terça-feira, março 13, 2012

OS DIÁRIOS DO PAPA: L&PM SOLTA NOVA EDIÇÃO ENCAIXOTADA E BIOGRAFIA

Se Humphrey Bogart gostava de alardear que estava sempre três doses de uísque a frente do resto da humanidade, o pop artista Andy Warhol, cuja morte completou um quarto de século no último dia 22,  partilhava de dilema parecido.

Mas no seu caso, parece que o adiantamento em relação aos meros mortais se media não em mililitros, mas em anos-luz.

Não precisa nem recorrer ao clichê de sua frase mais profética e famosa (“No futuro, todos terão direito a 15 minutos de fama”): no You Tube mesmo há um vídeo de Andy Warhol em que ele aparece, em 1985, pintando a cantora Debbie Harry (Blondie) em um programa do computador Amiga, então muito em voga.



O vídeo simboliza bem o espírito do genial papa da pop art: em 1985, nos primórdios da computação gráfica, muito antes da Internet ou mesmo da febre do design gráfico via Photoshop / Corel Draw, lá estava Drella (apelido íntimo que juntava Drácula com Cinderella e resumia sua personalidade) em pessoa, fazendo arte pelo computador.

Para marcar a data no Brasil, a editora gaúcha L&PM recoloca no mercado seus famosos Diários, agora em versão pocket em dois volumes (que podem ser adquiridos juntos em uma caixinha) – além de  uma  biografia inédita: Andy Warhol (240 pgs., R$ 18), da Doutora em Filosofia Mériam Korichi.

Publicados pela mesma L&PM em 1989, os Diários de Andy Warhol constituem um registro inestimável e trazem a público a visão do agitadíssimo dia a dia de um artista único e original, em mais de 1,1  mil páginas que respiram  a  Nova York pré-11 de setembro – e em vários níveis.

Desde a rua, aonde encontrava os artistas que colocava sob sua asa, como Keith Haring e Jean Michel Basquiat, até as boates e coberturas mais chiques, aonde convivia e fofocava com o jet set internacional em peso: astros do rock, realeza europeia, personalidades da TV, cinema e teatro, jornalistas, escritores, supermodelos, milionários e malucos em geral.

Editados pela sua secretária particular, Pat Hackett, ela conta na introdução que esses diários não eram exatamente escritos por Andy, mas metodicamente ditados à ela mesma, todo santo dia, pessoalmente ou por telefone, estivesse ele aonde estivesse.

Estão lá suas viagens, relações comerciais, o dia a dia da redação da badalada revista Interview (fundada em 1969 por Warhol), nights em boates, teatros, festas e restaurantes, caminhadas pela cidade e inúmeras outras ocasiões.


Claro, em quase todas as páginas há trechos impagáveis, coisas só poderiam acontecer com alguém como ele mesmo, narrados no seu estilo fleugmático inconfundível. Um exemplo, de 1º de dezembro de 1976: “Comentamos como (o fotógrafo Richard) Avedon é horrível, ela (China Machado, modelo) disse que ele tira o que quer de uma pessoa e depois joga fora. Eu concordei e daí todo mundo gritou comigo, dizendo que eu faço a mesma coisa”.

Aproprie-se de imagens

Natural de Pittsburgh, filho de imigrantes eslovacos, Andrew Warhola (nascido em 6 de agosto de 1928), se mandou para Nova York ainda em 1949, aonde atravessou a década seguinte trabalhando como ilustrador de anúncios.

Em 1964 iniciou o movimento  pop art, apropriando-se de imagens comerciais como latas de sopa e caixas de sabão em pó para questionar o que é e o que não é considerado “arte”.

O arquiteto e artista visual baiano Almandrade acredita que sua abordagem permanece atual como nunca: “Nós últimos 25 anos o mundo mudou muito, mas todo trabalho artístico que tem um investimento conceitual, como o de Andy Warhol continua produzindo questionamentos atuais”.

“O momento em que ele surge foi de transição, da modernidade para a contemporaneidade, a era da reprodução mecânica de mídias. Diante de tantas imagens, o artista não precisa criar mais uma imagem:  ele se apropria de uma. Então ele nos ajuda a compreender esse momento em que a imagem passa a ter mais importancia do que o real. A lata de sopa Campbell's deixa de ser a lata de sopa e passa a ser imagem. O mundo deixa de ser real e pasa a ser imagem, por que o real não interessa mais. Ele antecipou isso: é o mundo da imagem. Ela é mais forte do que o real. As imagens de Warhol são congeladas no tempo”, observa.

