sexta-feira, maio 16, 2014

SALMAN RUSHDIE EM SOTEROCITY

Escritor indiano-britânico visita a cidade para conferência e concede coletiva à imprensa local

Salman. Foto Nick Vacarro / Columbia University
Salvador recebeu ontem um ilustre visitante: o escritor indiano-britânico Salman Rushdie.

Ele proferiu palestra à noite, no Teatro Castro Alves, para o projeto Fronteiras Braskem do Pensamento.

Algumas horas antes, ele concedeu uma breve entrevista coletiva para a imprensa local, no Salão Ônix do Sheraton da Bahia Hotel.

Ele, que é meio britânico, pode até ser pontual, mas infelizmente, a aviação brasileira não o é.

Marcada para as 14 horas, a coletiva só teve início às 15h30, devido ao atraso em seu voo proveniente de Porto Alegre, aonde também fez a conferência.

“Nela, eu falo sobre a interação entre política e literatura no mundo moderno e os riscos apresentados a esses profissionais (os escritores)”, adiantou.

Como é público e notório, Rushdie sabe bem do que está falando, já que teve sua cabeça posta a prêmio pelo Aiatolá Khomeini (1900-1989), líder espiritual do Irã, em fevereiro de 1989, por conta de supostas blasfêmias contra o Islã e o Profeta Maomé em seu livro Os Versos Satânicos (1988).

Perguntado pela reportagem de A Tarde se ele se sentia seguro hoje em dia, rolou os olhos (‘Sempre essa pergunta”) e disse que “não parecia perigoso” estar ali naquele momento.

“Sugiro que leia meu livro de memórias (Joseph Anton: A Memoir, 2010) e você terá mais respostas. Você também não me parece muito perigoso”, gracejou, diante de uma xícara de chá.

Depois que outra pergunta foi feita sobre o mesmo assunto (a vida escondido de possíveis assassinos fundamentalistas), Rushdie quase fechou o tempo: “Já escrevi 16 livros, seria bom que me perguntassem algo sobre literatura, ou podemos encerrar”.

Filme autobiográfico, traduções

O home não é fraco não. SR e esposa, a modelo Padma Lakhsmi. Foto Fishbowl
Perguntado sobre suas influências, Rushdie relaxou e respondeu que cresceu em Bombaim, “uma cidade muito cosmopolita, onde o Ocidente e o Oriente se misturam muito. E toda essa mistura eu pude vivenciar desde cedo”, disse.

“Os livros e filmes que me influenciaram já tinham essa característica. Fora que a Índia é um verdadeiro depósito de literatura fantástica, além de ter também uma indústria cinematográfica muito desenvolvida”, conta.

O professor da Faculdade de Comunicação da Ufba Sergio Sobreira lhe perguntou sobre a dificuldade de intercâmbio cultural entre o Ocidente e o Oriente.

“Não temos acesso a imensa herança literária iraniana, por exemplo”, observou Sérgio.

“As culturas costumam ignorar umas às outras. Na Índia, o conhecimento sobre a cultura da América Latina é ínfimo. Basicamente, só (Gabriel) Garcia Marquez. Mas a literatura pode ser uma ponte. Eu nunca estive em Salvador antes, mas li Jorge Amado, então acho que conheço algo daqui”, revelou Rushdie.

Ele ainda contou que teve “a sorte de conhecer Jorge Amado em um evento da embaixada brasileira em Londres”.

Perguntado sobre uma série de TV em que ele esteve trabalhando – The Next People, para o canal Showtime – Rushdie contou que o projeto não decolou.

Mas revelou que há um filme baseado na sua autobiografia, Joseph Anton (seu pseudônimo na época dos Versos Satânicos),  em desenvolvimento.

“Na Inglaterra, eu fiz uma piada na imprensa, dizendo que Johnny Depp ia fazer meu papel”.

“No dia seguinte, estava em todos os jornais: ‘Salman Rushdie diz que é parecido com Johnny Depp’”, riu.

“Ainda esse ano devemos ter mais notícias sobre esse filme”, prometeu Rushdie.

Sobre a tradução de suas obras em português, ele disse que “por sorte, tenho o mesmo editor desde sempre, além dele (Luiz Schwarcz, da Cia. das Letras) ser um bom amigo. Sei que eles levam isso a sério. E quando viajo, sempre pergunto aos jornalistas locais o que eles acharam da tradução. É que alguns leem as duas versões”, conta.

“Fora que, quando uma tradução é ruim, o livro ‘morre’ nas prateleiras, como aconteceu com um livro meu na Dinamarca. Então é fácil saber quando isso acontece. Uma coisa que eu adoro são as capas dos meus livros no Brasil. São as mais bonitas do mundo. Eu sempre recomendo que usem as capas brasileiras nas outras edições que saem em outros países”, concluiu.

4 comentários:

Paulo Sales disse...

Faço a mesma sugestão de Rushdie, Poetinha: leia Joseph Anton. É muito bom. Fiquei puto porque não fui à palestra. Fico lendo só os jornais do sul e acabo perdendo coisas legais aqui.
Abs

Rodrigo Sputter disse...

Gostei dessa "alfinetada" dele a imprensa britânica...adoram uma sensacionalismo, não importa o que seja...um bocão só num faria sucesso lá pq a taxa de violência e homicídio lá é menor do que aqui...é complicado falar sobre outra cultura se vc não a "conhece" e mesmo quando vc fala dela e nasceu nela pode soar "racista", "preconceituoso", é sempre complicado...e essa pergunta é chata, mas ele sempre vai ouvir...e realmente é algo interessante, porém pode ser "ultrapassado" na vida dele...mas a lenda dos que conhecem pouco sobre ele é essa, que vive escondido e tal...ele vai conviver com ela pra sempre...a num ser que vá numa entrevista com especialistas na obra dele e alguém faça essa pergunta pra ele na manha...de outra forma.

Chico, viu o link do clipe que eu deixei?

Franchico disse...

Vou procurar ler esse livro, Paulinho. Parece bem interessante mesmo.

Vi que era do Sanitário Sexy, Sputter, mas num vi ainda. Vou ver.

Rodrigo Sputter disse...

veja man...num vai se arrepender...e de preferencia sozinho-hehhehhehe