terça-feira, junho 09, 2015

FIGURA DA CENA UNDERGROUND DE SSA E SP, TARCÍSIO BUENAS LANÇA SEU PRIMEIRO LIVRO

Ainda não foi desta vez que os leitores do Caderno 2+ se livraram da Coletânea. Após as férias do colunista, eis aqui de volta o único espaço da imprensa impressa  local (na internet há vários outros, claro) exclusivamente dedicado a cena musical independente e alternativa.

(Obviamente o parágrafo acima só faz sentido publicado no jornal impresso, aonde a coluna Coletânea sai toda terça-feira. Reproduzo-o aqui por mera preguiça - ou vaidade, vai saber).

Devoto de São Bukowski, Buenas bebe e escreve.  Ou escreve e bebe? Foto:Lucas Mayor
E voltamos não com uma banda ou músico, mas com uma dica de leitura: o livro  18 de Maio, Quanto Tens Por Dizer..., de Tarcísio Buenas.

Trata-se do primeiro livro do livreiro, blogueiro e DJ cruz-almense Tarcísio Buenas Nascimento Santana, 43 anos,  em São Paulo desde 2011.

Quem frequenta o underground local talvez o conheça: Tarcísio foi vendedor em lojas de discos (pergunte pro seu pai) importantes, como Na Mosca, São Rock (ambas de Tony Reverendo T Lopes) e Flashpoint.

Estava sempre nos shows da cena (especialmente da brincando de deus) e ainda atuou como DJ Buenas.

Livraria no bar do Cemitério

Neste seu primeiro livro, Buenas reúne os melhores textos publicados em seus dois blogs: On The Rocks e La Verga del Buenas.

No primeiro, ele fala da vida difícil em SP e daquilo que o alimenta: música, cinema, literatura, a cidade. Já o segundo reúne sua produção de poemas e contos eróticos.

Em ambos, demonstra extrema delicadeza e humanidade em uma prosa pausada, sem rodeios nem metáforas.

“São os textos que mais gosto. Os mais relevantes. De como eu trato a vida. Eles mostram minha relação com a música, literatura, cinema, bares, amigos e mulheres. Presente e passado”, conta, por email.

O luxo fica por conta do prefácio, assinado pelo cultuado escritor / dramaturgo / ativista Mário Bortolotto, seu amigo.

“Quando conheci o Mário, ficamos amigos na hora. Em 2013, ele me convidou pra trabalhar no bar do seu teatro, o Cemitério de Automóveis. Foi lá que montei minha livraria, Buenas Bookstore”, relata.

“O engraçado é que eu não indico meu livro pra ninguém. Nunca indiquei”, ri.

“O que ele traz de próprio? Relatos sobre minha vida. A única coisa própria que a gente tem é nossa vida. Mas costumo comentar com  amigos que ele foi escrito com o coração na ponta dos dedos”, conclui o boêmio.

18 de Maio, Quanto Tens Por Dizer... / Tarcísio Buenas / Buenas Books / 116 p. / R$ 25 / Vendas: buenasrocks@gmail.com / www.buenasrocks.blogspot.com

BÔNUS: ENTREVISTA COMPLETA COM TARCÍSIO BUENAS

Você é baiano de Cruz das Almas mas mora em São Paulo. Conte como foi essa trajetória: quando veio a SSa, o que fazia aqui, quando foi a SP, o que faz aí?

