sexta-feira, julho 10, 2015

POPULARIDADE SEM CONCESSÕES QUE QUEBRA RECORDE NO CATARSE

Veterana do hardcore, banda capixaba Dead Fish é a atração principal de show que ainda terá as baianas Massa Sonora, Traje Civil, Semivelhos e Central Wallts

A rapaziada do Dead Fish. Foto Eduardo Orelha
Prestes a completar 25 anos de atividades ininterruptas no ano que vem, a banda capixaba de hardcore Dead Fish traz a Salvador o show de lançamento do novo álbum, Vitória.

A ocasião também terá shows das bandas baianas Massa Sonora, Traje Civil, Semivelhos e Central Wallts.

Conhecida pelo HC gritado, veloz e de letras politizadas (sem panfletarismo), o DF produziu o novo álbum via crowdfunding em uma campanha que evidenciou sua popularidade ao quebrar o recorde de arrecadação da plataforma (Catarse) e angariar o quádruplo da meta necessária.

Para uma banda brasileira que não faz concessões no som (nem nas ideias) e trafega basicamente no underground, foi um feito e tanto.

Pena que, como nota o vocalista Rodrigo Lima, eles parecem estar sozinhos na privilegiada posição: “Chegamos num patamar que acredito que estamos quase sozinhos, o que não é nada legal. Somos uma banda de tamanho médio/pequeno, mas que criou – ou soube entender o próprio nicho”.

“Particularmente, eu gostaria de ver mais bandas, mais rádios,  selos, casas de show,  editoras e  gente envolvida, tanto tecnicamente como no público em si”, afirma.



Onda de estupidez

Em todo caso, a experiência do financiamento coletivo e o resultado no CD o agradaram: “Gosto muito desse álbum, foi bastante emblemático pra nós. Não só o lance todo do crowdfunding mas de ter músicos novos e muito bons conosco. De o álbum ter sido feito no (estúdio) El Rocha com o (produtor) Fernando Sanches. É um álbum de um momento ímpar da banda – tanto pro bem quanto pro mal”, diz.

No CD, tome-lhe letras batendo em racistas, reacionários e golpistas de Facebook, refletindo bem o momento atual do Brasil: “Confesso que não esperava uma onda de estupidez tão grande, mas é só reflexo do que já vivemos até aqui. Fomos o último país a abolir a escravidão, nosso torturadores militares estão em casa recebendo aposentadoria enquanto os do Chile, Argentina e Uruguai estão presos”, afirma Rodrigo.

“Enfim as coisas só estão mais claras agora que todo mundo é muito corajoso nas redes sociais. Mesmo com tudo isso, sou otimista que essa onda passa, as pessoas tem discutido mais política em todos os lugares”, diz.

No show, o DF apresenta as pedradas do CD novo e também  preferidas dos fãs: “Basicamente o lançamento do álbum. Queremos mostrá-lo pro soteropolitanos, mas não podemos deixar de tocar alguns clássicos, senão o povo mata a gente”, brinca Rodrigo.

Dead Fish, Massa Sonora, Traje Civil, Semivelhos e Central Wallts / domingo, 15 horas / Coliseu do Forró (Patamares) / R$ 30 / Vendas: Ticketmix /  16 anos

ENTREVISTA Rodrigo Lima - Vocalista do Dead Fish

O crowdfunding foi uma uma experiência muito boa para vcs, correto? Chegamos à sonhada independência total de gravadoras, produtores, programadores? Ou ainda há muito terreno para ganhar mais a frente?

Rodrigo decola. Foto: Karen Lusvardi Fotógrafa — em Carioca Club.
Rodrigo Lima: Chegamos num patamar que acredito que estamos quase sozinhos, o que não é nada legal. Somos uma banda de tamanho médio/pequeno mas que criou ou soube entender o seu próprio nicho. Particularmente gostaria de ver mais bandas, mais rádios, mais selos, mais casas de show, mais editoras e mais gente envolvida tanto tecnicamente como no público em si. Acredito muito que algo possa acontecer pra melhor tanto pra banda quanto pro meio em que estamos encaixados, apesar de todos aqui onde estou terem cometido muitos erros, fomos e somos muito perseverantes e resistentes em nossas idéias, então, grosso modo, acredito que existe ainda um espaço razoável a ser ocupado ainda. Só que isso deve levar mais uma ou duas décadas, talvez o Dead Fish nem esteja mais aqui pra ver a coisa toda acontecendo. É um país de processos e mentes mais lentas do que gostaria de ter vivido.

Depois de cinco anos sem álbum de inéditas, como vocês avaliam o novo disco dentro da discografia do DF? Ele marca alguma coisa?

RL: Gosto muito desse álbum, foi bastante emblemático pra nós. Não só com o lance todo do Crowdffunding mas, de ter músicos novos e muito bons conosco. De o álbum ter sido feito no El Rocha com o Fernando Sanches, é um álbum de um momento ímpar da banda tanto pro bem quanto pro mal. Pra mim marcou demais este álbum. Tomara que pro público marque também.



