Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
terça-feira, abril 09, 2013
DETONAÇÃO EUROPEIA: HEADHUNTER DC EMBARCA HOJE EM SUA PRIMEIRA TURNÊ PELO VELHO MUNDO
Não é de hoje, a Bahia exporta sua música para o Brasil e o mundo, quase sempre com boa recepção de público e crítica – especialmente na Europa, aonde parece haver um maior interesse na música brasileira.
A partir de amanhã, contudo, um tipo completamente diferente da música baiana que costuma frequentar os palcos europeus chegará do outro lado do Atlântico: é a banda Headhunter DC (foto , referência sul-americana do estilo death metal.
Fundada em 1987, a Headhunter DC, junto da qual comumente se lê adjetivos como “pioneira”, “fiel” e “brutal”, é uma das poucas bandas da sua geração que ainda não haviam pousado na Europa.
“É verdade. Até pelo tempo de estrada que temos, muita gente cobrava da gente esse giro na Europa”, admite o vocalista Sérgio Baloff Borges.
“Muitas bandas bem mais novas que a Headhunter já foram. E hoje em dia está bem mais fácil (chegar até a Europa). Se você tem dinheiro no bolso, você toca até na Lua”, afirma.
“Dinheiro só não compra história. Mas isso nós temos de sobra”, acrescenta.
A turnê, nomeada a partir do título do último CD da banda, In Unholy Mourning (Em Luto Profano), será uma pequena maratona, percorrendo pelo menos 15 cidades em 24 dias – veja quadro ao lado.
“Serão 24 dias. Na verdade, a lista oficial completa não saiu ainda. Devem ser de dezoito a vinte shows. As outras datas vão pintar pelo caminho”, diz Sérgio.
“Já estavamos devendo essa tour na há algum tempo. Ano passado, completamos 25 anos. Em maio, chegamos aos 26. O que acontece é que ainda estamos na campanha do último. Então, essa tour vai dentro das comemorações de 25 anos e da promoção do Unholy Mourning. A ideia era fazer (uma turnê) até maior, mas para uma primeira vez já está perfeito. Vai ser um bom reconhecimento de campo. Estamos muito animados ”, afirma, satisfeito.
"Foi uma trabalheira para conciliar a vida detodo mundo com essa viagem. Tivemos de conciliar com os trabalhos de todos os integrantes. Paulo (Lisboa, guitarra) mesmo, que é o fundador da banda, é professor de inglês em escolas do estado e do município. Mas conseguiu aí uma licença de um mês", conta.
Os shows serão em lugares de perfis diversos, indo desde pubs tradicionais, redutos da cena metálica na Europa e pelo menos um grande festival: "Começamos pela Alemanha, depois seguimos pela Holanda, Espanha, Áustria, França, Polônia, República Tcheca em duas cidades (Praga e Mlada Boleslav) e por aí vai. Mas o maior show vai ser em Portugal, no festival SWR Barroselas Metal Fest, que é o maior festival de metal extremo da Europa, com bandas grandes como Possessed, Onslaught e Pentagram. Devemos encarar ali um público de mais ou menos 10 mil pessoas. Mas devem pintar mais algumas datas pelo caminho", detalha Sérgio.
Metal baiano na Europa
A oportunidade de embarcar surgiu ainda no ano retrasado, por meio de um convite de parceria do tour manager paulista Daniel Duracell, sócio d a agência Roadmaster Booking, sediada na Alemanha.
Em todo o trajeto, a Headhunter DC excursionará em trio com mais duas bandas: a paulista Nervochaos e a croata War-Head, liderada pelo sócio de Daniel, Vladimir Suznjević.
Na verdade, a Headhunter não é a primeira banda do cenário metálico baiano a chegar à Europa.
Anteriormente, bandas como Malefector, Mystifier, Cobalto e Minus Blindness já rodaram pelo Velho Mundo.
Baloff acredita que isso só é possível por causa da união que sempre caracterizou o underground do heavy metal, desde os anos 1980.
“Desde o comecinho, antes mesmo do primeiro disco (Born, Suffer, Die, 1991), sempre participamos do circuito mundial através da troca de correspondência e fitas, o chamado tape trading”, conta.
“Isso espalhava nosso nome lá fora. Nos agradecimentos do primeiro disco já tem vários para diferentes contatos no exterior. Não tinha internet, download, nada disso. Gastava-se uma fortuna para mandar um LP lá pra fora”, lembra.
"Na época, o selo Cogumelo, que lançou o primeiro disco, também mandava muitas cópias lá para fora. E desde então sempre tivemos um feedback bom do exterior. Saíram muitas resenhas em publicações europeias, as músicas tocavam nos programas de rádio especializados em metal, coisa que hoje nem existe mais. Ninguém ficava com a bunda na frente do computador apertando tecla. Tinha que enviar o material pelo correio", relata.
"Mas ainda hoje, dentro do circuito da gente, que é o underground, temos muito colaboradores que não são reconhecidos, como fanzineiros, distribuidores etc. Não podemos dizer que não temos suporte. Temos, sim. Agora, não fazemos música para as massas. Nosso som é direcionado", admite.