TB: Minha família se mudou pra Salvador quando meu pai faleceu. Eu tinha dois anos e meu irmão nove meses. Minha mãe, junto com meus avós e minhas tias, foram morar em um casarão na rua Direita de Santo Antônio, bairro do centro histórico. Foi lá que passei minha infância. Já minha adolescência foi em Cruz das Almas. Minha mãe se casou de novo retornando em seguida pra lá. Só que uma vez em Cruz, moramos, meu irmão e eu, com nossos avós paternos que também haviam retornado pra minha cidade natal. O segundo casamento de minha mãe foi conturbado. Então nossos avós acharam melhor que a gente vivesse com eles. Foi em Cruz que minha base musical e literária foi estabelecida. Em 1992, retornei pra Salvador, sozinho, porque minha mãe já estava lá (o casamento dela não deu certo). Uma vez em Salvador, concluí meus estudos no colégio Ypiranga, que fica no 2 de Julho, próximo da extinta loja de discos Kaya. Eu passava lá praticamente todos os dias quando saía da aula. Comprei muitos discos na Kaya. No livro tem um texto falando das minhas visitas à loja. Meu primeiro emprego foi como vendedor de iogurte no subúrbio. Minha filha nasceu em abril de 1993 e eu tinha que sustentá-la. Então eu acordava todos os dias às cinco da matina (detesto acordar cedo). Mas tinha que acordar por causa dela. Eu me sentia na obrigação de alimentá-la. Dar educação. Essas coisas que pais responsáveis fazem. Só que este emprego não deu certo, como muitos outros, e eu caí fora da empresa. Resolvi voltar ao teatro - eu havia iniciado meus estudos nas artes cênicas ainda em Cruz. Fiz um monte de coisas pra sustentar minha filha. Vendi discos por conta própria, pizza (entre outras coisas) enquanto fazia teatro - que durou uns cinco anos. Então eu caí fora (do teatro) e fui trabalhar em um órgão do governo, época em que meu filho veio ao mundo. Trabalhei por três anos como funcionário público. Foi só em 2002 que eu comecei o trampo mais prazeroso que foi como vendedor de discos nas lojas São Rock Discos e Flashpoint, no total de seis anos. Foi trabalhando na Flashpoint que eu tive a ideia de ir pra Londres. Meu casamento tava acabando e eu não tava suportando morar em Salvador. Durante o período como vendedor de discos, também discotecava na noite. Foi aí que surgiu o DJ Buenas. Foram várias discotecagens em bares e boates. Acontece que minha viagem pra Londres não vingou. É que não me deixaram entrar lá - fiquei detido por dezessete horas no aeroporto. Retornando pro Brasil, tive mais um trampo em outro órgão do governo. Foi relâmpago! Logo me mudei pra São Paulo. Aqui conheci o Mário Bortolotto. A gente já se falava por blogs e pelo facebook. Quando eu conheci o Mário, ficamos amigos na hora. Isto foi em 2011. Em 2013 ele me convidou pra trabalhar no bar do teatro Cemitério de Automóveis, ao qual ele é sócio com mais quatro amigos. Foi lá que montei a minha livraria, a Buenas Bookstore, sob o consentimento dele e de seus sócios. Eu vendo livros novos de algumas editoras e livros lidos também. Às vezes, 'ataco' como o DJ Buenas.

Seu background no underground de SSa: que shows frequentava, aonde ia, qual a sua ligação com esse cenário?

TB: Frequentava shows de rock, lojas de discos, livrarias, cinemas e bares. Adoro a brincando de deus. Já perdi a conta dos shows que assisti deles. Também assisti muitos shows da Brinde, Saci Tric, Theatro de Séraphin, Honkers, Cascadura, Dead Billies e Coyotes, entre outras. Sempre me senti confortavelmente bem no underground. Adorava bares como Calypso, por exemplo. Sinceramente, esqueci agora o nome dos outros. Tinha um próximo do Calypso que vivia mudando de nome... Bem, esqueci. Um dos meus bares preferido da cidade é O Líder, que fica no 2 de Julho. Não sei como tá agora. Me lembro de bebedeiras homéricas lá com meus amigos e minha ex-mulher. De sair torto do bar, sabe? - rs. Costumava andar pelos Barris - morei lá alguns anos. Adorava o boteco do Espanha. Acho que os Barris e o Rio Vermelho são ainda os bairros que mais gosto de Salvador. Minha ligação com esse cenário começou efetivamente quando comecei a trampar na São Rocks Discos. Foi lá que mantive contato direto com a turma do rock e, posteriormente, com poetas e escritores. Eu vivia nos shows dessas bandas que citei acima. Fiz grandes amizades e me relacionei com mulheres maravilhosas. Grandes momentos vividos.

O livro reúne textos dos seus dois blogs. Como selecionou o que entrou no livro? Do que tratam os seus textos?

TB: São os textos que mais gosto. Os mais relevantes. De como eu trato a vida. Esses textos mostram como é a minha relação com a música, literatura, cinema, bares, amigos e mulheres. Presente e passado.

Tarcisão é amigo do Mário. Conhece o Mário? Foto Lucas Mayor
Você acabou se embrenhando legal no underground de SP também, correto? Aonde você bebe, que shows frequenta? Você é amigo do Mario Bortolotto?

TB: Correto. Continuo pelo underground. Bebo religiosamente toda segunda-feira na Mercearia São Pedro, a Merça, com meus amigos. Em seguida, a gente vai pro Filial beber chopp escuro. Durante a semana, bebo no bar do teatro Cemitério de Automóveis e, às vezes, nos arredores quando a noite finda e o sol começa a raiar. Vou muito aos shows da Fábrica de animais e da Saco de Ratos. Toda vez que a Cigarettes, que é uma banda do Rio, vem a pra cá, eu assisto. E dos gringos, claro. Já assisti shows de bandas e artistas solo que adoro. The Jesus and Mary Chain, Bob Mould, Lee Ranaldo, Thurston Moore, Sebadoh e Mark Lanegan, são alguns deles. Sim, sou amigo do Márião. No livro tem um texto que escrevi pra ele:  "Cinquenta anos do Mário Bortolotto". A gente bebe todos os dias. Ele é citado em outros textos também. Outros amigos são citados.

