quarta-feira, junho 23, 2010

2ª RODADA DE MICRO-RESENHAS (PÔ, A GENTE NÃO TÁ EM ÉPOCA DE COPA?)

Couro, motos, blues

Sempre correndo por fora dos hypes vazios da vida, a banda americana Black Rebel Motorcycle Club chega ao seu quinto álbum de estúdio, Beat The Devil‘s Tattoo. Ainda ostentando a influência marcante do Jesus and Mary Chain do início da carreira, mas cada vez mais roots, o BRMC se mantém como uma das bandas mais fiéis ao seu estilo "fiz um pacto com o coisa ruim": riffs graves e malignos, levadas bluesy, batidas honky-tonk. Rock de (e para) adultos. Black Rebel Motorcycle Club / Beat The Devil‘s Tattoo / Vagrant Records / Importado




Instrumental objetivo

Cria mais recente da leva de bandas instrumentais de rock, a soteropolitana Tentrio é uma agradável surpresa. Neste 1º EP com três faixas produzido por Jera Cravo, Eduardo (guitarra), Marcus (baixo) e Thiago (bateria) engendram um som praticamente inclassificável, com boas influências das abstrações pós-rock do Tortoise, mas também com a fluência e a objetividade do rock "convencional". Estreia promissora. Tentrio / Tentrio EP / Independente / Download grátis: www.myspace.com/tentriorock




Ih! Nojento!

Um mestre dos quadrinhos marginais, nonsense e repugnantes, Marcatti relança seu personagem Fráuzio (publicado em revistas formatinho em 1999) com Ares da primavera. Nesta aventura, Fráuzio se envolve (para desgosto de sua bizarra família) com uma dedetizadora que quer exterminar uma colônia de cupins que vive em simbiose com seu tio Ernesto. Dá para ser mais absurdo? Fráuzio - Ares da Primavera / Marcatti / Devir / 80 p. / R$ 18 / http://www.devir.com.br/




Lados B – quase A

Prática comum entre os músicos do hemisfério norte, a reunião em coletânea de lados B de singles geralmente se resume a uma sucessão de composições meeiras que não foram consideradas boas o bastante para entrar no álbum original (além de covers e versões ao vivo). Mas como esta aqui se trata de uma coletânea de lados B de Morrissey (conhecido no Reino Unido como o Ser Humano Mais Adorável da Terra) a coisa muda de figura. Destaque: Ganglord e Drive-In Saturday (de David Bowie). Morrissey / Swords / Polydor / Importado


Mover céus e terras


Continuação do sucesso Samurai: O céu e a terra, lançado em 2007, Até o fim do mundo conclui a busca do samurai Shiro em busca de sua amada Yoshiko, sequestrada pelo nobre espanhol Don Miguel Ratera Aguilar. Se a história parece mais ou menos, o mesmo não pode ser dito dos desenhos primorosos do brasileiro Luciano Queiroz, que caprichou nas pesquisas de vestimentas, armas etc. Samurai: Até o fim do do mundo / Ron Marz e Luke Ross / Devir / 144 p. / R$ 39,50 /www.devir.com.br



Estado de graça

Primeiro de uma série de três LPs com repertório brasileiro gravados por Sarah Vaughan, O Som Brasileiro de... tornou-se antológico não apenas pelas interpretações primorosas da diva para obras-primas como Bridges (Travessia, de Milton) e Someone to Light Up My Life (Se Todos Fossem Iguais a Você, de Tom), mas também pelo monstros sagrados envolvidos na gravação, como o proprio Tom, Dorival Caymmi, Wilson das Neves e Maurício Einhorn. Sarah Vaughan / O Som Brasileiro de Sarah Vaughan / Sony Music / R$ 19,90



Detone seu vídeo

O rock mais casca-grossa de todos os tempos ganha uma coletânea maneira de clipes e apresentações em programas de TV, reunindo hits tanto da fase Bon Scott, quanto com Brian Johnson. Os clipes com o mitológico Scott, claro, são muito mais toscos, ultrajantes e divertidos, mas o menino Brian também tem lá o seu charme. Para assistir bebendo cerveja. Muita cerveja. AC/DC / Blow Up Your Video! Videoclip Collection / Coqueiro Verde / R$ 29,90