"Se é foda? É foda mesmo! São 26 anos atuando sem suporte externo fora do próprio circuito. Mas é isso mesmo, vamos matando um leão a cada dia, conquistando nosso espaço com muita garra, suor e divertimento, claro! Senão não haveria razão de ser", reflete.
"Só temos orgulho de nossas raízes, cara. Somos a única banda de death metal dos anos 80 que nunca parou nem traiu as origens. Isso é muito, muito raro. Muita gente que começou na mesmoa época, como o Sepultura, mudou o som, ficou mais comercial e tal. Nós, não", reivindica.
"Nós viemos do underground e vamos nos manter nele mesmo. Temos muito orgulho disso. E mais: isso ajuda bastante no reconhecimento entre nossos pares, especialmente na Europa. Lá eles valorizam muito as bandas de metal extremo brasileiro, até pelas dificuldades. O negócio é seguinte: uma banda que se mantém há 25 anos na ativa sem mudar é verdadeira e deve ser levada a sério", afirma.
União metal e culto da morte
Hoje, através das redes sociais, a banda retomou contato com muitas das pessoas com quem trocavam cartas: “Os caras estão comemorando: ‘pô, finalmente vou ver vocês por aqui’ e tal”, conta.
“O legal do underground é isso, a união. Acho que o metal é o único estilo de música que é realmente unido. Por isso que eu digo que o death metal – e metal em geral – não é só música. Se fosse, já tinha morrido, como outros estilos”, acredita.
“É uma espécie de culto, mesmo. Os fãs são muito fiéis. Apesar do download e do MP3, o fã de metal faz questão de comprar o material físico para ter em sua coleção”, afirma Baloff.
Com 25 anos ininterruptos de estrada completados em 2012, a banda conta com cinco álbuns de estúdio, uma coletânea dupla de lados B, versões ao vivo e raridades, além de marcar presença em uma infinidade de coletâneas internacionais.
“Sempre participamos de coletâneas e tributos às bandas de que gostamos – até para manter a atividade nos longos hiatos entre um disco e outro”, diz.
Para quem se pergunta o que significa o “DC” depois do Headhunter, a resposta é “Death Cult”: Culto da Morte.
Antes que digam que os rapazes são satanistas do mal, é bom deixar o Baloff explicar: “O lance do culto da morte é o nossa forma de respeitar e contemplar o destino inexorável de todo mundo, que é a morte mesmo”, afirma o músico.
“Tem uma frase da banda suíça Hellhammer que adoramos e resume bem essa história: ‘Only death is real’. Só a morte é real. Acreditamos que morte é o fim, o descanso absoluto. Não há nada depois dela”, explica.
“Mas enquanto isso, estamos aqui é pra viver muito. Temos muita estrada pra percorrer”, conclui.
Obviamente, as letras da banda também passam por um tema bastante comum para o death metal, que é a rejeição às religiões instituídas, especialmente as cristãs - tema comum não apenas no death metal, mas para muitos intelectuais e literatos, diga-se de passagem.
"Abordamos muito o tema anti-religião. Na nossa visão, a religião é uma das grandes mazelas da humanidade. Ela aleija as pessoas, no sentido de que as proíbe de andar com os próprios pés. Somos livres de todo esse lixo. Nãoqueremos converter ninguém, só expressar nosso desprezo, mesmo. Mostrar que somos contra isso. Quem tem uma cabeça boa e ler as letras, poderá entender isso como uma coisa boa", reflete Sérgio.
Em agosto, já de volta, tocam em São Paulo, abrindo o show do Possessed, considerada a banda criadora do death metal e grande influência para o Headhunter.
A Headhunter DC é Sérgio Baloff Borges (vocal), Paulo Lisboa e George Lessa (guitarras), Zulbert Buery (baixo) e Daniel Brandão (bateria).
Ouça: www.headhunterdc.net
HEADHUNTER D.C. "...IN UNHOLY MOURNING FOR GOD... EUROPEAN TOUR 2013" - ITINERÁRIO CONFIRMADO:
April 11th, Thursday (BOOKED) Wermelskirchen, Germany @ AJZ Bahndamm
April 12th, Friday - (BOOKED) Kassel, Germany @ Hammerschmiede
April 13th, Saturday - (BOOKED) Warsaw, Poland @ Klub Fonobar
April 14th, Sunday - (BOOKED) Mlada Boleslav, Czech Republic @ Club Orthodox
April 15th, Monday - (BOOKED) Prag, Czech @ Exit-Us
April, 16th, Tuesday - Bielsko Biala (POL) @ Rude Boy
April 17th, Wednesday - (BOOKED) Amsterdam, Holland @ The Cave
April 18th, Thursday - (BOOKED) Leeuwarden, Holland @ Cafe Mukkes
April 19th, Friday - (BOOKED) Wiesloch, Germany @ Rock & Pop
April 22th, Monday - (BOOKED - Montaigu, France @ Zinor
April 24th, Wednesday - (BOOKED) - Oviedo, Spain @ TBA
April 25th, Thursday - (BOOKED) - Guadalajara, Spain @ Sala Bumerang
April 26th, Friday - (BOOKED) Portugal @ Barroselas Metal Fest
April 27th, Saturday - (BOOKED) Castellón, Spain @ Emetic Club
April 28th, Sunday - (BOOKED) Barcelona, Spain @ Eclèctic
April, 30th, Tuesday - Bologna (ITA) TBA
Mais informações, updates: www.roadmasterbooking.com
Assinar:
Postar comentários (Atom)
10 comentários:
Ai, maus sais! Capas variantes para (mais um) número 1 de Red Sonja - ela mesma, aquela bárbara ruiva über-hot que andou de lero-lero com Conan, milênios atrás....
