quinta-feira, novembro 03, 2005

EU SEI QUE NÃO TÁ MOLE, ENTÃO TOME MAIS UM GOLE

Resenhas de discos nem tão novos, porém bacanas, guardadas há algum tempo para serem publicadas simultaneamente com o Clash City Rockers. Como diria Alexandre Matias, "pelo bem da atualização do blog", me vejo obrigado a desová-las antes do blog brother, devido a diversas razões, alheias ao Rock Loco (cabeça cheia, falta de tempo, falta de assunto melhor). Foi mal aê, velhinhos. Enjoy. Ou não...

LIFEBLOOD
MANIC STREET PREACHERS
EPIC / SONY

A primeira impressão que tive, logo à primeira audição deste último CD da banda galesa Manic Street Preachers, foi que a produção de Greg Haver meio que deixou em segundo plano o elemento que costumava ser o mais essencial no som de seus álbuns anteriores: a guitarra. Não que ela tenha sumido e eles tenham virado tecno, nada disso. A guitarra está lá, mas em segundo plano mesmo, em privilégio de acordes de pianos, levadas de baixo e claro, das lindas melodias vocais de James Dean Bradfield. Em suma, neste disco, o Manic Street Preachers está soando mais como um certo pop dos anos 80, aquele de melodias grudentas, mais suave mesmo. Nomes que freqüentavam os dials das FMs daquela época, como Talk Talk, Icehouse e sei lá mais o quê me ocorrem no momento, mas temo que sejam uma associação não muito feliz para uma banda do porte do MSP. Até por que, logo na faixa de abertura, a emblemática 1985, eles pagam seu tributo à (imagino) quem de direito: "In 1985 / my words, they came alive / friends were made for life / Morrissey and Marr gave me choice / in 1985". Essa primeira faixa, mais as duas seguintes, The love of Richard Nixon (a que mais me lembrou Talk Talk, especialmente em sua introdução) e Empty souls causam uma ótima impressão: melodias bacanas, arranjos instigantes, timing perfeito. A partir da quarta faixa (A song for the departure) porém, essa impressão se desvanece um pouquinho. Lifeblood não é um disco regular. Faixas como citada A song for the departure e I live to fall asleep parecem carregadas de uma beleza - ouso até dizer - meio bregas, como se pudessem ser executadas nas globo-fm-para-quem-gosta-de-música à qualquer momento, se os programadores das rádios ainda cultivassem o hábito de ouvir música, claro. Em To repel ghosts o guitarrista até emula uns riffs à la The Edge (fase Unforgettable fire), mas logo sucumbe sob uma parede de teclados meio antiquados. Emily, que assim como as faixas Solitude sometimes is e Cardiff afterlife, foi produzida pelo lendário Toni Visconti (Bowie e Marc Bolan nos anos de ouro do glam rock) começa com uma levada de bossa, mas não convence. Depois parece Coldplay, banda que detesto. Glasnost é chatinha. Always/never já anima um pouco mais, mas não decola. A última faixa, Cardiff afterlife fecha o disco com chave de gelatina, pois a música é frouxa, sem a pegada demonstrada até mesmo em faixas do mesmo disco. A verdade, como o leitor mais atento já deve ter notado, é que eu não sei ainda direito se gostei desse disco. Minha única certeza é que se trata do disco mais ambíguo que eles já fizeram. É para dar nota? Bom... 6,5. Não, 7. Não, 8. Pô, sei lá. Melhor ouvir a coletânea de hits Forever delayed (2002) ou Know your enemy (2001) ou mesmo o primeiro, Generation terrorists (1992).


