terça-feira, outubro 28, 2008

O QUARENTÃO TODO DE BRANCO

Espirituoso, enigmático, precursor da era da individualidade: este é o famoso LP duplo dos Beatles

1968. O ano das barricadas, do AI-5, do assassinato de Martin Luther King e muita luta ao redor do mundo, contra e a favor dos direitos civis. O ano que em tantas coisas se definiram e se desnudaram, depois do chamado Verão do Amor (1967), foi também o ano que prenunciou o fim da banda cujos discos guiavam os rumos da juventude.

Intitulado simplesmente The Beatles, mas universalmente conhecido como The White Album (ou Álbum Branco, para os brasileiros), o sucessor do revolucionário Sargeant Pepper‘s Lonely Hearts Club Band, lançado em 22 de novembro de 1968, trazia em si o prenúncio tanto do fim dos Beatles, quanto da era hippie.

O senso de coletividade que caracterizava o ideal hippie levou um duro golpe quando o Álbum Branco saiu, pois foi neste disco que ficou claro que a parceria de John Lennon e Paul McCartney já não funcionava como antes.

A partir do Álbum Branco, seria o individualismo que daria as cartas – tanto entre os Fab Four de Liverpool, quanto na sociedade ocidental. Apesar de ainda assinarem todas as suas faixas como Lennon-McCartney, é fato público que, a partir do Álbum Branco, eles não compunham mais juntos.

O sonho que John Lennon declararia oficialmente morto no final de 1970, durante sua histórica entrevista para o jornalista Jann Wenner (fundador da revista Rolling Stone), já dava sinais de sua precária saúde ao longo do disco.

Já de caso com a artista plástica japonesa Yoko Ono, Lennon começava a procurar se expressar por si próprio, sem o apoio de Paul. Este, por sua vez, sentia profundamente o afastamento do amigo – graças à Ono e às drogas –, e buscava se firmar como líder da banda. George Harrison, que compunha cada vez mais, também queria mais espaço no grupo – e nos discos, para suas composições.

Até Ringo Starr, um notório cuca fresca, andava emburrado naqueles dias, chegando a abandonar a banda no meio das gravações. Por conta disso, a bateria das faixas Back in the U.S.S.R. e Dear Prudence foram gravadas por Paul. Ringo voltaria pouco depois, a pedido dos outros três.

Os quatro também ainda estavam abalados com a morte do empresário e amigo Brian Epstein, morto um ano antes. O selo fundado pelo grupo, o Apple Records, também ia mal das pernas, fazendo-os perder dinheiro.

O resultado de tanta angústia durante as gravações – além do individualismo reinante entre os integrantes – foi um álbum conhecido pela falta de foco e pela multiplicidade de climas, mas que mesmo assim, não deixa de ser genial. Afinal, são os Beatles.

Há desde o ar pueril de Ob-La-Di Ob-La-Da ao experimentalismo árido de Revolution 9. Desde a paródia de Chuck Berry em Back in the U.S.S.R. ao manifesto zen de George em While My Guitar Gently Weeps (com solo matador de Eric Clapton, não creditado).

Desde o hard rock primordial de Helter Skelter à tocante homenagem de John à sua mãe, em Julia. Desde o desabafo sarcástico do mesmo John em Yer Blues ao chamado à responsabilidade feito por Paul em Why Don‘t We Do It in the Road?.

PAQUITO, PAULINHO, JOHN, PAUL, GEORGE & RINGO

Na década de 80, o jovem cantor Paquito, então band-leader da banda de rock Flores do Mal, ficou admirado ao chegar em casa certo dia e se deparar no playground do prédio onde morava com uma animada roda de garotos por volta dos doze anos, tocando violão e cantando os hits da fase inicial dos Beatles.

No centro da roda, ao violão, estava um púbere Paulinho Oliveira, músico que, pouco mais de dez anos depois, seria integrante da banda Cascadura, na fase em que esta gravou seu segundo álbum, Entre! (1997).

"Por incrível que pareça, o Álbum Branco foi um dos últimos (discos dos Beatles) que eu descobri. Foi Paquito que me apresentou. Quando eu comecei a ouvir, era muito ligado no óbvio, beatlemania e tal. Aí quando eu tinha uns doze, treze anos, e ele me deu uma fita com o disco gravado", lembra Paulinho, que, quando ainda integrava o grupo, chegou mesmo a percorrer os bares de Salvador em dupla com Fábio Cascadura, tocando só músicas dos Fab Four.

"Foi um choque, pois era muito diferente. É mais radical que o Sargeant Pepper's, até por que tem um desenvolvimento mais tecnológico, pois já foi gravado em oito canais. O Sgt. Pepper's foi gravado em quatro, imagine. O som da bateria é mais próximo ao contemporâneo", opina.

“Há até quem diga que o Álbum Branco são quatro discos solo prensados em um. O próprio George Martin já declarou que preferia que ele tivesse saído como um LP simples, ao invés de duplo. Já vi também uma entrevista de Paul onde ele fica super na defensiva ao falar do disco, que ele não tinha foco e tal“, lembra Paulinho.

Ainda assim, ele, como qualquer fã do grupo, vê o disco como “o último projeto bem-sucedido dos Beatles“. “Com o Yellow Submarine, eles quase não tiveram envolvimento. O Get Back ficou gaveta e só foi retomado pelo (produtor) Phil Spector mais de um ano depois, tornando-se o Let It Be. E o Abbey Road foi um projeto, proposto por George Martin, para fechar a tampa mesmo“, enumera.

Fã da veia melodista de Paul McCartney, ele aponta a faixa Martha My Dear, feita por Macca para sua cachorra, como a sua preferida. “Mas ali não tem nada de Beatles. Já tinha a cara das coisas que ele fez com o Wings, nos anos 70. Da mesma forma, as faixas de George já tinham um jeitão de All Things Must Pass (LP solo triplo, lançado já em 1970). É lindo, mas é triste“, conclui.

