...que a conversa é de adulto. O que acontece quando uma lenda viva do jazz de Nova Orleans (e sua puta big band) é colocado na mesma sala que uma lenda viva do blues? Resposta óbvia: mágica. Este é o encontro de Wynton Marsalis com Eric Clapton: uma reunião de músicos exercitando, em arranjos riquíssimos, clássicos do repertório sulista, como Ice Cream (arrasador), Forty-Four e The Last Time. Outra lenda viva, Taj Mahal, surge e arrepia em Corrine, Corrina e Just a Closer Walk With Thee (tema dos animados cortejos fúnebres de Nova Orleans). Nem precisava ter incuído o cavalo de batalha claptoniano Layla. Mas já que incluíram... valeu, tá? Show é o caramba – isso aqui é uma aula, meu senhor. Wynton Marsalis & Eric Clapton Play the Blues – Live from Jazz at Lincoln Center / Warner / R$ 49,90 (DVD+CD)
Rock ortodoxo e genético
Lançado em outubro de 2011, quase ninguém deu bola para este segundo CD do Beto Lee – maldade, pois é um belo disco de rock ‘n’ roll no estilo clássico que celebrizou sua genitora (Rita) em tempos áureos. Ortodoxo, atira em diversas vertentes do gênero, acertando quase sempre, como na faixa-título, rockão que lembra Made in Brazil ou Barão Vermelho dos bons tempos. O disco segue em alta com Tente Acreditar em Mim, Eu Quero Desapego e Encrenca (mais devagar, com bom arranjo vocal). Mama Lee ganha tributo sincero com a regravação de Corista de Rock (faixa de 1976). Beto Lee / Celebração & Sacrifício / Som Livre / R$ 19,90
One hit wonder da hora
Alguém aí lembra de uma banda chamada EMF? Não, né? Garotos, estouraram mundialmente em 1991, com o hit Unbelievable – agora lembraram, né? Claro, nunca mais fizeram sucesso na vida. A banda norte-americana Foster The People é como um EMF: o one hit wonder da hora. No ano passado, o trio de Los Angeles emplacou geral o sucesso de verão (no hemisfério norte), Pumped Up Kicks, cançãozinha ordinária de arranjo raquítico com letra enviesada sobre pedofilia. No disco cheio, demonstram quão imaturos ainda são. Além de Pumped Up Kicks (OK para a pista), pouca coisa se salva. Call It What You Want soa até melhor que o hit. E só, né? (E outra coisa: sou do tempo que o "The" ficava antes do nome da banda, e não no meio, como essa aí e aquela outra, Cage The Elephant - que pelo jeito, entraram na fila duas vezes quando estavam distribuindo nomes ruins para bandas de rock). Foster The People Torches / Star Time - Sony / R$ 26,90
Indie MPB que não chateia
Bem elogiado pela crítica, Fábio Goes teve este disco, seu segundo, incluído em diversas listas de Melhores de 2011. De tom intimista, o som passeia entre o indie e a MPB com dignidade e evitando clichês – o que já é muita coisa. Talento promissor. Fábio Goes / O destino vestido de noiva / Vendas: www.fabiogoes.com
Jack & A Tchurma Beat
O fascínio de Kerouac e sua tchurma beatnik sobre mentes jovens e influenciáveis parece mesmo imorredouro. Aqui, o quadrinista paulista João Pinheiro presta homenagem sincera e até mesmo tocante, mas que peca na idealização excessiva do ídolo. Mas há bons momentos, como o frenético trecho da viagem de carro. Kerouac, / João Pinheiro / Devir/ 112 p./ R$ 25/ www.devir.com.br
Prosa rica como a Amazônia, de um mestre do Norte
Publicado em 1886, este livro é a única obra de ficção do jornalista paraense José Veríssimo (1857-1916). Inclui o antológico O Crime do Tapuio, considerado um exemplo perfeito do Naturalismo brasileiro, graças ao antagonismo sociedade versus natureza. Cenas da vida amazônica / José Veríssimo / WMF Martins Fontes/ 328 p./ R$ 48/ www.martinsfontespaulista.com.br
Sexo, tédio, drogas etc
