Foto "autografada" de 1931: "Fielmente seu, Rin TinTin" |
A jornalista e escritora norte-americana Susan Orlean conseguiu tal feito de forma brilhante em seu livro Rin Tin Tin: A Vida e a Lenda (Valentina).
Quem tem menos de 40 anos e está coçando a cabeça neste momento, saiba: Rin Tin Tin (1918- 1932) foi um dos maiores astros de quatro patas de todos os tempos e, certamente, o cachorro pastor alemão mais famoso na história da raça, tendo estrelado dezenas de filmes no período de transição do cinema mudo para o falado (entre as décadas de 1920 e 30).
O que torna o livro sobre este cão uma leitura interessante – e não apenas para seus prováveis fãs – é que, nele, Susan Orlean não se limita a contar a história de um cachorro.
De forma magistral, a jornalista costura múltiplas narrativas que se relacionam com a sua trajetória e a de seus descendentes.
Há a vida de Leland Lee Duncan (1892-1960), um jovem ligeiramente desajustado que, em meio aos combates no front francês de 1918, descobre, nos destroços de um canil inimigo bombardeado, dois filhotes de pastor alemão quase mortos.
Prata da casa da revista The New Yorker, uma das publicações mais exigentes do mundo, Susan traça o (difícil) perfil psicológico de Duncan de acordo com os diários escritos pelo próprio homem.
Sujeito estranho, Duncan escreveu centenas de páginas entusiasmadas sobre Rinty (como era chamado), seu treinamento, seus filmes, suas turnês – e absolutamente nenhuma palavra sobre seus dois casamentos. Sua primeira esposa, não à toa, pediu o divórcio por não conseguir “concorrer” com o pet.
Gente, cães, cinema e mais
Com Rin Tin Tin e Duncan como eixos, Susan deriva a todo momento, desvendando e analisando, a partir de pontos de vista muito pessoais e sensíveis, fatos e assuntos diversos, como, por exemplo, a própria criação da raça pastor alemão – desenvolvida em 1899 pelo militar germânico Max von Stephanitz – e sua eventual popularização mundo afora, muito graças ao sucesso de Rin Tin Tin.
Lee Duncan e seu espólio da 1ª Guerra, o pequeno Rin Tin Tin |
Igualmente tocantes são os depoimentos muito pessoais que ela expõe aqui e ali, enquanto narra sua investigação sobre Rin Tin Tin.
Em Paris, ao visitar Le Cimetière des Chiens (O Cemitério dos Cães), aonde Rinty está enterrado, faz toda uma descrição do local e dos costumes dos donos de cachorros parisienses do século 19 (quando os cães começaram a despontar como animais domésticos urbanos e o lugar foi criado) e tenta entender como os restos do cão foram parar lá, já que Duncan, que estava falido à época, não deixou nenhum registro do translado.
Ao se deparar com o humilde pouso final do cão, a autora libera toda a emoção de sua epifania: “A singeleza do túmulo me entristeceu. Como, porém, eu sabia que para Lee sempre haveria um Rin Tin Tin, isso não era mais do que o estalido de uma roda a girar. O primeiro Rin Tin Tin morrera, mas ainda vivia – e ainda vive – uma ideia, mais do que um ser, sempre diferente, mas essencialmente o mesmo”, escreve.
Detalhadíssima, a narrativa de Susan segue os descendentes de Rin Tin Tin e seus criadores ao longo das décadas, passando pela Segunda Guerra Mundial, o seriado dos anos 1950 (muito popular no Brasil até os anos 1980), até hoje em dia.
Um livro surpreendente e magnético.
ENTREVISTA - Susan Orlean: "Rin Tin Tin simbolizou um tipo especial de personagem"
Neta de imigrantes húngaros, Susan Orlean (foto: Gasper Tringale) nasceu em Cleveland, Ohio, e é uma das mais respeitadas jornalistas e escritoras dos Estados Unidos. Integra a equipe da revista The New Yorker desde 1992 e colabora para publicações como Rolling Stone, Vogue e Esquire. É autora do romance Adaptação, base do filme homônimo.
Hoje em dia, com Hollywood obcecada por animais e heróis gerados por computador, o que seu livro nos diz sobre a própria natureza do cinema?
SUSAN ORLEAN: Ele discute algumas verdades básicas: as pessoas são fascinadas por animais, em qualquer forma (digitais ou vivos, na vida ou nas telas). E as pessoas também são atraídas por histórias interessantes, não importa de que maneira elas sejam contadas. Nosso interesse em histórias de amor e perda, descobertas e aventura, permaneceu totalmente consistente, mesmo com todo o desenvolvimento que as plataformas narrativas passaram.
Os filmes do Rin Tin Tin seriam possíveis de ser feitos hoje, visto o monitoramento rigoroso das organizações de proteção à vida animal nos EUA?
SO: Sim, certamente. Animais continuam a ser extensivamente utilizados em cinema e televisão e existem leis monitorando sua segurança e saúde. Mesmo que a PETA prefira que eles não sejam utilizados de qualquer maneira, a maioria das pessoas está confortável com as condições a que os animais de Hollywood são expostos, e o fato é que eles são supervisionados pelos representantes da American Humane todo o tempo.
