Seria mais ou menos como folhear uma revista da Mônica enquanto se ouve o Beneath the remains, do Sepultura. (Acho que até conheço gente capaz de se divertir assim, mas eu não emprestaria dinheiro a eles - até por que não tenho!).
Na verdade, esse assunto - trepidante, apaixonante e absolutamente atual, como todos que são tratados aqui - passaria completamente batido por mim, não fossem os chapas Zé Oliboni e Diego Figueira, do site bacana Pop Balões, com o qual colaboro de quando em vez. Algum tempo atrás, eles fizeram um Top Five (ou Top Pop, como é chamada essa seção do site) de trilha sonora para se ler quadrinhos (leia aqui). Qual não foi a minha surpresa ao saber depois que a tal lista era na verdade, uma estratégia para me fisgar e assim, me provocar para que eu fizesse a minha própria lista!
Assim, em mais um serviço de utilidade pública aos leitores sem noção deste blog - e do Pop Balões -, listo aqui algumas sugestões de trilhas sonoras ideais para se ler HQs. Sem muito mais enrolação - como não é de costume deste blog - vamos a elas.
Retrofoguetes - Começo puxando a brasa para a sardinha do meu querido rock baiano, recomendando as suítes surf espaciais dos Retros para embalar suas leituras de ficções científicas ou podreiras em geral: EC Comics, Madman, Adam Strange, Flash Gordon, Super Homem (Era de Prata). O misto de surf music com space opera de Rex, Morotó e CH casa perfeitinho com aventuras em planetas bizarros, armas de raios, visão de raios-x, dimensões alienígenas e monstros de seis cabeças e três mamilos.Johnny Cash - O Homem de Preto parecia, por si só, um personagem do western (Sartana?). Não causa surpresa que suas canções casem tão perfeitamente com quadrinhos de bangue-bangue. Sejam os clássicos italianos (Tex, Zagor, Ken Parker), franceses (Blueberry) ou americanos (Jonah Hex), músicas como Folsom Prison blues ou Ghost riders in the sky, entre muitas outras, parecem ter sido escritas para acompanhar esses gibis. Na verdade, o próprio Cash era conhecido como um storyteller, devido ao seu jeito falado de cantar, sempre narrando uma historinha envolvendo crimes, álcool e danação.
Muse - O somzão pesado, grandiloquente, desesperado, trabalhado e criativo dessa banda inglesa é o fundo sonoro ideal para as tramas muito loucas e em grande escala dos britânicos Warren Ellis e Mark Millar. Impossível ouvir Apocalypse please, do álbum Absolution, por exemplo, e não relacionar com o espetáculo fim do mundo em widescreen de The Authority, Transmetropolitan e Pesadelo Supremo (Elis) ou Chosen, Os Supremos e Wanted (Millar).Stereolab - Pense em um som psicodélico, cheio de ambiências alienígenas, algo entorpecente, e ao mesmo tempo, acessível aos terráqueos. A banda da francesa Laetitia Sadier e seus vocais paralisantes são minha sugestão para acompanhar a leitura de A Garagem Hermética, de Moebius. Experimente. Mas não me chame, OK?
Pixies, Pavement, Guided by Voices, Sonic Youth, Throwing Muses, Husker Du e outras - As bandas do underground americano dos anos 80 e 90 são a trilha sonora exata para ler... os autores do quadrinho underground americano dos anos 80 e 90! Óbvio! E depois, é bem, capaz de Peter Bagge, Adrian Tomine, Daniel Clowes, os Hernandez Bros. e Richard Sala, entre muitos outros, tenham criado boa parte de sua obra ouvindo essas bandas. Ambiência perfeita, não?
Serge Gainsbourg & Jane Birkin - "Je T'Aime...Moi Non Plus", o maior clássico de motel de todos os tempos, com o vocal sussurrado de Gainsbourg e os gemidos de Jane Birkin já embalaram muita mão naquilo, aquilo na mão e aquilo n'aquilo. Ora, por que não embalar, então, os belos delírios eróticos e desenhos exuberantes de mestres do erotismo das HQs, como Giovana Casotto (essa mulher é demais!!!), Milo Manara, Guido Crepax, e Reed Waller & Kate Worley (Omaha, a Stripper)?MANDO DIAO MANDA BEM PRACA - Pára com isso. Eu sei que você não gosta de banana nenhuma de Cansei de ser sexy ou essas coisas modernosas pós-punks com um toque de eletrônica e funk carioca. Balela de jornalista novidadeiro deslumbrado. O que liga é Mando