PRETTY IN BLACK
THE RAVEONETTES
COLUMBIA

O terceiro disco da dupla dinamarquesa Raveonettes talvez seja o melhor que eles produziram, e olha que os dois primeiros, Whip it on (EP de 2002) e Chain gang of love (2003) já batiam um bolão com sua atmosfera retrô, microfonia à la Jesus n' Mary Chain e melodias estilo pop anos 50 e blues primitivo. Neste disco, Sune Rose Wagner e Sharin Foo aliviaram na microfonia e enfatizaram ainda mais as melodias que parecem saídas diretamente de uma jukebox de diner americano dos anos dourados de James Dean e do seriado Happy Days (putz, quem lembra?). Saem os apitos das guitarras dos irmãos Reid e entram melodias doces levadas ao violão e guitarras (quase) limpas, lembrando grupos vocais femininos produzidos por Phil Spector, Elvis e seus clones. Poderia ter dado errado, mas não deu. O resultado é maravilhoso, e tudo exala aquela inocência típica da década dos anos dourados. Filmes como A Primeira transa de Jonathan, Clube dos cafajestes, Porky's e mesmo clássicos como Juventude transviada (James Dean) e O Selvagem (Marlon Brando), me ocorrem. Lambretas, sorveterias, brilhantina no cabelo, brigas no drive in, casais se beijando desajeitadamente no cinema. Caso ouça, Morotó Slim (Retrofoguetes) realmente vai se amarrar neste disco. O riff da faixa Twilight chega até a lembrar Attack of the body snatchers, do primeiro disco dos Dead Billies. Outro dado interessante é que, apesar de fortemente retrô, os Raveonettes sempre introduzem algum elemento mais moderno nas músicas. A citada Twilight tem batida disco. Sleepwalking tem bateria eletrônica. Mas são apenas detalhes de produção. No geral, Pretty in black é um disco bem tradicional, americano até a medula em sua sonoridade, seus timbres de guitarra e temática essencialmente dor de corno romântico. Não por acaso, Ronnie Spector (ex-mulher de Phil? Alguém?) canta na linda Ode to L.A. e Moe Tucker (Velvet Underground) toca bateria em quatro faixas. O disco é uma delícia, é curto, suas faixas são concisas e formam um conjunto muito bem amarrado. Um dos discos mais bacanas que ouvi recentemente. Nota 10.

8 comentários:

osvaldo disse...

Tai, gostei do disco dosManics, acho que a intençao era de soar oitentista mesmo.melodias grudentas e algo soturnas.e o raveonettes tb é legal, nada demais , mas a mistura spector/mary chain é feita com competencia, sem falar que a bela e opulenta sharin foo canta legal.

Franchico disse...

Porra, Brama, além de vc, ninguém achou muita graça nesse post não...
Cê viu que vai ter shows de Robert Cray e do batera Billy Cobhan na área verde do Othon? Desde já peço doações para que eu possa ir ao show do Cray, que acho bem legal. O ingresso mais barato é (tá sentado?) R$ 80,00. O engraçado é que, por esse preço, as pessoas que realmente gostam do guitarrista ficam totalmente impossibilitadas de ir. Aí, quem irá? Ora, Ivete, Lícia, Manno, Durval, Ninha, Carlinhos, Daniela, Margareth... só gente que entende de blues.

Cadê meu balde de vômito?

Franchico disse...

Porra, Paul du Roll (fantástico esse nome), boa pergunta. Sinceramente, pelas ondas da frequência modulada (FM), acho bem difícil voltarmos ao ar (que triste), mas o movimento pra botar o RL no podcast continua. A passos de tartaruga, mas tenha fé, que vai rolar. E assim que acontecer, os leitores do blog saberão no ato.

Franchico disse...

Ah, Paul, vc disse que "Estamos com poucos programas sobre rock indie na Bahia". Vc pode me dizer ques programas são esses? Eu achei que não tínhamos mais nenhum!

Yara Vasku disse...

E o rock loco era "sobre rock indie"???

Franchico disse...

"Indie" é modo de falar, Yara. É sobre rock independente de jabá. A gente não tocava Charlie Brown, Evanescence, Detonautas, nem Marcelo D2, CPM 22 e outras bandas de guris pentelhos. Apesar dos insistentes pedidos. Para mim, isso é ser indie.

Yara Vasku disse...

Ah! Chico, então vc finalmente conseguiu identificar que porra é indie!!! Será? Acho que isso dá um bom tema para um encontro regado a geladinhas, não? Pois, nas noites de quinta, com a insuperável Sora Maia, nós tocávamos (às vezes, muito às vezes, diga-se de passagem) alguns pedidos até porque ter pedidos (ouvintes) era uma honra, né?

Franchico disse...

Bom, eu e Mário (ele principalmente) não éramos tããããão radicais assim, quando tínhamos como atender os pedidos, atendíamos com o maior prazer. Pink Floyd, System of a Down e mesmo Pitty eram pedidos e a gente tocava, na boa. Qdo nego pedia Charlie Brown, a gente tocava Ramones, para ver se dava uma luz na cabeça da gurizada. As geladas são uma ótima pedida, hein?!?