sexta-feira, julho 04, 2014

PESCA COM BOMBAS CAUSA ARERÊ EM MONTE SERRAT COM O TIRA MAIS DURÃO DE SALVADOR

HQ: Tungstênio, de Marcello Quintanilha, traz trama super ágil na capital baiana

Além de prejuízos à fauna e flora marinha, a pesca com bombas na Baía de Todos os Santos já deu muita confusão.

Nenhuma, porém, tão ensandecida (e divertida) quanto a mostrada na graphic novel Tungstênio, de Marcello Quintanilha.

O quadrinista niteroiense, residente em Barcelona, é hoje um dos mais aclamados profissionais da área no Brasil e na Europa, aonde trabalha ao lado do argentino Jorge Zentner e do espanhol Montecarlo, com os quais assina a série Sept balles pour Oxford, para a editora belga Le Lombard.

Em 2004, Quintanilha esteve na capital baiana para produzir o álbum Cidades Ilustradas: Salvador (Casa 21, 2005).

A estadia o marcou profundamente, rendendo ainda um par de HQs no álbum Almas Públicas (Conrad, 2011) e agora, uma graphic novel inteira, Tungstênio.

O PM, o X-9, o tiozão e a patroa

“Salvador sempre esteve no meu imaginário, seja através da literatura, do cinema ou da música”, conta Quintanilha, por email.

“E conhecer a cidade pessoalmente significou a confirmação de todas as minhas expectativas — foi como encontrar-me comigo mesmo”, diz.

O quadrinista é conhecido não só pela habilidade plástica com que desenha personagens e cidades, mas também pelo rigoroso domínio narrativo sequencial, além de um especial interesse em histórias protagonizadas por tipos bem populares: motoristas de ônibus, jogadores de futebol, camelôs.

Em Tungstênio, isto não é diferente. Tudo começa quando um  sargento reformado, tiozão, e um traficantezinho X-9 flagram uma dupla pescando com bombas, próximo ao Forte de Monte Serrat.

O X-9 liga para seu contato, o PM paisana mais casca-grossa de Salvador, Richard – que  está em crise matrimonial com a patroa, Lúcia.

Contar mais é estragar a leitura. Basta dizer que a trama é extremamente ágil, violenta e terna ao mesmo tempo – e que tem seu auge no notório restaurante / casa de shows de Itapoan, o Casquinha de Siri (hoje  aberto com outro nome).

“A ideia para o argumento surgiu à partir de uma sucinta notícia transmitida pela Rádio Sociedade, que costumo acompanhar por internet”, conta.

“Girava em torno de uma dupla que havia sido detida nas imediações do Forte por pescar com explosivos. Antes que pudesse perceber, estava criando um enredo em torno desse fato. Sim, contei com o apoio do material levantado quando de minha estadia aí em 2004”, diz.

Para além da trama alucinada e dos desenhos belíssimos, chama atenção o domínio do autor para o falar tipicamente soteropolitano.

Não chega a ser aquela caricatura tipo Ó Paí, Ó, mas, para quem vive aqui, fica difícil conter o riso ao se deparar com expressões bem do nosso dia a dia, como “Repare bem, monstro”. Ou “Se suma daqui, seu filho da desgraça”!

“A transposição da oralidade é sempre um desafio. Mas não há outra forma de lidar com isso, a não ser estabelecendo um relação de absoluta confiança na capacidade dos leitores de absorver as nuances da fala coloquial”, reflete Quintanilha.

Agora, apesar da inspiração para a trama ter sido uma notícia real, os personagens não o são, garante: “A inspiração para meus personagens vêm das minhas próprias experiências e não necessariamente têm a ver com a locação das histórias ou com minha moral pessoal, já que não pretendo me limitar por esses parâmetros”, diz.

“O que me interessa é  criar personagens cuja forma de ver o mundo seja radicalmente diferente da minha”, acrescenta.

Quanto à velocidade da narrativa – são 192 páginas que voam nas mãos do leitor –, ele conta que “Foi natural pra mim. Não penso os quadrinhos em termos cinematográficos. O ritmo da narrativa é determinado pela dinâmica da leitura propriamente dita e representa a formalização da maneira como acredito que as imagens se devam suceder de forma cadenciada”, observa.