A criança interior

Um marco das tiras de jornal, Calvin & Haroldo se eternizaram no gosto do público graças a rara habilidade do seu autor, Bill Watterson, de aliar questionamentos filosóficos de uma certa profundidade com a inocência traquinas do menino que conversa e apronta mil e uma com seu tigre de pelúcia. Por mais piegas que possa parecer, há um pouco de Calvin em todo mundo que já foi criança. Deu "Tilt" no progresso científico / Bill Watterson / Conrad / 128 p. / R$ 33,90 / http://www.conrad.com.br/



Clássico reeditado

Em 1970, Raul Seixas era o produtor de plantão na gravadora CBS (atual Sony). Um belo dia, o patrão saiu de férias e deixou Raul tomando conta da casa. O baiano não teve dúvidas: chamou Sérgio Sampaio, Míriam Batucada e Edy Star para gravarem juntos. (Aliás, esta historinha é veementemente desmentida pelo último Kavernista vivo, Edy Star). O resultado é este manifesto histórico que critica a classe média, os hippies, a colonização cultural – e você também. Depois disso, Raul perdeu o emprego – mas engatou a carreira de músico e ganhou a imortalidade. Reedição mais do que oportuna em tempos de bunda-molismo generalizado. Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Míriam Batucada e Edy Star / Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez / Sony Music / R$ 19,90

Lo-fi em alta de novo

Quem viveu os anos 90 e não curtiu o hit Cut Your Hair, não viveu os anos 90 (ou pelo menos, não a sua melhor parte). Reis do lo-fi, os americanos do Pavement estão de volta após um hiato de dez anos para uma série de shows nos festivais do hemisfério Norte – boa oportunidade para esta coletânea, que serve de introdução para quem não conhece a banda. Guitarras desleixadas, letras nonsense, bom humor e diversão. Pavement / Quarantine The Past: The Best Of Pavement / Importado / Matador Records



Como diria Humphrey Bogart...

Centro cultural, econômico e político mundial, Paris é uma daqueles cidades que, mesmo que nunca a tenhamos visitado, reside no imaginário coletivo planetário como poucas. Neste livro, Yvan Combeau conta a história da Cidade-Luz desde a chegada dos Parisii, povo celta que lhe legou o nome, até os dias atuais. Conhecer a história de Paris é conhecer a própria civilização ocidental. E depois, como diria Bogart, "nós sempre teremos Paris". Paris: uma história / Yvan Combeau / L&PM / 144 p. / R$ 12 / http://www.lpm.com.br/




Revistinha legal

Autor de ótimos livros teóricos como A era de bronze dos super-heróis e A saga dos super-heróis brasileiros, Roberto Guedes relança seu personagem Meteoro em um caprichado almanaque recheado de HQs, entrevistas e artigos. Para isso, ele conta com colaboradores de primeiro time, como Bira Dantas, Márcio Baraldi, Emir Ribeiro e vários outros. Vendas por email. Almanaque Meteoro nº 1 / Roberto Guedes e vários autores / Guedes Manifesto / 52 p. / R$ 5 / guedesbook@gmail.com




Supla tem salvação

Verdade seja dita: Supla, na ativa desde os anos 80 com a banda Tokyo, nunca foi grande coisa como músico. Muito mais um performer, este sósia (intencional) de Billy Idol – quem diria – chegou ao seu melhor momento na música fazendo algo bem próximo da MPB, em parceria com seu irmão, o bom violonista João Suplicy. Despretensioso até o osso, Brothers of Brazil é um show de bom humor e samba punk, como só Supla seria capaz. Brothers of Brazil / Punka Nova / Independente / R$ 12,90

terça-feira, junho 22, 2010

RODADA DE MICRO-RESENHAS

Cachaça & cabrochas


Gravado em 1973, este vídeo histórico mostra Cartola cantando vários dos seus clássicos, acompanhado por uma banda de improviso, no MPB Especial, da TV Cultura. Além das canções, seus depoimentos relembrando as encrencas do morro, sempre envolvendo cachaça e cabrochas, são impagáveis. Cartola e Dona Zica / MPB Especial 1973 / Biscoito Fino / R$ 47,90





Família eh! Família ah! Família!


