 14, 15 anos de idade que se interessava por música, já começava com uma informação mais ampla. Isso geralmente vinha dos Estados Unidos, da Europa. Você ligava o rádio ou ia numa loja de discos e encontrava uma "livraria" muito grande de coisas, você tinha acesso ao jazz, aos musicais da Broadway, trilhas de cinema que traziam coisas incríveis e chamavam nossa atenção. A gente saía do cinema e ia para casa, ávido por aquele som e não tinha. Aí pegava o violão e ficava tentando resolver aquela aridez, uma certa saudade que não tinha nada a ver com tempo, saudade daquilo que você não tem e nem sabe como ter. Isso fazia a gente se reunir nas casas dos outros no bar, o bar fechava cinco da manhã e você continuava lá ao piano, no violão, tentando resolver aquilo. Muita gente fala que foi um movimento da MPB, ou da bossa nova, mas não foi uma coisa pensada, aconteceu naturalmente, primeiro no Rio, depois São Paulo. Então muitos deles falavam daquela música que papai ouvia com uma coisa retrógrada que ninguém mais fazia não era mais tempo de Nelson Gonçalves,de Pixinguinha, Orlando Silva, de orquestra sinfônica, de grandes orquestras, isso passou. Agora é isso aqui, música mais intimista, mais elaborada, harmonia mais bonita e... não sei o que. Então eu digo que pintou um muro ali, dividindo essas duas coisas e só muito mais tarde isso começou a ser derrubado. Isso me incomodava muito. Aí quando fomos ao Senegal, a trupe que foi era mais do outro lado do muro, tradicionalista, eu achei ótimo, minha formação era aquela, desde moleque. Comecei a tocar jazz por causa daquilo e comecei a evoluir junto com a bossa nova por causa daquilo. Então eu não concordava então achei bonito quando fomos convidados a participar juntos no Senegal e no dormitório eu comecei a tocar uma música deles e de repente eles vieram e se aproximaram para cantar junto. Porra, o que está acontecendo aqui?
Sabine Lovatelli
Como é chegar a quarta edição, como está o desenvolvimento do festival?
Sabine Lovatelli: Melhor do que eu sonhei. Quando começamos, era uma ideia alguns amigos entusiastas que queriam fazer, fizemos o teatro antes mesmo de ter uma programação era investido, era no campo de golfe um palco provisório. Mas ficou ótimo aqui, não tem barulho carros nada. No primeiro ano, eu não sabia como ia ser a receptividade do público, não sabia nada. Era mais uma ideia de criar um evento para ajudar a população local de driblar a sazonalidade e prolongar a alta temporada. Ai fiz um programa a cada dia um tipo de musica, a música clássica festiva, ainda continua assim. Para as pessoas gostarem, criamos uma programação simpática, fácil de ser seguida. Então começamos no clássico, depois bossa, jazz, essa semana tem tango nosso critério é que seja muito bem classificado, tem que ser músicos de primeira linha, por que eu me conheço. Quando eu era criança, se eu não gostava de uma coisa, nunca mais queria fazer. Isso aqui é para ser gostado. Para jovens e iniciantes da música se entusiasmarem e quererem saber mais, este é nossa intenção. criar um evento acessível a todos e que desperte interesse, justamente também nos jovens da comunidade, queremos essa população local aqui também. Esse ano é o quarto já, e muita gente diz que quando você passou do quarto ano, é que o negócio veio para ficar. Geralmente não dura mais que dois ou três, se dizem isso fico feliz.
Cada noite tem um perfil, né?
Sabine Lovatelli: Sim, na segunda, 10, foi bossa nova, foi o Cesar que faz a curadoria dessa noite, ele fez sozinho.
A senhora passa alguma orientação para ele?
Sabine Lovatelli: Não, eu não interfiro. Eu só procuro um solista como o Paulinho da Viola, mas em conjunto com Cesar. Ele propõe alguns e eu vou atrás, por que tenho que fazer o contrato.
O teatro tem vida ao longo do ano, outra programação além do festival?
Sabine Lovatelli: Ele vai ter, aos poucos. Mas como te digo, começamos com o teatro depois da programação. A gente só criou o festival por que queriamos dar isto para a população daqui e agora temos um teatro que ninguém imaginou, ele é perfeito - não só aqui no auditório, ele é perfeito atrás, também, nos camarins, tem orchestra pit, nós podemos fazer ópera aqui. Ele está totalmente inteiro, preparado para tudo, qualquer ocasião. É um super teatro, e queremos criar mais também. Mas a minha preocupação primeira é sempre com a educação. Isso eu faço no Mozarteum e quero fazer aqui também, então eu quero criar outras programas, que sejam por exemplo, uma academia a de canto. No fim de junho vamos ter aqui a Schleswig-Holstein com coro e professores e maestro e queremos divulgar isso para trazer alunos do Brasil inteiro virem ter aulas com esse pessoal do maior festival da Alemanha com quem temos parceria e mandamos já há muitos anos, jovens cantores que descobrimos em São Paulo, no Rio e tudo. Temos alguns bolsistas lá todo anos, acho que este ano foram nove. Quem começou lá foi Josy Santos, que cantou ontem esse é um produto Schleswig-Holstein. é uma excelente escola, eles vem aqui vamos dar aulas de graça, espero que muitos jovens brasileiros venham aqui aproveitar isso.
Vi uma masterclass do Nasturica e ele separou dois jovens violinistas, que ele queria te apresentar para a senhora encaminhar para estudar na Alemanha.
Sabine Lovatelli: Aqui descobrimos uma menina da Bahia, esqueci o nome dela. Foi nas masterclasses do primeiro ano. Eles me falaram, "essa é boa, tem talento, vale a pena investir, já está no segundo ano na Academia da Filarmônica de Berlim, consegui esta bolsa para ela, está indo muito bem e já está até substituindo músicos da orquestra principal. Já estudou com grandes regentes.
A senhora vê este teatro abraçando a comunidade, trazendo também outros tipo de programação?
Sabine Lovatelli: A gente tenta claro, Gostaríamos de fazer muito mais, mas tudo depende de patrocínio. O ideal seria que o teatro trabalhasse o ano inteiro. Mas se a ghente faz um festival de cinema, um festival de jazz, tudo isso podem ser eentos separados, mas tem que ter patrocínio e outra curadoria. Por que eu estou com este festival e eentualmente as academiass e ass auklas, que sçao o que eu gosto, mas as outras coisas tem que ter patrocínio por si mesmo, aí a gente praticamente aluga o teatro.
Por que Trancoso?
Sabine Lovatelli: Por que a gente gosta. Nós temos casa aqui e também o da L'Occitane, ele tem casa e juntos queremos fazer algo pela região. Depois, do Natal ou ano novo aqui cai muito o movimento as pousadas caem o faturamento, o comércio cai, então queremos trazer desenvolvimento.