terça-feira, outubro 22, 2013

VIDA DE SONHADOR COM PÉS NO CHÃO

Recém-lançada no Brasil, biografia de Will Eisner traça perfil fiel de artista genial com tino de empresário

Dizem que visionários são aqueles capazes de antecipar algo que a maioria das pessoas só será capaz de perceber no futuro.

Se alguém assim, além da capacidade de enxergar adiante, ainda dispor de talento artístico, então não há dúvidas: estamos diante de um legítimo gênio.

Will Eisner (1917-2005) era um desses gênios.

Criador do herói Spirit, pioneiro da indústria dos quadrinhos, desenhista insuperável, professor dedicado, escritor de rara sensibilidade, um dos responsáveis por transformar HQ em arte de fato, divulgador incansável – entre muitos outros títulos – o quadrinista tem vida e obra narrados na biografia Will Eisner: Um sonhador nos quadrinhos, de Michael Schumacher.

Schumacher (sem relação com o alemão da Fórmula 1) é conhecido  autor de biografias de peso para Eric Clapton, o poeta beatnik Allen Ginsberg e o cineasta Francis Ford Coppola, entre outros nomes célebres.

Apesar de não te-lo conhecido em vida, Schumacher teve acesso total ao arquivo pessoal do artista, além de ter feito ampla pesquisa e dezenas de horas de entrevistas com Ann Eisner (viúva), amigos, colaboradores, sócios e admiradores.

O resultado é um retrato por inteiro do bom e velho Will, começando pela sua infância dificílima como menino judeu em uma vizinhança paupérrima e pouco amigável à sua religião.

Vida que só ficou mais e mais difícil quando a veio o crack da bolsa e a grande depressão. As cenas de miséria explícita que ele não apenas testemunhou, mas também viveu, o marcaram para sempre e se refletiram  em praticamente toda a sua obra.

Começo difícil

Assinando sua arte em São Paulo, Brasil, 1987. (Cortesia de Denis Kitchen)
Nascido William Erwin Eisner, seu pai era o imigrante austríaco Shmuel (Samuel) Eisner, que apesar de pobre, era um perfeito  artista europeu: autodidata, pintava cenários de peças de teatro iídiche e decorava o teto de igrejas católicas.

A mãe, a romena Fannie Ingber, era o contrário de Sam: uma trabalhadora de fábrica cuja única preocupação era garantir seu sustento e o de sua família.

O jovem Billy Eisner, que teve de começar a trabalhar aos 13 anos vendendo jornais para ajudar no sustento da casa, acabou equilibrando em si tanto o pendor artístico do pai, quanto o pragmatismo da mãe.

E foi vendendo jornais que o garoto Billy descobriu a paixão de sua vida: as histórias em quadrinhos, nas tiras dos jornais: Thimble Theater (de E. C. Segar, na qual surgiu Popeye), Terry & Os Piratas, Krazy Kat etc.

Para desespero da mãe – e orgulho do pai – logo estava desenhando compulsivamente e frequentando as aulas de arte gratuitas oferecidas pelo Metropolitan Museum of Art.

Não demorou e o jovem Will começou a trabalhar nos estúdios que proviam conteúdo para os jornais. A descrição que Schumacher faz da fauna que trabalhava nesses ambientes é especialmente vívida, já que foi nesses primórdios que também começaram gênios do quilate de Jack Kirby (da Marvel), Al Jaffee (Mad), Bob Kane (Batman), Max Gaines (EC Comics) etc.

Em 1940, depois que viu o  estrondoso sucesso de uma HQ que ele mesmo recusara em seu estúdio – Superman, lançado dois anos antes –, desfez a sociedade com Jerry Iger e partiu para criar seu primeiro grande sucesso: The Spirit.

Só que ele queria fazer diferente: Eisner queria tirar o foco do personagem e direcioná-lo para as histórias em si.

“Você lê as histórias de Sherlock Holmes pelas histórias. As histórias perduram, e não a ideia do superdetetive”, acreditava Eisner, em declaração que deu anos depois, citada por Schumacher.

Splash page 26/junho/1949 © Will Eisner Studios Inc. Cortesia Denis Kitchen
O cenário era outro componente essencial em suas HQs.