Will Eisner (1917- 2005) só não é considerado um romancista de primeira linha por que sabia desenhar ainda melhor do que escrevia. Uma de suas últimas graphic novels que restavam sair no Brasil, Assunto de família é um pequeno tratado sobre a dissolução da célula familiar a partir das últimas 24 horas de um patriarca inválido. Enquanto o idoso agoniza, seus filhos se digladiam por um naco de herança. Cruel e realista. Assunto de família / Will Eisner / Devir/ 80 p. / R$ 23 / devir.com.br




Camaleão em forma


Gravado em 2003, este CD duplo traz o show do CD Reality (2002), de David Bowie. Apesar disso, mais parece um Greatest Hits ao vivo, tamanho o número de sucessos aqui registrados, como Under Pressure, The Man Who Sold the World, All The Youg Dudes, Ashes To Ashes, Heroes e a infalível Ziggy Stardust, claro. Um dos melhores momentos fica para uma sentida e emocionante interpretação para outro clássico: Life on Mars. Bowie é O Cara. David Bowie / A Reality Tour / Sony Music / R$ 44,90



Deuses ETs


Possivelmente o mais celebrado autor de ficção científica de todos os tempos, o inglês Arthur C. Clarke (1917-2008), autor de 2001: Uma odisseia no espaço, tem um de seus maiores clássicos relançados em edição caprichada, acrescida de extras preciosos para os apreciadores do gênero – e da boa literatura em si. Em O fim da infância, alienígenas com poderes quase divinos vêm a Terra – sabe-se lá com que intenções. O Fim da Infância / Arthur C. Clarke / Aleph / 320 p. / R$ 46 / editoraaleph.com.br


O som dos objetos


Há quem fique todo empolado só de ouvir falar em música de vanguarda. Não é o caso de André Borges. Ex-saxofonista da lendária banda Crac!, que revelou Nancy Viégas, André deixou seu instrumento de lado em seu novo trabalho, Funcionaface. Aqui, ele faz jus ao seu perfil experimental, tocando instrumentos pouco ortodoxos, como moeda, papel, copo e conhaque (!?). Interessante, especialmente para os fãs da ex-banda. Funcionaface / Assumido Flutuante / Independente / funcionaface.blogspot.com


Base cultural


Medeia, Édipo, Electra, Helena de Troia. Quase todo mundo já ouviu falar nesses personagens, mas, hoje em dia, poucos sabem do que realmente se trata. Neste livro, o estudioso francês Pascal Thiercy traça um caminho de introdução acessível sobre o que representam as imortais tragédias gregas para a cultura ocidental. Trata-se de um guia precioso, com resumos das peças e da vida e obra de seus principais autores. Tragédias gregas / Pascal Thiercy / L&PM / 128 p. / R$ 12 / lpm.com.br




Bad is good


Originalmente publicada em capítulos na revista GQ inglesa, Bad Boy é uma obra menor de dois grandes autores dos quadrinhos: Frank Miller (Cavaleiro das Trevas, 300) e Simon Bisley (Sláine, Lobo). Depois de ser lançada no Brasil em edição meio chinfrim anos atrás, ganha agora edição caprichada pela Devir. O personagem título é um garoto que descobre viver numa espécie de matrix, ou seja, um mundo de mentirinha. Bad boy / Frank Miller e Simon Bisley / Devir / 48 p. / R$ 23 / devir.com.br




Registro espartano


Um dos pais do punk rock, Iggy Pop se reuniu com sua banda original, The Stooges, em 2003. Nos shows destruidores que se seguiram, ensinaram a muito pivete com quantos hematomas se faz um punk de verdade. Neste registro espartano de 2004, não há nada mais que a verdade, apenas a verdade. Iggy & The Stooges / Live in Detroit / Coqueiro Verde / R$ 25




Fanfarronice metálica


Há cartunistas de rock e cartunistas de rock. Se Angeli primava pela mordacidade e postura cool, Márcio Baraldi, ligado ao cenário heavy metal, assume a tietagem explícita aos seus ídolos. Apesar de longe da genialidade do primeiro, Baraldi, que parece se divertir muito enquanto trabalha, ganha pontos ao quebrar com muito bom-humor, a sisudez típica do metal. Roko-Loko e Adrina-Lina: Hey-Ho, Let’s Go! / Márcio Baraldi / GRRR-Rock Brigade / 54 p. / R$ 10 / marciobaraldi.com.br




