quarta-feira, setembro 21, 2011

GLAMOUR NO RAIO-X

Nos últimos 10 ou 15 anos, as obras culturais mais impactantes produzidas nos Estados Unidos não saíram do cinema (cada dia mais infantilizado), nem da música ou mesmo da literatura – mas sim, do mais subestimado dos veículos: a televisão, especialmente através dos canais a cabo.

Após a pequena revolução causada pela série / marco Família Soprano (1999-2007), os espectadores ficaram cada vez mais exigentes.

A bola da vez é Mad Men, série ambientada no período histórico que mitificou a propaganda como uma profissão glamourizada: os anos 1960 pré-contracultura.


6: Mad Men - Opening Title Sequences por HatakTRAILERS

Atualmente em sua quarta temporada, a espetacular série do canal AMC (o mesmo das amplamente elogiadas Breaking Bad e The Walking Dead), que está fazendo tanto sucesso que teve dois livros publicados simultaneamente no Brasil: Mad Men - Comunicados do Front Publicitário (Record) e O Guia Não Oficial de Mad Men - Os Reis da Madison Avenue (Best Seller).

O primeiro é o livro de memórias do redator Jerry Della Femina. Foi nele que Matthew Weiner, ex-roteirista dos Sopranos e criador de Mad Men, se baseou para criar a série.

Lançado originalmente em 1970, é um magnífico painel do mundo publicitário norte-americano dos anos 60. Tornou-se um clássico do gênero e andava meio esquecido. Como seu livro serviu de inspiração à série, Della Femina ainda atuou como consultor técnico na primeira temporada.

Já O Guia Não Oficial, de Jesse McLean, é justamente o que seu título promete: um manual de tudo o que se relaciona diretamente com Mad Men, relatando desde os bastidores da criação da série, até biografias dos atores, fichas técnicas e apreciações críticas de todos os episódios das duas primeiras temporadas.

"OS CIGARROS E O DESEJO DE MORTE FREUDIANO"

Uma das razões do sucesso estrondoso de Mad Men, a série, talvez resida no fato de que relatos sobre períodos de apogeu (ou decadência, dependendo do ponto de vista) sempre exerçam grande fascínio.

E uma narrativa ambientada no centro nevrálgico do auge do capitalismo (as agências de propaganda da Madison Avenue nos anos dourados de John Kennedy), definitivamente se encaixa nesta descrição.

O choque causado pelas mudanças dos costumes dos anos 1960 para cá é outro ponto de atração de Mad Men. É inevitável se chocar, especialmente quando se acompanha a série desde o início (as três primeiras temporadas estão disponíveis em DVD).

Fumar, beber e trair a esposa eram, praticamente, exigências sociais – e o ambiente de trabalho é um dos locais preferidos para essas atividades. Fumava-se em reuniões de negócios, restaurantes, escritórios, cinemas e até em aviões.

O episódio piloto é emblemático, pois ambienta o espectador no clima da série em sua forma mais pura.

Nele, os funcionários da agência Sterling Cooper, centro da narrativa, queimam os neurônios para driblar as dificuldades que tem pela frente nas campanhas do cigarro, já que o governo proibiu as agências de usarem o argumento – hoje, ridículo – de que eles são bons para a saúde”.

O mais engraçado é que uma pesquisadora da agência chega a antecipar aos “criativos” que o fascínio dos cigarros está intimamente ligado a um “desejo freudiano de morte”, já que, desde aquela época, já se sabia que os cigarros, na verdade, são nocivos.

O argumento é a base de toda a propaganda de cigarros desde então, ligando-os a estilos de vida esportivos e radicais – mas Don Draper, o diretor de criação, rejeita a ideia. E joga o relatório da pesquisadora no cesto de lixo.

Ato contínuo, acende um cigarro e serve-se de um drinque – embora ainda seja de manhã.

Momentos de ironia finíssima como este fizeram de Mad Men um clássico televisivo instantâneo.

PRÊMIOS, GUIAS E GOLPES BAIXOS

No domingo passado, Mad Men, mais uma vez, bateu a concorrência fortíssima de seriados como Boardwalk Empire (de Martin Scorsese), Dexter e Game of Thrones, faturando o quarto prêmio Emmy (conhecido como o “Oscar da televisão americana”) consecutivo, de Melhor Série Dramática.

O feito ilustra bem a estabilidade alcançada por Matthew Weiner na confecção da série. Mad Men, com sua narrativa constante, pontuada por momentos de introspecção e silêncios – que revelam mais sobre o interior dos personagens do que qualquer diálogo – nunca foi um estrondoso sucesso de audiência, nem nos Estados Unidos.

Porém, como revela Jesse McLean no Guia Não Oficial, “a vantagem de ser exibida em um canal a cabo pequeno como o AMC (HBO, no Brasil) é que Mad Men jamais precisou se preocupar com a audiência, indulgência concedida sob a condição de que a série continue acumulando prêmios”, escreve.