Na verdade, estudiosos de sua obra dizem que ele fazia HQs sobre cidades – e não sobre pessoas.

O que é perfeitamente plausível, especialmente ao se notar os títulos de algumas de suas melhores HQs: O Edifício, Avenida Dropsie e claro,  Nova York - A Grande Cidade.

Falhas humanas

Com jeitão de biografia autorizada (sem qualquer demérito, como se verá a seguir), o foco do livro de Schumacher é a trajetória, a evolução e as escolhas do artista.

Ainda assim, não deixa de trazer as falhas do homem – que diga-se de passagem, sempre foi considerado exemplo de bom caráter em um meio infestado de escroques.

Especialmente notáveis são as revelações de que, quando foi ouvido como testemunha no processo relativo à propriedade do Superman, ele não foi  totalmente honesto, além de um incontornável ressentimento que sentia por Art Spiegelman ter sido premiado com o Pulitzer pela obra-prima Maus – e ele não, pela igualmente genial Um Contrato com Deus.

A biografia se confunde com a própria história do desenvolvimento deste setor da indústria cultural. Ele passou por todas as fases, conheceu, trabalhou, e muitas vezes deu a primeira oportunidade para alguns do maiores profissionais do meio.

Jules Feiffer, renomado cartunista (outro premiado com o Pulitzer), teve sua primeira oportunidade de trabalho no estúdio de Eisner.

Não a toa o nome Eisner é para as HQs americanas o que o Oscar é para o cinema, nomeando sua mais importante e cobiçada premiação.

Will Eisner: um sonhador nos quadrinhos / Michael Schumacher / Globo Livros / 424 p./ R$ 59,90/ www.globolivros.com.br

Imagens gentilmente cedidas por Globo Livros.


13 comentários:

Franchico disse...

RIP Lou Scheimer.

http://www.universohq.com/noticias/faleceu-lou-scheimer-fundadores-filmation-studios/

Saturday morning genius.

Franchico disse...

Aviso: nosso prezadíssimo Don Miguelito Cordeiro é matéria de capa do Cad 2+ de amanhã, 23 de outubro, no vcs sabem, periódico da Tankred Snows Avenue.

A matéria não é minha, portanto ela não será postada aqui.

Recomendo aos interessados adquirir um exemplar (é só R$ 2) para ler a matéria.

Até por que traz uma notícia bem legal aos apreciadores da verve faustiniana que fez a fama do nosso bom Miguel....

Franchico disse...

Taí uma tremenda bobagem - mas que eu adoraria ler:

http://www.universohq.com/noticias/idw-publishing-lancara-crossover-personagens-arquivo-x/

Franchico disse...

Lindo discurso de Neil Gaiman.

http://noticias.r7.com/blogs/andre-forastieri/2013/10/22/neil-gaiman-o-poder-e-o-prazer-da-leitura/

Pena que aqui, na escuridão da selva tropical, tal chamado à civilização jamais será ouvido pela população analfabeta funcional (e portanto, arrogante, já que arrogância é prerrogativa própria dos que sabem de porra nenhuma além de estacionar seus monstros de aço sobre nossas pobres calçadas).

Franchico disse...

A quem interessar possa.... segue release:

LANÇAMENTO DIGITAL - CD LAZZO MATUMBI. OUÇA NO DEEZER: http://www.deezer.com/br/album/7035977

Lazzo Matumbi lança seu novo CD “LAZZO MATUMBI” pelo selo Garimpo Música (www.garimpomusica.com.br). Após cinco anos sem gravar, o novo disco foi produzido por Jorge Solovera com produção executiva de Soraia Oliveira, gravado nos estúdios Casa das Máquinas, estúdio t e no Hand Home Studio (Espanha). Mixado nos estúdios Mosh (SP) e masterizado Peter Doell, no estúdio Umusic (Los Angeles). Assina a direção de arte e projeto gráfico Pedro Marighella com iluminação de Luciano Reis e fotografias de Filipe Cartaxo.

O disco apresenta 11 faixas com velhos e novos parceiros. Com Gileno Félix Lazzo divide as composições “Saudades”, “Denguinho” e “Centelhas”; Com Jorge Portugal “Olhos de Xangô”; Antonio Risério, “Cheque Mate”; Sílvio Hernandez, “Eu e Eu”; Jorge Costa, “Alma Sã”; Ricardo Luedy, “Querubins” e 'Pra Gente Dançar', Beto Marques. Tem também a obra de Paulo Diniz, “Bahia Comigo” e a de Moa Bonfim e Gileno Felix, “Adeus Só”.

