sexta-feira, dezembro 06, 2013

PONTO FIAC OCUPA SOLAR BOA VISTA COM MÚSICA NOVA POR DOIS FINS DE SEMANA


O Festival Internacional de Artes Cênicas (FIAC) está expandindo as atividades, além do evento em si  realizado em setembro.

A iniciativa é o festival de música Ponto FIAC, que ocupa o Solar Boa Vista com  shows por dois  fins de semana.

Começa hoje, com Bixiga 70 (SP) e segue amanhã, com Skanibais, o hip hop do Opanijé e A.MA.SSA no domingo.

Semana que vem tem The Baggios (SE, ao lado, em foto de Snapic), Lucas Santtana, Suinga e Pirigulino Babilake.

Um cardápio e tanto para interessados em música que prescinde de coreografias infantis ou palavras de ordem.

Além dos shows, haverá mostras de artes visuais, oficinas e até uma moqueca de miraguaia (a programação completa está no site do evento).

“Para a parte musical, a gente contou com a curadoria de Ronei Jorge, artista que é uma  referência da cena independente. Já a parte de artes visuais ficou a cargo de  Marcelo Resende, que é diretor  do Museu de Arte Moderna (MAM)”, conta Felipe de Assis, um dos organizadores do FIAC.

Skanibais, foto Anderson Fereira
“O FIAC é uma marca que se tornou referência para um certo perfil e uma postura ligada à esta fatia de público jovem, que  está mudando a cena cultural da cidade”, aposta.

Som caleidoscópico

Atração que abre hoje – em grande estilo – o Ponto FIAC, a Bixiga 70 é hoje uma sensação da música independente. E diferente de muita coisa com esse status, eis aqui uma banda que de fato merece aplausos.

Com dez feras no palco, trata-se de uma mini big band de música instrumental sem fronteiras, que parte de base afro beat para explorar diversos territórios estilísticos.

Caleidoscópica, funky, exuberante, a Bixiga 70 cristaliza a tendência recente das bandas de som instrumental que deram fim ao velho estigma da “música de músicos”.

“Estamos realizados”, diz Maurício Fleury (teclado e guitarra). “Salvador foi a primeira cidade que queríamos ter tocado desde o início”, diz.

Não se trata de mera gentileza. A música baiana está no DNA da Bixiga 70 – não é por acaso que a faixa de abertura do seu álbum mais recente é Deixa a Gira Girá, ponto de candomblé gravado pelos lendários  Os Tincoãs em 1973.

“É por causa d’Os Tincoãs mesmo, que botou o candomblé no samba africano e é uma grande influência para a gente”, afirma Maurício.

“Além de bandas daí que gostamos, como Baiana System, Retrofoguetes e Orkestra Rumpilezz, com a qual tivemos a honra de dividir o palco em São Paulo. Admiramos muito Letieres Leite por tudo que ele faz pela música ”, conclui.

Ponto FIAC / A partir de hoje até 14 de dezembro (fins de semana) / Solar Boa Vista (Eng. Velho de Brotas) / R$ 10 e R$ 5 / www.pontofiac.com.br

ENTREVISTA MAURÍCIO FLEURY (BIXIGA 70)

E aí, estão felizes por tocar em Salvador?

Bixiga 70. Foto: Nicole Heiniger
Maurício Fleury: Estamos realizados, por que Salvador foi a primeira cidade que queríamos ter tocado, desde o início, especialmente por causa d'Os Tincoãs, que nos influenciaram muito com sua mistura de samba africano com candomblé. Além das bandas baianas de hoje em dia que gostamos muito, como a Orkestra Rumpilezz, os Retrofoguetes, a Baiana System, com quem já tivemos a honra de dividir o palco. Estamos duplamente felizes: pela influência ancestral e pela galera legal que conhecemos. Sempre tentamos tocar em Salvador, desde que começamos a tocar, e agora vamos fazer esse show aí, então espero que seja de verdade que tenha tudo a ver, mesmo.

