Existem poucas verdades universais verificáveis e incontestes, como, por exemplo, “o céu é azul” ou “Beatles nunca é demais”. Ao menos, não para os fãs.
Dois lançamentos recentes vem corroborar esta segunda verdade – e certamente, estarão amanhã, empacotados, sob muitas árvores de Natal.
O primeiro é aquele adorável registro do auge da psicodelia em película: Magical Mystery Tour, o filme de 1967 produzido e dirigido pelos próprios Beatles, restaurado, remasterizado e lançado em DVD e Blu-ray.
O segundo é a HQ Baby’s In Black: O Quinto Beatle, do quadrinista alemão Arne Bellstorf.
Curiosamente, ainda que este último não seja um produto Beatles “oficial”, ambos, filme e HQ, jogam luz sobre dois dos momentos menos documentados da banda de Liverpool – se é que isso ainda é possível.
Psicodelia à bordo
Produzido como um especial de TV com pouco mais de 50 minutos e exibido pela BBC em 26 de dezembro de 1967 – há exatos 45 anos, portanto – Magical Mystery Tour foi considerado tão ruim, à época, que a emissora cancelou uma segunda exibição previamente agendada.
Compreensível: a coisa toda era tão sem pé nem cabeça, além de obviamente movida a fartas doses de LSD, que foi demais para a tradicional família britânica – Real ou plebeia.
Basicamente, o filme mostra os quatro Beatles e mais um elenco de adoráveis maluquetes de várias idades em excursão pelo countryside inglês, partindo de Liverpool em direção à Blackpool, Noroeste do país.
Não havia roteiro. Apenas situações nonsense, como a de Ringo (Beatle mais engraçado em cena), que passa quase que o filme inteiro às turras com “Tia Jessie”, uma senhora interpretada pela atriz Jessie Robins.
Ringo brilha novamente na parada que o ônibus faz em um quartel, aonde o grupo é “regulado” por um sargento histérico, que fala sem parar.
Só que ele fala tão rápido e sem sentido que a legendagem em português abre um parêntese e se desculpa: “Oficial do exército diz coisas incompreensíveis”.
Quando ele termina de falar, Ringo candidamente pergunta: “Por que”? – para total desconcerto do milico.
Não a toa, o filme foi muito comparado aos da trupe inglesa de comédia Monty Python, e com razão.
Entre um esquete nonsense e outro, clipes da genial trilha sonora, que inclui clássicos como I Am The Walrus, Fool on The Hill e a faixa-título.
Nos extras, making of, trilha de comentários do diretor Paul McCartney e outras delícias.
O trágico destino de Stu
Já a HQ Baby’s in Black: O Quinto Beatle rebobina a fita até os primórdios da banda, em 1960, quando esta ainda contava com Pete Best na bateria e Stuart Sutcliffe no baixo.
A história em si é conhecida, especialmente por quem que já assistiu ao filme Backbeat: Os Cinco Rapazes de Liverpool (1994), de Iain Softley.
Stuart Sutcliffe, melhor amigo de John Lennon, foi o primeiro baixista dos Beatles na sua fase inicial, quando a banda ganhava a vida tocando nas espeluncas mais mal-afamadas de Hamburgo, Alemanha.
Após conhecer a jovem Astrid Kirchherr, Stuart resolve sair da banda – mas um destino trágico o aguardava logo em seguida.
A HQ de Bellstorf, longe de apenas quadrinizar os fatos (ou o filme), desenvolve uma narrativa intimista e até mesmo poética para o episódio, o que gera uma HQ de leitura bastante fluida, agradável e, de certa forma, emocionante.
O único senão fica para o estilo dos desenhos de Bellstorf, um tanto derivativo do clichê "HQ indie sensível" para não dizer do já clássico Persépolis, de Marjane Satrapi.
Magical Mystery Tour / Beatles / Emi / R$ 49,90 (DVD) / R$ 89,90 (Blu-ray) / www.thebeatles.com / www.emimusicbrasil.com
Baby’s in Black: O Quinto Beatle / Arne Bellstorf / 8Inverso/ 208 p./ R$ 51/ www.8inverso.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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5 comentários:
RIP Keiji Nakazawa
http://omelete.uol.com.br/quadrinhos/morre-keiji-nakazawa-autor-de-gen-pes-descalcos/
Domo arigatô, sensei.
Com o devido perdão do meu japonês macarrônico (yakisobaônico?)....
Conheço uns dois ou três que vão ter um treco com essa notícia:
http://rollingstone.com.br/noticia/novo-disco-do-my-bloody-valentine-esta-pronto/
"Indie sensível" hehehe. Verdade...Mas vou ali comprar o meu.
Eita porra!! Pro bem ou pro mal...MBV com disco novo é coisa séria. Tenho receio.
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