http://www.bleedingcool.com/2013/04/08/red-sonja-1-covers-by-nicola-scott-colleen-doran-jenny-frison-stephanie-buscema-fiona-staples-and-amanda-conner/
Demais. Thatcher embarcou e os quadrinistas britânicos só faltaram soltar fogos em comemoração:
http://www.bleedingcool.com/2013/04/08/comics-industry-people-react-to-the-death-of-margaret-thatcher-mostly-british-ones-dont-expect-mourning/
A mensagem mais sensata me pareceu a de Andy Diggle:
"Thatcher may be dead but her legacy lives on. Welfare cuts for the poor, tax cuts for millionaires, NHS privatisation. Shameful".
Andy Diggle @andydiggle
Curiosamente, só um nome famoso dos quadrinhos, Bill Willingham (Fábulas), lamentou a morte da véia bruxa.
"RIP Margaret Thatcher. A great leader, and a delightful woman. Iron indeed."
@BillWillingham
Aqui, uma seleção de várias aparições da Iron Maiden herself nos quadrinhos e cartuns britânicos:
http://www.bleedingcool.com/2013/04/08/margaret-thatcher-1925-2013-a-life-in-comics/
Os músicos tb comemoram a partida da véia. Olha a carta aberta do Morrissey:
http://rollingstone.com.br/noticia/em-carta-aberta-morrissey-escreve-que-margaret-thatcher-nao-tinha-um-atomo-de-humanidade/
Até que enfim uma matéria digna pro Headhunter...só não sabia que eles não haviam feito uma tour pela Europa ainda, pensei que já haviam tocado...talvez em uma cidade só...
As bandas de metal da Bahia são um exemplo de dignidade e fidelidade a sua música, estilo de vida...posso arriscar, sem medo de errar, que elas são as maiores bandas de rock da Bahia, fizeram o que nenhuma outra fez ao londo dessas décadas.
E olha que o metal nem é o estilo de música que escuto tanto, mas não tirar o chapéu para os caras é fingir-se de cego, principalmente numa terra onde muitos que nem tem um olho direito sentem-se os reis...por favor, minha metáfora não foi tão politicamente correta, me perdoem...mas não tive outro jeito de fazê-la...
Orgulhoso dos meus amigos!
ps.: sobre a margarete, eu queria saber pq as pessoas ainda tentam glorificá-la...eu não sei de vidad dela política direito, mas não acredito em governantes...tentar endeusar uma pessoa que está no poder sempre me soa estranho...
Sobre meu comentário politicamente incorreto acima:
trago resquícios do Século XX (excluindo homofobia e racismo, entra algumas outras).
Ps.: Esse do Cowboy Henk sobre a margareti é d+:
http://sphotos-b.ak.fbcdn.net/hphotos-ak-ash3/149311_321811261269946_1915260471_n.jpg
Não sou fã da banda - só gosto de umas duas ou três músicas e olhe lá - mas o Yeah Yeah Yeahs botou pra fuder com esse aviso na porta do show:
http://www.spin.com/articles/yeah-yeah-yeahs-karen-o-sign-no-cameras-smart-device-live-shows?
"O Dia em que Margaret Thatcher Morrer..."
A estranhamente profética música de Pete Wylie, "The Day That Margaret Thatcher Dies", antecipa em alguns anos - a música parece ser de 2011 - a reação de metade do povo à morte de Margaret Thatcher: multidões celebraram a sua morte ostensivamente. No estádio de Liverpool a torcida cantou em "homenagem" à morte dela. Nas ruas da Inglaterra, Irlanda e Escócia pessoas dançaram, cantaram e beberam celebrando a morte da ex-Primeira-Ministra.
Em "homenagem" à Dama de Ferro, no dia da morte de Margaret Thatcher, a Canção da Bruxa do filme
O Mágico de Oz , "Ding Dong the Witch is Dead" alcançou o primeiro lugar nas paradas de Londres.
Linda música, bela letra. ("Colore-me com amor") A canção tem influências do Nirvana ("Teen Spirit") dos Stooges ("I Wanna Be Your Dog") Rolling Stones ("Get Off of My Cloud") e Dead-Eye Dick ("Everything About You").
Eta, canção alegre de comemoração! Nunca vi tantos ingleses tão emocionados e felizes.
Vamos cantar juntos, galera!
Pete Wylie
The Day That Margaret Thatcher Dies !
http://www.youtube.com/watch?v=7jiNGNFS45s
letra legendada em português
Postar um comentário