Coletânea de Calvin & Haroldo traz momentos mais significativos da tira, com comentários e a filosofia do cartunista criador
Autor de Calvin & Haroldo, uma das tiras de quadrinhos mais adoradas da história dessa mídia, Bill Watterson sempre foi uma figura esquiva, avesso a badalações e à exploração comercial indiscriminada de sua criação.
N’O Livro do Décimo Aniversário, recém-lançado, o próprio Watterson explica suas posturas diante da indústria.
Como os seguidores da filosofia calviniana devem saber, Watterson parou de produzir – e nunca mais retomou – as tiras da série em 1995, apenas dez anos após o início, em 1985.
Este álbum foi lançado justamente no ano da interrupção, como uma despedida, reunindo os momentos mais significativos de Calvin, Haroldo e a turma, com a adição dos preciosos comentários do autor.
Como Watterson quase nunca dá entrevista (só concedeu duas desde 1995), O Livro do Décimo Aniversário é uma rara oportunidade de saber o que pensa o recluso autor, que fala em primeira pessoa sobre vários assuntos, sem meias palavras.
Watterson abre o livro com quase 20 páginas de texto corrido, abordando desde a mídia quadrinhos em si aos personagens coadjuvantes de Calvin, passando pelo sistema dos syndicates, sua luta contra o licenciamento de sua criação, períodos sabáticos etc.
Latifúndio em quadrinhos
As maiores bordoadas do cartunista sobram mesmo é para o “sistema” – leia-se jornais e syndicates (empresas que dominam a distribuição das tiras).
Aos jornais, Watterson atribui “restrições severas às tiras”. “Temas controversos e opiniões de caráter pessoal raramente são tolerados. As necessidades mercadológicas dos grandes jornais estão sempre acima da preocupação com a expressão artística”, constata.
Para complicar, a maior parte do espaço disponível – “diminuto”, para o autor – é latifúndio de tiras que se estendem por gerações, tornando-se verdadeiras instituições.
“Blondie já está nos jornais há 65 anos e Recruta Zero, Dennis O Pimentinha e Peanuts já superaram os 40 anos de publicação”, contabiliza Watterson.
"Mesmo uma tira mais recente, como Doonesbury, já existe há 25 anos – ou seja, um quarto do tempo de existência da página de quadrinhos nos jornais (surgida em 1895). A rotatividade na elite desse tipo de negócio é baixíssima”, nota.
Vale lembrar que este texto foi publicado há 18 anos.
O resultado desta combinação de espaço cada vez menor com baixa rotatividade tem sido fatal para o gênero das tiras: “Sessenta anos atrás, as melhores tiras não eram só desenhinhos divertidos, eram também belíssimos. Não consigo pensar em uma tira atual que chegue perto desse nível de capricho”.
Contra o licenciamento
Mas o que realmente impressiona em Watterson é a sua ferrenha determinação em não entregar seus “filhos” à sanha mercantilista da indústria.
Quem gosta de Calvin sabe: qualquer camisa, caneca ou lancheira com o menino e seu tigre estampados é ilegal e pirata, pois o autor jamais permitiu a produção e comercialização de qualquer produto, fora suas tiras em jornais e coletâneas.
“Quando o quadrinista licencia seus personagens, sua voz é cooptada pelos interesses dos fabricantes de brinquedos, produtores de programas televisivos e publicitários”, afirma.
“Os personagens em si se tornam celebridades (...), dizendo apenas aquilo que é determinado por quem os paga. Quando chega a esse ponto, a tira perde sua alma”, conclui.
Foi, em grande medida, por conta da pressão sofrida pela sua resistência em faturar, que Watterson eventualmente abandonou a prancheta, interrompendo a produção das tiras em 1995.
“Esses desentendimentos eram ridículos. Eu devo ser o único cartunista do mundo que lamenta o sucesso alcançado por seu trabalho”, admite.
Calvin & Haroldo - O livro do décimo aniversário / Bill Watterson / Conrad/ 208 p./ R$ 47/ www.lojaconrad.com.br
2 comentários:
99.9% dos roqueiros tipo cool acham o Iron Maiden uma banda lamentável. Eu devo confessar que adoro. Foi minha banda de batismo nesse tal rock 'n' roll. Volta e meia, reouço seus clássicos e admiro sua postura de fidelidade aos fãs e ao som que consagrou a banda - ainda que não cometam um álbum realmente decente (ou que pelo menos me agrade) desde 1986. Agora, tenho mais um motivo para admira-los: a inteligência.
http://omelete.uol.com.br/iron-maiden/musica/iron-maiden-pirataria-atraiu-banda-ao-brasil
Opa, opa, opa.
http://www.nemo.com.br/elcabong/2013/12/confirmado-elton-john-toca-em-fevereiro-em-salvador/
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