“Eu botei Paulinho no crime. Criei um monstro“, brinca Paquito, dando uma boa risada ao se recordar do episódio da fita, que ele nem lembrava mais.

“Eu gosto de todos os LPs dos Beatles. Acho que cada um é bom à sua maneira. Mas o Branco é importante por que foi onde cada um fez o que estava a fim. Era um disco de Paul e a banda, John e a banda e assim por diante“, observa Paquito.

“Passei a gostar dele a medida que eu fui ouvindo ao longo dos anos, pois é um álbum grande, além de ter sido o último que eu comprei, pois como era duplo, era mais caro“, conta.

“Então eu fui digerindo ao longo dos anos. Tem desde Mother‘s Nature Son até Revolution 9, que são extremos. Não há uma direção, mas como eram os Beatles, eles tinham esse controle, esse domínio na hora de fazer o álbum. É um disco sem conceito, a capa branca é uma oposição clara ao anterior, que era muito colorido. As canções, você percebe que nasceram acustica e isoladamente. No Anthology ele está quase todo lá de novo, em versões demo acústicas. O que realmente mantém a unidade é que é um álbum de grupo, no caso, Beatles. Um disco muito à vontade, que nas mãos de outra banda, sairia um rock do inglês doido“, analisa, concentrado.

Para outro estudioso local dos Beatles, o químico Nei Bahia, um antigo parceiro de composição de Fábio Cascadura, a capa branca é como um aviso: “Ela só existe para embalar. Você tem que prestar atenção no que se ouve. O resto é dispersão“, acredita.
Para ele, a faixa mais importante do álbum é Why Don't We Do It on the Road.

“Essa é um recado de Paul, que achava que eles só sobreviveriam se voltassem à estrada (já que eles não faziam mais shows desde o Rubber Soul), a ser uma banda de rock“, opina. “Mas as visões são as mais díspares. Tem gente que acha que é sobre drogas“, acrescenta.

Como tudo o que os Beatles faziam, o Álbum Branco ecoou mundo afora, influenciando muita gente. O maníaco Charles Manson disse que se inspirou nas faixas Helter Skelter e Blackbird, para justificar o massacre ordenado por ele na mansão do cineasta Roman Polanski, quando sua esposa, a atriz Sharon Tate, foi assassinada aos oito meses de gravidez.

No Brasil, Caetano Veloso lançou, do exílio, seu próprio Álbum Branco, logo no ano seguinte. Com sua capa toda branca – levando apenas sua assinatura –, a referência é inevitável.

Já Belchior, no sucesso Comentários a respeito de John, (de José Luiz Penna), cita diretamente Happiness is a Warm Gun: “John, eu não esqueço (oh no, oh no)/ A felicidade é uma arma quente, quente, quente“.

Em Salvador, só nesta semana, dois eventos (serviço logo abaixo) lembrarão o Álbum Branco.

BEATLES SOCIAL CLUBE(TRIBUTO AO ÁLBUM BRANCO) | Com a banda de apoio de Júlio Caldas e participações de Renê (Banda de Rock), Roberta (Aguarraz), Márcio e Candy (Anacê) Paquito, Jorge Solovera, Alexandre Vieira, Mike Caldas e Alex Pochat | Terça-feira, 28 de outubro, 20 horas | Companhia da Pizza (3334-6276) | Praça Brigadeiro Faria Rocha, s/n, Rio Vermelho | Evento gratuito

Orquestra Beatles de Câmara | Especial Álbum Branco | Convidados: Glauber Guimarães e Rowney Scott | Pátio do Icba (3338-4700) | Avenida Sete de Setembro, 1809 | Sexta-feira, 31 de outubro, 18h30 | R$ 10

terça-feira, outubro 21, 2008

MICRO-RESENHAS BOOMBÁSTICAS

Sortudos e zuadentos

Ainda quente da sua apresentação semana passada no festival Boombahia, a banda Mudhoney teve seu mais recente álbum, The Lucky Ones, lançado no Brasil pelo selo independente Inker. Como os Ramones ou o AC/DC, o Mudhoney prima pela falta de novidades em seus álbuns. Ainda bem, por que a pior coisa que poderia acontecer para uma banda como essa seria tentar pongar no som do momento. Se não fizer novos fãs, pelo menos manterá sua fiel audiência satisfeita com mais uma belíssima seqüência de dez rocks de garagem diretos, sarcásticos, auto-depreciativos e zuadentos. Steve Turner continua soltando faísca com sua guitarra encharcada de fuzz, enquanto Mark Arm rasga a garganta para vociferar que “me dizem que sou sortudo/ sortudo por estar vivo/ bom, eu não me sinto sortudo/ pois os sortudos já não estão mais entre nós“, na faixa-título. Sem concessões e sem frescura, o oitavo álbum do Mudhoney diz a que veio: infernizar. Graças a Deus.
The Lucky Ones
Mudhoney
Inker
R$ 31,90
www.subpop.com


Sabedoria e sushi de salmão à sombra

Um dos mais importantes escritores japoneses do século XX, Junichiro Tanizaki (1886-1965) foi um arguto observador da sociedade em seu tempo e lugar. Neste ensaio curto de 1933, ele faz o elogio da cultura milenar do seu país observando como a penumbra a permeia em cada aspecto: na arquitetura – onde a luz é filtrada pelos shojis, os biombos –, no teatro nô – onde os atores atuam com máscaras – e até na culinária – onde o molho shoyu reluz em sua coloração negra. Tanizaki chega a dar uma receita de sushi de salmão. Para ser degustado à sombra, claro. Um estudo poético da alma nipônica por um dos seus grandes escritores.
Em louvor da sombra
Junichiro Tanizaki
Cia. das Letras
72 p. | R$ 28,50
www.companhiadasletras.com.br
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Da mestra para o mestre do piano

