Grande estreia aos 63 anos
Nem só da espetacular Sharon Jones (que só faltou botar o Teatro Castro Alves abaixo em junho último), vive o selo Daptone, especializado em black music. O fenomenal soulman (e encanador!) Charles Bradley lança seu álbum de estreia somente agora, aos 63 anos. E como diz o velho clichê, antes tarde do que nunca. O vozeirão rasgado ora lembra James Brown, ora evoca Otis Redding. Bem acompanhado pela Menahem Street Band, crava, sem favor algum, um dos melhores álbuns do ano, pleno de feeling, suor, sangue, sexo e verdade. Charles Bradley / No Time For Dreaming (Importado) / Daptone Records / R$ 63
Um sonzão de big band
Ex-membro da banda oitentista Squeeze, o pianista inglês Jools Holland se notabilizou como o bonachão apresentador do programa musical Later... da BBC. Esperto, sempre aproveita para fazer jams com os convidados. Neste disco, algumas das melhores colaborações entre Jools, sua orquestra de rhythm & blues e nomes como Solomon Burke, Eric Clapton, Dr. John, Richard Hawley, Tom Jones e Michael “Egg in the mouth” McDonald. Sonzão de big band na caixa, Finding The Keys é um bálsamo de música real, tocada por gente de verdade. Jools Holland & His R&B Orchestra / Finding The Keys: The Best of / Warner music / R$ 31,90
Álbum cheio de vazio
Surgida no resto do tacho do estouro do rock alternativo, na segunda metade dos anos 1990, o Incubus sempre foi uma banda abaixo da média, o que não impediu que conseguisse dialogar com sua geração e amealhar um séquito de fãs. Em seu sexto álbum de estúdio, apresentam mais do mesmo e fazem os ouvintes perguntarem se esses caras estão vivos mesmo. If Not Now, When? é um disco que não causa absolutamente nada em que se dispõe a ouvi-lo. Não há vibração, não há riffs marcantes, não há emoção, refrãos, nada. Nem para irritar essa banda serve. Fazer o que? Incubus / If Not Now, When? / Sony Music / R$ 24,90
Perfis de Chuck
Cultuado pelo (superestimado) livro / filme O Clube da Luta, Chuck Palahniuk tem aqui uma razoável coleção de artigos e reportagens escritos para jornais e revistas. Destaque para um festival de sexo em Montana, um duelo de máquinas agrícolas e os perfis de Juliette Lewis e do escritor Ira Levin. Mais estranho que a ficção / Chuck Palahniuk / Rocco / 272 p. / R$ 36,50 / rocco.com.br
HQ ou storyboard pré-fabricado?
Só por que uma ideia parece original, não quer dizer que ela vá render. É isso que acontece com a HQ Cowboys & Aliens, que combina western com ficção científica e gerou um filme com Harrison Ford e Daniel Craig. Na verdade, parece que única finalidade da HQ foi esta: vender a ideia para o cinema. Os desenhos (do brasileiro Luciano Lima) são muito feios e a narrativa é capenga. Melhor esperar logo o filme, que estreia no dia 9 de setembro. Cowboys & Aliens / Rosenberg, Van lente, Foley, Lima, Calero / Galera Record / 112 p. / R$ 42,90 / galerarecord.com.br
Testemunho arrepiante
Há um sutil toque de tragédia na voz roufenha de Gil Scott- Heron (1949-2011), o bluesman que, por declamar – ao invés de cantar – ácidos manifestos sócio-políticos, foi frequentemente apontado como precursor do rap. “Não sei se devo levar a culpa por isto”, era sua resposta. Morto em maio ultimo, o homem que preconizou (ainda nos anos 1970) que a “revolução não será televisionada” deixa como testemunho final este último álbum, um arrepiante prenúncio do fim. Os arranjos minimalistas emolduram com perfeição Me and The Devil (de Robert Johnson), New York is Killing Me e On Coming From a Broken Home. Para corações fortes. Gil Scott-Heron / I'M NEW HERE / Lab 344 - XL Recordings / R$ 28,90
Homenagem à altura
No ano em que completaria 75 anos, um elenco de primeiríssima se reúne para homenagear o grande Buddy Holly (1936-1959), um dos pioneiros do rock ‘n’ roll. O tributo se inicia com a melhor banda da atualidade, The Black Keys, mantendo a simplicidade (e a pungência) de Dearest. Sir Paul McCartney, sangue no olho, se esgoela em It’s So Easy. Patti Smith emociona com Words of Love, My Morning Jacket idem com True Love Ways e Lou Reed experimenta (sem chatear) com Peggy Sue. Há ainda Julian Casablancas, She & Him, Cee-Lo Green e mais. Discaço. Vários artistas / Rave On Buddy Holly / Universal / R$ 29,90