Para Jesse, a combinação do ambiente de uma agência de propaganda com os anos 1960 – além do extraordinário apuro dos roteiros, atores e direção de arte – é o segredo do sucesso do programa.

“Através do prisma das aventuras do independente e solitário Don Draper no mundo da publicidade dos anos 1960 em Nova York, o roteirista permite à audiência enxergar as várias facetas da cultura norte-americana, que vivenciou uma transformação devastadora naquela época excitante”, observa.

A realidade da propaganda

Sobre o livro que inspirou a série, Mad Men - Comunicados do Front Publicitário, ele é mais indicado aos interessados em propaganda (e na sua história e desenvolvimento) em si do que aos fãs do programa. Nele, não há Don Draper, Peggy Olson ou Pete Campbell.

Volume de memórias de Jerry Della Femina, há 50 anos no ramo da publicidade, seu texto flui com muita facilidade e agilidade, sempre com muito bom humor, contando tudo sobre os meandros do meio publicitário naqueles tempos analógicos, pré-revolução contracultural.

Estão lá em suas páginas todas as loucuras inerentes ao meio: os golpes baixos para roubar contas alheias, a censura, o consumo desenfreado de álcool e drogas, a neurose dos redatores, os egos descontrolados dos diretores de criação e atendimento, métodos pouco ortodoxos de estímulo criativo etc – com um estilo ágil e franco, sem censura.

É de se imaginar o rebu que deve ter causado no meio, à época de seu lançamento...

O GUIA NAO OFICIAL DE MAD MEN / Jesse McLean / Best Seller / 288 p. / R$ 29,90 /www.record.com.br




MAD MEN - COMUNICADOS DO FRONT PUBLICITÁRIO / Jerry Della Femina / Record / 288 p. / R$ 32,90 / www.record.com.br

22 comentários:

Márcio A Martinez disse...

Massa Chico! Como assinante do periódico da Tancred Snows Av., li ontem essa sua matéria e fiquei instigadíssimo a assistí-la.
Numa de nossas conversas você até já tinha me falado desse Mad Men, mas o phoda é que já tá na 4ª temp. e eu só gosto de ver a partir do início... well, é correr atrás...
O mote é simplesmente demais!

Márcio A Martinez disse...

Rodrigo Sputnik, seu merda da cidade baixa, vai a que horas pra Pituaço hoje? Eu e Cebola tamos querendo ir, é só ele confirmar que comprou os ingressos...
Dá uma carona na garupa de sua bike? heheheeeee...
BBMP!!!!!!!!!!!!!!

Franchico disse...

É para isso que as temporadas são lançadas em boxes de DVDs, Márcio. Vc aluga a primeira (ou compra, para os mais endinheirados ou colecionistas), assiste, depois aluga a segunda, assiste, e assim por diante. É assim que eu faço. Acho melhor do que acompanhar pela TV.

Essa abertura que postei o vídeo aí, com essa música, tb é espetecular. Tudo é espetacular em Mad Men.

Até confesso que gosto mais de Breaking Bad - é mais escrota, contemporânea e violenta. Mas Mad Men é irresistível e extraordinariamente bem feita. Foda mesmo.

Franchico disse...

Ah! Quem estiver interessado em alugar, tem as três primeiras temporadas em DVD naquela locadora grande da Pituba, defronte à Praça Nossa Senhora da Luz.

Márcio A Martinez disse...

Aquela cujo nome não pode ser mencionado?!? hummm... heheee...

Alguém aí sacou a referência?

Franchico disse...

Não. Se for a locadora a que vc se refere, não citei o nome por que não sou pago para fazer propaganda dela por aí...

Sacou agora? "Propaganda".

Márcio A Martinez disse...

P-r-o-p-a-g-a-n-d-a... hummm acho que sim... Tem tudo a ver com mad men né? Só que ao contrário... Duh!

Franchico disse...

Mesas-redondas, debates.

Daqui a vinte minutos estou saindo daqui para a Sala Walter da Silveira, participar do I Seminário Baiano de Crítica de Artes.

Não me perguntem como entrei nessa.

A mesa é assim: 21/9 (quarta) – 14h00 às 18h00

= A crítica teatral na Bahia, com Gideon Rosa

= A crítica musical na Bahia, com Chico Castro Jr

= A crítica literária na Bahia, com Milena Britto

Quem quiser / puder comparecer, fique a vontade, mesmo que seja para ir lá discordar de todo mundo.

Não sei que bicho vai dar, mas tentei me preparar a contento.