A pianista e cantora brasileira Eliane Elias, radicada em Nova Iorque há mais de vinte anos, volta ao selo de jazz Blue Note – após ausência de uma década – com um belo tributo à uma de suas maiores influências: o pianista americano Bill Evans (1929- 1980). Jazzista, mas com formação erudita (chegou a lançar discos simultâneos em ambos os gêneros, sendo uma das poucas artistas no mundo capaz de tal façanha) Elias esbanja sua extraordinária técnica em arranjos que, longe de serem apenas covers dos originais, acrescentam seu estilo sensual e exato às composições e standards gravados pelo homenageado. Boa deixa para conhecer o trabalho de ambos.
Something For You
Eliane Elias
EMI
R$ 28,90
www.bluenote.com


Um super-prefeito em ação

Premiada com diversos troféus Eisner Awards, Ex-Machina é uma série do roteirista de Lost Brian K. Vaughan, que mostra o dia-a-dia de Mitchell Hundred, prefeito de Nova Iorque. O que o difere dos políticos comuns é que ele é um ex-super-herói, anteriormente conhecido como Grande Máquina, cujo poder é controlar qualquer dispositivo eletrônico ou mecânico, apenas falando com ele. “Revólver, trave!“, ele dizia, e os bandidos ficavam desarmados. Após salvar a segunda torre do World Trade Center de ser atingida no 11 de setembro, Hundred entrou na política e abandonou o uniforme. A narrativa vai e volta no tempo, mostrando seus atos no passado e como estes se refletem no seu presente como mandatário da Grande Maçã. Neste arco, o super-prefeito se vê as voltas com um casamento gay, a imprensa marrom e uma onda de crimes bárbaros. Muita política e deslumbrantes desenhos de Tony Harris em uma das HQs mais inteligentes da atualidade.
Ex-Machina: Símbolo
Vaughan / Harris
Pixel Media
146 p. | R$ 17,90
www.pixelquadrinhos.com.br


Lenda obscura do universo roqueiro

Na ativa desde 1975, o Cheap Trick, grupo de Rockford, Illinois, tem seu Greatest Hits autorizado (compilado pelos próprios membros), lançado no Brasil. Boa deixa para entender a importância da banda, pouco conhecida por aqui. Respeitada tantos pelos grupos de hard rock de arena, quanto pelos indie rockers, o CT tem seu diferencial na forma exata com que conjuga a artesania do pop perfeito dos anos 60 com riffs furiosos de guitarra. Junte-se à isso o exotismo de suas figuras um tanto cômicas, e voilà: sai mais uma lenda obscura do rock. Destaque para a cover de Ain't That a Shame (de Fats Domino) e That 70‘s Song, baseada no clássico In The Street, do Big Star, gravada para a hilária sitcom That 70‘s Show.
Authorized Greatest Hits
Cheap Trick
Sony BMG
R$ 25
www.cheaptrick.com


Revista indie traz HQs nacionais


A Garagem Hermética é uma boa revista independente que reúne HQs, crônicas e artigos. Semestral, chega ao quarto número, apresentando sua primeira história em série, Quadrinistas. Escrita por Cadu Simões (Homem-Grilo) e desenhada por Kléber de Sousa (autor da bela capa), narra a história de dois fanzineiros que sonham se tornar quadrinistas profissionais. Claro, a saga dos rapazes não será nada fácil. Outros destaques são o artigo de Nobu Chinen sobre a Balão (revista dos anos 70 que revelou Laerte e Luiz Gê, entre outros), contos de Alice Jordão e Vince Vader e boas HQs de Fábio Cobiaco (ótima, espcialmente para fãs do Jesus and Mary Chain, Edu Mendes e Fábio Santos. Para adquirir, é só entrar em contato pelo blog da Sócios Ltda.
Garagem Hermética #4
Vários artistas
Sócios Ltda.
32 p. | R$ 4
www.sociosltda.blogspot.com


Cazuza garotão e esqueleto em DVD

Pra Sempre é um DVD que compila dois especiais de TV exibidos pela Globo nos anos 80 e mostram Cazuza em dois momentos bem diferentes. No primeiro, de 1986, ele aparece forte, corado e bem disposto em um episódio do programa Mixto Quente, que sempre apresentava shows de rock gravados em uma praia. Recém-saído do Barão Vermelho, Cazuza e sua banda esbanjam energia e arrasam geral em apenas três músicas: Exagerado, Medieval II e Por que a gente é assim?. Já o segundo é o deprimente Cazuza - Uma Prova de Amor, um show gravado em um teatro, para uma platéia de vips emocionados com sua luta contra a aids. Se é para lembrar de Cazuza, que seja na primeira versão.
Pra Sempre
Cazuza
Universal / Globo
R$ 32,90
www.universalmusic.com.br


Guizado que ora anda, ora desanda

Guizado é o nome do projeto que o trompetista Guilherme Mendonça toca com alguns músicos da cena alternativa, como Curumim, Maurício Takara (Hurtmold) e Ryan Batista e Régis Damasceno (ambos do Cidadão Instigado). A proposta é criar uma música urbana e atemporal, misturando elementos de jazz, rock, música eletrônica e hip hop. Como todo projeto ambicioso, é controverso. Se por um lado, ele realmente parece captar o espírito das grandes cidades em algumas faixas, em outras, o guisado meio que desanda, tornando-se uma grande gororoba sonora, sem melodia ou propósito. De qualquer forma, vale pela ousadia. E lançado na mídia SMD, ainda sai barato.
Punx
Guizado
Diginóis
R$ 5
www.myspace.com/guizado

quinta-feira, outubro 16, 2008

MUDHONEY ENLOUQUECE 1,5 MIL NO PELOURINHO

Fãs enlouquecidos abarrotaram a Praça Pedro Archanjo, no Pelourinho, na quarta-feira à noite, para presenciar o show da banda americana Mudhoney.

