sexta-feira, maio 25, 2007

O HULK DE BARBATANA NA CABEÇA VOLTOU

Savage Dragon, a melhor revista da primeira geração da Image Comics, volta às bancas brasileiras em edição especial de origem

Fãs de Todd McFarlane, Jim Lee, Rob Liefeld e Marc Silvestri (acho que não tem nenhum fã do Jim Valentino, aí, né?) que me perdoem, mas da primeira geração de revistas lançadas pela Image Comics em seus primórdios, a Savage Dragon de Erik Larsen, era, tranqüilamente, a melhor de todas.

Enquanto essa cambada aí só se preocupava com o setor de marketing (leia-se capas alternativas, splash pages, crossovers, spin-offs e action figures a granel), Larsen se esmerava em criar histórias de ação e super-heróis de tirar o fôlego. Havia splash pages sensacionais? Por Deus, e como! Havia papel especial, cores berrantes, mulheres gostosas em trajes mínimos e quebra-paus apocalípticos entre seres superpoderosos? Sim, e muito. E ainda havia tramas bem elaboradas, traições, conspirações, reviravoltas, surpresas e - Aleluia, Senhor! - vida inteligente e personagens sólidos! Numa revista da Image!

Enquanto Spawn se arrastava sem sair do lugar em um novelão monótono, os WildCATS e o Gen13 exibiam os corpinhos sarados em banhos de sol e os grupos de Silvestri e Liefeld (sequer lembro seus nomes) competiam para ver quem imitava mais os X-Men, Dragon, o policial mais durão de Chicago suava a camisa desbaratando gangues de supervilões, aplicando e tomando surras homéricas e ainda sobrava tempo para dar um trato nas moças.

(Justiça seja feita, os WildCATS depois tiveram uma fase sensacional nas mãos milagrosas de Alan Moore - publicada agora pela Pixel Media -, que depois ainda pegou o Supremo de Rob Liefeld. Outro grupo menor, o Stormwatch, teve uma bela sobrevida graças a Warren Ellis, que acabou remodelando-o para se tornar o fodástico Authority).

Uma coisa, porém, sempre intrigou os fãs do Dragon: qual era, afinal de contas, a sua origem? Tudo o que se sabia sobre aquele Hulk de barbatana na cabeça era que, um belo dia, ele surgiu, pelado e desacordado (olha que de bêbado não tem dono), no meio de um terreno baldio em chamas. Como Larsen não é muito chegado em blá blá, blá, o ritmo vertiginoso de ação do título acabou distraindo os fãs, que leram durante anos as aventuras do herói sem questionar muito o seu passado nebuloso - e até mesmo curtindo o clima de mistério quanto à sua origem.

Esta só veio à tona nesta edição especial, lançada em fevereiro último no Brasil pela HQ Maniacs Editora.

Narrada nas sucintas e regulamentares 24 páginas de um comic book sem capa dura ou variantes, apliques fosforescentes ou qualquer outra frescura - como convém ao autor - a origem do Savage Dragon pega o leitor de calças curtas ao criar um ponto de partida bem inesperado para o personagem.

Alienígena já dava para sacar que ele era - afinal, o homem é verde! - mas ditador crudelíssimo de um povo em busca de um planeta para colonizar, ninguém previu.

Com sua estupenda arte híbrida de Jack Kirby, Frank Miller e Walt Simonson (suas famosas onomatopéias estão presentes nas páginas de SD desde o início), só para ficar nos mais óbvios, Erik Larsen mais uma vez, manda muitíssimo bem e nos brinda com uma história curta, caceteira e divertida - ainda que chocante em certos trechos.

Não chega a matar a saudade dos leitores que acompanharam sua extinta revista pela Editora Abril nos anos 90, pois o Dragon que vemos aqui, definitivamente, não é o policial durão mas boa-praça que nos acostumamos a gostar e sim, um FDP virado no cão, sanguinário que só ele. Para dar uma idéia, o sujeito é incapaz de transar com uma mulher sem desmembra-la em vários pedaços.

Mas mata a saudade dos leitores do estilo ágil, bombástico e desprovido de firulas de Erik Larsen. Fica a torcida para que a editora continue com o Dragon e lance novas histórias - de preferência, inéditas - por aqui.

Quem mora em Salvador já pode procurar nas bancas, que chegou essa semana, mesmo.
Savage Dragon Especial
Image Comics / HQ Maniacs Editora
R$ 5,90 – Edição Especial
Formato Americano - 28 páginas
Como tudo aconteceu
Roteiro: Erik Larsen
Arte: Erik Larsen
Cores: Reuben Rude e Abel Mouton

segunda-feira, maio 14, 2007

ORELHADAS 2

Resenhas de lançamentos mais ou menos recentes, baixados diretamente do servidor Bramis-Torrent. Dois hoje, dois no próximo post e assim por diante. (A menos que surja alguma notícia urgente na Central de Jornalismo da Rock Loco Corporation).

