Pois é, enquanto as grandes cantoras baianas, aquelas, unanimidades nacionais, estão mais preocupadas com lipoaspirações, peitos de silicone, megashows com dançarinos, coreografias infantis e em estrelar o maior número de anúncios possível, outras, praticamente desconhecidas, se esforçam em empregar seus dotes vocais à serviço de belas melodias, música elaborada e letras onde - que surpresa - não encontramos as palavras "festa", "sol" ou "Bahia". Na verdade, no caso da Demoiselle e da sua vocalista Ivana Vivas, isso não é nenhuma surpresa, pois banda e cantora em questão são, sem diminuí-las um milímetro sequer, só mais uma prova do amadurecimento criativo que os músicos oriundos do meio rock de Salvador vêm experimentando nos últimos três ou quatro anos.Não dava para esperar menos da banda de Toni Oliveira, guitarrista extraordinário que tocou anos na Cascadura, no tempo que a banda ainda tinha o "Dr." antes do nome. Lançado ainda em 2003, o ep "Demoiselle", com apenas três faixas, apresentou a banda ao público. Das três, duas são da autoria de Toni e a última, também dele em parceria com o produtor Tadeu Mascarenhas (Estúdio Casa das Máquinas). Não à toa, o disquinho acaba refletindo claramente o background classic rock do guitarrista. Na capa, o aviãozinho de Santos Dumont que empresta o nome ao grupo.
Adornadas pela bela voz de Ivana e pelos riffs sinuosos, quase barrocos, de Toni, as faixas transbordam de referências setentistas, mais notadamente Led Zeppelin e Rolling Stones, com uma certa pegada folk. Por tabela, acabam lembrando bastante os primeiros discos do Cascadura, mas com bem menos sujeira: aquele rock maneiro, com riffs marcantes e execução enxuta, sem virtuosismos, totalmente à serviço do resultado final e perfeito para tocar em qualquer FM do tipo "para quem gosta de música" (se estas se dispusessem a tocar música apta a ser gostada).
Essa abordagem, aliás, trava um pouco as expectativas de quem espera algo com mais "atitude" (ô palavrinha idiota!), mais explosão. Isso não rola aqui, as três faixas são bem estáveis, sem picos de peso ou fúria. Toda a atenção está voltada para o efeito gerado pela dupla formada pela guitarra de Toni e a voz de Ivana. Ivana Vivas, aliás, é uma preciosidade no rock baiano, pois além de muito bonita e charmosa, ainda canta bem pra cacete, com pinta de profissional e moral o bastante para botar qualquer cantorazinha de trio elétrico no chinelo.
Não a culpem, portanto, se algum dia, um empresário qualquer do mainstream local coopta-la para cantar em alguma dessas bandas com "dono", em troca de um salário polpudo. Quem tá no rock é pra sofrer, já disse o sábio César Vieira (aliás, um dos melhores frasistas do rock baiano). Mas isso não significa que você tenha que sofrer a vida inteira. Só espero que tal virada nunca lhe seja necessária...
Agora em novembro, a banda entra em estúdio para a pré-produção do primeiro CD. "Vamos começar a gravar no início do próximo ano. Vai ser um cd - até agora - independente...", conta a vocalista. Demorô.
Além de Toni e Ivana, a Demoiselle ainda conta com o auxílio luxuoso do também ex-Cascadura Ricardo The Flash Alves (rapaz, onde foi parar sua melanina?) no baixo e Guto Júnior na bateria. Estou no aguardo de uma boa oportunidade para vê-los ao vivo.
www.demoiselle.com.br
www.myspace.com/demoiselleband
www.fotolog.net/bandademoiselle
TODO CARNAVAL TEM SEU FIM
Baseada na farsa e em ídolos inconsistentes, a música baiana mainstream, mais dia, menos dia, há de se render ao vigor criativo do rock baiano, cada dia mais universal e acessível ao grande público
Não era fácil gostar de rock de verdade na segunda metade dos anos '80. O fedor de laquê para o cabelo armado das bandas de metal farofa impregnava o rock e ocupava todos os espaços possíveis, como comerciais de cigarros, programas de clipes (e a MTV lá fora), a preferência de amigos incautos e as rádios. Bandas como Poison, Bon Jovi, Mötley Crüe, Cinderella e outras menos cotadas emporcalhavam o bom nome do rock n' roll com suas calças apertadas, bundas de fora, bandanas coloridas e maquiagem pesada.Em contrapartida à todo esse glam, nada ofereciam para confortar os ouvidos de quem queria ouvir música de verdade, com seus rockinhos de plástico e baladinhas esquemáticas. Como sabemos, o castelinho de areia dessa gentalha caiu em 1991, com o advento do Nirvana, do álbum Nevermind e do grunge de Seattle (e provavelmente desse episódio, surgiu a necessidade cíclica de um "salvador do rock" que surge de tempos em tempos). A injeção de verdade aplicada por Kurt Cobain e cia no cerne do rock n' roll naquele ano foi essencial para viabilizar uma vasta renovação no rock, renovação esta que têm seus efeitos sentidos até hoje. OK, o orgulho poser no rock ainda resiste, vide aí a lamentável onda emo e excrescências como Cansei de ser sexy e similares.
