Em um tijolaço de quase 900 páginas (Shakespeare: A Invenção do Humano), o erudito Harold Bloom defende que o bardo inglês não apenas representou, mas “inventou” o homem.
Se a teoria procede ou não, cabe à crítica acadêmica discutir.
Com duas novas adaptações para HQ de suas peças chegando às prateleiras, o bom mesmo seria que elas “inventassem” mais e novos leitores para o gênio de Stratford-upon-Avon.
Ainda que partam da mesma fonte, são duas adaptações de estilos bem diferentes.
Hamlet de William Shakespeare é uma adaptação brasileira para o célebre périplo do príncipe dinamarquês atormentado pelo assassinato do seu pai, um certo complexo de Édipo e a eterna dúvida entre “ser ou não ser”.
Já A Tempestade é o quarto volume da coleção Mangá Shakespeare, que, como o nome indica, traz as tramas do inglês vertidas para a estética dos modernos quadrinhos japoneses.
Desenhos primorosos
Curiosamente, a adaptação brasileira para Hamlet aparenta mais fidelidade à estética clássica da peça original do que a linguagem de mangá foi capaz de conceder à Tempestade.
O principal responsável pelo feito é o desenhista paulista Alex Shibao.
A arte que ele entrega em Hamlet é simplesmente de encher os olhos.
Extremamente elegantes, seus desenhos misturam a atmosfera medieval típica da peça com referências do século 19 em uniformes militares e acessórios – estética provavelmente pescada da subestimada adaptação cinematográfica de Kenneth Branagh, lançada em 1996.
A adaptação, a cargo do experiente roteirista Wellington Srbek (Estórias Gerais), partiu do texto original, traduzido por ele mesmo – algo temerário em se tratando de Shakespeare.
Aparentemente, o rapaz deu conta da tarefa, sem deslizes - descontados os necessários cortes para a adaptação em HQ.
O resultado é um álbum primoroso, ideal para, quem sabe, seduzir jovens leitores.
Mangá britânico
Tarefa igualmente árdua cabe à adaptação mangá de A Tempestade.
A trama tardia de Shakespeare (acredita-se que foi sua última peça) é também uma de suas obras mais fantasiosas, tendo entre os personagens feiticeiros, espíritos errantes e criaturas bestiais.
Ambientada em uma ilha remota, toda a história gira em torno de Próspero, um ex-duque de Milão versado em artes ocultas que prepara uma engenhosa armadilha para aqueles que o traíram, fazendo-o cair em desgraça e subsequente exílio.
Apesar da estética mangá escolhida para esta adaptação, ela não é japonesa, mas tão britânica quanto o próprio William, já que a toda a coleção Mangá Shakespeare é original da editora inglesa Self Made Hero.
De alguma forma, a coisa toda faz sentido.
A Tempestade, uma peça de desenvolvimento ágil e intrincado, se presta muito bem à ligeireza da estética do mangá, com suas muitas linhas de movimento e enquadramentos arrojados.
Comparar os desenhos de Paul Duffield de A Tempestade aos de Shibao para Hamlet seria injusto.
O que se pode dizer é que, em comparação a outros mangakás, Duffield é um artista mediano, que dá conta do recado.
A tradução, sim, é luxuosa, pois a cargo de Alexei Bueno, poeta diversas vezes laureado e dado a polêmicas com concretistas e tropicalistas (especialmente Caetano Veloso).
Em uma nota introdutória, Bueno garante ter preservado “fidelidade formal absoluta aos originais, ou seja, o que é verso foi traduzido em verso, os trechos em prosa foram traduzidos em prosa, e quando havia rima esta sempre foi mantida”.
Adaptações bem cuidadas, Hamlet e A Tempestade mantém vivo o espírito de Shakespeare para as novas gerações.
Não que o velho William precise desta forcinha.
Quem aprende a digitar antes mesmo de ler (ou sequer de pensar) é que precisa desesperadamente do bardo inglês.
Hamlet de William Shakespeare / Wellington Srbek e Alex Shibao / Nemo / 80 p. / R$ 42 / www.editoranemo.com.br
Mangá Shakespeare: A Tempestade / Richard Appignanesi (adaptação), Paul Duffield (desenhos), Alexei Bueno (tradução) / Galera Record / 216 p. / R$ 24, 90 / www.galerarecord.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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12 comentários:
Depois de vários anos sem dar as caras por aqui, o juiz do apocalipse preferido de todas as crianças volta às bancas de revista. Foi tanto tempo, que virou notícia até no Bleeding Cool:
http://www.bleedingcool.com/2013/04/24/eu-sou-a-lei-dredd-comes-to-brazil/
Cool, indeed!
Aproveito e reitero: Dredd, o filme baseado no personagem feito NO ANO PASSADO (não do Stallone!) é diversão das buenas.
http://omelete.uol.com.br/comic-con/cinema/dredd-critica/
"Recomeindo"!
Página a página, uma das cenas de luta mais FODÁSTICAS dos quadrinhos:
http://scans-daily.dreamwidth.org/4318590.html#cutid1
Bons tempos da Herois da TV em formatinho....
"Paul Gulacy was a master storyteller!" INDEED, I say!....
A revista do Juiz Dredd pela Mythos ganha preview no UHQ:
http://www.universohq.com/quadrinhos/2013/n25042013_01.cfm
Estou animado. Diz que vai ter umas HQs inéditas de - adivinha? adivinha? - Alan Moore....
Cebola - caso vc esteja lendo - será este Promised Land uma "versão" ianque do seu ubber-cult-classic Local Hero (Momento Inesquecível)?
http://omelete.uol.com.br/a-semana-la-fora/dvd-blu-ray/semana-la-fora-dvd-e-blu-ray-24042013/
Reza a lenda que Shakespeare nem existiu...ou ele compilou umas hist´roias antigas...ou alguém compilou e colocou esse nome...enfim...nem sei se eu existo...
bicho, viu isso??
http://samurailol.com.br/os-hipsters-mentirosos-do-coachella-2013/
Já, Sputter! Vi aqui:
http://www.spin.com/articles/jimmy-kimmel-coachella-2013-fake-bands/
O que eu posso dizer?
...Todo castigo pra hipster é pouco, né man?
Ô, gentinha!
bicho, eu te mandei aqui alguma coisa de gibi do mestre do kung fu pra baixar??
porra man e pensar que hipster era outra cousa na época do norman mailer novo...
Mandou, mandou! Tà no post anterior.
Tudo se degrada, até os hispsters. Aliás, esse termo deveria er abolido, pois tal coisa, tais pessoas com tais qualidades SIMPLESMENTE NÃO EXISTEM MAIS. Isso há uns 40 anos, no mínimo.
Repetindo:
NÃO EXISTEM MAIS HISPSTERS. QUALQUER PESSOA QUE SE DEFINA COMO HIPSTER É AUTOMATICAMENTE O OPOSTO DO HIPSTER. LARGUE ESSA REDE SOCIAL AGORA E PONHA AS MÃOS NA CABEÇA, VOCÊ ESTÁ CERCADO(A).
interessante isso:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=V_Y5dWRicWM
sempre estivemos cercados Xico...agora tá pior-ehhehehe
Hérois da Tv Completo:
http://quadrikomics.blogspot.com.br/2011/08/herois-da-tv-abril-completa.html
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