O grupo foi o encarregado de fechar com chave de ouro a quarta edição do festival Boombahia, que ocorreu durante o fim de semana passado, no Largo Teresa Batista. Participaram ainda as bandas Pessoas Invisíveis e Nancyta & Os Nunca Vistos, abrindo a noite.

Nancyta trouxe seu novo repertório acompanhada de uma banda pesadíssima e fez bonito, dentro do seu estilo nada convencional (NOTA: confesso que cheguei quase no fim do show de Nancyta, portanto, não posso falar muito).

A Pessoas Invisíveis chegou com o band leader Bruno Carvalho visivelmente nervoso e pilhado, vociferando palavrões, provocando a galera. Pena que logo na primeira música frustrou as expectativas, mandando uma doce balada. Ao longo do show, porém, Bruno & Cia foram se soltando, até terminarem de forma apoteótica, com um cover de Feel Good Hit of the Summer (QOTSA) que abriu uma bela roda de pogo na galera.

Os americanos subiram ao palco pontualmente às 20h30, para delírio de uma multidão que já estava desde cedo na Praça, em clima de grande expectativa. Rodas de pogo se abriram instantaneamente no meio do povo, que dançou o show inteiro, do início ao fim.

Com vinte anos de carreira, o grupo de Seattle (capital do estado de Washington, no noroeste americano) desfiou boa parte do seu repertório clássico, detonando versões matadoras de Touch Me I‘m Sick, Into The Drink, Hate The Police, When Tomorrow Hits e In 'N' Out of Grace, entre outros.

Outra faixa que animou a platéia foi seu mais recente sucesso, I‘m Now!, single do último álbum, The Lucky Ones, cuja turnê de lançamento trouxe a banda ao Brasil.

Considerada pioneira do grunge, estilo de rock sujo e pesado que estourou mundialmente nos anos 90 graças ao Nirvana, o Mudhoney fez em Salvador seu único show no Nordeste – e também o único de graça – deste giro de oito datas pelo Brasil.

Isso atraiu muita gente de outras cidades para o Pelourinho. Segundo a organização, que trocou os ingressos para o show por livros didáticos, veio gente desde Feira de Santana até Teresina, no Piauí, só para ver os americanos.

Quem também prestigiou o evento foi a diretora do Pelourinho Cultural (órgão da Fundação Cultural do Estado) Ivana Souto, a cantora Pitty e membros de sua banda (que fez show quinta-feira na Concha Acústica), além de boa parte da nata do rock local.

Depois do show, boa parte do público ainda rumou para o Groove Bar, onde a banda Coletivo Übber Glam animou a festa de despedida do festival. O baixista Guy Maddison e o baterista Dan Peters compareceram e elogiaram o público, “o mais interativo“ que eles encontraram no Brasil. Elogiaram ainda a organização do evento, o local do show e a cidade do Salvador.

"Eu diria que o festival está consolidado junto ao público", avaliou Messias Bandeira, organizador do Boombahia.

"E mesmo tendo sido antecipado para poder abarcar o Mudhoney entre suas atrações, (o festival) teve uma envergadura maior que a do ano passado. O público foi fantástico, não houve queixas de brigas nem nada do tipo. Somando o público que circulou nos espaços onde o festival se deu nos seus quatro dias (Icba, Largo Teresa Batista e Praça Pedro Archanjo), chegamos à mais ou menos oito mil pessoas", acrescentou.

Para 2009, Messias espera poder aplicar na prática a palavra "Bahia" no nome do festival, levando-o à pelo menos duas grandes cidades do interior. "Para isso, claro, precisamos captar recursos maiores para o ano que vem", observa.

MAIS:

Leia o descontraído bate-papo deste repórter com Mark Arm e Guy Maddison na véspera do show:
http://www.atarde.com.br/cultura/noticia.jsf?id=984828


E LOGO, LOGO, TEREMOS FOTOS DOS SHOWS...

segunda-feira, outubro 13, 2008

RESCALDO BOOMBAHIA 2008 - PARTE 1

Detonação
Parecia combinado: todas as bandas estavam na pilha de arrasar. Organização também foi show à parte

Sucesso total – pelo menos até agora – a edição 2008 do festival Boombahia.

Depois de uma animada abertura no pátio do Icba, na sexta-feira, com debates e shows de Matiz e Alex Pochat, o Largo Teresa Batista ficou lotado no sábado e domingo para as apresentações das bandas locais e de fora do estado.

No sábado, a Vivendo do Ócio confirmou a moral alta, sendo elogiada de forma unânime por todos que viram sua apresentação.

Os Culpados também mandaram bem e fizeram um show no talo, apesar de as composições ainda não entusiasmarem muito.

Já a Lúmpen deixou todos embasbacados com o peso e a energia do seu hardcore old school, sem firulas nem franjinhas.

Os Irmãos da Bailarina e a Lou demonstraram segurança no palco e vêm evoluindo a cada apresentação, mas ainda precisam arredondar mais o som e aparar arestas.

A Theatro de Seraphin fez mais um show intenso e febril, com o guitarrista César Vieira caprichando nos efeitos e dissonâncias.

A Sweet Fanny Adams trouxe de Recife seu som francamente strokiano e agradou aos adeptos com um show bastante correto.

Já a Retrofoguetes – vamos admitir – passou que nem um rolo compressor, varrendo uma platéia 100% enlouquecida. Lindo.

