Um homem chega em casa, gira a chave e entra no apartamento. É noite, e a escuridão total domina o ambiente. Depois de alcançar um interruptor, a luz se acende e o homem se depara com uma visão de horror: a pia da cozinha abarrotada de pratos sujos.
Está iniciado o excruciante processo de devassa física, moral e espiritual de Patrice Killoffer na HQ experimental 676 Aparições de Killoffer.
Publicada originalmente na França em 2002, 676 Aparições de Killoffer dificilmente pode ser considerada uma história em quadrinhos.
Está mais para uma ambiciosa digressão gráfica em que o autor se entrega, com feroz abandono, à uma egotrip de proporções inauditas – já que se depara com centenas de versões de si mesmo (676, na verdade) nas mais absurdas e bizarras situações – muitas delas, degradantes, poderão chocar leitores de estômago mais frágil.
Fluidos em profusão
A gênese das 676 aparições se dá durante uma viagem de Killoffer a Montreal, quando ele se inquieta com a lembrança da pia de louças sujas que ele deixou na sua casa, em Paris.
Cenas de violência com espancamento, estupro e automutilação se sucedem em um carrossel banhado por fluidos humanos de toda espécie: excrementos, esperma, sangue e vômito invadem as páginas em um delírio gráfico que supera até mesmo as autodepreciações do mestre supremo do gênero underground, Robert Crumb.
Tanto choque e terror, porém, está longe do mero sensacionalismo. Foi o jeito encontrado por Killoffer para engendrar uma reflexão em dois níveis: forma (HQ) e filosofia de vida.
Brado de individualidade
No item forma, o autor subverte, logo nas primeiras páginas, o que, convencionalmente, se reconhece como história em quadrinhos, abdicando das molduras que delimitam o espaço narrativo e espalhando os desenhos por toda a página.
Quase não há texto também: das 48 páginas do álbum (em formato grandão, o que favorece sua proposta) somente oito delas trazem narrativa textual – e mesmo assim, são palavras delirantes, atormentadas, escritas em letra cursiva, espremidas entre os desenhos.
Ao se retratar perambulando, bebendo, procurando, espancando, mutilando e violentando a si mesmo (em uma espantosa cena de orgia em que todos os participantes são, claro, ele mesmo), Killoffer brada sua raivosa declaração de individualidade ao mundo – este lugar politicamente correto que parece odiar cada vez mais a real diversidade, disfarçando sua ditadura das maiorias no fascismo vigente das torcidas de futebol, redes sociais, seitas e tribos.
A mensagem de Killoffer, debaixo de todo o sangue e violência, é bem simples, na realidade: quando todos buscam desesperadamente a diferença (seja se tatuando da cabeça aos pés ou ”pertencendo” a grupos), conseguimos somente parecer todos iguais.
Killoffer no Brasil
Com o perdão do eco, 676 Aparições é, na verdade, a segunda aparição do autor no mercado editorial brasileiro.
Em novembro de 2010, a editora paraibana Marca de Fantasia publicou o álbum Quando Tem Que Ser (72 páginas, R$ 15), em evento que contou com a presença do autor em João Pessoa, então de passagem pelo Brasil para participar do congresso Rio Comicon.
Considerado um dos maiores inovadores dos quadrinhos europeus, Killoffer, além de quadrinista, é também um dos fundadores da editora L’Association, ponta de lança do movimento independente do Velho Mundo desde então.
Não é pouca coisa. Entre os lançamentos da L’Association, consta o best-seller Persépolis, da iraniana Marjane Satrapi – um sucesso editorial (inclusive no Brasil, publicado pela Companhia das Letras) que migrou de forma brilhante para o cinema, em 2008.
Dono de um traço preciso e elegante, Patrice Killoffer iniciou sua carreira em 1981. Curiosamente, já criou até jogos de tabuleiro na França.
676 Aparições de Killoffer / Patrice Killoffer / Barba Negra / 48 p / R$ 39,30 / www.editorabarbanegra.com.br
10 comentários:
O site 1001 Discos caiu. A notícia de que vai sair do ar deve ter se espalhhado, gerou uma corrida e acabou derrubando o servidor. Saco.
chico.
O que soube foi que obama deve aprovar uma lei que faz p2p virar crime grave com ate 20 anos de cadeia pra quem promove...
Vai adiantar? Acho que nao. Mas ja tem gente tirando umas coisas do ar.
Abracos.
Andre T
Fala locos!
Sou de pernambuco e acompanho o blog a um tempo. Gostaria que
vocês conhececem o álbum "Expresso Barárie" da minha banda
Dillema, lançado no final do ano passado.
DOWNLOAD DO CD - http://me.lt/7a7qm
Proposta da banda - Banda panfletária de hardcore formada por
estudantes, trabalhadores, ociosos e ansiosos pernambucanos que
propõe uma música rápida, intensa e conceitual até a última nota,
em shows com um objetivo claro e instigante: sendo arma social e
de reflexão do íntimo humano, construir algo para nossas vidas.
Myspace - http://www.myspace.com/bandadillema
Twitter - http://twitter.com/dillema_pe
Estamos concorrendo a promoção para tocar no Abril pro Rock, até
agora estamos em 8°, se puderem dar uma força na divulgação seria ótimo, Valeu!
Promoção do APR - http://me.lt/3K7Xk
Abração.
Esqueci de postar os contatos...
Precisamos de divulgação. Topamos tudo, quase tudo. hehehe
Shows e entrevistas é aqui:
(081) 8885.8080 - Pablo
(081) 8708.7337 - Kdo
pabloodecastro@gmail.com
ricardomello.almeida@gmail.com
dillemacontato@gmail.com
Obrigado!
chicão, ja ouviu a versao dylan de friday da rebecca black? sensacional! hahahaha...
http://www.youtube.com/watch?v=9FISHEO3gsM
Chicododói não vai mas hoje tem TAZ, vocês sabem aonde, com direito a reportagem da TVE e tudo mais...
Quer dizer, ROCKS!
Engraçado, ninguém mais usa lenço palestino.
Ninguém?
Lenço?
Palestino?
Não?
Ninguém?
Uhhh....
A onda agora é usar óculos vintage, né?
Ah.
Modistas de merda.
sempre atual...longe dos modismos...rush!!!!!!!!!!!!!!!!
num momento lírico de sensibilidade social-existencial
subdivisions!!!!!!
http://www.youtube.com/watch?v=Lu9Ycq64Gy4
cláudio moreira
sempre atual, longe dos modismos, fats waller! hahaha
http://www.youtube.com/watch?v=d5T2TfC9K1s
"viper's drag". heheeeiii!
GLAUBEROVSKY
sempre atuais: ozzy e motorhead cruzam terrras brasileiras de novo!!!!!!!!!!!
cláudio moreira
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