Paris, aí vou eu


Único romance do poeta Rainer Maria Rilke (1875-1926), Os cadernos de Malte Laurids Brigge, reflete muito da biografia do próprio autor, um dos maiores nomes da literatura alemã. O personagem do título é um jovem que, após viver boa parte da juventude em um castelo no campo, muda-se para Paris, passando a conviver com a vibrante boemia francesa. Romance de formação. Os cadernos de Malte Laurids Brigge / Rainer Maria Rilke / L&PM / 208 p. / R$ 15 / lpm.com.br

sábado, junho 19, 2010

A BANDA MAIS UNDERGROUND DA CIDADE



Há pouco mais de um ano atrás, o escritor e músico Ricardo Cury, escreveu no periódico da Av. Tancredo Neves que “o rock de Salvador não para de produzir peculiaridades“. Pois peculiar é o mínimo que se pode dizer da banda The Futchers (vista aqui no show de encerramento de um festival de cinema no centro da cidade, em foto de Thaila Horst).

Projeto paralelo de Rodrigo Sputter Chagas (The Honkers), a The Futchers é que se pode chamar de uma banda verdadeiramente subterrânea.

“Se os Honkers são underground, os Futchers são o underground do underground. Se tem gente que acha os Honkers chatos, os Futchers são mais chatos ainda. Os caras são novinhos também, tem aquela radicalidade, a birra típica dos mais novos“, define Rodrigo. A média de idade da rapaziada é de 20 anos.

Nada de guitar hero

Formada no final de 2006, os Futchers levam ao paroxismo a proposta de Sputter de fazer rock de garagem dos anos 60 com influências de soul e blues primevo – sem essa de guitar hero.

“É soul punk na linha do MC-5. Os caras faziam soul com espírito de punk, sem solos de 15 minutos. Essa coisa de guitar hero eu acho um saco“, diz.

Depois de algumas mudanças na formação, hoje os Futchers contam com Léo Marinho e Rogério Gagliano (guitarras), Celeza (baixo) e Tripa 77 (bateria). Recentemente encerraram o Panorama Coisa de Cinema e lançaram um CD ao vivo, para download gratuito.

Ao vivo no boteko


Obcecados pela proposta de misturar blues primordial com rock de garagem dos anos 60 (leia-se Billy Childish e sua banda The Buff Medways), Sputter & Cia. mandam bem neste show gravado em um boteco na Cidade Baixa. A precariedade da gravação é compensada pela pegada monstra de faixas como I‘m Not an Emo Guy, Holes e Troubled Mind.

The Futchers Live @ Downtown Klub / Independente / Download gratuito: www.fotolog.com.br /the_futchers

NUETAS

Colé merma?!? É a Lisergia de volta!

Banda representativa da geração anos 90, a Lisergia marcou época com seu hit subterrâneo Colé Merma! Neste sábado tem show para desenferrujar, na Zauber, com ET XXVI, mais os DJs Bruno Aziz e Potato. 22h, R$ 10.

Método de Baixo

O baixista e virtuose Joel Moncorvo (da banda de metal Slow) lançou um livro detalhando seu método de ensino e estudo. Leitura rítmica, o volume em questão, tem 100 páginas e vem com CD demonstrativo. Saiba mais no site: joelmoncorvo.com.

Quer ser produtor?

Um terreno ainda deficiente na Bahia – por incrível que pareça – a arte e os segredos da produção fonográfica ganham, pela primeira vez, um curso superior em Salvador. A faculdade Unime abriu inscrições para a primeira turma, no 2º semestre de 2010.

terça-feira, junho 15, 2010

THE BOYS JUST WANNA HAVE FUN

A rigor, não há nada que una os recém-lançados álbuns de HQ The Boys - O nome do jogo (Devir) e Scott Pilgrim contra o mundo (Quadrinhos na Cia.) – além de ambos serem de leitura (bastante) ágil e ansiosamente aguardados pelos fãs de alguns dos mais badalados autores da atualidade.

