Anna Calvi (Lab 344) é o autointitulado disco de estreia da cantora homônima. Diga-se de passagem, uma senhora cantora, dona um de vozeirão potente. Curiosamente, porém, a primeira faixa é uma digressão instrumental: Rider to The Sea traz esta nova diva do rock palhetando preguiçosamente sua guitarra, em uma faixa fantasmagórica, climática.
A mensagem que ela deixa, contudo, parece bem clara. Esta não é mais uma cantora rebolante de videoclipe. Esta não é a cantora que você vai ouvir na boate ou em porta-malas nos postos de gasolina.
Pairando muito acima da vulgaridade reinante, esta inglesa de ascendência italiana chega ao seu primeiro álbum com uma obra arrebatadora, que deixou a crítica europeia e norte-americana de joelhos com a força de sua voz poderosa e composições densas, sombrias, grandiosas.
Apontada pela BBC como uma das “apostas de 2011” e comparada a Patti Smith por Brian Eno – que, fascinado com a moça, participa tocando teclado em duas faixas – Anna Calvi parece, na verdade, mais próxima à deusa gótica Siouxsie Sioux, pelo alcance vocal e apreço pelo imaginário flamenco.
Trovadores taciturnos
Outra influência que parece saltar aos ouvidos (com o perdão do trocadilho) é a sombra de taciturnos trovadores do rock, como Nick Cave, Leonard Cohen, a pouco lembrada (e maravilhosa) banda canadense Cowboy Junkies e o precocemente falecido Jeff Buckley.
Impossível ouvir faixas como No More Words, The Devil, Blackout e First We Kiss e não se lembrar desses artistas, tamanha a intensidade das composições, a entrega das interpretações e a habilidade para cantar a plenos pulmões sobre amor e morte, paixão e solidão – tudo sob o enfoque distorcido da estranheza, do lado escuro.
Sem medo de errar, pode-se dizer que ela cometeu um dos álbuns de estreia mais intensos dos últimos tempos – talvez o mais intenso do rock desde a estreia de Jeff Buckley com Grace, em 1994.
Talvez o espírito do próprio Buckley seja uma das chaves para se entender o dedilhado circular (com um quê de flamenco) e a voz hipnotizante de sereia que adornam épicos como as já citadas The Devil e No More Words e Desire.
Nasce uma estrela
Mas nada disso é de se espantar quando se descobre que sua estreia fonográfica, ocorrida ainda tão recentemente, em outubro do ano passado, tenha sido um single com uma apaixonada versão de Jezebel, sucesso na voz de Edith Piaf – infelizmente, não incluída no repertório do CD.
Ainda um enigma (e seria ótimo se assim permanecesse), as notícias sobre Anna Calvi são esparsas, mas já oferecem pistas sobre a origem do seu imenso talento.
Aos sussurros, oráculos cibernéticos relatam que, aos nove anos, Anna Calvi já ouvia Duke Ellington, David Bowie, The Doors, Ravel e Debussy, os quais executava nas aulas de piano e violino. Foi seu pai, um italiano obcecado por música, que a levou por este caminho.
Aos 13, enveredou pela guitarra ao descobrir Jimi Hendrix e Django Reinhardt. Aos 17, ingressou na faculdade de música. Apesar de muito tímida, queria ser cantora – e passou a se dedicar de cinco a seis horas por dia nas aulas de canto.
Em 2006, encontrou seus parceiros Mally Harpaz (harmonium, percussão) e Daniel Maiden-Wood (bateria).
Aí depois que seu CD demo caiu nas mãos de Brian Eno, foi só uma questão de tempo até ser contratada pelo selo britânico Domino.
Conclusão: nasce uma estrela.
Anna Calvi / Anna Calvi / Lab 344 (sob licença da Domino Records) / R$ 27,20 / www.annacalvi.com
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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22 comentários:
Voltando aos pouquinhos, "botando bem devagarinho / que é pra não machucar", como dizia a antiga canção do Rádio Táxi....
Por enquanto, duas postagens com matérias que deixei prontas para publicação no periódico da Tankred Snows Ave. antes de sair de férias.
Em breve, mais rápido do que se imagina, teremos material inédito e fresquinho (mas sem viadagem, OK?).
Qualé Chico? O que é que você tem contra a diversidade de gêneros?