Anarquistas literários, graças a Deus
Organizado por Antonio Arnoni Prado, Cláudia Leal e Francisco Hardman, este livro recupera textos de autores anarquistas escritos no Brasil, a maioria por imigrantes italianos e espanhóis, entre fins do século XIX e a década de 1930. Documento importante, ideologica e historicamente falando. Contos anarquistas / Vários autores / WMF Martins Fontes / 340 p. / R$ 49,80/ wmfmartinsfontes.com.br
Fuego en la bacurita
Mulher a frente do seu tempo, a escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977) perseguia desejos como crianças correm atrás de pombos na praça. No terceiro volume de seus diários, ela deixa Paris para se afastar do marido e do amante (o escritor Henry Miller), vai para Nova York atrás de outro, o seu próprio analista, Otto Rank – mas o calor na bacurinha fala mais alto e, logo, lá vai ela de volta a Cidade Luz. FOGO: DIÁRIOS NÃO EXPURGADOS 1934 - 1937 / Anaïs Nin / L&PM / 480 p. / R$ 24 / lpm.com.br
Os guarda-chuvas do delírio
Segundo volume da série de HQs de Gerard Way e do premiado desenhista brasileiro Gabriel Bá, traz de volta sua equipe de seres ultrapoderosos em uma intrincada trama que mistura psicopatas com máscaras fofinhas, viagens no tempo e a conspiração do assassinato de Kennedy. Delirante. The Umbrella Academy: Dallas / Gerard Way e Gabriel Bá / Devir / 184 p. / R$ 29,50 / devir.com.br
Dama do rock de volta
Aos 62 anos de idade, a cantora norte-americana Stevie Nicks (ex-Fleetwood Mac), retorna a cena, depois de dez anos sem lançar nada inédito. Produzida por Dave Stewart (Ex-Eurythmics, Super Heavy), a dama do folk rock estradeiro volta em boa forma, com o que tem sido considerado seu melhor trabalho em décadas. Se os anos conferiram uma certa rispidez a sua voz, as composições continuam delicadas, como Secret Love e Wide Sargasso Sea. Annabel Lee é o poema de Edgar Allan Poe, com um belo arranjo de guitarras e cordas. Deve ganhar uns Grammys. Stevie Nicks / IN YOUR DREAMS / WARNER MUSIC / R$ 29,90
Transcendendo a tosquidão
À primeira vista, o duo The Kills é só mais uma daquelas bandas de casal fazendo rockinho de garagem tosco (vade retro, Ting Tings!). Porém, em seu quarto álbum, até que eles acertam a mão e transcendem a tosquidão e os hypes vazios em um punhado de faixas. A faixa de abertura Future Starts Slow traz um cativante riff em delay, emoldurado por uma batida quase tribal, enquanto Nail In My Coffin é hit pronto para a pista. Já a linda Baby Says, com riff surf saturado de fuzz, é trilha sonora para pegar a estrada, sem destino. No geral, um bom disco de rock contemporâneo – o que, hoje em dia, não é pouco. The Kills / Blood Pressures / LAB 344 - Domino Records / R$ 27,90
Fusão popular / vanguarda
Em seu segundo álbum, Manuela Rodrigues, dona de voz espetacular e rica em matizes, conseguiu sintetizar, com rara fluência, uma fusão de popular com vanguarda. Multitarefas, atua também como compositora e coprodutora (com Tadeu Mascarenhas e Mou Brasil), em obra que vale por um liquidificador de sensações: é capaz de seduzir (Doce de Limão), de sensibilizar (Por Um Fio), de divertir (Barraqueira), de desconstruir (Berimbau, hit do Olodum, é aqui um tour de force de acento jazzístico) e mais. Tudo sem perder o rebolado. Manuela Rodrigues / Uma Outra Qualquer Por Aí / Garimpo Música / R$ 21,60
Na zumbilândia madrilenha
Considerado o “Stephen King espanhol”, Manel Loureiro emprega sua prosa ágil e enxuta a serviço do apocalipse zumbi, nesta série de arrepiar os pelos da nuca. O segundo volume, Os Dias Escuros, relata a missão suicida de alguns sobreviventes para saquear um hospital em Madri. Apocalipse Z: Os dias escuros / Manel Loureiro / Planeta / 320 p. / R$ 39,90/ editoraplaneta.com.br
King Kubert das Selvas
Mestre universal das HQs, Joe Kubert tem o 2º volume de sua espetacular fase com Tarzan publicado no Brasil. Ultradinâmicos e repletos de movimento, seus roteiros e desenhos acompanham o Homem Macaco em aventuras nas ruas de Paris, no deserto argelino e na cidade proibida de Opar. Tarzan: a Volta do Rei das Selvas e Outras Histórias / Joe Kubert / Devir/ 216 p. / R$ 49,50/ devir.com.br
Quem tá no rock é pra se...