Ao circular pelo local, topava-se fácil com figuras importantes como Paulo André (Abril Pro Rock-PE), Anderson Foca (DoSol-RN) e Ivan Ferraro (Feira da Música-CE), todos felizes e assistindo aos shows atentamente.

“Adoro vir no festival dos outros, por que não preciso me preocupar com nada“, admitiu um simpático Paulo André.

“Quero levar os Retrofoguetes de novo. Acho também que a Lou evoluiu bastante. Pena que perdi a Vivendo do Ócio. Meu curador do APR, Bruno Nogueira, que tá ali filmando tudo, já tinha me falado deles. Eu acho legal a proposta de fazer um rock atual, como a Sweet Fanny Adams“, disse.

No domingo, a festa continuou em alta rotação, com Estrada Perdida, Yun-Fat, Curumin e Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta agradando geral.

A Subaquático surpreendeu, enquanto Berlinda, Starla e Declinium fizeram seu dever de casa direitinho.

Relatos também dão conta que o mesmo Paulo André também pirou a batatinha no show da Estrada Perdida, o que é meio caminho andado para Recife em 2009...

Taí um festival que cumpre a sua função.

O POVÃO QUER ROCK

É preciso que eventos gratuitos como o Boombahia, Palco do Rock e Arena 1 aconteçam cada vez com mais regularidade (e qualidade, claro), para que pessoas que normalmente não têm grana para pagar um ingresso na Boomerangue ou Groove Bar tenham acesso às formas realmente alternativas de cultura.

No Largo Teresa Batista, o que se viu foi uma verdadeira salada de públicos, com o chamado “núcleo do Rio Vermelho“ convivendo em total harmonia com a garotada dos bairros periféricos, que compareceu em massa ao Boombahia, algo que só evidencia a carência de opções de uma parcela grande da juventude.


Bastava ver a felicidade nos olhos de quem trazia seu livrinho da oitava série para trocar por um ingresso para o Mudhoney na quarta.

Tinha gente que saía gritando, agitando o ingresso no ar, como um troféu.

O organizador Messias Guimarães Bandeira, que está bancando o cachê dos gringos do próprio bolso, já tem garantido seu lugarzinho no céu só por isso.

Parabéns também à equipe que trabalhou nos bastidores e fez a troca da bandas funcionar sem atrasos. E claro, ao Pelourinho Cultural, pela força.

quinta-feira, outubro 09, 2008

EXPLOSÃO BOOM BAHIA

Segunda edição depois da retomada traz banda clássica da geração grunge e revelações de São Paulo e Pernambuco

Depois da promissora retomada no ano passado após um hiato de nove anos, o festival Boom Bahia chega à sua versão 2008 maior e melhor, trazendo para o Pelourinho, além de 23 atrações locais e nacionais, uma das bandas mais importantes do grunge: Mudhoney.

Surgida na capital do estado de Washington (costa oeste americana) em 1988, a banda foi influência fundamental para o Nirvana de Kurt Cobain. Seu estilo protopunk e garageiro descende diretamente do som de bandas como Stooges (de Iggy Pop), MC-5 e Hawkwind, entre outras.

“O Mudhoney é a banda que tem o tamanho e a representação que o Boom Bahia precisava – e podia receber“, observa Messias Guimarães Bandeira, idealizador e organizador do festival.

“É uma banda fundamental para uma cena alternativa importante, como foi o grunge. Ela casa muito com a idéia de independência que guia o festival, já que vem mantendo seu trabalho e sua integridade ao longo de 20 anos de carreira“, reflete.

“Nesse sentido, eu diria que sua vinda à Bahia ganha um caráter até mesmo pedagógico, pois se trata de um modelo de banda indie no qual as bandas daqui deveriam se mirar“, acrescenta.

Encontros – Na verdade, sua vinda precipitou a própria realização do festival. Previsto para dezembro, Messias diz que resolveu antecipá-lo para poder aproveitar sua passagem pelo Brasil.

“Talvez esta não seja a maior edição do Boom Bahia, já que a de 1998, a última antes de pararmos, reuniu um público bastante significativo. Mas, com certeza, é a melhor pela diversidade de atrações“, acredita.

Realizado graças ao apoio do Pelourinho Cultural (órgão da Fundação Cultural do Estado) e à recursos próprios, o Boom Bahia 2008 é um festival que não visa “apenas“ entreter o público oferecendo um punhado de shows, mas também ajudar a fortalecer e pensar as cenas alternativas baiana e brasileira.

Para isso, serão realizadas duas mesas-redondas na sexta-feira – abertura do festival – e uma conferência no domingo. A primeira mesa, intitulada Mídia e música, reunirá jornalistas culturais e será mediada pelo professor da Facom-Ufba Jéder Janotti Jr.

A segunda mesa-redonda será o Encontro Regional da Abrafin (Associação Brasileira dos Festivais Independentes), à qual o Boom Bahia é filiado. Reunirá nomes importantes da cena alternativa nacional, como Paulo André (Abril Pro Rock - PE), Anderson Foca (Festival DoSol - RN), Ivan Ferraro (Feira da Música - CE), Rogério Big Bross (BoomBahia) e Gilberto Monte (Diretor de Música da Funceb), com mediação do próprio Messias.

“Queremos reunir os produtores e músicos para discutir a movimentação dos próprios artistas nesses festivais promovidos pela Abrafin, além de fazer um balanço do que está sendo realizado Brasil afora, estabelecer estratégias e integrar calendários, entre outros assuntos“, adianta o organizador.

Mas é na conferência de domingo, apoiada pela Escola Brasileira de Psicanálise, Editora Boitempo e Aparelho Cultural, que Salvador receberá a segunda estrela internacional do evento: o sociólogo, filósofo e crítico cultural esloveno Slavoj Zizek, que proferirá a palestra “Violência e subjetividade“, além de lançar seu livro A visão em paralaxe.

