A Morte de Ivan Ilitch, obra-prima de Tolstói ganha adaptação em quadrinhos
Filão de mercado bastante rentável às editoras, as adaptações de clássicos da literatura para os quadrinhos não dão sinal de enfraquecimento, chegando com rara regularidade às livrarias.
Uma das mais recentes é A Morte de Ivan Ilitch, uma das principais obras de Liev Tolstoi.
Quem sabe qualquer coisinha de literatura russa tem consciência do peso, da dificuldade da tarefa. Literatura russa em geral – e Tolstói em particular – não são para principiantes.
Seus textos são densos, extensos e apontam para diversos níveis de leitura, além de, como no caso de A Morte de Ivan Ilitch, tratarem de temas da pesada. Neste caso, da morte.
Delegada ao quadrinista Caeto (paulista de Assis), a adaptação atinge resultados até melhores do que seria de se esperar, dada a dificuldade.
Considerada pelo cânone literário como a novela mais perfeita da literatura mundial, A Morte de Ivan Ilitch (1886) é obra de destaque em meio aos outros trabalhos de Liev Tolstói (1828-1910), aquele sujeito que escreveu “apenas” alguns monumentos da cultura universal, como Guerra e Paz (1869) Anna Karenina (1877).
Em Ivan Ilitch, Tolstói narra a história do personagem título: um sujeito comum, juiz de instrução bem sucedido, que cai enfermo e, de um dia para o outro, vê-se definhar e morrer aos poucos.
Enquanto agoniza, deitado em seu quarto, Ivan rapassa toda a sua vidinha medíocre de burocrata e se confronta com o fato de que vai morrer – e até com a própria ideia de morte. Como já se disse, uma leitura “leve” para o fim de semana.
Perturbadora, a narrativa de Tolstói se passa quase que inteiramente na mente de Ivan Ilitch, que, apesar de ser um homem de família, casado e com filho, vê-se solitário na escuridão do seu quarto, remoendo suas memórias e dando-se conta de sua insignificância.
Exercício vão
Nas mãos de Caeto, a obra de Tolstói ganha em certo dinamismo. O quadrinista, premiado pela sua obra autobiográfica Memória de Elefante (2010, Companhia das Letras), demonstra cancha na decupagem do fluxo de memória de Ivan Ilitch, com seu traço mezzo expressionista em preto & branco.
O problema da adaptação de A Morte de Ivan Ilitch em quadrinhos é a mesma de quase toda adaptação: até que ponto ela é válida como obra por si? Ela se sustenta?
Por que, vamos ser francos: uma coisa é adaptar uma rotina aventuresca, como A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, ou a ficção científica vintage de Julio Verne, obras cinemáticas desde o seu princípio, dadas à incendiar a imaginação do leitor em cenas de correria, lutas e buscas em cenários exóticos.
Já A Morte de Ivan Ilitch é algo inteiramente diferente. Traduzir em imagens sequenciais o mergulho memorialístico-filosófico de um homem que, em seu leito de morte, se dá conta de sua mediocridade, é como querer engarrafar a luz do sol: um exercício vão.
Apesar disso – e dos enormes blocos de texto que por vezes truncam a leitura –, Caeto está de parabéns. Ao menos, pelas suas mãos, muitos que jamais leriam uma obra de Liev Tolstói terão aqui seu primeiro contato com o gênio russo.
A morte de Ivan Ilitch /Liev Tolstói, Caeto / Tradução: Boris Schnaiderman/ Editora Peirópolis/ 80 p./ R$ 39
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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4 comentários:
Slapt! Obrigado senhor, posso apanhar mais um pouco? Slapt! Slapt! Slapt!
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1525734-ombudsman-por-um-dia-jornal-erra-ao-tentar-se-mostrar-neutro.shtml
...Slapt! Slapt! Slapt! Slapt!...
Que Lázaro Toca Raul é um mito, uma lenda viva do show business (?) baiano, eu nunca tive dúvida. Mas que sua fama já havia ultrapassado as fronteiras estaduais eu realmente não fazia ideia. Olha ele aqui, numa lista de "29 pessoas irritantes que você encontra em shows", do site Brasil Post:
http://www.brasilpost.com.br/2014/10/01/pessoas-irritantes-shows_n_5890086.html?utm_hp_ref=mostpopular
Estou de cara!
Próximo show:
www.fotolog.net/thehonkers
bora??
Aquela criatura devia figurar em primeiro lugar na lista das figuras mais repugnantes que você encontra em shows. Só mesmo na Bahia tem gente no show business que gosta desse sujeito.
Na escola de Belas-Artes da UFBa, (há uma década atrás!) a má-fama dele já era comentada assim:
"Salvador é mesmo um circo de horrores. Sabe aquele bicho bizarro fedorento? Outro dia os Retrofoguetes deixaram ele subir no palco no meio do show deles. O leso-lesão-cuzão babou no microfone:'Éééé... eu quero desejar paz e amor a todos vocês...' Porra, todo mundo na platéia vaiou! Teve gente que abandonou o show na mesma hora! Foi a maior queimação de filme! Acho que nunca mais os Retrofoguetes tocam por lá!"
Em vez de mandar internar o débil-mental num hospício, os músicos ficam paparicando o horror em pessoa.
Eu tive a infelicidade de encontra-lo em 3 shows. Ou pior, de sentir o fedor abominável dele a 10 metros de distância. O cara sozinho esvaziou o salão e deixou a banda tocando sozinha pra amargar o prejuízo junto com o dono da casa.
Foi aí que eu entendi porque o tal do rock baiano se não morreu, já recebeu a extrema-unção.
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