Quando você decidiu escrever este livro, qual história exatamente você queria desvendar? Há muitas narrativas em Rin Tin Tin: A Vida e a Lenda – todas muito bem amarradas, aliás.
SO: Obrigada! Eu sabia que o livro seria uma história cheia, com muitas dimensões; eu quase a visualizava como um círculo ou um globo, muito mais do que como uma história linear. Eu queria contar todas essas histórias, o que foi um desafio enorme, claro, mas todas elas me pareciam importantes: a história dos cachorros em nossa cultura, a história de Hollywood, a história da natureza modificadora da guerra e as histórias mais pessoais de Lee Duncan e Bert Leonard (produtor do seriado de TV dos anos 1950). Além, é claro, da história do próprio Rin Tin Tin.
Lee e Rinty anos mais tarde, já velhos amigos |
SO: Eu cresci loucamente apaixonada por Rin Tin Tin. Ele era o cachorro com o qual sonhava, desde que eu era muito jovem. Eu havia esquecido dele, mas no minuto em que cruzei com o nome dele em 2004, fui invadida por todas aquelas mesmas emoções.
O que, na sua opinião, fez com que Rin Tin Tin (e Lassie, também) desaparecessem da TV e do cinema?
SO: À medida que entramos em tempos menos inocentes, a TV começou a focar mais em histórias de crime, médicos, relacionamentos – a paixão por cachorros pareceu entrar em declínio e nossa cultura se tornou mais cínica. Os programas infantis foram direcionados para a animação, distanciando-se do live action. A programação "para toda a família" foi substituída por programas estritamente adultos ou estritamente infantis. O tom familiar de Rin Tin Tin e Lassie não era mais popular.
Houve muitos outros astros caninos no cinema e na TV, como Lassie, Benji, K-9, Beethoven, mais recentemente tivemos Marley. Por que Rin Tin Tin? Ele foi uma espécie de modelo para todos que vieram depois?
SO: Ele simbolizou um tipo especial de personagem: leal, corajoso, heroico, inteligente, engenhoso – algo que realmente "dava liga", da primeira vez que ele surgiu na cultura popular, nos anos 1920. Essas qualidades definitivamente inspiraram muitos outros personagens caninos por muito tempo, ainda que sua versão mais recente seja um cachorro como Marley, que faz mais o tipo do companheiro divertido, e não do heroi.
Você espera que, algum dia, Rin Tin Tin tenha um grande retorno? Ainda há lugar para ele neste mundo e nos corações das crianças de hoje?
SO: Espero que sim. É um personagem que precisaria evoluir para se tornar moderno, mas não acredito que já não há interesse em personagens espertos, leais e corajosos. Fora que jamais deixaremos de amar os cachorros.
Rin Tin Tin: A Vida e A Lenda / Susan Orlean / Trad: Pedro Jorgensen Jr. / Valentina / 294 p./ R$ 44, 90 / www.editoravalentina.com.br
9 comentários:
Vi esse filme norueguês na TV uma vez e me diverti muito.
http://omelete.uol.com.br/cinema/o-cacador-de-troll-diretor-de-centuriao-vai-comandar-o-remake-hollywoodiano
Agora, anunciam o inevitável remake made in USA...
Deviam fazer um similar no Brasil, com versões bizarronas do saci, mula-sem-cabeça, curupira... Eu assistiria.
Dá pra ser mais cool do que Bruce?
http://celebridades.uol.com.br/album/2013/09/10/musicos-do-rock-in-rio-circulam-pelo-brasil.htm#fotoNav=190
Não mesmo!
não entendo vc gostar de brussi, Ernesto...além do som chato, ele é politicamente contrário ao que vc gosta lá nos EUA-hehheehhe
não conheço ele como pessoa, mas o som acho chato demais-heheheeh
Northampton, so much to answer for...
http://omelete.uol.com.br/alan-moore/quadrinhos/alan-moore-nega-ser-o-palhaco-de-northampton
"Depois que um gibi que escrevi há 30 anos rendeu anarquistas mascarados por todo o cenário político global, as coisas que eu escrevo têm uma tendência a transbordar para a realidade. Já que esse era um dos princípios de Jimmy's End - borrar as fronteiras entre um lado e outro - suponho que fantasmas se manifestando no meu bairro seja algo esperado", complementa Moore.
Bem, na verdade eu também NÃO curto o som de Springsteen, mas admito que a presença de palco dele é maravilhosamente rock n roll hero.
Ele foi amigo pessoal de Joe Strummer.
Aí está: a versão INTEGRAL do maior prodígio que um artista estrangeiro já realizou em solo brasileiro:
Bruce Springsteen canta Raul Seixas — Sociedade Alternativa
http://www.youtube.com/watch?v=VyTefusi41w
AUDIO PERFEITO. SOM CRISTALINO IMAGEM BEM NÍTIDA. VIDEO FILMADO NA BOCA DO PALCO, bem próxima ao astro. Sem cortes.
Postar um comentário