Mas e o tungstênio, o metal que dá título à HQ, entra aonde? “O tungstênio é o metal mais pesado que se conhece; conquanto se rompa com facilidade quando não puro. É um jogo entre a maleabilidade com que devemos afrontar a dureza imposta pelo metal do dia-a-dia e até que ponto podemos forçar a dureza desse metal, a ponto de rompê-lo”, conclui o artista.

Tungstênio / Marcello Quintanilha / Veneta/ 192 p. / R$ 54,90 / www.facebook.com/editoraveneta

9 comentários:

Rodrigo Sputter disse...

minhas zárea...levei uns gringo pra lá 4a, adoraram, aliás havia levado outro antes tb q adorou, uma das minhas áreas favoritas da cidade, se não for a favorita...ia lá todo dia entre os 12 e 15 anos....com meus amigos, mergulhar, jogar boa, conversar....saia da praia de Roma e ia até o Humaitá...quer dizer o Humaitá que é meu fave, mas do que o forte, que é belíssimo tb...mas tudo mal cuidado...o museu do forte, e o forte, em pleno feriado de copa do mundo, fechado...é mole? rolava muita bomba, eu mesmo já presenciei várias...nunca esqueço de um primo q juntou uma grana pra comprar um óculos de mergulho, daqueles circulares e estávamos na praia e rolou uma bomba, éramos "crianças", eu devia ter uns 12 anos e tinha vários peixes, achavamos errado usar bomba, mas tinha vários peixes perto da gente e pegamos uns pra comer em casa...e um dos caras q jogou a bomba mandou devolver e meu primo tinha colocado dentro das calças uns e ainda assim, devolvendo o cara tomou - roubou - os óculos de meu primo e se vc dissesse aos seus pais o que ocorreu ainda apanhava...é mole? rezava a lenda que muita gente morreu mergulhando, pq alguém largou uma bomba ou teve os colhões estourados por isso...além de ter matada um monte de peixe, derrubado muros e estruturas do local...tem um cara lá na ribeira q num tem uma mão por causa de bomba é o que dizem...agora sobre as gírias, "se suma daqui" eu nunca vi...monstro é de recife não? sei que tem "se saia", "bó se sai"...que eu até falo...fiquei supercurioso pra ler...preço meio salgadim...mas certamente é caro pra fazer um...mas fiquei superfeliz pra ver em hq um quadrinho de minha vizinhança...

Rodrigo Sputter disse...

agora tem uns desenhos bem precisos...na hora que o cara soltou daquele banco, pensei q ia pular na praia, aí eu ia dizer "que mentira da porra", pq ela ia morrer, embora seja quadrinho...mas ele pua pra grama, que tb ele ia se estabocar no chão se vacilasse...

Franchico disse...

Jornalista de cultura não costuma admitir, mas tem a maior admiração pelos colegas que se arriscam de verdade, investigando o lodaçal que envolve, polícia, bandidos e política no Brasil.

http://noticias.r7.com/blogs/andre-forastieri/2014/07/04/a-pm-esta-sem-comando-fora-de-controle-e-agora-sob-vigilancia/

Agora, como os grandes jornais cobrem cada vez menos esta área, surgem iniciativas essenciais e corajosíssimas com esta:

http://ponte.org/

Franchico disse...

"Repare bem" é clássico, né Sputter?

"Monstro" é mais recente, mas eu tenho ouvido cada vez mais na boca do povão.

"Se suma" ou "Se saia" eu ouço desde criança, assim como "filho da desgraça".

Eu achei super bem fundamentada a pesquisa do cara. Ouvido da porra para pegar nosso jeito de falar.

Franchico disse...

Taí: sou contra o futebol enquanto instituição e o poço de corrupção que é, e sempre achei Neymar um mané narcisista, mas o que fizeram com ele foi injustificável e imperdoável. Fiquei feliz de termos mandado esses colombianos para casa. Agora estou torcendo pelo Brasil só de raiva. Na nossa casa mandamos nós, gringos. Vamos enfiar essa taça pela goela abaixo de quem vier - espero...

Rodrigo Sputter disse...