A conferência do Zizek também marcará o lançamento da Digitália, “uma feira que vamos realizar em 2009“, adianta Messias, sem querer abrir maiores detalhes antes do tempo.

Seleção – Para fechar a grade do festival, Messias e sua equipe de dez auxiliares voluntários tiveram de empreender um sério trabalho de curadoria. “Recebemos muito material desde que o festival voltou no ano passado. Foi um trabalho grande, mas conseguimos fechar nessas 24 atrações“, conta.

“Os critérios foram a qualidade do som, o tempo de estrada e a perspectiva de crescimento no cenário“, enumera Messias. O resultado foi, de fato, bastante interessante e revela a diversidade e as diversas cores do rock baiano.

Do som no talo de bandas como Estrada Perdida, Yun-Fat e Lou, à pegada mais pop de Vivendo do Ócio, Berlinda e Starla, passando por medalhões locais como Retrofoguetes, Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta, a cena se desenha multicolorida e renovada.

ALGUNS DESTAQUES:

Sweet Fanny Adams
Influenciada pelo pós-punk, a banda de Recife deverá botar todo mundo para dançar com seu som que remete à bandas como Gang of Four, Strokes e Libertines. No início do ano, foram uma das revelações do Abril Pro Rock.



Curumin
Uma das atrações mais aguardadas do festival, o paulista Curumin faz parte da cena que está renovando a MPB. Seu CD Japan Pop Show ganhou elogios até da imprensa gringa e da atriz Natalie Portman.



Estrada perdida
Um dos tesouros escondidos da cena local, a Estrada Perdida junta o lirismo de Lou Reed e Nick Cave ao peso do Motorhead e MC-5. Já foram chamados de “os Stooges de Salvador“.



Vivendo do Ócio
Novata na cena, a Vivendo do Ócio é a grande revelação do rock local em 2008, conquistando todas as platéias onde se apresentam. Seu som remete à Arctic Monkeys e The Rakes.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA E MAIS INFORMAÇÕES NO SITE DO FESTIVAL:

www.boombahia.com.br

segunda-feira, outubro 06, 2008

SALVADOR GANHA SEU HERÓI

Flávio Luiz cria o mais soteropolitano dos heróis: Aú, um capoeirista do Pelourinho que é a cara do bom baiano: hospitaleiro, cheio de ginga e pronto para qualquer parada

A idéia é tão boa e tão simples, que é até estranho que ninguém tenha pensado nisso antes: um herói de histórias em quadrinhos tipicamente baiano, capoeirista. Este é Aú, o personagem criado pelo quadrinista e cartunista – baiano, claro – Flávio Luiz, que lança amanhã, em um evento na Aliança Francesa, o primeiro álbum de aventuras do personagem: Aú, o capoeirista.

Aventureiro, hospitaleiro, bondoso e cheio de ginga, Aú meio que sintetiza algumas das qualidades do “bom baiano“, além de trazer para as quatro cores todas as influências que guiam o seu criador. Fanático por quadrinhos, Flávio Luiz se inspirou, pelo menos na forma, nos heróis das bande desinèes (as HQs franco-belgas), como Tintin e Spirou.

“Para mim, o Aú existe em algum lugar por aí. Eu o criei como um adolescente baiano comum de 16 anos, que é negro e mora no Pelourinho. Como nas HQs européias, onde os personagens são mais reais e poderiam ser seus vizinhos“, conta o artista.

Dono de um traço limpo, dinâmico e cheio de movimento, Flávio sempre foi fã de HQs de aventuras leves, bem humoradas e de traços cartunescos, que podem ser lidas por pessoas de qualquer idade. E seu Aú é exatamente isso: uma aventura passada na Salvador atual (mais limpa, na verdade), com os momentos cômicos se alternando com movimentadas seqüências che- ias de ação e correria.

“confusioni“– Tudo começa quando o milionário Armando Confusioni ameaça dona Do Carmo, dona do sobrado no Pelourinho onde funciona a escola de capoeira onde Aú pratica, a vender o imóvel, que ele pretende usar como fachada para seus negócios escusos.

Do Carmo recusa as insistentes ofertas do ricaço, que não se conforma. Confusioni manda seus capangas incendiarem o sobrado, mas uma turista francesa, amiga do capoeirista, testemunha o ato e é seqüestrada pelos criminosos. Obviamente, isso é um trabalho para o super Aú.

Uma primorosa edição para começar bem

Apesar do preço um pouco elevado, é verdade, o álbum do Aú vale o quanto pesa. A edição, viabilizada graças a recursos captados pela Lei Rouanet, é primorosa: em capa dura, formatão europeu e papel cuchê de alta gramatura.

O capricho se completa com a pesquisa fotográfica que Flávio fez para retratar fiel e detalhadamente os vários pontos da Salvador atual onde a história se passa.

“Tive que fazer muita pesquisa fotográfica. Rodei a cidade toda“, conta Flávio. “Mas não esperem nenhum panfleto turístico, político nem nada disso. É apenas entretenimento, com uma pequena lição de moral“, avisa.

A Salvador idealizada que aparece na HQ reflete como o artista gostaria que a cidade fosse: “É Salvador hoje e ao mesmo tempo, é a Salvador que eu gostaria de ver, mais limpa, com mais opções, não só essa obsessão pelo Carnaval. A gente fala sempre ‘olha como somos bonitos‘ e tal, mas nós mesmos não cuidamos da cidade“, observa.

Além dos quadrinhos europeus, uma outra influência do artista para criar seu personagem são os super-heróis negros da década de 70. “Adorava as aventuras de heróis como Luke Cage - O Herói de Aluguel, da Marvel e o Raio Negro, da DC. São personagens icônicos, e como eles eram negros, sempre tinha um elemento mais real e urbano em suas histórias“, diz Flávio.