Mas o que se quer dizer aqui - antes que eu enrole ainda mais - é que, cada vez mais, é visível a evolução das bandas de rock baianas, que estão se apresentando ao público (e, por conseguinte, aos produtores culturais) de forma cada vez mais madura (no bom sentido) e com composições cada vez mais redondas, candidatas à hit e aptas a serem consumidas pelo grande público. O rock baiano, hoje, está prenhe de um item que é praticamente inexistente na música mainstream local que é empurrada goela abaixo do público: talento. E, como costumo dizer, quando há talento genuíno envolvido na jogada, tudo pode acontecer, inclusive o impossível - ou o que é considerado impossível.
Enquanto eles fazem jingles, o rock baiano faz música. Enquanto eles coçam a cabeça em busca do próximo "hino do verão baiano", o rock se expressa livremente, longe de amarras mercadológicas. Enquanto eles se apóiam em modelos pré-fabricados de sucesso baseado na mentira do jabá e da forçação (com o perdão do neologismo) de barra, o rock traz no seu som toda a verdade de uma geração de bandas que só querem se expressar de forma honesta e viver disso. E quando se ouve coisas como Cascadura, Formidável Família Musical, Canto dos Malditos (a despeito de não gostar do som da banda em si), Pessoas Invisíveis, Paulinho Oliveira, a Demoiselle já abordada no texto acima e diversos outros grupos, novos ou veteranos, é possível perceber que, nesse momento, o rock local é de uma dignidade, beleza e talento como poucas vezes se viu nessa terra.
Tem uma velha frase que diz que "é possível enganar muitas pessoas durante muito tempo, mas é impossível enganar todo mundo durante todo o tempo". Um dia a verdade sobe à tona. Um dia, os ídolos de barro serão esquecidos, pois de nada além disso são feitos: barro, poeira. Diferente da obra sólida, poderosa e consistente que o rock baiano vem construindo há anos, baseada na verdade criativa de cada um e que agora começa a encontrar sua forma mais próxima da perfeição. E antes que me acusem de ingenuidade, respondo com outra frase - mais ingênua ainda, só para contrariar: "você pode até dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único"...
Talvez tudo o que o rock baiano precise hoje - para meter o pé na porta de uma vez - seja uma Smells like teen spirit. Eu diria que estamos quase lá. Quem se candidata?
AGENDÃO
Angra na Concha !!!!! Do release: A mais expressiva banda brasileira de Heavy Metal, com projeção internacional, ANGRA, completa, em 2006, 15 anos de carreira, e para comemorar esta data, nada melhor que fazer uma turnê mundial do novo cd "AURORA CONSURGENS", e, além disso, começar por SALVADOR. Os fãs baianos poderão conferir o 1° show da maior turnê da banda na Concha Acústica no dia 1 de Novembro. Ingressos: 1° Lote ? Meia Entrada R$25, Limitado, (Apresentação Carteira Estudantil)2° Lote ? Meia Entrada R$30 (Apresentação Carteira Estudantil) Censura: 13 anos. À venda: Andarilho Urbano, Smile Stamps, Bilheteria do Teatro Castro Alves, Sacs iguatemi e Barra E Maniac Records. Concha Acústica (Campo Grande), Quarta 01/11.
ATAQUES DE ZUMBIS : O QUE FAZER? - Grande Workshop de sobrevivência em casos de mortos-vivos caminhando sobre a terra. Machina + Vendo 147 + The Honkers. Dubliners irish pub (porto da barra) Halloween com os Honkers, dia 1º de Novembro (Véspera de feriado). no 01/11/06 (quarta, véspera do feriado do dia dos mortos) pontualmente às 20h (pq lá o bar fecha às 1 da matina) R$ 10,00 (a entrada dá direito a 2 bebidas - cerveja refri ou água). a casa não aceita cheques ou cartões, apenas dinheiro em espécie.Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta e Pessoas Invisíveis. Após
vencer a etapa Norte/Nordeste do Festival Trama Universitário a banda a Pessoas Invisíveis lança oficialmente seu 1º EP, com arte produzida pelo designer Edson Rosa, responsável também pela arte do disco "Anacrônico", de Pitty. A festa acontece dia 4/11, na Casa de Dinha (Rio Vermelho) tendo como convidados Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta. Ainda em novembro, no dia 14, os quatro rapazes se apresentam no Rio de Janeiro, com a cantora Maria Rita, uma das maiores intérpretes da música brasileira. 04.11 Sábado, Casa da Dinha (Lg de Santana - Rio Vermelho), Horário: 23h. Ingresso: 10,00.ROCK DÁ SORTE com IN VENTURA, DIMINUTO E PANGENIANOS - Data: 04/11 Sábado de feriadão, Local: THE DUBLINERS' Irish Pub ( Porto da barra, embaixo do barra turismo hotel), Hora: 20h30, Preço: R$10,00 COM DIREITO A 2 BEBIDAS (cerveja, água ou refrigerante), Informações: in_ventura@hotmail.com (lucas)