Vitória / Vila Velha tem tradição em rock underground, HC e movimentação independente. Como está o cenário atual por lá?

RL: Estes dias estava pensando nisso. O cenário do ES, principalmente Vitória, Vila Velha e a região metropolitana já é bastante tradicional não só na música mas nas artes em geral. Somos meio diferentes, um pouco inseguros por sermos um ponto pequeno na Federação, bastante marrentos por justamente termos esta coisa de ilhéu, minoria mesmo mas, criamos algo, sim, definitivamente temos uma história do cassete pra contar. Eu sei das coisas do cenário do ES por amigos e pelas coisas que o Fábio Mozine posta nas redes, gosto de muitas coisas mas sei pouco do que rola no cotidiano por estar em SP. Sei que tem muita coisa rolando em Vila Velha, o Alex Vieira com a sua editora/loja, as bandas de punk/hardcore de lá sempre produzindo, sei de algumas pessoas que se destacaram e saíram de lá como o Marcel Dadalto que esta em Berlim, do Leo do Supercombo que vive aqui em SP, dos meninos da Quase que hoje vivem entre Rio e SP fazendo um zilhão de coisas, do Silva que faz uma parada bem diferente do que imaginava sendo do ES e tudo mais... Sempre teve muita coisa acontecendo ali e acredito que sempre vai ter, só não somos muito conhecidos.

Como será o show em Salvador? Músicas do Vitória, mais clássicos?

RL: Basicamente o lançamento do álbum. Queremos mostrá-lo pro soteropolitanos coisas novas mas, não podemos deixar de tocar alguns clássicos senão o povo mata a gente.

O Brasil passa por um levante conservador / neofascista / racista etc vergonhoso neste momento. O que vocês acham que está acontecendo? É um fenômeno novo? Ou parte da população sempre foi assim, mas não tinha canal (Facebook) nem coragem para se manifestar abertamente? E como vocês trabalham essa realidade em suas músicas?

RL: O Brasil sempre foi um país muito preconceituoso e nem é uma questão só de classe isso, é uma questão do rumo que tomamos historicamente, um assunto pra livros e mais livros. Confesso que não esperava uma onda de estupidez tão grande mas, é só reflexo do que já vivemos até aqui. Fomos o último país a abolir a escravidão, nosso torturadores militares estão em casa recebendo aposentadoria, enquanto os do Chile, Argentina e Uruguai estão presos. Enfim, as coisas só estão mais claras agora, que todo mundo é muito corajoso nas redes sociais. Mesmo com tudo isso, sou otimista que essa onda passa, as pessoas tem discutido mais política em todos os lugares. Posicionamentos toscos estão sendo muito contestados também, sou otimista que as coisas mudam pra melhor a médio prazo, mas não sem grandes rupturas. Não digo guerra civil nem nada, por que esta a gente já vive há uns quinhentos anos, mas rupturas de postura mesmo, uma polarização brutal que provavelmente tenderá para algo mais democrático e aberto. Já a curto prazo só vejo uma cagada brutal patrocinada tanto pelo executivo local e nacional, pelo congresso, pela mídia de massa e por que não dizer também pelo povo, né? O momento é de  marcar opinião, de deixar as coisas claras, de debate onde quer que seja. Esses dias fui obrigado a bater boca na fila do mercado e acho que será assim por um tempo, até que as coisas fiquem mais claras. Tomara que o senso republicano vença a curto/médio prazo e não este ganguismo neoteocrático agrofascista pósestúpido que estamos vendo. Eu escrevo o que vejo, leio e ouço, nada mais que isso. Esse álbum tem muito dessa nova realidade que vivemos.

Com quase 25 anos de banda, o DF é uma das bandas de HC mais importantes do Brasil, sem favor nenhum. Quando vocês começaram moleques lá atrás imaginaram que chegariam tão longe?

RL: Não mesmo. Ainda temos um caminho a trilhar, ainda sinto tesão em estar no palco e em abrir caminho nesse meio.

Entrevista: Thiago Andrade, baterista do Massa Sonora.

Pode me corrigir se eu estiver errado: apesar de ser uma banda de rock, o MS aparece pouco no cenário local, se limitando a abrir shows de atrações de fora. É uma estratégia deliberada? por que? Não vale a pena se apresentar nos inferninhos locais?

A banda Massa Sonora. Thiago é o de camisa branca. Foto: Edgar Chaves
Thiago Andrade: A questão não é se limitar a abrir shows para bandas de fora, acontece é que sempre quando essas bandas vem pra salvador recebemos o convite para fazer parte da grade. Temos uma boa relação com diversas produtoras a nível nacional, por um lado é um prazer dividir o palco com grandes artistas, mas também temos que ter cuidado justamente para não ficar com esse rótulo. Inferninhos já tocamos várias vezes e gostamos muito. É muito bom estar próximo da galera e ficar à vontade. O grande problema é que alguns lugares aqui em salvador não têm uma estrutura adequada para fazer um show 100%. Pois existe a carência de bons equipamentos, boas parcerias e uma estrutura básica para banda chegar  e ter seu espaço... Na maioria das vezes, tudo acontece no improviso, precisamos acabar com esse rótulo de que banda de rock toca em qualquer lugar e com material de baixa qualidade. Fazemos rock and roll e queremos mostrar o nosso melhor, mas pra isso precisamos ter no minimo uma estrutura básica para o show acontecer.