Diários de Andy Warhol / Andy Warhol, editado por Pat Hackett / L&PM / 624 p. (vol. 1),  544 p. (vol. 2) / R$ 29 (cada), R$ 58 (caixa)

Andy Warhol / Mériam Korichi / L&PM / 240p. / R$ 18 / http://lpm.com.br

21 comentários:

Franchico disse...

Amanhã eu posto aquele textinho do show de Moz no Rio....

glauberovsky disse...

chicón, mandei email procê, meu velho. :-)
GLAUBER

Franchico disse...

Cebolaitos, essa eu escolhi a dedo só para bulir com vossa senhoria! ;-)

Peter Greenaway: "Pobre Scorsese, ainda fazendo filmes italianos dos anos 1950 sobre a obsessão italiana pelo mal inerente aos homens. Não estamos mais interessados nisso".

Aqui:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1060319-peter-greenaway-ataca-obsessao-por-filmes-bobos-e-desdenha-do-3d.shtml

Franchico disse...

Recebido (lá ele) e respondido, Glauberovsky!

Rodrigo Sputter disse...

tinha até comentado contigo sobre esse livro...fiquei curioso...eu fiz um teste aqui e digitei ANDY somente no google e adivinha quem foi o 1o a aparecer?
900 segundos de fama pra quem adivinhar...

"Eu não sei como está a situação no Brasil, mas aqui na Europa não há mais proletariado, somos todos burgueses."

achei que eles estivessem em crise...

"você fica trancado em uma sala escura como um animal prestes a ser abatido, observando um retângulo de luz e olhando para a mesma direção por duas horas. É uma atividade limitada."

não sei como um cineasta pode falar um absurdo desses...e o pré e o pós exibição não conta? sair do cinema pensando no filme?
soa ressentimento isso...

o filme novo de Scorcease num é um táxi drive, nem touro indomável, bons companheiros ou who´s knocking at your door...mas é um filme legal...homenagem aos filmes mudos...entendo o Peter até, mas ele deve falar por sí, não pelo mundo...pq enquanto alguns estão desistimulados com a arte (como eu por exemplo de certa forma) outras pessoas estão extasiadas...eu particularmente (como disse acima, falo por mim) não gosto das pessoas que ficam somente recebendo o que algumas mídias impoem...não fazem uma pesquisa maior nas suas escolhas...mas também cada um faz o que quiser da vida...mas quanto + eu pesquiso na arte eu vejo que existem centenas de coisas que eu não conheço e me sinto um "lixo"...por essas e outras quando faço meus discursos "revoltados" aqui eu fico me policiando pra não parecer "ressentimento" de um homem desiludido-heheheh.

Rodrigo Sputter disse...

mas fiquei interessado sobre esse novo filme dele sobre o Einsenstein.

Rodrigo Sputter disse...

"Who's That Knocking at My Door", o filme do scorcease que falei...errei o nome...

Franchico disse...

Sputter, essa eurocrise ainda vai ter que maltratar muito a Europa para eles retornarem aos níveis de miséria e exploração do século 19 pré e / ou pós revolução industrial. Daqui do meu parco conhecimento e vivência, digo que ele tem razão nesse sentido. Na Europa, peão é sinônimo de estrangeiro - seja africano, sul-americano etc. Europeu mesmo, nascido por lá, num fica na miséria, não. Os governos não deixam. Na Suécia, Dinamarca e demais países nórdicos, principalmente, se vc não quiser trabalhar, tuuuudo bem! O governo te sustenta com uma pensão por quanto tempo vc quiser. Quem mandou a gente nascer no cu de mundo?

Rodrigo Sputter disse...

Fala Moska, ops, Glauber-hehehehe
~;op-
tou ouvindo seu último trampo...gostei...o comecinho da intro lá é vc citando os Billies ou os Billies pegaram essa referência? nos riffs...acho que é invasion...
"Ac-Cent-Tchu-Ate the Positive", ficou massa...gosto dela desde que vi LA CIDADE PROIBIDA...
a 1a faixa foi o trampo seu que eu + gostei dos que ouvi ultimamente...os outos tavam bem parecidos e na mesma minha (A linha melódica), pro meu gosto pelo menos...gosto da linha caipiria sua...tenho uma vontade de fazer um blues com uma viola caipira, daquelas de repentista...
fico com "inveja" de vc rapá...eu num sei tocar porra niuma...gostaria de saber...ia lançar a torta e a direita...gosta da sua atitude de estar produzindo sempre...faz bem pra cabeça bicho...tô precisando disso...produzir...tenho vários amigos que tocam vários instrumentos, os miseravis bem que podiam ter deixado unzinho pra mim, pra eu saber tocar-heehehe

cebola disse...

Ahã, mr Piti! Acho que ele sabe bem em que estamos interessados e, principalmente, no que ele está interessado. Polêmica é sempre bom pra um lançamento, né? Pior que eu até devo ir ver o filme dele.

Franchico disse...

Moore & Gibbons de relações cortadas.

http://www.universohq.com/quadrinhos/2012/n14032012_04.cfm

Franchico disse...

Taí um projeto que eu torço para dar certo:

http://omelete.uol.com.br/cinema/mandrake-ganhara-nova-versao-no-cinema-no-estilo-sherlock-holmes/

Outro dia li alguém dizer (não lembro agora quem) que personagens como Mandrake e Fantasma pertençem ao passado e lá devem permanecer.

Discordo! Não existem personagens ruins. Existem escritores ruins. Espero que dê certo e resgatem o Fantasma também!

rodrigo sputter disse...

sim, claro meu caro Chico...mas duvido que a mão de obra barata lá seja 100% estrangeira, sempre tem uns vagabas como eu que às vezes tem que se contentar com o que aparece...apesar desse (ainda - ufa), não ser o meu caso, tá dando pra segurar um pouco mais...e outra, certamente viver de seguro lá deve ser uma vergonha pra quem recebe, ainda + com esses facistóides neo que rondam (sempre) a europa...
é que pra mim quando vc fala TOD@S pra mim tem que ser 100% e 100% por cento nesse mundo pra mim é 100%, entende?
hehehehe

e vc falou bem...século 19 (e outros patrícios bem antes) explorou (extorquiu) que foi uma "blz"...mas o homem ressentido é diferente do revoltado, já diria Cammus...espero tá na 2a categoria, luto muito pro ressentimento não ficar acima do pensamento crítico...

creio que quando damos uma entrevista devia sempre deixar claro que esse é o SEU pensamento e não um pensamento universal...ainda + sobre o futuro, q sempr irá existir, mesmo sem a "nossa" espécie...apesar do conceito "futurista" ser coisa nossa...o mundo segue nem aí pra isso...o universo...

nunca entendi esse conceito que as pessoas usam de ultrapassado pra arte (no caso da hq de mandrake), se vc olhar tudo que é moderno, vai achar uns equivalentes uns bons séculos antes...eu diria em algumas coisas até milênios...aliás o concetio de moderno na filosofia vem lá de Descartes, que é do século XVII...eta modernidade "véia" retada...na religião então...a velhice impera...e os velhacos + ainda...aliás "religioso" é aplicado a tanta coisa, na política e nas artes então, tão cheio de carolas e beatos bem conservadores...eu mesmo estou tentando quebrar meu crucifixo disso, com fé em Deus eu consigo!

~;op

Franchico disse...

Porra de Dylan! Porra de McCartney! Porra de Neil Young! Eu vou é no show do Marillion, caralho!

http://guia.folha.com.br/shows/1061398-marillion-confirma-dois-shows-no-brasil-em-outubro.shtml

YEAH!

;-)

Franchico disse...

Mais um filme para não se perder...

http://omelete.uol.com.br/muppets/cinema/happytime-murders-policial-noir-com-bonecos-divulga-imagem/

Franchico disse...

Stones: tour dos 50 anos adiada para 2013:

http://omelete.uol.com.br/musica/rolling-stones-adiam-turne-de-50-anos-para-2013/

Franchico disse...

E Bill Wyman pode estar voltando, que legal!

Franchico disse...

E esta outra, Cebola? Viu?

http://omelete.uol.com.br/cinema/torre-negra-adaptacao-ao-cinema-vai-ganhar-uma-nova-chance-agora-na-warner/

glauberovsky disse...

valeu, sputter. em abril tem mais. ;-)
G.

cebola disse...

Vi sim, man. Podem adiar, podem fazer o que for, se for pra ser bem feito. Prefiro que saia lá pra 2020, que seja, desde que não estraguem a coisa (sim, com trocadilho). É uma obra que, em mãos pesadas ou cabeças rasas, pode degringolar numa maçaroca medíocre. É preciso que não confundam mr King com essa avalanche de fantasias pseudo góticas que pululam por aí. Tenho medo. E não da forma certa, em se tratando da Torre Negra.

cebola disse...

E sobre Stones, digo quase o mesmo. Se for melhor adiar, a gente espera. Ainda mais com papo de Bill Wyman e Mick Taylor nessa tour rolando por aí.