sábado, setembro 19, 2015

ESCRITO POR UM EX-ESPIÃO, O PLANETA DOS MACACOS UNE SÁTIRA SOCIAL E AVENTURA


A macacada vai ao delírio com mais uma resenha literária do Rock Loco
Todo mundo já viu um (ou mais de um) dos muitos filmes de O Planeta dos Macacos, seja a série original dos anos 1960 / 70, o remake fracassado de Tim Burton (2001) ou a bem-sucedida trilogia iniciada em 2011, com O Planeta dos Macacos: A Origem, seguido de O Confronto (2014) – mais o vindouro War Of The Planet of The Apes, previsto para 2017.

Mas quase ninguém leu o livro em que a franquia se baseia – ou sequer sabia que esse monte de filme exótico se baseava em um clássico meio esquecido da literatura de ficção científica.

Resgatada do limbo editorial em que se encontrava pela editora Aleph, a obra se revela uma grata surpresa.

Publicado pela primeira vez na França em 1963, O Planeta dos Macacos tem em seu autor, Pierre Boulle (1912-1994), uma figura tão interessante quanto a própria obra.

De espião a escritor

Autor de mais de trinta livros, Boulle foi um raro francês anglófilo, fascinado pela língua e  cultura inglesas.

É dele também o livro A Ponte do Rio Kwai (1952), que a exemplo do Planeta dos Macacos, também foi adaptado para o cinema com sucesso estrondoso em 1957, pelo diretor inglês David Lean.

Plantador de borracha para uma companhia britânica na Malásia nos anos 1930, Boulle atuou durante a 2ª Guerra Mundial como espião a serviço do serviço secreto inglês da época, o SOE (Special Operations Executive).

Capturado, foi prisioneiro dos colaboracionistas de Vichy por dois anos.

No pós-Guerra, passou a dedicar-se exclusivamente a literatura, tornando-se um autor de romances que em sua maioria eram de guerra ou ficção científica.

Mas era muito mais admirado fora da França do que pelos conterrâneos.

Em um artigo da BBC News, incluído como extra na edição da Aleph, o jornalista Hugh Schofield reporta que Boulle, um homem recluso, que evitava os meios literários, ainda hoje é praticamente ignorado em seu país natal.

Charlton Heston no filme de 1968, com Cornelius e Zira
Aventura e sátira

Em O Planeta dos Macacos, Boulle consegue aliar entretenimento e conteúdo como só os melhores autores de FC são capazes.

O entretenimento fica por conta da história em si, razoavelmente similar à do filme original de 1968. Curiosamente, o filme com a trama mais próxima ao romance é justamente  o dirigido por Tim Burton, massacrado pela crítica na época.

No livro, escrito de forma ágil, um casal está de férias em uma “escuna” espacial, quando percebe um objeto similar a uma garrafa flutuando no cosmo.

Capturado, o objeto traz, escrito em algumas folhas de papel, o incrível relato de um astronauta terráqueo, Ulysse Mérou, que, em missão de alcançar a estrela Bettelgeuse, descobre um planeta similar a Terra, com oxigênio, água e uma civilização.

Qual não foi sua surpresa e de seus companheiros ao descobrirem que, nesta civilização, os primatas (chimpanzés, orangotangos e gorilas) são a espécie dominante e civilizada, enquanto os humanos são pouco mais que animais, sendo inclusive utilizados em experiências científicas e para entretenimento, assim como fazemos com nossos primatas.


Capturado, Ulysse tenta convencer os macacos de que é um ser inteligente e pior: de outro planeta. E aí Boulle mostra a que veio, descrevendo a sociedade primata de forma bem detalhada e com toques sensacionais de sátira e crítica social a nossa boa e velha sociedade humana.

Assim como na Terra, no planeta dos macacos (ou Sóror, como o batiza Ulysse) também há divisão de classes, políticos parasitas inúteis, puxa-sacos, uma força policial brutalizada e demais similaridades terrestres.

Depois de muito esforço, Ulysse faz amizade com uma macaca, Zira, e seu namorado, Cornelius, que o ajudarão a dar o fora de Sóror. O final da aventura é ainda mais surpreendente do que o do filme de 1968. Os franceses não sabem o que estão perdendo.

O planeta dos macacos / Pierre Boulle / Aleph/ 216 p./ R$ 36/ E-book: R$ 21,60

Bônus: primeiro episódio da série de desenhos animados De Volta Ao Planeta dos Macacos (1975), produzida peplo extraordinário Doug Wildey, criador do Jonny Quest e de graphic novels de bangue-bangue, como Rio.

2 comentários:

Ernesto Ribeiro disse...

Certo. Uma crítica literária. E das boas.


Esse artigo despertou a minha curiosidade.
Devo comprar este livro pela surpresa maior diferente do filme.


Livros costumam ser fontes originais superiores aos filmes baseados neles.

Rodrigo Sputter disse...

Bem legal Chicão o texto...não sei se não sabia ou não lembrava que o filme veio do Livro...mas espero depois de hj não esquecer mais...muitos pensam na França como exemplo de liberdade/igualdade/fraternidade...como uma galera com um pensamento anos luz...verdade...mas não são poucos, os xenófobos e "patriotas", que não gostam de imigrantes...ou de coisas que não sejam de lá...sua cultura, língua...entendo...essa parte de cultura e língua...de preservar...mas é só um passo, pra que isso mude de perspectiva...ó le pen aí...e na situação atual dos imigrantes na França...as coisas tão bem sensíveis...me pergunto como a galera colaboracionista do governo fantoche de vichy pensava sobre a França...fiquei curioso pelo livro...não sabia, ou lembrava, desse fracasso do Burton, lembro que vi o filme, mas não achei horrível, ou nem lembro, lembro dele pelo menos como um filme ok...e beetlejuice tem o mesmo nome da estrela, tem dois nomes no filme que tem essa personagem, que por sinal é de burton tb...mas será q num veio daí a inspiração tb? e tb não sabia que a série era feita pelo mesmo cara que fez rio...interessante...Chicão botando pra quebrar!!

ps.: esse lance de "não lembrava", parece desculpa esfarrapada de gente pernóstica...mas é foda...a memória nos trai...e depois desse mundo internético de enxurrada de cousas então...até de como se escreve as palavras eu esqueço...