A coleção foi organizada por dois especialistas em literaturas luso-brasileiras: João Adolfo Hansen, da USP, e Marcello Moreira, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
De São Paulo, onde já se encontrava para participar de uma banca de avaliação e proferir palestra com Hansen, Marcello se disse “bastante feliz, pois não esperava receber nada”.
A premiação certamente se aplica, dado o caráter titânico da tarefa incumbida aos dois pesquisadores.
Como o título dá a entrever, a coleção reúne todos os poemas atribuídos ao Boca do Inferno que circularam de mão em mão pela Cidade da Bahia (como Salvador era chamada no tempo do poeta), entre o final do século 17 e o início do século 18.
Folhas de mão em mão
“Esse poemas circularam em volantes, folhas soltas. E mais do que em papel, circularam muito na oralidade: recitada e cantada”, conta Marcello.
“Em um segundo momento do processo de transmissão, as folhas eram reunidas e costuradas, encadernadas, dando origem a livrinhos de mão, manuscritos e constituídos com essa folhas soltas”, descreve.
O Códice Asensio-Cunha é justamente um desses livros manuscritos. Marcello e Adolfo trabalharam mais de três anos no tratamento do material – que ainda não acabou.
“O programa de pós-graduação em literatura brasileira da USP mandou o convite ao Hansen para a edição dos poemas atribuídos ao Gregório. Hansen me convidou para preparar a edição com ele e trabalhamos por três anos”, conta.
“A edição ainda não está acabada. Editamos quatro volumes do Códice e um livro de apresentação do conjunto, mas ainda falta editar muitos poemas, que precisam de tratamento filológico. No segundo semestre de 2015 devem sair os dois volumes que faltam”, revela.
Sobre a questão dos poemas atribuídos ao Gregório, Marcello pontua que, “de todos os manuscritos que sobreviveram e estão no Brasil, Inglaterra, Portugal e Estados Unidos, nenhum deles foi escrito pelo próprio poeta”.
“Não há ‘manuscrito autógrafo’. Como essa poesia foi reunida e atribuída com o nome dele, não podemos dizer com certeza que de fato todos os poemas são dele. Por isso dizemos que são atribuídos”, detalha.
“E mesmo que tirássemos todos os poemas que com certeza podemos atribuir a outros poetas, o que restasse ainda não se poderia dizer com certeza que era do Gregório”, observa.
Polêmica baiana
Apesar do peso da pesquisa de Marcello e Adolfo, a coleção tem sido vista de esguelha pela intelectualidade baiana ligada ao estudo da obra de Gregório.
Em artigo publicado em A TARDE no dia 8 de novembro, o jornalista e pesquisador João Carlos Teixeira Gomes lamentou que sua pesquisa, bem como as de Fernando da Rocha Peres e Silvia La Regina não tenham sido citadas na bibliografia.
Marcello rebate: “Ele faz uma queixa que me pareceu pessoal por que diz que não foi citado. A explicação é simples: nesse livro, tratamos de letrados, manuscrituras”, afirma.
“Trabalhamos códices e cancioneiros de Gregório. Tentamos rastrear as matrizes dos cancioneiros de Gregório e quais são os cancioneiros de poetas anteriores que serviram de modelo para os de Gregório. Esse tipo de pesquisa não foi feita nem por João Carlos, nem por Silvia La Regina ou por Fernando da Rocha Peres”, conclui Marcello.
Poemas atribuídos – Códice Asensio-Cunha / Gregório de Matos / Autêntica/ Cinco volumes a R$ 45 cada, em média
Um comentário:
Falando em Joca Teixeira Gomes:
http://www.fotolog.com/teenage_idol/147000000000030512/
Eu e ele ontem.
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