Profetas do Apocalipse

O clima de concerto na capela continua para o Arcade Fire em Neon Bible. Também, com tantos órgãos de igreja, cordas, coros e acordeons, fica difícil não fazer a associação com uma congregação de domingo. Isso, mesmo para quem não entende inglês, já que as letras seguem investigando os recônditos sombrios da alma humana nestes tempos de retorno à barbárie, ignorância e fundamentalismo religioso, algo já bem próximo ao catolicismo brasileiro, vide o blá blá blá medieval de Bento XVI em sua passagem pelo Brasil - um país em transe profundo por quatro dias, paralisado pela mera visita de um sujeito que usa saias. (Tudo culpa da imprensa, mas aí eu já me desviei demais do assunto em questão). O que difere o Arcade Fire do discurso puramente religioso é que a fé de Win Butler, Regine Chassagne e cia na humanidade (e em sua redenção) parece já ter se esgotado; o que lhes resta é, como profetas do apocalipse que são, é anunciar e esperar pelo dia de se abrigar das bombas e gases tóxicos. Do jeito que vão as coisas, não é de se estranhar que uma banda com uma proposta tão singular seja uma das mais aclamadas pelos críticos. A veneranda Ana Maria Bahiana, em artigo assinado na última Bizz (Tarantino na capa), já se assumiu plenamente convertida. Seu fervor foi tamanho, que, qual um John Belushi de saias (em The Blues Brothers), o deixou aos pulos pela sala, como se possuída pelo próprio Espírito Santo. Conversões à parte, não há dúvidas de que se trata de uma obra à altura - talvez até melhor que sua antecessora. Na verdade, é cedo para dizer. O que é certo é que faixas como Keep the Car Running (Talking Heads no confessionário), Black Waves / Bad Vibrations (divino dueto do casal líder), Antichrist Television Blues (Bruce Springsteen fase Nebraska no púlpito) e No Cars Go (que já tinha aparecido do EP de estréia da banda, épica e carregada de enlevo espiritual) são alguns pontos altos de um álbum que parece estar sempre a pelo menos um metro do chão. Assim fica mais fácil de nos ajoelharmos em adoração.

Neon Bible
Arcade Fire
Slag


O Punk blues da diva exótica

Em homenagem ao grande radialista britânico John Peel, falecido em2004, P.J. Harvey lançou seu CD de Peel Sessions, um título que invariavelmente prenuncia belas performances gravadas ao vivo nos estúdios da BBC, apresentando grandes bandas. As "Sessões Peel" da exótica Polly Jean mantêm a tradição e valem este puta disco de rock na veia, totalmente desprovido de firulas. É tudo muito simples e intenso: baixo, guitarra e bateria em fúria, acompanhando o proverbial vozeirão da cantora em estado de graça. Tem gente que vai chiar, mas na minha humilde opinião, isso aqui é o que de mais próximo existe do que seria o blues urbano contemporâneo, se o estilo nascido nas plantações de algodão do sul dos EUA não fosse tão preso aos seus próprios dogmas e chavões. O clássico Wang Dang Doodle, do pai Willie Dixon não está aqui (em versão arrasadora) de graça. Naked Cousin (fantástica), Victory e Water são lamentos furiosos nascidos no asfalto e não me deixam mentir. Mais para o fim do CD, de That was my Veil (de John Parish, com quem ela lançou um álbum em parceria anos atrás, e é quase um spiritual) em diante, violões aparecem, suavizando um pouco a bagaceira que veio antes. Mas o estrago já foi feito. John Peel sorri do outro lado.

The Peel Sessions 1991-2004
P.J. Harvey
Universal

quinta-feira, maio 10, 2007

Rockloquistas do meu Brasil,

Após os três últimos (agitados) meses em que cobri férias no periódico da Avenida Tancredo Neves (período durante o qual alimentei o Rock Loco com as matérias ali produzidas e que julguei adequadas para o blog), precisei me ausentar por alguns dias deste vigoroso órgão da imprensa nanica para assentar minhas idéias, traçar planos e clarear a mente.

E procurar emprego também, claro.

É com a cara mais limpa do mundo, porém, que comunico aos leitores do blog que ainda não obtive êxito em qualquer uma destas tarefas.

Sagitariano insuportável que sou, contudo, ainda não desisti - de nada - e espero que já nos próximos dias, eu volte a este espaço cheio de amor para dar, sempre com algum texto produzido exclusivamente para o Rock Loco - ou não.

Vou ali e já volto. Não demoro.