Lazzo faz show em Salvador para lançamento do disco no dia 28 de outubro, às 19h, no Largo Pedro Arcanjo, Pelourinho, com show aberto ao público sob direção artística de André Luiz Oliveira, figurino de Márcia Ganen e cenografia de Willians Martins.

Franchico disse...

Nobel da Paz pro Mujica!

http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,maconha-legal-do-governo-mujica-vai-custar-us-1-o-grama,168119,0.htm

Não, não! Melhor ainda: Mujica para presidente do mundo.

Finalmente, pela primeira vez na história da humanidade, um político toma uma atitude real e efetiva de combate ao tráfico de drogas. Revolucionário. Isso sim, é guerra ao tráfico - o resto é ficção, filme, é Capitão Nascimento dando tapa em playboy, como se usuários fossem culpados de alguma coisa (aliás, uma das cenas mais hipócritas e babacas da história do cinema). Fato: a corrupção política e policial são infinitamente mais comprometidas com o tráfico do que qualquer mísero usuário. Na verdade, ambas as instâncias são culpadas diretas de cada morte de inocente que acontece nesse tiroteio estúpido que ceifa vidas há mais de 3 décadas de "guerra ao tráfico".

MY ASS!!!!!!!!!

rodrigo sputter disse...

Zorra, quero ler essa Bio...e a do Cash tb...quem sabe no natal...sempre peço aqueles vale presente...e ainda tem o novo do Dylan, não de inéditas...q tb tá na pauta...

quem sabe algum amigo caridoso num empresta pelo menos um pra eu num ter que comprar as 2...60 piletas fica difícil pra um cara que faz biscates (não no sentido sexual) pra matar uma pontinha...

Lazzo, grande cantor e expoente da música negra soteropolitana, num sou muito fan do som que faz (a parte instrumental), mas ele tem uma voz incrível e uma importância histórica na música baiana, a não enlatada, taí...pegar um Lazzo e fazer um disco com uma pegada rock, soul, dando ênfase na voz, mas com uma sonoridade mais forte, encorpada...fica a dica.

rodrigo sputter disse...

Acho que MAUS levou pq venho com uma linguagem "diferente", orwelliana, uma boa sacada, não li a do will, mas vou ler hoje, tenho aqui baixada, infelizmente não possuo a original e não tenho $$ pra compra-la, ter tenho, mas se for comprar tudo que quero...aí num sobra pra nada...

rodrigo sputter disse...

E VIVA O JORNALISMO E A EDUCAÇÃO TUPINIQUIM:

http://www.youtube.com/watch?v=vyvx9oVFCfg


Sem ofensas Chico.

Franchico disse...

Wolverine, o maior fudião dos quadrinhos, disse que cansou dessa putaria:

http://www.bleedingcool.com/2013/10/23/wolverine-will-never-have-sex-again/

Logan, morda meu dedo pra ver se sai coca-cola?

Franchico disse...

Falando em Neil Gaiman....

http://www.universohq.com/noticias/jim-lee-capa-alternativa-sandman-overture-1/

Franchico disse...

Sputter, pior do que essa professora ignorante (!) é este vídeo de uma suposta resenhista da biografia do Eisner:

http://youtu.be/EjCoTgqFl4A

Tive que desistir com dez segundos de vídeo. Além de já iniciar com um ridículo "vcs não tão entendendo", ela larga duas pedradas logo de cara - tudo em dez segundos. Fica óbvio que a pessoa não leu o livro. Por que se filmar falando de um livro que vc não leu, meu deus? PORQUE????????

Bem vindo à era da escuridão às claras, toda filmada e eternizada para bizarro deleite da posteridade....

Franchico disse...

Get Lucky, do Daft Punk, definitivamente, virou carne de vaca.

http://www.nemo.com.br/elcabong/2013/10/porque-nem-o-pagode-baiano-ficou-imune-ao-daft-punk/

Bom, então é isso. Parei com Daft Punk. É o fundo do poço.