Ícone da literatura pop dos anos 1980, Abaixo de Zero marcou época ao retratar o vazio de uma geração de jovens norte-americanos bem nascidos, afundados em tédio, drogas, sexo e rock ‘n’ roll. Em 1988, foi adaptado ao cinema, com um jovem Robert Downey Jr. no papel principal. Agora, chega em bem vinda edição pocket. Abaixo de Zero / Bret Easton Ellis / L&PM / 176 p. / R$ 15 / www.lpm.com.br
O corno e o Ricardão
Escrito em apenas três meses de 1869, durante uma fase de vacas magras, este Dostoiévski mostra o surreal encontro entre um marido traído e o suposto “Ricardão”. As consequências deixam os personagens à beira da loucura (e do crime). Considerado um dos trabalhos mais refinados do gênio russo, é um texto encharcado de ironia. O Eterno Marido / Fiódor Dostoiévski / L&PM / 176 p. / R$ 14 / lpm.com.br
Da vida - inclusive sexual - dos anões
“Verticalmente prejudicado”, como dizem os politicamente corretos, o humorista carioca Gigante Leo escreve com leveza sobre a vida dos anões: suas dificuldades, vantagens, presença na cultura pop, mitos, curiosidades (incluindo sexo) e até uma seção só de piadas de anão. O Grande Livro dos Anões / Gigante Leo / Matrix / 104 p. / R$ 19,90 / www.matrixeditora.com.br
Salada pop que agrada
Terceira parte da série de HQs A Torre Negra, baseada na obra de Stephen King, Traição mostra o jovem pistoleiro Roland Deschain às voltas com as visões aterrorizantes de uma tal Toranja de Merlin, espécie de bola de cristal psicodélica. FC, faroeste, terror e fantasia numa senhora salada com a arte elegante e exuberante de Jae Lee (Inumanos). A Torre Negra HQ - Vol. 3: Traição / P. David, R. Furth, J. Lee, R. Isanove / Suma de Letras / 152 p. / R$ 59,90 / www.objetiva.com.br
Clássico espremido
Boa (e detalhada) adaptação em quadrinhos da epopeia ao redor do planeta protagonizada por Phileas Fogg e seu ajudante Jean Passepartout. Indicado para jovens e estudantes, só tem um porém: o formato menor que o original, que “espreme” desenhos e textos, prática recorrente da editora. Ainda assim, é um bom início para a coleção de clássicos em HQ. A Volta ao Mundo em 80 Dias / Julio Verne, Chrys Millen (adaptação) / L&PM / 60 p. / R$ 25 / lpm.com.br
Duelo de gigantes: Borges versus Dante
Escritos nos anos 1930, os brilhantes ensaios dantescos do brujo argentino vem se somar à inesgotável fortuna crítica d’A Divina Comédia. A edição ainda traz um ensaio sobre Shakespeare e três contos – os últimos redigidos antes de sua morte, em 1986. Nove Ensaios Dantescos & A Memória de Shakespeare / Jorge Luis Borges / Companhia das Letras / 104 p. / R$ 29,50 / www.companhiadasletras.com.br
Musa almodovariana
Adorada por Almodovar, que incluiu duas de suas canções em A Pele Que Habito, a cantora espanhola Concha Buika chega ao Brasil com esta coletânea que compila faixas de seus quatro álbuns. De entonação dramática, sua bela voz é emoldurada em arranjos de elegância cubana (alguém falou Buena Vista Social Club?), em cha cha chas, rumbas, tangos e cumbias. Adorável. Buika / En Mi Piel / Warner / R$ 31,90
Veteranos sem talento
O 311 é uma daquelas bandas norte-americanas branquelas que misturam rock com funk, punk, metal e rap – e acabam não fazendo nenhum desses estilos de forma minimamente satisfatória. Com vinte anos de carreira, nem a produção do experiente Bob Rock dá jeito nesses caras. A sonoridade não é ruim, há até bons timbres de guitarra, mas as músicas entram por um ouvido e saem direto pelo outro... 311 / Universal Pulse / Deckdisc / R$ 21,90
Hollywood city cops
A capital da indústria do cinema conta com uma elite única de policiais: a Divisão de Relações Comunitárias. Quando um de seus oficiais, o aspirante a ator (claro) Nate Weiss se envolve com a femme fatale (claro de novo) Margot Aziz, um intrincado golpe se desenrola e abala toda Hollywood. Os Corvos de Holywood/ Joseph Wambaugh / Record / 416 p. / R$ 52,90 / www.record.com.br
