Meio romance de formação, meio panfleto GLS, o fenômeno Azul é a Cor Mais Quente chega ao Brasil quase que simultaneamente em sua forma original (a graphic novel de Julie Maroh) e na adaptação cinematográfica, de Abdellatif Kechiche.
Nas duas formas, a obra foi amplamente reconhecida e premiada.
A HQ original francesa, lançada em 2010, ganhou o Prêmio de Público do Festival Internacional de Angoulême 2011, entre outros, além de ter sido traduzida para inglês, espanhol, alemão, italiano, holandês e claro, português.
Já o filme, dirigido pelo franco-tunisiano Kechiche, faturou nada menos que a Palma de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cannes 2013.
Uma trajetória notavelmente vitoriosa para uma obra que, na sua fonte original – a história em quadrinhos – deixa bem evidentes tanto méritos quanto defeitos.
No diário
Contada a partir dos diários de uma das protagonistas, a estudante Clémentine, a trama mostra o encontro – e subsequente paixão – entre ela e uma jovem de cabelos e olhos azuis, Emma.
Clém, como é chamada pelos amigos, é a primeira vista, uma jovem como outra qualquer: vai a escola, mora com os pais, tem uma rodinha de amigos e paquera um rapaz do colégio com pinta de grunge (a história em inicia em 1994).
Porém, quando começa a namorar com Thomas, o tal rapazinho de barbicha, Clémentine “trava” – e sempre na hora do chamado rala & rola.
E aí começam os problemas da HQ.
Boa parte do texto da menina em seu diário soa exatamente como deve soar uma menina comum de 15 anos escrevendo em seu diário: sentimentalóide, carregado de clichês e tolinho.
Em nome da verossimilhança, o recurso é legítimo, mas isso não é desculpa. Muitas obras já foram escritas na linha do “Querido Diário” adolescente e nem todas soam bobinhas.
Romeu & Julieta
Um belo dia, Clémentine cruza na rua com Emma, a garota de cabelos azuis, com quem troca um longo e lânguido olhar.
Não demora, elas se conhecem, se apaixonam e, entre idas e vindas, resolvem ficar juntas, contra tudo e contra todos.
Se só esta descrição está carregada de clichês, é por que o mesmo acontece com a HQ.
No fim das contas, trata-se da mesma velha história de amor proibido – a mesma que está incrustada no imaginário popular desde Romeu & Julieta.
A diferença é que aqui o casal é formado por duas mulheres, em um contexto de ativismo GLS.
Isso não é ruim em si – a causa é mais do que justa e merecedora de todo respeito e apoio.
O problema de Azul é a Cor Mais Quente é que ela não se traduz em uma grande HQ – como sua aclamação prévia faz crer.
Como méritos, pode-se dizer que a autora tem bom domínio da técnica narrativa sequencial, com especial destaque para as expressões faciais dos personagens e para o uso das cores.
Azul é a Cor Mais Quente é HQ que se lê de uma sentada, dada sua fluidez narrativa, além contar uma história sensível e com a qual muitas (e muitos) poderão se identificar, apesar dos seus defeitos.
Azul é a Cor Mais Quente / Julie Maroh / Martins Fontes/ 160 p./ R$ 39,90/ www.martinsmartinsfontes.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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Um comentário:
Coitado do meu amigo José. Viajou para Brasília só para assistir ao show de Stevie Wonder e teve de aturar... isto:
http://www.vagalume.com.br/news/2013/12/09/ivete-sangalo-divide-palco-com-stevie-wonder-em-brasilia-veja.html
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