Cheio de planos, Flávio já delineia novas aventuras para Aú: “Se tudo der certo, vamos lançar um álbum por ano. No segundo, ele vai para o Litoral Norte, no terceiro, para Chapada Diamantina e assim por diante“. De olho no mercado europeu, Flávio e Aú estão apenas decolando. Que seja um vôo bem alto.

Aú, o capoeirista
Flávio Luiz
Papel A2
48 p. | R$ 48
www.auocapoeirista.com.br

Aú, o capoeirista | Lançamento do álbum: amanhã, às 19h30 | Exposição e venda de originais assinados e numerados e apresentação de roda de capoeira mirim com Mestre Balão Aliança Francesa (3336-7599) | Av. Sete de Setembro, 401, Ladeira da Barra | Entrada gratuita

Bate-papo com Flávio Luiz, Rezende (cartunista) e Lica de Souza (produtora cultural) | 11 de outubro, 10 horas | Livraria LDM (2101-8007) | Rua Direita da Piedade, 20 | Entrada gratuita

sexta-feira, outubro 03, 2008

CONSAGRAÇÃO EMO

No VMB 2008, NX Zero sai consagrado com os três prêmios principais, Bloc Party dá vexame e Marcelo Adnet faz seu o número

No que depender dos espectadores da MTV, a moda emo ainda deve demorar um pouco de passar. Considerada a mais popular banda do estilo, a banda paulista NX Zero confirmou o favoritismo e levou para casa os três principais prêmios do VMB 2008: Artista do Ano, Hit do Ano e Melhor Videoclipe (com a música Pela Última Vez, nas duas categorias).

Estranhamente, negaram o rótulo ao subir no palco para receber o último prêmio: “Emo é o caralho!“, vociferou Di Ferrero, vocalista. Antes disso, ele ainda teve que se desvencilhar da desconhecida vocalista do grupo Bonde do Rolê, que, mesmo recém-admitida na banda, não aceitou a derrota, gritando e dando chiliques em rede nacional.

Patacoadas à parte, a MTV realizou mais uma premiação que parecia oscilar o tempo todo entre caótica e divertida. Marcos Mion, o apresentador, chegou ao palco pendurado em balões de gás, no melhor estilo padre voador. Logo no início, Ben Harper e sua banda The Innocent Criminals mandaram bem, tocando uma música do repertório do cantor, que em seguida, recebeu Vanessa da Matta, para cantarem juntos o mega hit Boa Sorte / Good Luck.

A boa performance de Harper, sua banda e da Matta ressaltou ainda mais o vexame absoluto que foi a apresentação da hypada banda inglesa Bloc Party, que fez duas músicas no mais descarado dos playbacks.

Visivelmente desorientado, o vocalista Kele Okereke chegou a cair no fosso no meio de uma música, o que só evidenciou ainda mais a lambança. Resultado: saíram vaiados e ainda foram alvo de chacota de praticamente todo mundo que subiu no palco depois deles.

Quem fez bonito foi o comediante Marcelo Adnet, que, acompanhado do seu companheiro Kiabbo, fechava todos os blocos do programa imitando celebridades e comentando os premiados.

A baiana Pitty, que concorria a três prêmios, levou só um: Melhor Show.

Mais adiante, subiu no palco com os conterrâneos da Cascadura, para homenagearem a banda Úteros em Fúria, uma grande influência para ambos.

Em Web Hit do Ano, o vencedor foi a infame Dança do Quadrado. O anão que aparece no clipe da música, porém, foi na mosca em seu agradecimento: ”Nesta eleição, vamos votar conscientes. Senão, enquanto a gente dança no quadrado, eles botam no nosso redondo”! Na categoria Revelação, levou a banda Strike, um desagradável cruzamento do estilo emo do NX Zero com a marra do Charlie Brown Jr.

Na votação Banda das Sonhos, feita ali na hora e aberta apenas aos artistas na área VIP, os nomes de Pitty e Japinha (baterista do CPM 22) tiveram de ser limados, já que foram eleitos nos últimos quatro anos seguidos.

Resultado: Marcelo D2 (visivelmente enfadado e se fazendo de doidão) no vocal, Chimbinha da banda Calypso na guitarra e os Paralamas Bi e Barone no baixo e bateria. Como seria de se esperar, o resultado foi pífio, com D2 improvisando qualquer bobagem sobre uma base genérica executada pelos músicos.

Outro momento esperado foi a estréia da Nove Mil Anjos, que reúne Júnior (ex-Sandy & Júnior, bateria), Peu (ex-Pitty, guitarra), Champignon (ex-Charlie Brown Jr., baixo) e o desconhecido Perí (vocal). Três egos enormes disputando espaço e um novato nervoso querendo se firmar não poderia dar outra: uma zoeira quase incompreensível no palco. Uma estréia pouco promissora.

Até a apresentação conjunta do Fresno com os sertanejos Chitãozinho & Xororó parecia mais harmoniosa. Pudera: fora a distorção das guitarras, a música dos emos não é muito diferente da dos veteranos cantores.

quinta-feira, outubro 02, 2008

HOMENAGEM À ÚTEROS EM FÚRIA MARCA O VMB 2008

Cerimônia anual de premiação da MTV será transmitida hoje à noite, com poucas novidades

Hoje à noite, a MTV transmite ao vivo mais uma edição do Vídeo Music Brasil – o VMB –, sua cerimônia anual onde premia os clipes e artistas que atuam no mercado de música jovem.

Pobre em novidades, a grande atração do programa, ao menos para os baianos, deverá ser a apresentação conjunta de Pitty e Cascadura, homenageando a extinta banda local Úteros Em Fúria, influência declarada de ambos e sem dúvida, o grupo baiano mais importante da década passada.