Mangás de bolso
A série Pocket da L&PM estreia no concorrido mercado de mangás com Solanin, obra cultuada e premiada no Japão, aonde já foi até adaptada para o cinema. No gênero drama, conta a história de Meiko, jovem auxiliar de escritório que decide largar o emprego e perseguir o sonho de se tornar estrela da música pop. Já saíram dois volumes. Solanin (Vols. 1 e 2) / Inio Asano / L&PM/ 216 e 224 p. / R$ 15 e R$ 16 / lpm.com.br
Samba com sabedoria
De 1969, o LP Meu Samba, Minha Vida foi um dos últimos registros do sambista carioca Cyro Monteiro (1913-1973), agora de volta às lojas em CD. Muito popular entre as décadas de 1930 e 40, Cyro foi um dos cantores preferidos de Vinícius de Moraes – muito provavelmente pela pureza do seu samba e pelas letras a primeira vista ingênuas, mas carregadas de sabedoria popular, como Tristezas Não Pagam Dívidas, de Ismael Silva: “Pois ninguém deve chorar / Só por causa de amor / E nem se lastimar/ Por causa disso eu não vou me derrotar”. Belo registro. Cyro Monteiro / Meu Samba, Minha Vida / Copacabana - EMI / R$ 17,90
Os anos 1990 voltaram?
Quem deu a melhor definição para este disco de retorno da banda noventista Bush foi o crítico Mikael Wood, da revista gringa Spin: “viva la grunge manifesto”. Marola final do tsunami que se levantou de Seattle e engolfou o planeta, o Bush fazia mais sucesso com as meninas do que com os marmanjos, graças ao vocalista galã Gavin Rossdale, mas tinha um ou dois hits legais. Neste retorno, faz sua profissão de fé como banda de pós-grunge em faixas de certo apelo, como All My Life e She’s A Stallion. Mas o CD como um todo soa... extemporâneo. Para dizer o mínimo. Bush / The Sea of Memories / Zuma Rock Records - Lab 344 / R$ 37,90
Parece, mas não é Restart
É difícil levar a sério a banda Never Shout Never quando se vê as fotos do seu idealizador, que começou como projeto solo: Christofer Drew parece um clone / sósia do cantor do Restart. Com o disquinho no aparelho, porém, é possível perceber que o rapazinho tem mais ambições na vida do que ganhar dinheiro fácil e fazer jovenzinhas histéricas arrancarem os cabelos. Em diversas faixas, a banda exibe uma bem-vinda influência do Queen, com intrincados arranjos vocais e timbres de guitarra chupados de Brian May. Precisa comer muito feijão ainda, mas começou direitinho. Never Shout Never / Time Travel / Reprise - Warner / R$ 27,90
Lehane rules
Um dos melhores nomes da ficção policial contemporânea, Dennis Lehane aborda aqui uma intrincada trama envolvendo tráfico de bebês, produção de metanfetamina, pedofilia, identidades falsas e o roubo de uma relíquia. Na função, o detetive Patrick Kenzie, o mesmo do livro Medo da Verdade. Estrada Escura / Dennis Lehane / Companhia das Letras / 336 p. / R$ 37 / companhiadasletras.com.br
1984 made in China
Banido da China, este elogiado romance tem sido comparado a 1984 de George Orwell, graças ao clima sombrio de vigilância do estado sobre o cidadão. Ambientado no futuro próximo, mostra o escritor Lao Chen e sua namorada, Xi, tentando descobrir o que aconteceu durante 28 dias que sumiram do calendário, em meio a euforia generalizada da China superpotência. Os anos de fartura - China 2013 / Chan Koonchung / L&PM / 280 p. / R$ 44 / lpm.com.br
10 comentários:
Community vai voltar, laiá, laiá, láia-lá-lá!
http://omelete.uol.com.br/community/series-e-tv/community-videos-imagens-terceira-temporada/
Rapeize, agoro só vorto aqui sebunda-feira. Não me desejem mal e... juízo!