O primeiro, The Boys, é de Garth Ennis (roteiro) e Darick Robertson (desenhos).

Muito bem conhecidos dos leitores dos selos adultos Vertigo (DC) e Max (Marvel), Ennis e Robertson já haviam trabalhado juntos na pouco lida Fury (para o selo Max), publicada em 2001 e eleita pela revista Entertainment Weekly como uma das melhores HQs do ano. Separados, respondem por séries extraordinárias (e ultra-violentas) como Preacher, Justiceiro (Ennis) e Transmetropolitan (Robertson).

Em The Boys, a dupla joga para a galera – mas joga bonito, com a elegância casca-grossa que os caracteriza – ao contar a história de um grupo de agentes de elite, encarregado de monitorar, disciplinar – e até mesmo apagar – os super-heróis uniformizados que povoam o mundo em que vivem.

O leitor é apresentado ao grupo através do seu membro mais recente, o relutante Hughie Mijão, cujo visual foi inspirado no ator de Todo Mundo Quase Morto, Simon Pegg – que escreveu o prefácio do álbum.

Impiedoso, Garth Ennis mostra em The Boys todo o seu desprezo por gente que usa a cueca por cima das calças e voa. No mundo de The Boys, super-herói é sinônimo de cretino, estuprador e viciado em drogas.

Neste álbum, reunindo os números 1 a 6 da série americana, Ennis rebaixa o Super-Homem (caracterizado como o óbvio genérico Patriota) a um canalha que dá as boas-vindas a nova integrante de sua equipe obrigando-a a praticar sexo oral.

Do lado humano está, além do já citado Hughie Mijão, o líder de equipe Billy Carniceiro, O Francês, Leite Materno e A Fêmea. Suas habilidades e personalidades ainda são pouco exploradas neste primeiro volume – estratégia recorrente de Ennis, um narrador de primeira linha que desenvolve suas HQs com a inteligência própria que caracteriza os autores britânicos (ele é irlandês). Vale acompanhar.

Em breve no cinema

Já Scott Pilgrim contra o mundo, do canadense Bryan Lee O‘Malley, é uma das HQs mais badaladas da cultura pop do momento pela sua linguagem múltipla, que mistura HQs independentes dos anos 90 (mais notadamente Peter Bagge, da série Ódio), mangás, cinema, videogame e muito rock ‘n‘ roll.

Scott Pilgrim é um jovem de 23 anos residente em Toronto, que toca baixo na banda Sex Bob-Omb, divide um quarto com um amigo gay e namora uma chinesinha de 17 anos.

Sua vida vira de cabeça para baixo quando ele conhece a encantadora Ramona Flowers, entregadora da Amazon que circula pela cidade de patins.

Apaixonado, o esperto Pilgrim terá de enfrentar a Liga dos Sete Ex-Namorados do Mal de Ramona para conquistar sua gatinha dos sonhos.

Sucesso de vendas, Scott Pilgrim está prestes a chegar às telas em uma aguardada adaptação dirigida por Edgard Wright (diretor do já citado Todo Mundo Quase Morto – a esta altura, um clássico da década), com Michael Cera (de Superbad) no papel-título.

Scott Pilgrim contra o mundo vai sair em três volumes no Brasil. O filme estreia no dia 13 de agosto nos Estados Unidos. Ainda não há uma data no Brasil.

THE BOYS: O NOME DO JOGO / Garth Ennis e Darick Robertson / R$ 39,50 / Devir
Veja o preview: http://www.devir.com.br/hqs/the-boys_v01.php









Scott Pilgrim contra o mundo / Bryan Lee O'Malley / 368 p. / R$ 35 / Quadrinhos na Cia.










Veja o trailer legendado de Scott Pilgrim Contra o Mundo

quinta-feira, junho 10, 2010

A ÚLTIMA VIAGEM DA BOOMERANGUE



Tudo na vida cumpre um ciclo – nasce, cresce se reproduz (ou não) e morre. Com a Boomerangue, casa noturna aberta no verão 2006/2007, não foi diferente. Sexta-feira passada, dia 4, o local abrigou sua última pauta, uma festa do evento Conexão Vivo.

(Na foto de Lúcio Távora [Agência A Tarde], filas na porta da casa, lotada, para um show da banda Eddie, em 2009).