Já na sexta, tem esse outro aqui, que tb recomendo, mesmo que seja para ir lá discordar de todo mundo 2:

“Os festivais como uma das principais plataformas de difusão da música”

Os convidados são: Ivan Ferraro, vice-presidente da Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin), Luciano Matos, editor do iBahia, e Vince de Mira, coordenador do Eixo de Circulação da Rede Motiva.

O debate será realizado dia 23, sexta-feira, às 15h, no Espaço Glauber Rocha, da livraria Saraiva do Shopping Iguatemi. A entrada é gratuita.

Informações gerais
O que: Mesa-redonda Conexão Vivo/Festival Lado BA
Quando: 23 de setembro
Local: Espaço Glauber Rocha (Livraria Saraiva Shopping Iguatemi)
Horário: 15h
Entrada gratuita

Conheça mais:
www.redemotiva.com.br
www.conexaovivo.com.br

Márcio A Martinez disse...

Vá lá Chicaço! E estoure algumas bocas malditas! huhuuuu...

(Vai ver o pessoal aí viu você coçando saco, só publicando coisa em blog e resolveram te dar trabalho... huaaahahahaha!!!) Duh!

Márcio A Martinez disse...

Cebola, e fãs desde criancinha, joguemo-nos nessa:

http://www.amazon.com/gp/product/1858703883/ref=s9_simh_gw_p15_d0_g15_i4?pf_rd_m=ATVPDKIKX0DER&pf_rd_s=center-3&pf_rd_r=0MWX5R28CXYMQRQWE7VH&pf_rd_t=101&pf_rd_p=470938811&pf_rd_i=507846

cebola disse...

Acompanho mad man há tempos!! Adoro, já recomendei pra muita gente, incruzivi o atuleimado do marcio. Só porque chico fala que é legal ele escuta...HUMPF!

Rodrigo Sputter disse...

já era pra eu ter ido...
vou de bike...
19 horas vou sair...
devo chegar lá umas 19:50.
porra, cebola tem meu celular, pior q vcs num vão ver essa joça a tempo...

falando em clip, banda véia bacana, olha o novo video dos Monsters, Chico vai adorar, eu gostei muito:

http://www.youtube.com/watch?v=zs7CQBHyo3Y&feature=player_embedded#!

ps.: o pior de tudo é q tou passando menos tempo na cidade-baixa, terrível isso.

ps2.: eu vi essa lance da walter, só num vou pq o dever me chama hj-heehehe
um amigo meu falou disso, eu falei brincando "porra de crítico, quero ser criticado"-hhehehe

Franchico disse...

RIP REM.

http://remhq.com/index.php

Franchico disse...

A declaração do fim está neste link:

http://remhq.com/news_story.php?id=1446

Franchico disse...

Document é um dos meus discos preferidos há uns 20 anos e continua sendo. Banda gloriosa, trilha sonora das vidas de milhões - sem jamais ter caído na vulgaridade. Isso é para poucos, muito poucos.

cebola disse...

Porra. Meus prediletos: Lifes rich pageant e Automatic for the people. Document tá pertinho aí, dos dois.

cebola disse...

E assino embaixo do "banda gloriosa". É sim.

osvaldo disse...

tem uma serie que vi uns dois episodios na hbo sobre nova orleans pos-katrina, chama treme e achei muito interessante. mad men ainda não parei para ver, mas os elogios são gerias. ah, na boa, o r.e.m ja tinha acabado ha tempos... accelerate e do ano passado deveriam chamar dead man walking 1 e 2.

Franchico disse...

Já vi Treme e é excelente mesmo, Brama. É dos mesmos caras que fizeram The Wire, a única coisa produzida nos últimos 30 anos, em qualquer mídia, que Alan Moore elogiou (The Wire, digo).

Treme é do caralho por que mostra como os habitantes de Nova Orleans não perderam o culhão e o amor pela cidade, mesmo depois de toda a merda que aconteceu na ocasião do Katrina, e tentam reconstruir a vida e a cidade, mantendo as tradições.

Tem muita coisa ali que inclusive me lembra Salvador - guardadas as devidas proporções.

Sinceramente, o último disco que REM que eu realmente gostei foi o New Adventures in Hi-Fi, de 1996, mas eles ainda faziam bons discos, mesmo que meio no piloto automático. É aquela coisa um REM no piloto automático ainda era melhor que 90% da garotada atual no "auge" da criatividade....

Franchico disse...

Brama, inclusive, tem a primeira temporada em DVD de Treme na mesma locadora que tem Mad Men. Fica a dica.

Rodrigo Sputter disse...

http://www.youtube.com/watch?v=MhjpNtLyPhg&feature=related

roque sujo, barulhento e dos bão...quase da idade do REM e ainda em cima...clone drum de rock!

Franchico disse...

Minto. O último disco legal mesmo do REM foi aquele de 2001 (ou 2002), que tinha Imitation of Life. Bonitão, dá para ouvir do início ao fim sem pular faixas.