terça-feira, setembro 18, 2012

HUMOR, A ARMA DOS INTELIGENTES CONTRA A BURRICE DAS RELIGIÕES

 Na cabeça de muitas pessoas – especialmente na dos lamentáveis neofundamentalistas de diversas correntes – religião e humor são duas coisas que não se misturam de jeito nenhum.

Sorte que nem tudo está perdido e ainda há cabeças arejadas e inteligentes o suficiente como a do cartunista niteroiense Carlos Ruas, autor da série de tiras Um Sábado Qualquer..., uma divina brincadeira com deuses das mais variadas religiões.

Surgida na internet, a série de Ruas logo migrou para um álbum autointitulado, publicado em 2011 pela Devir. Agora ele lança um segundo volume, Boteco dos Deuses.

A ideia é que, depois de criar todas as coisas, Deus (o “nosso” Deus, Cristão, pai de Jesus etc), aproveitou o sétimo dia (“um sábado qualquer”) para relaxar no boteco, aonde encontra e joga conversa fora  com seus colegas, as outras divindades, algumas delas esquecidas e transformadas em mitologia (que é o maior medo de todos eles).

“Meus pais eram ateus, minha avó, médium. E eu estudei em escola católica”, conta Ruas, em entrevista por email. “Sempre gostei de estudar religião e mitologia, era um hobby que eu tinha, assim como os quadrinhos”, acrescenta.

Prepotência e absurdos

Com mais de dez mil religiões diferentes no mundo, quase todas elas proclamando-se a “verdade absoluta”, Ruas viu aí um gancho perfeito para fazer humor.

“Não tenho nada contra quem acredita nelas, mas acho muito prepotência a pessoa se achar a certa nesse oceano religioso e ver o outros como almas perdidas na vida, precisando ser resgatadas. Existem mais estrelas no universo que grãos de areia no planeta, então quem somos nós para termos todas as respostas?”, filosofa.

“Meu livro mexe com isso, mesmo o Deus cristão que atualmente é a ‘verdade do momento’. Coloque ele em um bar, dividindo a mesa com outros deuses que já foram grandes verdades um dia. Dessa situação podemos tirar bons diálogos, imagina o quanto eles têm para falar”, diverte-se.

Junte à prepotência humana aos absurdos típicos da mitologia e as possibilidades humorísticas são praticamente infinitas.

“Existem deuses com cara de elefante, deuses que nasceram de ejaculações... Cada mitologia tem sua versão para o nascimento do ser humano, uma mais engraçada que a outra”, garante Ruas.

“O Deus dos Maias tentou criar o ser humano do barro, mas ele derreteu na chuva. Aí tentou de madeira, mas ficaram muito duros. Finalmente, conseguiu criar o homem do milho, que era o "arroz e feijão" dos Maias. Só não entendo como não viramos pipoca ao ir a praia. Então você vê que com esses contrastes de criação dá para se criar muito humor”, observa.

Brincando, brincando, Ruas acaba por criar uma crítica poderosa contra a ilusão de salvação oferecida pelas religiões (por todas, sem exceção).

“Não quero ofender ninguém, mas  se formos ver de um ângulo geral, a religião prejudicou a união de povos mais do que ajudou. (...) Nações travam guerras eternas, cada um com sua verdade absoluta. Enquanto o ser humano não aprender a conviver com a diversidade cultural, com os diferentes costumes de seu vizinho, dificilmente conseguiremos um bom convívio”, vê.

Apesar de todas as críticas, Ruas ainda não teve problemas com líderes religiosos exigindo sua cabeça, como já aconteceu na Europa, com cartunistas sendo ameaçados de morte por fundamentalistas muçulmanos.

“Recebo e-mails de ateus e cristãos elogiando meu trabalho. Acho que pelo traço fofinho e com um humor não ofensivo, consigo conquistar até os religiosos. Minha intenção é popularizar o debate e a filosofia desse assunto, e não escolher lados, dizendo quem está certo ou errado”, garante.

“É claro que sempre existe uma minoria radical que gosta de chamar atenção, fingindo serem muitos, mas são pequenos e barulhentos, nada mais que isso. Nunca me senti atingido”. Graças aos Deuses. Ou não?

Boteco dos Deuses / Carlos Ruas / Verus Editora/ 127 páginas/ R$ 29/ www.umsabadoqualquer.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Chicão.

belo post. bastante oportuno.
"religião é o ópio do povo". parafraseando: deixa todos "sem noção".
para mim, o grande pioneiro e mestre do gênero sátira religiosa foi Jean Effel, com a sua série A Criação do Mundo, que até virou depois um filme de animação muito legal.

fugindo do assunto, cadê o nosso Brahma?! http://feiradediscos.tumblr.com/

abs,
Guido.

Anônimo disse...

quanto ao filme citado, tem no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=2W1FWNSn83U&feature=related

só achei na versão original. em tcheco. ;-)

abs,
Guido.