A narrativa de Barcinski é ano a ano, começando em 73, com Secos e Molhados... |
Os anos 1970 e o início da década seguinte, contudo, meio que permaneceram à sombra desses períodos supostamente mais frutíferos.
Agora, o livro Pavões Misteriosos - 1973 - 1984: A explosão da música pop no Brasil, do jornalista André Barcinski, tenta, de forma até despretensiosa, preencher essa lacuna e fazer justiça a um período comumente visto como menor por muitos críticos e músicos.
“Meu objetivo foi traçar um panorama geral da época e tentar responder algumas questões que sempre me intrigaram”, escreve André Barcinski, na introdução.
“Por que tantos discos bons foram lançados no Brasil no meio dos anos 1970 e por que a qualidade dos lançamentos caiu logo depois? Como o crescimento da indústria musical afetou nossa música? (...) Por fim, (...) como surgiram no país tantos ‘pavões misteriosos’ – Ney Matogrosso, Tim Maia, Pepeu Gomes, Raul Seixas, Ritchie e vários outros – artistas que, nas palavras de Raul Seixas, ‘não tinham nada a ver com a linha evolutiva da música popular brasileira’”, pergunta-se.
...passando pelas Frenéticas no fim dos anos 1970... |
Mas nem só de obras-primas de grandes artistas se apóia a pesquisa de Barcinski.
Dividido em capítulos dedicados a cada ano do período estudado, ele desvela histórias praticamente ignoradas da música pop brasuca, como a onda dos falsos gringos (Fábio Júnior, Morris Albert), a patrulha ideológica que perseguiu Guilherme Arantes e Fafá de Belém, a explosão da discoteca (Frenéticas, Harmony Cats), ídolos fabricados (Sidney Magal, Gretchen), a MPB odara (Realce, de Gil), o mercado infantil (Turma do Balão Mágico, Xuxa) e, por fim, a espantosa história de ascenção e queda do cantor Ritchie.
Pau de guaraná
...e terminando com a derrocada de Ritchie, pós-Menina Veneno |
Um desses está no capítulo 1977: Na nossa festa vale tudo, em que Barcinski faz um grande relato da era disco desde suas origens nos Estados Unidos, mas também traz um causo inestimável de Leiloca, astróloga e cantora do grupo As Frenéticas, que, na época, teve um caso com Raul Seixas.
Em um hotel no Nordeste, “o Maluco Beleza foi ao quarto da ex e ficou curioso com um pedaço de pau que viu em cima da mesa: ‘Leiloca, que barato é esse?’ ‘É um galho de guaraná, trouxe lá de Manaus’. ‘E dá barato isso aí?’. ‘Não sei, mas vamos tirar a prova já’”.
Solicitado um ralador de queijo na recepção do hotel, “ralamos o toco de guaraná e cheiramos tudo. E não é que deu o maior barato?”, jura Leiloca.
Mais do que uma peça de revisionismo histórico (peso que o autor parece querer evitar), Pavões Misteriosos é um delicioso compêndio de histórias de bastidores não contadas de ídolos (muitos deles esquecidos) e heróis ocultos de nossa música popular.
Alem disso, Barcinski ajuda a entender a própria evolução da indústria fonográfica brasileira, já que, foi justamente nesse período que esta começou a se profissionalizar, processo que desembocou no empoderamento dos departamentos de marketing e subsequente derrocada da criatividade e liberdade artística.
Pavões Misteriosos - 1973 - 1984: A explosão da música pop no Brasil / André Barcinski / Três Estrelas / 256 páginas / R$ 42
Um comentário:
O dia das crianças já passou, mas nunca é tarde para presentear seu reacinha ou petralinha preferido:
http://www.brasilpost.com.br/2014/10/14/reacinha-petralinha-bonec_n_5983422.html?utm_hp_ref=brazil
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