terça-feira, março 12, 2013

REPLETO DE AUTORREFERÊNCIAS, THE NEXT DAY NÃO DECEPCIONA

Não importa o que digam por aí: The Next Day, o novo álbum de David Bowie lançado mundialmente ontem, após dez anos de hiato criativo, não é melhor do que seu último grande LP, Let’s Dance, de 30 anos atrás.

Por outro lado, é bem mais interessante do que qualquer coisa que ele lançou durante esse período.

Autorreferente desde a capa até o último sulco em vinil, The Next Day marca a volta do Camaleão ao cenário musical que ele parecia ter abandonado após o álbum Reality (2003).

Seu período de retiro, ocasionado após um ataque do coração em 2004 com certeza influiu no resultado final de The Next Day.

Na verdade, parece que, depois de tantas personas, Bowie resolveu assumir o personagem mais difícil de toda sua carreira: ele mesmo, na terceira idade.

Aos 66 anos, o gênio do rock cometeu um álbum em que parece revisitar (ou citar) diversas fases de sua vida. A capa, já citada, é simplesmente a capa do álbum “Heroes” (1977), com uma tarja branca em cima.

“Heroes” é o disco central da chamada Trilogia Berlim, três álbuns clássicos gravados na metrópole alemã, que além de “Heroes”, conta com Low (1977) e Lodger (1979).

O título The Next Day, “o dia seguinte”, seria uma citação ao refrão de Heroes (a cançã0), cujo verso diz: “We could be heroes / just for one day”. “Poderíamos ser herois / pelo menos por um dia”.

A primeira faixa divulgada, a linda  Where Are We Now? cita na letra os locais de Berlim que ele costumava frequentar durante sua temporada na cidade.

Outra balada, You Feel So Lonely You Could Die, termina com a mesma levada de bateria que inicia Five Years, faixa de abertura de Ziggy Stardust.

Outra referência saborosa (e impossível  de deixar passar) são os acordes de violão da ultima faixa, Heat, que, mesmo em segundo plano, são quase as mesmas notas (e mesmo andamento) de seu primeiro hit, a genial Space Oddity (1969).

O que não deixa de ser intrigante, pois estas duas últimas ocorrências sugerem a mesma coisa:  um círculo se fechando, o fim que volta ao início. Será um sinal de que este é seu último disco, sua declaração final?



Tem coro de “sha-la-la”

De sonoridade variada, The Next Day não é um disco arrebatador como seus grandes clássicos, álbuns como Hunky Dory (1972), Ziggy Stardust (1973), Young Americans (1975) ou o já citado “Heroes” – entre outros. Mas certamente valeu a espera ao oferecer sua melhor coleção de canções em muito tempo.

Auxiliado pelo velho comparsa Tony Visconti, produtor  de Space Oddity, “Heroes” e Young Americans entre diversos outros grandes momentos de sua carreira, Bowie abre o disco com a faixa título, na qual canta, cheio de vigor,  sobre um episódio medieval em que um pagão agonizante é deixado “para apodrecer / não exatamente morto / em uma árvore oca”.

A faixa seguinte, Dirty Boys, lembra Fame, sua única parceria com John Lennon, com sua levada quebrada de bateria entre riffs esparsos de guitarra.

Where Are We Now? é outro grande momento, balada frágil e melancólica. Valentine’s Day é outro ponto alto, com letra sobre bullying, um lindo trabalho das guitarras de Gerry Leonard e David Torn e coro feminino fazendo   “sha-la-la”.

Regular, o álbum segue bonito, com ótimas faixas como If You Can See Me, Dancing Out In Space, How Does The Grass Grows?, You Feel So Lonely You Could Die e Heat.

Enfim: o melhor Bowie que os fãs poderiam esperar neste momento.

O que não se deve esperar é uma turnê mundial. Em entrevista à Rolling Stone, o produtor Tony Visconti afirmou que, no máximo, ele fará um ou dois grandes shows, “se estiver com vontade”. David Bowie pode.

8 comentários:

Franchico disse...

Minha humilde contribuição às muitas apreciações do Bowie nuevo...

Franchico disse...

Piada pronta: o título do novo disco do Devendra Banhart é "Mala".

http://www.spin.com/articles/devendra-banhart-mala-new-album-influences?

Franchico disse...

Oh, adequação implacável!

Franchico disse...

As dez bandas mais perigosas do rock em 1985, segundo um pastor americano aí:

http://www.fullrock.com/destaques/10-bandas-mais-perigosas-do-rock-segundo-pastor-americano/05022013/?

Bruno Aziz, que me passou o link, disse que se tocasse em uma banda de rock, o contrataria como assessor de imprensa....

Franchico disse...

Você já esteve "chapado pra caralho"?

http://www.youtube.com/watch?v=oajh-HB6x_k

Eu, não.

Que foi?

Franchico disse...

Amigos com filhos já sabem aonde vão matricular os guris ano que vem:

http://pme.estadao.com.br/noticias/noticias,franquia-da-escola-do-rock-inaugura-unidade-no-brasil,2778,0.htm

Ernesto Ribeiro disse...

Muito bem, Ziggy Francis.

Você fez o seu dever de casa. Esta´um artigo 100% correto. Mestre Bowie aprovou.

Agora, por mais que eu esteja feliz com a volta do Mutante do Pop...


(acertou: vem um "mas" chegando aqui.)


um grande MAS...


...Esse pode ser até um grande disco.


Mas é o grande disco já feito por Mr Jones.


PIOR CAPA JÁ FEITA. De um tremendo mau gosto. Pior que isso, impossível.


Deviam enforcar o designer fajuto e vagabundo que aprontou essa piada sem graça.




PIOR VIDEO da carreira dele. Porra: digam o que quiserem. Mas você mal está cantando --- está apenas entoando a letra de "Where Are We Now?" --- que é um video HORROROSO, feio e tosco. Não chega aos pés do gênio de "Blue Jean".


"The Stars (Are Out Tonight)" é ainda pior; não cheira nem fede. A única coisa que presta é a referência ao Thin White Duke, interpretado por uma atriz: o personagem magérrimo, ruivo e de cigarro pendendo na boca. Ultra cool.


Moral da estória: o passado é sempre mais interessante quando se está no anêmico século 21.


Fora isso, "The Stars" é um video tolo, ou pior: é uma RETARDADICE de menino leso. Não merece nem sequer comparação com o delírio visual de "Underground".


(e olha que eu tô pegando leve.)



SEM COMENTÁRIOS, tia Bowie: "The Next Day" é um atestado de senilidade artística. Pelo menos na embalagem. Isso é o completo auto-desrespeito. sacanagem. Que foi, tá com medo de mostrar a cara aos 65 depois da angioplastia?


O Cara Mais Cool do Mundo virou o Cara Mais SEM IMAGINAÇÃO do Mundo.



Foi pra ISSO que a gente esperou 10 anos?????


Eu preferia a aposentadoria digna.

Ernesto Ribeiro disse...

Encerrando uma frase incompleta:

...Esse pode ser até um grande disco. Mas é o PIOR grande disco já feito por Mr Jones.