Sejamos politicamente corretos seu viado!
Porra!
Ouví-la quando antes de sair de férias você me encaminhara aquele e-mail com um link pra um vídeo dela... realmente, as influências estão bem listadas no seu texto. Bebe bastante na fonte de Jeff Buckley!
Genial!
Disco novo do Black Keys a caminho...
http://www.omelete.com.br/musica/black-keys-novo-disco-produzido-por-danger-mouse-esta-pronto/
Se for mantido o nível de Brothers (2010), promete ser mais um disco espetacular.
Pois é, Márcio, já fui bem rabugento quanto ao rock contemporâneo, mas, procurando bem, encontra-se coisas animadoras, como Anna Calvi, Black Keys, Gaslight Anthem, Black Mountain, Dungen, Midlake, Band of Horses etc.
Geralmente, são as bandas / artistas que passam longe do hype "indie-de-bigode" ou "olha-como-sou-hedonista-e-moderninho-no-facebook".
Cláudio Escória! Não suma não, seu filho de uma égua (xingamento retórico, com todo respeito a sua genitora, um verdadeiro anjo em forma de gente...)!
Invoca, pra tu ver o que é bom pra tosse...
Tirado desse link que chico mandou sobre os Black Keys: "Bandas como The Clash e The Cramps serviram de influência para a composição, além de bandas de rock'n'roll antigo, rockabilly e garage rock, criando uma sonoridade que o vocalista promete ser bem diferente de Brothers".
Se um terço disso foi bem sucedido vai ser o melhor disco da década, né?? Ouvir pra crer!!;)
Ônibus do 14-Bis cai de ribanceira...
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/944845-onibus-da-banda-14-bis-cai-em-ribanceira-e-mata-1-pessoa-em-mg.shtml
É a vingança de Santos Dummont...
creindeuspai.
Voltando ao tópico. Anna Calvi broca em alta. Personalidade e visceralidade com notas sombrias e melancólicas na guitarra que me remeteu um pouco ao estilo de James Calvin Wisley (aquele que acompanhava o bardo subestimado Chris Isaak). Sutil.
Depois do ônibus do 14-Bis, foi a vez do palco do Cheap Trick...
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/ultima-hora/queda-de-palco-provoca-cinco-feridos
Parece que está aberta a temporada de caça a músicos sexagenários...
chicão, finarrrrrmente, o disco do teclas pretas. algumas inéditas. 11 faixas. saca a arte que fiz, meu compadre, ta o bítcho!
http://www.megaupload.com/?d=PWKFFLKA
e essa viagen sensacional?? abración!
GLAUBEROVSKY
Bem vindo de volta, Chico. Nessa terça, a partir das 20h, tem Theatro de Séraphin, ao vivo, fazendo pré-estréia do cd "No fim de maio" na Vandex TV. http://vandex.com.br
Fala, Glauber! Veja só, te respondi por email. Aguardo sua resposta!
A viagem foi linda, man! As melhores férias da minha vida adulta. Só pessoalmente para poder te contar em detalhes!
Valeu, Marcão! Tô só no aguardo deste CD também, que eu já sei que tá lindo!
vendo tanta urgência para ser cosmopolita...só posso dizer: viva raul seixas ontem e sempre!!!!!!!!!!!!
cláudio moreira
"Cê tá falando comigo? É comigo que cê tá falando? Não tem mais ninguém aqui. Tá falando comigo?"
Yaheeey! Claudius Máximus de volta!! Man, peguei uma camiseta baaaala naquele link que tu descobristes, Marka Diabo! Valeu a dica.
E...toca RAUUUUL!
Chicvs sétimus...Essa Balada de J Furacão se acha nas melhores do ramo aqui ni Salvador, ou só interneticamente?
Onions, acredito que na única boa loja do ramo da cidade, a RV Cultura & Arte, no Rio Vermelho, vc encontre essa HQ. Mas vc também pode procurar nas gigantes Cultura ou Saraivas...
é com todos, inclusive vc e marcos teatro da interpol...sou sócio antigo da marka diabo cebola...cláudio moreira
Ah, tá! Era só pra saber mesmo.
demais.. eu que tenho escutado mulheres ultimamente via Karen Elson, The Dead Weather e
The Breeders.
viva as mulheres!
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