Com apresentação de Marcos Mion e comentários do comediante Marcos Adnet, a transmissão começará às 21 horas, com as VJs Marina Person, Sophia Reis e Kika recebendo os artistas e convidados no tapete vermelho do Credicard Hall, em São Paulo.

Às 22 horas, a cerimônia propriamente dita terá início. Serão premiadas nove categorias: Artista do Ano, Melhor Artista Internacional, Banda/Artista Revelação, Aposta MTV, Hit do Ano, Show do Ano, Melhor Videoclipe, Webhit do Ano e Você Fez. Como sempre, a votação foi aberta aos espectadores, que puderam votar no site da MTV ou via SMS, Portal de Voz e Portal WAP.

A bem da verdade, a lista de indicados em quase todas as categorias é desanimadora, além de passar uma sensação de deja vú. No meio das lamentações emo que faz a maioria dos indicados e velhos conhecidos, como Charlie Brown Jr. e Vanessa da Matta, pouca coisa é novidade.

Apesar de sequer ter lançado disco este ano, Pitty concorre em três indicações: Artista, Clipe (o divertido De Você) e Show do Ano. Outros baianos concorrendo são o diretor Ricardo Spencer, pelo clipe Roda Gigante, da banda Cachorro Grande (em Melhor Clipe) e a hilariante A Gaga de Ilhéus, em Web Hit do Ano.

ROCK BAIANO – Mas em que pese suas três indicações, Pitty está feliz mesmo é pela homenagem que prestará à Úteros em Fúria, a banda que a inspirou a formar a sua própria. Ela e sua banda, em conjunto com os conterrâneos da Cascadura, tocarão a música Inside The Beer Bottle, do repertório da Úteros.
“É tão surreal tudo isso, acho que eu só vou acreditar depois que acontecer“, disse, em entrevista por telefone.

No início de setembro, as duas bandas participaram do programa Código, onde decidiram, ali na hora, tocar a tal música. O resultado agradou tanto, que a organização do evento pediu à dupla para repetir a dose no VMB.

“Eu fiquei surpresa quando o pessoal da MTV pediu para fazermos a música de novo. Eu sei que muitos que não conhecem a Úteros podem estranhar, mas pra gente, isso tem uma carga emocional tão grande, que vamos dar nosso melhor, e acho que vamos acabar convencendo todo mundo que aquilo era foda mesmo. E como era!“, disse.

“Estamos muito felizes e vamos arrebentar geral, fazer uma homenagem à altura“, prometeu o parceiro Fábio Cascadura. “É uma parada diferenciada. Não me lembro de algo parecido antes. É mais um sinal do valor do rock baiano“, observou.

Na verdade, não é a primeira vez que Pitty fala da Úteros em Fúria no VMB. Em 2005, quando recebeu o prêmio de Ídolo MTV, ela agradeceu ao grupo: “Já que a gente tá falando de ídolos, eu queria dedicar esse prêmio a uns caras de uma banda de Salvador que fizeram com que eu tivesse vontade de subir e cantar num palco pela primeira vez, é a galera da Úteros em Fúria: Maurão, Apú, Borel, Vandinho e Mário Jorge, isso é culpa de vocês também“, discursou, ali na hora.

VMB 2008 | Hoje, 21 horas | Canal 13 UHF

OS 15 ANOS DE UM CLÁSSICO DO UNDERGROUND

A homenagem de Pitty e Cascadura à Úteros em Fúria, em rede nacional e ao vivo, para o Brasil inteiro ver, é sintomático de uma das características básicas do renitente rock baiano: a independência.

Para eles – e também para quem freqüenta o meio – pouco importa que, hoje, poucos na própria Salvador se lembrem do bochicho que um show da Úteros causava na cidade, entre 1991 e 1995. Pouco importa que o Brasil ouvirá uma música obscura de uma banda igualmente obscura para 99,9% de sua população. O que importa é que, no seu tempo e lugar, a Úteros revolucionou, emocionou, influenciou e marcou época.

Como se o universo conspirasse, neste mesmo ano de 2008, fazem exatos 15 anos que a extinta banda lançou seu único álbum cheio: Wombs In Rage (1993, Natasha Records). Gravado nos Estúdios W.R. em pleno carnaval de 1993, o álbum, de fato, resultou aquém da capacidade da banda e do imenso peso, energia e suíngue que ela passava ao vivo.

Deixados praticamente à própria sorte no estúdio em pleno feriado carnavalesco, a inexperiência dos então jovens integrantes na sala de gravação acabou se fazendo sentir no som que não traduzia a potência de suas apresentações no palco.

A força de suas canções, porém, está conservada neste registro definitivo, que à época, saiu em LP e CD, hoje raridades.

A ironia é que a gravação só foi viabilizada graças à influência de um dos maiores nomes da axé music de então: a cantora Sarajane, que em 1992, casou com o guitarrista Apú e era muito amiga de Wesley Rangel, proprietário do estúdio.

Com dez faixas no LP e doze no CD, Wombs In Rage trazia para as caixas de som a mistura de hard rock, funk metal, grunge e blues que caracterizava as composições da banda, quase sempre a cargo do guitarrista Emerson Borel (morto em 2004) e do baixista Evandro Botti, que hoje atende pela alcunha de Vandex.

Debochados, diziam que faziam baby metal – um estilo inventado por eles mesmos.

Fundada ainda no ginásio do Colégio Antônio Vieira pelos colegas Evandro e Mauro Pithon (vocais) em 1986, a banda logo ganharia os reforços de Emerson (guitarra solo) e Fernando Apú Tude (guitarra base e gaita) em 1988. Em 1991, Mário Jorge (bateria) juntou-se ao grupo, fechando a formação clássica que lotou todas as casas em que tocaram.

Quem viu, nunca esqueceu.