“Fechamos um ciclo“, diz Théo, da banda Os Irmãos da Bailarina, sócio da casa ao lado do cantor Alex Góes. “Na verdade, já estávamos bem cansados, entendemos que fizemos nossa parte“, acrescenta.

O ponto já foi passado para outro proprietário, que não pretende dar continuidade à proposta de casa noturna – e muito menos, voltada para o circuito alternativo.

“Outras pessoas que queriam dar continuidade, chegaram inclusive a olhar a casa, mas o que desestimula é a realidade do público do Rio Vermelho, que tem uma característica muito peculiar“, diz Théo.

“Ao mesmo tempo que é uma rapaziada maravilhosa, extremamente critica e antenada, é a mesma galera que não quer (ou não tem dinheiro para) gastar. Isso realmente desestimula“, observa.

“O nosso lance principal era o de abrir um espaço para a música que gostamos, não como as outras casas que determinam o repertório de cover e tal“, lembra.

“O problema é que esse sentimento deixa a gente cego. É uma cachaça isso, você fica na fissura, e mesmo cansado, você não quer largar“, desabafa.

Livre, enfim

Esse cansaço é o principal motivo do fechamento da casa. Seus responsáveis querem partir para outras atividades em suas vidas. “A sensação de liberdade que sinto agora é fenomenal. Minha vida estava estagnada e a de Alex também. Sou arquiteto e adoro trabalhar com isso“, revela Théo.

Já Alex Góes, segundo Théo, também está “aliviado, compondo muito e planejando retomar a carreira dele“.

“A gente ‘tava meio congelado, com tudo parado por que esse é o tipo de negócio em que você se doa demais, tudo é uma urgência absurda“, acrescenta.

Numa cidade de espaços tão reduzidos para o que se propõe diferente e alternativo, é realmente uma pena. Porém, em 4 anos de atividades, a Boomerangue cumpriu seu papel de formar público em inúmeros shows, festas, eventos, concursos e matinês.

Um brinde a eles.

NUETAS

A patada do elefante

Rock gaúcho quase sempre dá um bom caldo – e a banda instrumental Pata de Elefante é mais um ingrediente saboroso nesse sopão. O grupo se apresenta pela primeira vez em Salvador, nesta sexta-feira, com as locais (e também instrumentais) Vendo 147 e Tentrio, na Zauber. Night que promete. 22h, R$ 15.

Vandex TV no Sesi

Na batalha para divulgar seu CD Ironia Erótica, Vandex leva sua iniciativa de transmitir shows ao vivo direto de seu estúdio – a Vandex TV – para o Teatro do Sesi (Rio vermelho), por duas semanas. Nesta sexta-feira, o cantor e sua banda recebem Radiola & Nancyta. Já na outra sexta, é a vez dos Retrofoguetes. O colunista dará uma força como mediador / entrevistador dos músicos (mas deixem os tomates em casa, OK?). A partir das 20h30, por R$ 10.

segunda-feira, junho 07, 2010

NASI SE REABILITA COMO FIGURA DE PESO (SEM TROCADILHO) NO ROCK



Para a maioria das pessoas, Nasi é “aquele cara de dentes tortos que cantava no Ira!“. Com seu novo trabalho solo, o primeiro após o fim da banda em 2007, Vivo na Cena (em CD e DVD), Nasi parece querer demonstrar que foi – e ainda é – muito mais do que um ex-vocalista de uma banda de sucesso.

”Você sabe que o Brasil é um País de memória curta, né, bicho?”, pergunta, o sotaque paulistano estalando durante a entrevista telefônica.

De fato, quem percorrer a ficha corrida desse respeitabilissimo veterano do rock brasileiro vai se deparar com uma longa lista de bons serviços prestados à música pop nacional – e não apenas ao rock.

Nasi foi o vocalista do único álbum de uma lenda do underground paulista: Voluntários da Pátria (Baratos Afins, 1984). Produziu o primeiro álbum de hip hop brasileiro: Cultura de Rua (Eldorado, 1988), apresentando Thaide & DJ Hum. E participou ativamente da cena blues, com a banda Nasi & Os Irmãos do Blues. E por aí vai.