Já ouviu falar do Superguidis? Não? Agora é tarde, eles já acabaram. A ótima banda gaúcha, na ativa desde 2002, anunciou o fim de suas atividades no final de junho, depois de três bons discos em que praticaram indie rock com guitarras no talo, boas letras em português e zero de pose. É mesmo uma pena, já que eram melhores do que – basicamente – qualquer coisa que se diga rock e ganha milhões no mainstream. Neste EP de despedida, disponível para download, versões demo e ao vivo de algumas músicas favoritas dos fãs. Todos os 15 ou 17. Superguidis / Epílogo / Independente / Download gratuito: tramavirtual. uol.com.br/superguidis
CD para quem usa bigode
Esclarecedora, essa coletânea: a propósito das comemorações dos 10 anos do site Chic, da consultora de moda Glória Kalil, o CD ficou no meio termo. De um lado, aquele repertório que já fez muito coroa pagar mico em festa de 15 anos, como Dancin’ Days (Frenéticas), Le Freak (Chic) e (a auto- homenagem?) Gloria (Laura Brannigan) Do outro, hits supostamente “alternativos”, para despistar e ficar bem com o povo fashionista: A Cause des Garçons (Yelle), Jager Yoga (CSS) e Blind (Hercules and Love Affair). Indicado para quem usa bigode. Vários artistas /CHIC 10 ANOS - GLORIA KALIL / Warner Music / R$ 31,20
Em decadência evidente
Espécie de elo perdido entre o progressivo tardio do Marillion e o progmetal virtuoso do Dream Theatre, a banda norte americana Queensryche já foi o supra sumo do heavy metal “inteligente”, com declaradas pretensões artísticas. Em seu 12º álbum de estúdio, contudo, os dias de glória parecem ter ficado para trás. Dedicated to Chaos soa burocrático, frio e sem peso (pecado mortal para uma banda do gênero) desde a primeira música (e faixa de trabalho), Get Started, até a última, Big Noize. Com generosidade, dá pra dizer que The Lie lembra os bons tempos. QUEENSRYCHE / DEDICATED TO CHAOS / Roadrunner - Warner / R$ 31,20
Ninguém chamou de volta
Banda fetiche da rapaziada cuca fresca da ensolarada Califórnia, o trio Sublime havia encerrado as atividades em 1996, quando seu líder e vocalista, Brad Nowell, morreu de overdose. Mas eis que um belo dia, os membros remanescentes resolvem chamar um substituto e retomar a banda. Entra em cena o jovem Rome Ramirez e o resultado é esta caricatura de Sublime. Há o ska punk de sempre (Panic, Lovers Rock), o hardcore de Los Angeles (My World), o folk beira de mar a la Jack Johnson (Spun, PCH) e assim vai. Só o que não há é interesse – ou originalidade. Sublime With Rome / Yours Truly / Fueled by raymen - Warner / R$ 31,20
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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10 comentários:
Luciano Matos fez uma boa entrevista com Maurão sobre o disco da Bestiário:
http://www.nemo.com.br/elcabong/?p=7761
Chicvs, Ave!
Ex Machina é composta de quantos volumes? Encontrei na Comix os vols. 1 ao 6 mais a mini série "Símbolo" completa... é por aí?
De Brian Vaughan acho que gosto mais desse do que Y...
Ex-Machina é espetacular mesmo, Márcio. Dureza comparar com Y, que é foda, mas dá para dizer que Ex-machina é mais adulta, mais política - até por que o personagem principal é um político, e não um artista de fugas com um macaco...
Saíram esses seis volumes. "Símbolo" equivale ao volume 2 ou três, não lembro agora. Saiu pela Pixel. Assim como em Y, tente se ater as edições da Panini, para manter a coleção uniforme...