Vocês tem tido uma ótima recepção de público para uma banda instrumental, algo que vem se repetindo, com outras bandas também. Acha que já foi o tempo em que música instrumental era coisa "de músico para outros músicos"?
MF: Aí mesmo vocês tem os Retrofoguetes, que é um ótimo exemplo de música instrumental que não fica mais confinada a uma escola específica de música brasileira pós-bossa nova. A música instrumental brasileira é forte desde o começo, com o choro, Pixinguinha. Mas depois da bossa, a coisa ficou meio estigmatizada de ser muito jazzística, uma coisa de salão de jazz, para ouvir sentado. Foi criada toda uma aura. Mas nos últimos anos, a música instrumental tem dito muito, mesmo sem letra. São outras vibrações, outras mensagens vindas de muitas bandas instrumentais legais, como os Retrofoguetes, os Dead Rocks (banda surf de São Carlos), está super vivo o lado instrumental no rap, a banda Hurtmold, que também é ligada ao rock, mas traz outras sonoridades, e também ao jazz mas não de uma forma bossa novistica. O Bixiga entra nisso, da música instrumental contemporânea que tem várias mensagens e é dançante e não é só jazz ou afro, tem eletrônica, hip hop etc. A ideia é fazer um som atual com uma formação grande, com vários músicos e que não quer ficar confinada na coisa virtuosística do jazz apesar de ter influências de jazz.A gente gosta, mas não só. E também não precisa de uma figura discursando lá na frente. Muitas bandas e artistas foram achando esquemas de instrumentação para diversas formações e propostas diferentes. Estava escutando agora há pouco o disco do Anjo Gabriel, que faz instrumental e é rock psicodélico. O que fica é que temos uma relação com a música brasileira instrumental, mas o pessoal que precisa enquadrar pode dizer que tentamos fazer uma fusão de música contemporânea que não seja meramente virtuosística.

Vocês tem influências da Orkestra Rumpilezz ou ou vocês e a Orkestra Rumpilezz é que tem as mesmas influências?

MF: Acho que são coisas diferentes. Buscamos um som próprio e somamos muitas influências de fora (do Brasil). Mas não vamos copiar, pois admiramos muito o trabalho de Letieres Leite e tudo o que ele faz para a musica brasileira, é um trabalho maravilhoso. A gente gosta de muitos tipos de música, mas não temos o rebuscamento que a OR tem. A gente é mais rock 'n' roll, tem baixo, guitarra, teclado. Dividimos o palco com a OR em novembro, aqui em São Paulo, no Largo da Batata, em um show de graça. A Rumpilezz tocou antes e depois eles tocaram conosco a música d'Os Tincoãs que a gente gravou. Eles são bem focados e refinados, enquanto que nosso som é mais sujo e rock.

Vocês já fizeram diversos shows no exterior. Como foi a experiência?

Bixiga 70. Foto: Nicole Heiniger
MF: Fizemos oito shows, dois em Amsterdam, na Bélgica... Esse ano fizemos Malmö (Suécia), o festival de Roskilde (Dinamarca), Alemanha, Amsterdam de novo e outra cidade na Holanda.  Tocamos em vários festivais bem legais, no Roskilde, dividimo o palco com uma banda que admiramos. A experiência é incrível pois tem vários níveis de aprendizado. Quando você sai do país, você se conhece mais, e dentro de uma banda, melhora e aprofunda a convivência entre os membros. E tocando muito, convivendo, rola uma sinergia legal entre os membros. E você vê o quanto a música brasileira é adorada. Isso estimula muito. Outra coisa é a qualidade técnica dos eventos. No Brasil, isso ainda é bem deficiente em relação ao que já vimos lá fora, por vários motivos que jogaram a indústria do áudio em segundo plano. Quando você sai dos centros, vê que no interior a informação ainda não chegou, não tem o equipamento bem cuidado. Já trabalhamos com técnicos de som dos festivais e o que importa, além de mostrar o trabalho, é aprender como funcionam as coisas lá. E tentar ampliar, na nossa realidade. Organizamos um evento gratuito em São Paulo, que é o Dia do Grafiite, fechamos uma rua  e convidamos várias bandas, incluindo a Escola de Samba Vai Vai, que é do nosso bairro (o Bixiga). Essa conexão com o bairro é muito importante para melhorar a maneira como produzimos música. Para nós, foi um investimento que valeu muito a pena viajar para a Europa. E pretendemos voltar ao exterior até o meio do ano que vem.

Planos para 2014?

MF: Sempre tocar, tocar, tocar, viajar, levar para onde puder. O grande segredo de tudo é o trabalho e também produzir. Temos muitos projetos que circundam a banda. E deve sair outro disco do Bixiga em 2014. Queremos circular pelo Brasil em lugares que ainda não tocamos, tipo Salvador, que é uma realização para a gente, além de outras capitais e pelo interior.

O processo de composição do Bixiga 70 é coletivo? Como funciona? Tipo jam no estúdio?

MF: A gente assina as composições em parceria entre dois ou três membros e a banda, por que um chega com um tema e a banda vai desenvolvendo e virando uma coisa que agrade aos dez membros, por isso assina junto. Pode acontecer de ser uma jam e alguém levar para casa e escrever algo em cima. É bem coletivo. Sempre tem alguém que inicia a coisa, mas se não tiver os dez, não rola nada. Alguém tem que dar o pontapé inicial e agente pensa a composição do jeito que acontece.


Nenhum comentário: