De alguns anos para cá, tornou-se senha para ser considerado “muito cool” dizer que faz folk rock.
Ou que tem influências de folk – ou de Bob Dylan ou de Johnny Cash.
Qualquer um que possa emprestar legitimidade a meninos e meninas amarelos e sem noção o bastante para se dar conta do peso de tais afirmações.
Aí tome-lhe gente sem talento posando de "bardo folk" – inclusive no Brasil, pasmem.
A verdade é que, no meio de tanta pose, pouca coisa se salva. A maior parte se esforça mesmo é para pôr o ouvinte pra dormir.
Mas claro, sempre dá para pinçar uma ou outra banda que realmente vale uma audição atenta.
Duas delas tiveram seus discos mais recentes lançados agora no Brasil: Band of Horses (na foto acima, de Philip Andelman) e The Decemberists.
Horses versus Chicletão
Obviamente, ambas as bandas não nasceram ontem, tendo ultrapassado a barreira do hype há tempos. Band of Horses foi fundada em Seattle, em 2004.
E Decemberists, de Portland, em 2000. Esse tempo de estrada se reflete na maturidade dos trabalhos mais recentes.
Infinite Arms (2010), terceiro disco da Band of Horses é, na verdade, seu melhor trabalho. Liderada por Ben Bridwell, vocalista / letrista inspirado, o Bando de Cavalos pratica indie rock com pinceladas de folk e country com rara fluência e delicadeza.
E melhor, sem a contraindicação do “efeito rivotril” no ouvinte – pelo contrário.
Canções como Factory, Laredo e Dilly sugerem o maravilhamento de paisagens grandiosas em cinemascope, estradas solitárias ao amanhecer da América indomada do meio-oeste.
Pena que só agora o público brasileiro parece estar atentando para o talento de Bridwell & Cia para dar novo gás ao desgastado indie rock norte-americano.
Só nos últimos três meses, a banda esteve (lá) no Brasil por duas vezes.
A primeira foi em abril, durante a edição brasileira do festival Lollapalooza (show completo aí em cima), no qual fez um dos melhores shows (em meio ao elenco pífio, diga-se de passagem) ao lado da deusa Joan Jett e dos veteranos sulistas do Lynyrd Skynyrd.
A segunda vez foi em maio, com apresentações no Rio e São Paulo, mais uma passagem relâmpago pelo programa Altas Horas, do Serginho Groisman.
A apresentação rendeu o encontro mais inusitado de todos os tempos. Como de costume, o programa acomoda três bandas por edição: a da casa e mais duas, que vão se alternando entre si.
Acontece que, do outro lado do auditório, a outra banda convidada era a Chiclete Com Banana. Agora, imagine-se o total estranhamento que cada banda sentiu pela outra ali. Um exercício de abstração, no mínimo, divertido.
Duplo ao vivo
Já o Decemberists (foto: Autumn de Wilde), com um pouco mais de estrada, é também uma banda um pouco mais ambiciosa.
Em We All Raise Our Voices To The Air (Live Songs 04.11 - 08.11) o grupo liderado por Colin Meloy reúne, em um CD duplo, canções gravadas ao vivo entre abril e agosto do ano passado, durante os shows da turnê do último álbum de estúdio, o ótimo The King Is Dead (2011), também lançado no Brasil.
Por trazer canções de todos os discos, We All Raise... é um bom cartão de visitas para quem ainda não conhece a banda, que mistura referências literárias e históricas com música folk eminentemente acústica, porém vibrante, elétrica por natureza.
A banda faz muito bonito nas performances de The Infanta (com um toque flamenco ressaltado por violão e trompete), The Soldiering Life, Rise To Me (Stones na veia) e várias outras, ao longo de vinte faixas.
Infinite Arms / Band of Horses / Columbia Records - Som Livre / R$ 29,90 / www.bandofhorses.com
We All Raise Our Voices To The Air (Live Songs 04.11 - 08.11) / The Decemberists / Capitol Records - EMI / R$ 42,90
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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13 comentários:
Tio Alan manda notícias....