Diao, banda de uns garotos suecos, da cidadezinha de Borlange e que só tem dois discos lançados. Caiu-me nas mãos o primeiro deles, Bring 'em in, e vou te dizer uma coisa: é o melhor disco de estréia de uma banda que ouço desde... o primeiro do Strokes, acho. Só que o som aqui é completamente sixties, na veia dos Stones dos primórdios, Stooges, o Them de Van Morrison, Kinks, Motown. Mas na veia mesmo, e mais veloz, pra ouvir no inferninho esfumaçado, cheio de goró no juízo. O ritmo é frenético, catártico, mas sempre com muita melodia e classe nas execuções. O vocalista é sensacional, tem um puta vozeirão e parece estar sempre prestes a tirar a roupa e pisar em cima, tamanha a entrega do cara. Sem contar que os moleques são muito boçais, arrogantes e se dizem melhores que todas essas bandas citadas acima. Oasis é fichinha perto disso aqui. E ainda tem um certo sentido de perigo, como Stones e Stooges, enfim. Tô te falando, Mando Diao é um negócio muito sério. E esqueça essa balela de "new rave".E A COMIDA AINDA É BOA - Meu guru do Nordeste de Amaralina, sábio conhecedor dos segredos, esquinas e reentrâncias desta soterópolis (não o programa) desvairada e senil, de vez em quando faz uma gracinha pros amigos e os brinda com uma palhinha do seu vasto saber no que tange aos bares desta cidade. Qual não foi minha surpresa ao ser conduzido por ele e sua respectiva à um insuspeitado boteco no Porto da Barra, intitulado Tortilleria Galícia. Para encurtar: o aconchegante barzinho tem as paredes decoradas de alto a baixo com discos de vinil. DISCOS DE ROCK, no caso. Aí você aponta um deles e fala pra garçonete: "eu quero ouvir aquele Greatest Hits do The Byrds ali. É, aquele, ali". E pronto. Aí é só pedir a cerveja e o cardápio, onde é possível escolher uma variedade de tortillas espanholas deliciosas (recomendo a de calabresa) por apenas R$ 6,00. E ainda dá pra duas pessoas, tranqüilamente. O incrível é que, nas duas vezes em que estive lá, praticamente ninguém entrou no recinto. Tranqüilidade total. Vá antes que acabe, por que é bom demais, e aqui, sabe como é. Fica no Porto da Barra, pertinho do Dubliners. Excelente pedida para abrir a night.
EDNÍLSON CONCORDA - Ele provavelmente nem sabe, mas concorda comigo. É até chato voltar à essa cansada polêmica (coisa da qual nem estou a fim, juro), mas garanto que é por uma boa razão. O pessoal mais assíduo da blogosfera rocker local deve se lembrar daquele texto meu para o blog Clash City Rockers - depois republicado pelo site Bahia Rock - contando a história da Úteros em Fúria. Deve se lembrar também da polêmica que se seguiu nos comments do CCR por que caí na besteira de levantar a lebre de que, mulher que é bom mesmo, só começou a freqüentar os shows de bandas de rock locais a partir dos concertos - ensandecidos e enlouquecidos, é bom lembrar - da Úteros. E, folheando o livro "Rock Baiano: História de uma cultura subterrânea", alentado relato de Ednílson Telefanzine Sacramento, descobri nele a espirituosa confirmação que (lá vai) sacramenta minha afirmação. Está lá, à página 223: "A Útero (sic) foi responsável pela criação de um novo segmento dentro do público: as mulheres". E esse livro já estava escrito há quase 10 anos. Tá lá o corpo estendido no chão. Não se fala mais nisso, esse assunto não é mais discutível. Não me venham com mais polêmicas, que eu já disse que chutar cachorro morto não é comigo.
VOTE DE NOVO - Do release: O clipe de "Tudo de Novo; Começo sem fim", da Mirabolix, concorre a melhor videoclipe do ano no "VideoRock 1st Festival Nacional de Videoclipes". Os videoclipes inscritos no Festival concorrerão ao troféu VIDEOROCK 1ST de melhor videoclipe, além de receberem um prêmio em filmagem e edição no valor de R$10mil reais, que poderão ser utilizados para a produção de um novo videoclipe da banda vencedora http://www.videorock.com.br/index.htm Para votar, basta visitar o site, clicar na imagem do clipe, preencher o campo com o seu e-mail e clicar em "Votar Tudo de Novo; Começo sem Fim/Mirabolix". Você receberá uma confirmação do voto via e-mail e poderá votar quantas vezes quiser.
AGENDA
Beatles Social Club - Cavern Beatles, Tatiana Aguiar, Mariella Santiago, Márcia Castro e Nefelibata, 28.11, Horário: a partir das 20 horas; ingresso: free. Companhia da Pizza, Praça Brigadeiro Faria Rocha, s/n, Rio Vermelho.
FÁBIO CASCADURA ROCK´N ROLL SOUL - Após temporada de show com o Cascadura pelo Sudeste do país, Fábio Cascadura e Thiago Trad voltam a se apresentar com o projeto FÁBIO CASCADURA ROCK´N ROLL SOUL. Em formato acústico eles apresentam grandes sucessos dos anos 50, 60 e 70 que influenciaram o CASCADURA, além de músicas do repertório próprio 30.11, Horário: 21:00 hs Ingresso: R$ 6 Balcão Botequim, (Curva da Paciência, Rio Vermelho).
Capitão Parafina e os Haoles - 1º de dezembro, Horário: às 22h, Ingresso: Até a 00h - R$ 5,00 (entrada) + R$ 5,00 (consumação mínima), World Bar, (travessa dias Dávila - Barra - Calçadão da Off).
JAZZ ROCK QUARTET - Sexta, 1º de dezembro, 22 hs, de grátis no Nhõ Caldos (Rio Vermelho).
TRÊMULA (SP), BERLINDA, THEATRO DE SERAPHIN E DJ PRÊ - 07.12, 22h, na Zauber, R$10,00.