Uma pequena provocação: incontáveis outsiders já escreveram seus livros de literatura pop sobre seu relacionamento apaixonado com a cultura underground da literatura, da música e do cinema. Por que eu devo ler o seu livro? O que ele traz de próprio, novo ou diferente nessa linha?

TB: Engraçado é que eu não indico o meu livro pra ninguém. Nunca indiquei - rs. Aliás, indiquei uma vez pra uma menina porque ela comprou um livro do Fausto Fawcett e outro do Danislau TB, que é o compositor e cantor da banda Porcas Borboletas, comigo. Sinceramente, não sei o motivo pelo qual eu indiquei o meu livro a ela. Apenas indiquei. O que ele traz de próprio? Relatos sobre minha vida. A única coisa própria que a gente tem é a nossa vida. O resto é passageiro - inclusive a vida - rs. De diferente? Costumo comentar com meus amigos que o "18 de maio, quanto tens por dizer..." foi escrito com o coração na ponta dos dedos. O que é raro. Escrever com o coração na ponta dos dedos. Leia os textos "Minha vida entre o amor e a escrotice" e "Entre satélites", por exemplo, e verá.

O livro já tem lançamento por aqui marcado?

TB: Viajo pra Salvador no final desse mês. Devo lançar o "18 de maio..." na primeira semana de julho. Os acertos estão sendo feitos ainda. Te aviso. De buenas.

NUETAS

Hoje: Pancreas free 

O Quanto Vale o Show? de hoje traz a banda Pancreas e convidados (ops, erro meu aí, foi mal, galera) Vendo 147. A banda Pancreas e convidados é na próxima terça-feira,m dia 16. Dubliner’s, 20 horas, pague o quanto quiser.

Warm-up Big Bands sexta-feira. Agora com download de coletânea

Rogério Big Bross anuncia o warm-up do festival Big Bands nesta sexta-feira, com o duo uruguaio Antibanda, mais as locais The Pivos, Derrube o Muro e Pastel de Miolos. Dubliner’s, 21 horas, R$ 15. A propósito, aqui você baixa gratuitamente uma coletânea das bandas do Warm-up. Enjoy.

Rave Aurora sábado

O pioneiro coletivo baiano Soononmoon realiza neste sábado mais uma edição da  rave Aurora, na reserva ambiental homônima, em Camaçari. A estrutura, como sempre, é de primeira: dois palcos, 24 DJs (locais e internacionais), 14 horas de som, camping, UTI móvel, segurança etc. Vendas: Ticketmix e Chilli Beans e aqui.


ATUALIZAÇÃO: O ROCK LOCO RECOMENDA:

Fala, Sputter!

"Tive a honra de ser convidado para um um bate papo musical nessa sexta (12/06), vou colocar uns sons e falar um pouco dos artistas ou o que eles significam pra mim...escolhi a black music dos mais variados gêneros em homenagem ao nome da loja Afreeka e fazer um tributo aos artistas afro descendentes que me influenciaram como músico e artista. A seleção musical vai focar-se mais em artistas gringos, dos EUA e Jamaica em sua grande maioria...vai passar por Free Jazz, Blues Sujo (e nem tanto) antigo, R&B dos velhos tempos, Garage Punk, Blues Punk, Garage Soul, Soul Music, Northern Soul, R´N´R, Doo Wop, Ska, Rocksteady, Early Reggae e por aí vai... De graça, cedo, apareça, leve seu companheir@ e vamos participar desse bate papo com muita música..."

2 comentários:

Rodrigo Sputter disse...

GRANDE BUENAS!!!
gente boa pacas, sempre leio ele!!!

Chico, divulga pra mim? Vai rolar um bate papo musical comigo, veja abaixo:

http://fotolog.net/teenage_idol/147000000000031702/

soube ontem, por isso te mando agora...tou fudido sem meu laptop...e feliz...pq estou lendo mais tb...saudades, pinte!

Rodrigo Sputter disse...

CARAMBA MERMÃO!!
E eu tenho essa moral????
rapaz...emocionado...esses dias tão super atribulados...um amigão meu desapareceu na 3a e até agora nada, ontem saímos nas ruas procurando o cara...mas nada até agora...vamos torcer que reapareça e nessa 6a vamos todo mundo comemorar o reaparecimento dele!!!

OBRIGADO CARA!!