Sim Chico, mas "Se suma monstro", eu nunca ouvi...tu já?
monstro eu já falei, tipo "o cara é um na (ou da) bateria", quem me chamava de monstrinho ou "colé monstrinho" é um amigo falecido, que tocou no mombojó, vi muitos de lá usando monstro nesse contexto...de amigo..."se suma", nunca ouvi..."se saia", "borimbora", "bó", "bó se saí véi", já falei várias...eheeehe...ainda falo...

Chico, lembra q pelo "incidente" de "12 anos de escravidão", Forastieri foi chamado de racista e reaça? vamos ver o que vão falar agora...q ele tá fazendo a matéria pra minimizar a "veia reaça" dele?
vamos ver a cena dos próximos capítulos...

Tb acho que o cara foi na maldade e a caída no chão de Neymar foi o que fudeu ali tudo...mas ainda continuo "Torcendo" pra Holanda...tem a Bandeira "IGUAL" a do Bahia, nunca foi campeã, os caras tão correndo atrás do placar sempre, ganhando, empatando ou perdendo, 3 coras jogando que nem meninos...esses caras merecem a copa...pra mim a Final é Alemanha x Holanda, escrevaí...eu só "errei" 1 resultado dessas semis...mas ainda assim era mais dúvida...q foi o Uruguai não passar. quem sabe perder o jogador deles não foi uma coisa que deixaram os caras meio pra baixo?

Ernesto Ribeiro disse...

Exato.


SUPRPRESA : nossos sentimentos mudaram e nossa torcida também.


Até começar o jogo desta sexta á noite, eu repetia o coro da torcida anti-Copa: "Ei! Neymar! Eu quero ver você amarelar!"


Agora, eu quero ver o oposto:


JUSTIÇA para Neymar e para nossa heróica Seleção.



* * * * * * * * * *


Há décadas que deviam ter empalado o João Havelange e afogado num poço de merda o sobrinho dele Ricaço Teixeira.


Em 1986, no famigerado jogo Argentina X Inglaterra, a torcida devia ter invadido o gramado e quebrado as mãos de Maradona "gol de mão" e os braços do juiz que transformou o futebol em handebol, com a Copa Que Valeu Nada.


Em 1994, Ronaldo devia ter saído do banco de reservas a que foi confinado pela incompetente dupla Parreira - Zagalo.


Em 1998, Edmundo Animal devia ter substituído o Amarelão Careca logo no início da partida contra a França.


Em 2014, o criminoso colombiano devia ter a coluna quebrada em duas e algum médico cientista devia curar a vértebra de Neymar em 3 dias.



Só para garantir uma disputa justa contra a Alemanha.

Ernesto Ribeiro disse...

Só mesmo uma privada ambulante como Carlinhos Bráu pra inventar uma porcaria de instrumento musical com o nome de cachi-rola. E q ue mal nasceu, foi para o lixo, após ter sido usado como arma. Essa Copa já chegou com um mau agouro.

Ernesto Ribeiro disse...

Encerrando o assunto: no canal FX, o grupo humorístico Hermes & Renato teve exibida uma piada com dois comediantes caracterizados como a presidente Dilma Rousseff ao lado de Carlinhos Brown, que apresentou o novo modelo da caxirola — agora, com outra pronúncia, mais explícita — e passa o instrumento para as mãos da presidente, que se recusa a encostar aquilo na boca.


O teor da anedota é de uma obscenidade impronunciável num site sério como este, mas os leitores podem perfeitamente imaginar o nível moral a que foi reduzida a imagem da música baiana de sucesso nos dias de hoje e nas últimas décadas, aos olhos e ouvidos do público dos Estados do Sul e Sudeste.


Mais triste é saber que cada vez mais são os PIORES artistas e os mais grotescos POSERS que mais são agraciados com o prestígio oficial pelas autoridades no poder; e que também os músicos mais medíocres são os mais privilegiados com o cargo de compositor de trilhas sonoras para filmes de Hollywood, como a série de animação "Rio" a ponto de concorrer ao Oscar.


Nunca vi uma farsa tão repugnante ser tão enaltecida como Carlinhos Brown. O sujeito da timbalada e da água mineral. Quanto mais podre, mais endeusado. Tristes trópicos, mesmo.