Livre de amarras

“Então, nesse momento em que há um grande publico que me conhece a partir do Acústico MTV (Ira!, 2004), acho que é um bom reinício olhar por cima e rever toda minha trajetória“, diz.

Gravado ao vivo em estúdio e acompanhado de uma banda formada por músicos experientes (além de vários convidados), Nasi fez de Vivo na Cena um mostruário não apenas de de sua carreira (incluindo o Ira!, claro), mas também de seus gostos e até do seu estado de espírito.

Não a toa, o trabalho não se limita ao rock, apresentando um repertório que vai de Aldir Blanc (Bala com Bala, da parceria com João Bosco) a Zé Rodrix (Por Amor, em ótimo dueto com Vanessa Krongold, da subestimada banda Ludov).

“Agora eu me livro de certas amarras que um cantor, dentro de bandas autorais, tem. Eu quero cantar aquilo que eu quiser, seja Velha Guarda da Portela, Lazzo Matumbi, uma banda de Belém do Pará, o que for. Essa liberdade era o que eu buscava. Não queria uma coisa muito racional na escolha do repertório“, demarca.

De acordo com essa “pouca racionalidade“, o repertório reflete, mais do que qualquer coisa, a conhecida personalidade do artista: marcante, forte. Daí a inclusão de nomes tão díspares quanto Tom Waits (Garota de Guarulhos, versão de Carlos Carega para Jersey Girl) e Cazuza (com a manjada O Tempo Não Pára, um ponto fraco).

Até o Nordeste foi bem contemplado – o que não deixa de ser uma surpresa para quem já cantou Pobres Paulistas –, com três composições de pernambucanos (Fred 04, Eddie e The River Raid) e uma de Raul Seixas: a magnífica Rockixe, com participação de Marcelo Nova.

O ex-Camisa de Vênus é uma espécie de guru para Nasi: “Marcelo é um grande parceiro. Várias vezes eu estava em duvida com o Ira! e aí sentava para conversar, mas nem perguntava o que ele achava, por que já sabia o que ele ia dizer: vá em frente. Mesmo com toda a grife do Camisa, ele buscou o desafio de ser Marcelo Nova. É isso que eu busco apara mim“, definiu.

A turnê do álbum começa neste mês, e uma apresentação em Salvador está nos planos: “Com certeza levaremos esse show para a Bahia, só não sei quando. Mas vamos, sim“, garantiu.

Repertório colhido a dedo, execuções e interpretações cheias de tesão

Mais intéprete e frontman do que compositor, Nasi acertou a mão em Vivo na Cena ao apostar na diversidade das composições e ignorar o pavoroso cenário pop rock atual, instalado de dez anos para cá.

Impressiona também a unidade sonora e conceitual do trabalho, mesmo em um repertório que mistura uma canção famosa na voz de Elis Regina (Bala com Bala) e um clássico do underground oitentista, como Carne e Osso (da cult band Picassos Falsos) – em ótimas versões.

Gravado durante duas noites no Estúdio Na Cena, sob a supervisão do experiente engenheiro de som americano Roy Cicalla, o trabalho reabilita o cantor como um dos grandes nomes de sua geração – se é que algum dia o deixou de ser.

A sequência é matadora, começando com a impactante Ogun (dele e do guitarrista Nivaldo Campopiano). Sob uma base blues rock digna dos Blues Brothers de John Belushi, Nasi se apresenta, vociferando: “Trago marcas / tenho facas / abro trilhas / milhas e milhas“. O órgão Hammond de André Youssef é um rolo compressor, pavimentando a batida seca.

Já Garota de Guarulhos, versão para Jersey Girl (Tom Waits), poderia estar no repertório de Wander Wildner: “Não tenho tempo p‘ro bagulho / já não penso em mais nada / só consigo pensar em você“. Hit certeiro, que deveria estar arrebentando nas rádios.

Outros pontos altos são Eu Só Poderia Crer (Fred 04), Por Amor e duas do Ira!: Milhas e Milhas e Tarde Vazia, em versão soul carregada de emoção. Um dos melhores lançamentos do ano.

Vivo na Cena / Nasi / Coqueiro Verde / CD: R$ 16,90 / DVD: 24,90