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1110165-quadrinista-alan-moore-esta-trabalhando-em-serie-de-curtas-metragens.shtml
Engraçado esse lance do Cash...quando era guri não conhecia praticamente ninguém que curtia ele...conheci até gente em sp que dizia que o som dele era mortão, num era legal pra dançar...depois do filme...todo mundo virou fan do cara...e aquele último cd dele antes de morrer (ou foi o penultimo?) que tem HURT, ajudou tb a essa moda, que culminou no filme...q é até legalzim...
Não viajei muito no som dessas bandas...mas tem um cara bacana da inglaterra chamado Pete Molinari, saca Chico?
Tem essa linha folk, country, rocker, bem Dylan tb:
http://www.youtube.com/watch?v=Q3g1b6nv1-Q
http://www.youtube.com/watch?v=-2VVuuYCzL0
http://www.youtube.com/watch?v=t34fue9u7iU
http://www.youtube.com/watch?v=fFrKjHF2GVA
o 1o dele é folkzão...gravado na cozinha do Billy Childish, num gravador de rolo...
Pronto, o Omelete já detonou o filme novo do Homem-Aranha:
http://omelete.uol.com.br/homem-aranha-amazing-spider-man/cinema/o-espetacular-homem-aranha-da-frigideira/
Sabia que a empolgação de Vingadores não ia durar... Mas vamos ver, né?
O castelinho de cartas que são OS Novos 52 da DC começa a ruir legal:
http://omelete.uol.com.br/superman/quadrinhos/novos-52-george-perez-diz-que-queria-sair-da-serie-do-superman-o-mais-rapido-possivel/
Boa notícia. Tomara que o Ira! volte.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/1110933-nasi-e-o-irmao-se-reconciliam-depois-de-anos-de-brigas-publicas-e-processos.shtml
Mas de preferência, que arrumem um produtor decente para um possível disco novo. Por que Rock Bonadio, que produziu o último, de 2007, foi realmente, uma pá de cal.
rock bonadio, né rick não?
de rock num tem nada-hehehehe
Rick, é isso! Foi erro de digitação, né Sputter!
eu sei que foi meu caro...mas dei risada aqui, ato falho?
pelas bandas que tu tem chamado de rock aqui...num sei não-hehehhehe
~;op-
Sputter, andei matutando aqui uma boa resposta pra vc e cheguei a uma conclusão. O seguinte é este: tosquidão é legal e tal mas... não é tudo na vida, meu jovem. Música bem composta, bem tocada, bem arranjada, bem produzida e bem gravada também tem o seu lugar. Entende? Nem tudo na vida é uma banda punk (ou protopunk) limitada a dois ou tres acordes. Nem tudo na vida é um bardo marginal gravando febrilmente em um gravador tosco de duas pistas em um quarto de hotel imundo. Claro, tudo isso tem seu encanto e sua hora. Mas não é tudo. Na verdade, está beeeem longe de ser tudo. É isso.
Agora, essa sim, é uma excelente notícia sobre o tio Moore:
http://www.universohq.com/quadrinhos/2012/n28062012_02.cfm
Neonomicon sai no Brasil pela Devir! Uhú!
e quem disse que eu só ouço isso meu caro?
nem esse som que vc citou aí eu ouço...
não me conhece mesmo...heheehhe
~;op-
aliás, quando o povo aqui cutucava bandas em estilos + "suaves" eu tava escutando...
e pra ser rock num tem que perturbar um poquinho bicho?
deixar o povo meio revoltado com as declarações-hehehehe
abraços!
vc é o mejor daqui tio chico...mas que tá menos rock que antigamente isso tá-heheheheh
É, Sputter, talvez vc tenha razão. Como já disse o Ira! há mais de vinte anos, "já estou farto do rock 'n' roll". Isso hoje. Amanhã, já não sei. Abraço!
E essa, modéstia a parte, é a forma mais elegante e inteligente de usar a palavra "já" três vezes em apenas duas linhas. Tem coisas que só o Rock Loco etc....
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