Aos seis anos de banda, qual a avaliação que vocês fazem do caminho precorrido até aqui? É possível formar público de rock em salvador?

TA: Nada foi muito fácil, ainda mais se tratando de rock na bahia. Quebramos muitos paradigmas e ainda tem muita coisa a se fazer. Tivemos uma grande oportunidade de tocar em um dos maiores festivais de música e surf aqui na bahia (Surf Eco Festival), com isso foi aberta uma porta muito grande pra banda, dando espaço para outros convites e até mesmo tocar novamente no festival. É possível sim, formar público aqui em salvador. Tudo bem que as maiores bandas de rock daqui da Bahia tiveram que fazer o caminho inverso, sair de Salvador, estourar no Sudeste e voltar com peso.. Acreditamos que a boa música tem um poder muito grande, então formar público aqui ou na Amazônia vai ter o mesmo peso pra nós. O que importa é nossa troca de energia e levar o nosso melhor.

Quais são os planos do MS daqui para frente?

TA: Atualmente estamos em estúdio preparando nosso EP, que está vindo com força total, lançamento previsto para agosto. Contaremos também com algumas participações de nível nacional. Vamos cumprir nossa agenda normal até o mês de agosto. Logo depois vamos fazer um pequena temporada aqui em Salvador e começaremos a nossa turnê Nordeste/Sudeste. Estamos ansiosos com algumas surpresas que estão por vir, grandes encontros com ícones da música brasileira e sempre fortalecer com nossos parceiros e amigos daqui de Salvador, como a galera das bandas Circo de Marvin, Scambo, Efeito Manada entre outras.

6 comentários:

Franchico disse...

Vertigo lives, babe!

http://omelete.uol.com.br/quadrinhos/noticia/vertigo-linha-adulta-da-dc-comics-vai-ganhar-12-novos-titulos/

Franchico disse...

RIP Omar Shariff

http://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/morre-aos-83-anos-o-ator-omar-sharif/

Adeus, Doutor Jivago. Ouvirei 30 segundos do Tema de Lara em sua homenagem. Mais eu não aguento....

Franchico disse...

Aí, ó: Luciano, Ronei e Robertinho fizeram um festival a partir do programa de rádio deles (o Radioca), aí Hagamenon fez o dele tb:

http://www.bahianoticias.com.br/cultura/noticia/21293-festival-sangue-novo-tera-shows-de-ceu-dao-marcia-castro-vivendo-do-ocio-e-filipe-catto.html

Franchico disse...

Matou, Umberto Eco! Eco!.. Eco!.. Eco!.. Eco!.. Eco!..

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2015/06/11/redes-sociais-deram-voz-a-legiao-de-imbecis-diz-umberto-eco.jhtm

Ernesto Ribeiro disse...

.


A imagem que vai ficar permanentemente em nossas retinas é a cena antológica, espetacular, brilhantemente cinematográfica, do imenso deserto da Arábia, com o tenente Lawrence interpretado por Peter O´Toole, perplexo diante do corpo do amigo morto com um tiro vindo de tão longe que nem se podia ver, olhando para o horizonte infinito, vendo no centro da tela do cinema um minúsculo ponto preto crescendo e se aproximando, montado num camelo e portando um arcabuz --- até ele ocupar todo o espaço e se revelar como o grande Omar Shariff.

Ernesto Ribeiro disse...

.

O grande barato é que ele foi um ator até o fim e desde o início: seu verdadeiro nome não era Omar Sharif, e ele nem era islâmico : na verdade, era um cristão libanês chamado Michel Demitri Shalhoub , e só mudou para o nome artístico e se declarou "maometano" para poder casar com uma linda moça egípcia.



Adeus, harit. Você foi um dos pilares da força de Lawrence da Arábia. Jamais o esqueceremos.



"Eu sou o único ator no mundo que não tem um centro em sua vida.
Eu morei em hotéis em toda a minha vida e sempre comi em restaurantes.
Tive uma vida feliz, não há por que chorar."



Omar Sharif


Lawrence da Arábia



https://www.youtube.com/watch?annotation_id=annotation_356752&feature=iv&list=PLPL-RKcGbQ01zVFML7RVM2d1HNKPg4mxIX3&src_vid=aARaYjgm_rA&v=ud1zpHW3ito


https://www.youtube.com/watch?v=z7TnY94x_mI


https://www.youtube.com/watch?v=aARaYjgm_rA