Se JRR Tolkien (O Senhor dos Aneis) correspondesse aos Beatles da literatura de fantasia épica, seu conterrâneo Michael Moorcock certamente representaria os Rolling Stones.
E no primeiro volume de sua saga Elric de Melniboné estão evidenciados todos os porquês desta comparação.
Lançado há pouco no Brasil em bela edição de capa dura, Elric de Melniboné Livro 1: A Traição do Imperador é a porta de entrada mais comumente utilizada por leitores do mundo todo para adentrar os universos delirantes de Moorcock, hoje um senhor de 75 anos, que ajudou a virar a literatura de fantasia e ficção científica de cabeça pra baixo entre os anos 1950 e 60, quando editou a revista inglesa New Worlds.
Foi sob sua batuta que, sintonizada no nascente movimento da contracultura, floresceu a chamada New Wave da FC, formada por escritores como JG Ballard (Crash), Roger Zelazny e Samuel R. Delany.
Anti-Tolkien declarado, o inglês escreveu já em 1978 um ensaio arrasador contra o Senhor dos Aneis, obra que comparou ao Ursinho Puff de A. A. Milne. (Leia aqui Epic Pooh na íntegra).
“O Senhor dos Anéis é uma confirmação perniciosa dos valores de uma classe média moralmente falida”, declarou, em 2011, ao The Guardian.
Mas é mais por sua vasta obra que Moorcock é, há algumas décadas, um dos autores mais cultuados do mundo.
Anarquista pragmático autodeclarado, seus protagonistas – denominados coletivamente de Campeões Eternos – são seres atormentados e de moral ambígua, mas sempre em busca de libertação.
“Meus livros frequentemente lidam com heróis aristocráticos, deuses e assim por diante. Todos eles terminam com uma nota que afirma enfaticamente que não se deve servir nem a deuses nem a mestres – mas tornar-se o próprio mestre”, afirmou o autor à pesquisadora Margaret Killjoy no livro Mythmakers & Lawbreakers (AK Press, 2009).
Moorcock é influência declarada para todo mundo que veio depois, de Alan Moore, Neil Gaiman e Grant Morrison, a Game of Thrones e True Detective.
Herói imperfeito
Elric, seu personagem mais famoso, exemplifica com perfeição sua declaração. Imperador de Imrryr, a Cidade dos Sonhos, Elric é o príncipe guerreiro albino de longos cabelos brancos e olhos vermelhos, versado em magia negra, dado a crises de melancolia, viciado em drogas e apaixonado pela prima, Cymoril.
Em suma: um perfeito astro do rock.
(Não a toa, Moorcock, além de ser cultuado por muitas bandas e astros do rock que escreveram letras e álbuns baseados em suas obras, colaborou pessoalmente com as bandas Blue Öyster Cult e Hawkwind, escrevendo letras. Veteran of Psychic Wars, do BÖC, é a mais conhecida delas, constando inclusive da trilha sonora da clássica animação Heavy Metal: Universo em Fantasia, de 1981).
Veteran of 1000 psychic wars por queenhunter
Já o povo de Melniboné, hedonista, imperialista e orgulhoso, dizem, descende não de macacos, mas de dragões.
Neste primeiro volume – de seis – Elric sofre um golpe de estado do seu próprio primo, Yrkoon, que ainda aproveita para desposar a própria irmã, Cymoril.
Em sua luta para recuperar trono e pretendente, Elric invoca deuses, demônios e elementais, navega em embarcações mágicas, invade nações distantes, empunha espadas sugadoras de almas e penetra em outros mundos.
Tudo isso em menos de 200 páginas de uma narrativa trepidante e rica em suas descrições: “E quando o elmo se iluminou com a pouca luz (...), uma sombra branca revelou feições finas e belas... um nariz reto, os lábios curvados, olhos oblíquos. O rosto do Imperador Elric de Melniboné fitava a escuridão do labirinto enquanto ouvia os primeiros sons da aproximação dos invasores pelo mar”, escreve Moorcock.
Curiosamente, Elric nunca foi adaptado para o cinema. Todos os projetos para transpô-lo para a tela acabaram naufragando por uma ou outra razão.
Mas diversas HQs com o personagem já foram publicadas, inclusive no Brasil. Quem estava vivo e lia quadrinhos nos anos 1980 deve lembrar de sua aventura com Conan, publicada pela Marvel nos anos 1970, com roteiro de Roy Thomas e desenhos espetaculares de Barry Windsor-Smith.
Também foram publicadas por aqui uma graphic novel, A Cidade dos Sonhos (Ed. Globo, 1990) e uma minissérie em quatro edições, Navegante nos Mares do Destino (Ed. Abril, 1991).
Nos anos 1980 e 90 diversas outras HQs do personagem foram publicadas por outras editoras nos Estados Unidos.
Pontinha de um iceberg literário gigantesco, este primeiro volume de Elric é, espera-se, apenas o primeiro dos muitos livros de Moorcock que ainda precisam ser publicados no Brasil, como o premiado Mother London, as aventuras do agente secreto Jerry Cornelius e a série do Multiverso, entre outros.
Elric de Melniboné Livro 1: A traição do Imperador / Michael Moorcock / Generale/ 182 p. / R$ 41,90 / www.editoraevora.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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6 comentários:
Amigo tucano e amigo petista se reencontram depois de um ano.
https://br.noticias.yahoo.com/blogs/matheus-pichonelli/amigo-tucano-amigo-petista-185951443.html
Dou um pelo outro e não quero troco....
A "família conservadora" mostra sua cara:
http://www.bahianoticias.com.br/noticia/175694-reality-de-familia-conservadora-e-encerrado-apos-escandalo-sexual.html
A Bahia-iá-iá é linda, meu rei, só tem gente boa e cordial!
http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1697811-homem-e-assassinado-apos-discussao-em-pizzaria-na-ribeira?direcionado=true
Brasil, país onde as pessoas são processadas por ter opinião:
http://atarde.uol.com.br/chamegente/noticias/1697658-familia-de-cristiano-araujo-vai-processar-zeca-camargo
De democracia, estamos rapidamente descambando para uma idiocracia.
A batata do Darth Vader do Planalto foi pra assadeira:
http://www.brasilpost.com.br/2015/07/18/futuro-cunha-camara_n_7821528.html?utm_hp_ref=brazil
O cara é tão pernicioso que ele mesmo vai cavar a própria cova.
ih!
tiraram do ar...ah mozz danado!!
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