The Fall na Concha.
Taí um troço incomum.
Vai ser lindo - para os 5 ou seis que realmente conhecem a banda em Salvador - e eu confesso, não sem uma pontinha de vergonha, que não sou um deles.
O resto terá o prazer de conehecer ali na hora - mesmo que posem de "fã desde criancinha".
Balela, claro.
Mas certamente é um show histórico na velha e estúpida Salvador.
http://coquetelmolotov.com.br/novo/no-ar-2011-divulga-programacao-completa/
Só conheço o Bend Sinister, que comprei na época do lançamento em vinil, tenho ainda hoje, quase nada mais. gosto do disco, que eles nem devem tocar nada. Mas em se tratando de Salvador, é bom aproveitar...
nao entendi, o Fall toca só em Recife, ou aqui tb? Sou um dos 5 ou 6, tenho uma boa quantidade dosn titulos. Mark E. Smith não tem nada, mas nada a evr com Brasil e menos ainda com Bahia. Uma dessas traduções impossiveis. E quem não conhece, poderia se ineteressar um pouco, é a ultima banda egressa do punk ( eu disse egressa, porque não tocam mais punk rock, apesar do barulho) que ainda tem relevancia, com uma proposta ainda bem interessante.
hj nos pós-tudo tem banda de rock com discotecagem minha. No setlist: Bad Company, UFO, Neil Young, Wishbone Ash, Cream, Hendrix, Todd Rundgren, Johnny Winter, Montrose, James Gang e trio maximo ( na pronuncia de um rocker setentista) - Dip Pupo, Leide Zepelín, e o inimitavel Black Sabadá! Claaaaasiccc!!!!
Também sou um dos 5 ou 6 que conhecem o The Fall, por conta desse LP de Cebola aí... Sempre os achei um típico representante do post-punk... E olha que até hoje estão na ativa, lançando disco e as zorra!
Estaremos entre os fãs desde criancinha nesse dia na Concha.
No link que Chico postou tem a informação de que eles vão tocar aqui também, Osvaldo.
Quem conhece muito The Fall é Pj, o mestre recluso da downtown, óraculo dos Honkers.
Se eu num me engando esse vinil q Cebola fala, ele tem, é um da capa preta?
Agora num lembro nada de cabeça deles, lembro q era um som bem desconstruído...
Quando lembro de The Fall lembro do cover q eles tocam de MR Pharmacist do The Other Half...Pj tocava com a Alcoholic Band essa faixa...um primor.
Não entendi o que Brahminha quis dizer que o cara num tem nada a ver com o Brasil, nunca se sabe...tenho uma amiga que é de manchester e o sonho dela era mora em salvador. achava manchester um saco...e olha q ela é de onde tem o festival reading...um dia encontramos numa festa um cara q trampava no festival e era dessa cidade dela, num sei nada da geografia local ou do festival, ele disse q lá era um saco tb e num entendia como alguém podia ser triste em salvador...pq em manchester chovia o dia todo e ele num podia fazer nada...tudo bem q ele num morou nas bocadas daqui ou se fodia no dia a dia...mas nunca se sabe o q esperar de uma pessoa...eu particularmente num sou pirado em sp..prefiro Rj e Curitiba, enquanto beleza natural e arquitetônica...apesar de Sp lugares com construções muito foda.
Gosto mesmo é da minha merda de cidade-baixa...heehhehehe
sputter, mark e. smith é um dos caras mais rabugentos do rock, depois de velho então... ele é famoso pelo mau humore por seu humor caustico. no entanto nada impede que na sua visita aos tropicos ele comporte como qualquer turista gringo se comporta nos exoticos e distantes mares do sul. nada impede que ele va pro pelô , tome uns cravinhos e va olhar as mulatas rebolando no olodum, se eu fosse de manchester faria isto. mas acho que identificaçào mesmo, acho dificil. ele nào é pierre verger. e quanto a traduçào impossivel, o fall é uma das bandas com linguagem mais dificil do rock, tanto pela pronuncia nortista do seu canto falado, incompreensivel para muitos dos proprios ingleses, como pela proposta artistica, entre o sarcasmo e o hermetismo, com uma sonoridade muito influenciada pelo kraut rock,avant-guarde e pelo art rock com pegada punk, feita por um cara de origem operaria inglesa. nào é uma banda facil pra ninguem, nem pros proprios ingleses.
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