HQ: Sucesso europeu, versão da origem de Peter Pan para adultos é suja, sangrenta e sensual
Clássico infanto-juvenil e uma das melhores alegorias de todos os tempos sobre o fim da infância, Peter Pan já foi objeto de adaptações, releituras e revisões inúmeras vezes.
Mais uma, na forma de uma afiada HQ para adultos, acaba de chegar às livrarias.
Assinada pelo francês Regis Loisel (ou só Loisel), a HQ mostra um Peter bem diferente daquele arquivado na memória coletiva pelo filme animado de Walt Disney (1953).
Ao invés do sorridente e confiante jovem de colante verde, Loisel desenha o personagem de JM Barrie (1860-1937), como um maltrapilho menor abandonado da Londres vitoriana, vulnerável aos maus-tratos da mãe alcóolatra e de vagabundos de rua.
É justamente após uma noite especialmente miserável, quando Peter sofre abuso sexual nas mãos de um pinguço repugnante, que a fantasia rompe a realidade sombria vivida pelo garoto na forma de uma sensual fadinha de asas tilintantes – que o leva, voando, até uma ilha habitada por índios, sereias e diversas criaturas mitológicas.
Apesar da abordagem mais adulta do que a usual para obra, a versão de Loisel está em sintonia com releituras mais ou menos recentes, como a apresentada pelo casal Alan Moore e Melinda Gebbie na obra-prima pan-sexual Lost Girls – ou mesmo na versão rocker do espanhol Max, Peter Pank.
Um prólogo para Peter
Sucesso estrondoso na Europa, o Peter Pan de Loisel foi certificado pela editora original (Glénat) com um Album d’Or (Álbum de Ouro), pelo milhão de exemplares vendidos só no mercado francófono.
Originalmente dividida em seis volumes, no Brasil, a editora Nemo optou por lançar a obra em três, com dois volumes do original em cada álbum.
Como de costume, a edição é primorosa: formato grande (24 X 32 cm), capa dura, papel cuchê e a tradução cuidadosa de Fernando Scheibe.
Neste primeiro volume, a narrativa ainda tem um gosto de prólogo (ou prequel, como se diz hoje em dia) à aventura popularmente conhecida.
O garoto herói ainda não é chamado de “Peter Pan”. Pan, na verdade, é o sátiro, personagem mitológico que toca flauta, tem pés de cabra e que, aqui, atua como uma espécie de guia para Peter na ilha .
Da mesma forma, o cruel Capitão, cujo navio cheio de piratas está sempre às costas da ilha, ainda tem duas mãos, daí ainda não ser chamado de “Gancho”.
Também não há sinal da garota Wendy Darling e seus irmãos, bem como dos Garotos Perdidos.
Fica a expectativa para ver como Loisel vai contar essas histórias que, nas versões mais conhecidas da fábula de Barrie, já nos chegam prontas, acontecidas no tempo da história.
O Pássaro do Tempo
Nascido em 1951 e considerado um dos principais autores de bande desinée de fantasia, Loisel alcançou o sucesso na Europa ao desenhar a série La Quete de l'Oiseau du Temps (A Busca do Pássaro do Tempo).
Escrita por Serge Le Tendre, a HQ meio que se tornou um padrão de quadrinho fantástico europeu.
Em 1990, iniciou seu trabalho solo com esta versão de Peter Pan, com imenso sucesso.
Não por acaso, já trabalhou também nos estúdios Disney, na produção dos longa-metragens Atlantis - O Reino Perdido (Atlantis: The Lost Empire, 2001) e Mulan (idem, 1998).
No fim da década de 1990, escreveu, com Le Tendre, uma série derivada do Pássaro do Tempo, L'Ami Javin (O Amigo Javin), mas, desta vez, deixou os desenhos a cargo do artista Dominique Lidwine.
Peter Pan / Régis Loisel / Trad.: Fernando Scheibe / 112 páginas / Formato: 24 x 32 cm / R$ 69 / www.editoranemo.com.br
BOOKTRAILER DA EDIÇÃO FRANCESA:
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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2 comentários:
A editora Nemo surpreendeu esse ano, Peter Pan de Loisel e Os companheiros do crepúsculo (fica a dica de leitura, Chico) são dois gibis que nem no meu mais otimista devaneio imaginei serem lançados por aqui, ainda mais com a qualidade gráfica do pessoal da Nemo. Ando até com esperanças de comprarem da Panini os direitos de Blacksad e lançarem completo por aqui
Companheiros eu tb vou ler com certeza, Victor. E bem lembrado: Blacksad bate um bolão. Alguém deveria assumir essa HQ extraordinária por aqui!
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