ô rapaz...fico 1 dia sem ler seu blog e re-aparecem novidades...valeu pela surpresa...foi pq salvador tá chuvosa e mozz vem tocar por aqui?
hehehemas é difícil eu escrever no mue blog...é + fácil ver um jogo do Bahia nas libertadores-heeheh.
meu velho camadara André Mendes (que tá sempre por aqui...no blog), falou pra mim "bicho OUÇA esse disco do Clapton", ele sabe de minha fama de rabugento, mas insistiu...como ele é um amigo desde 1994 e era vocalista/guitarrista da 1a banda de rock baiana que fui (sou) fan...a master brain...fui lá e ouvi...até achei legal...me surpreendeu...boas timbragens, arranjos legais...mas ouvi rapidametne lá na cultura...
mas como sou chato, ainda fico com o pré-conceito Crumbiano...e prefiro as gravações pré-war..mas é coisa de gente pré-conceituosa...
Porra Mozz, fica vestindo a camisa contra NME e o Duo Real (deixa os pombinhos viverem em paz, já deve ser um saco ser daquela famíla), "vc" vem me "cobrar" 480 contos num show???
porra é essa bixo?
nem o Clapton foi isso, na verdade nem sei quanto foi, mas porra, pelo menos Clapton é mainstream, pop e por aí vai, com todo respeito ao coroa, q nem sou fan, mas aí é foda...
ainda bem q o vi em 2000...o show foi até morno, mas naquela época fez sentido pra mim...e ele ainda tinha uma veia rocker...veio com Gary Day no Baixo (lenda da cena psychobilly inglesa), com o Alain whyte na guita (pra mim tão bom quanto o Marr como parceiro de Mozz) e o Boz na outra guita (esse anda continua com o Morrissey, gosto dele, mas é meio bonachão), ou é pau mandado do Mozz, ou é MUITO amigo, Paciente com ele...ou então quer matar a gran dele mesmo e num tá nem aí, quer + é tocar e se divertir...vou estar esperando sua resenha do show chico.
e + 1 vez obrigado pela linkada (ui).
vai que a moda pega por aqui...
Iraque: 14 jovens são mortos a pedradas por serem "emo"
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5658107-EI308,00-Iraque+jovens+sao+mortos+a+pedradas+por+serem+emo.html
É pra isso que serve religião... ódio e violência em nome do Senhor - seja lá que Senhor seja esse.... Deus me livre da religião. Qualquer religião.
RIP Moebius....
http://www.universohq.com/quadrinhos/2012/n12032012_09.cfm
http://www.tcj.com/jean-moebius-giraud-1938-2012/
http://omelete.uol.com.br/quadrinhos/morre-moebius-um-dos-maiores-nomes-do-quadrinho-mundial/
http://www.bleedingcool.com/2012/03/10/moebius-aka-jean-girard-aka-gir-has-passed-away/
http://www.bleedingcool.com/2012/03/11/will-moebius-do-right-by-moebius-memory/
http://en.wikipedia.org/wiki/Jean_Giraud
Livro-fetiche imediato: Everyone Loves You When You’re Dead: Journeys
into Fame and Madness (2011),de Neil Strauss, da Rolling Stone.
Leiam uma resenha e alguns trechos fodões aqui:
http://www.punknews.org/review/10243
Doonesbury, do cartunista Gary Trudeau, a tirinha política mais ácida dos jornais americanos, foi brincar com aborto e parece que começou a ser boicotada pelos jornais ianques...
http://www.bleedingcool.com/2012/03/11/that-doonesbury-cartoon/
e aqui:
http://www.bleedingcool.com/2012/03/12/doonesbury-status-from-the-new-york-printing-presses/
“How long have you been a slut?”
Disco solo de Lee Ranaldo em streaming na Rolling Stone, enfaticamente recomendado pelo meu brother Bruno Aziz...
http://www.rollingstone.com/music/news/exclusive-stream-sonic-youths-lee-ranaldo-makes-his-solo-debut-20120312
quando eu vi q Moebius morreu pensei em vc...tá todo mundo que admiramos indo...quero saber se vão aparecer outros talentos para continuar...
é foda nos eua...vc pode até meter charuto na estagiária...mas abortar é um escândalo...
e sobre o show do Mozz, o que me dizes?
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