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terça-feira, outubro 31, 2017

PRAZERES SINFÔNICOS

Conduzida por maestro gaúcho, a Salzburg Chamber Soloists executa Mozart, Ravel e outros sexta-feira, no Teatro Castro Alves

Eruditos e descontraídos: Salzburg Chamber Soloists, foto Fabio Borquez
Apreciadores da música de concerto (ou só de música boa, mesmo) ganharam um programão para a noite desta sexta-feira: o concerto da orquestra de câmara Salzburg Chamber Soloists, na Sala Principal do Teatro Castro Alves.

Dirigida e regida por Lavard Skou-Larsen, gaúcho filho de brasileira com dinamarquês, a orquestra inicia em Salvador uma turnê por oito cidades brasileiras, partindo daqui para Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Blumenau, Florianópolis e Curitiba.

“É a primeira vez (que nos apresentamos em Salvador). Estamos muito contentes de começar nossa turnê em uma cidade tão sugestiva, cheia de história e também de espiritualidade. (Este é) Um dos motivos porque fazemos música”, afirma Skou-Larsen por email ao Caderno 2+.

No repertório, uma atenção especial aos compositores franceses, com peças de Ernest Chausson (Concerto para Violino, Piano e Arcos op. 21) e Maurice Ravel (Quarteto Para Arcos em Fá-Maior), além de Mozart (Divertimento em Re-Maior, KV 136) e Anton Bruckner (Adágio Para Cordas).

“O repertório (de nossos concertos) é sempre diferente. Claro que tem várias obras clássicas que tocamos repetidamente, dependendo dos desejos dos organizadores. Tocamos muito Mozart, óbvio, como orquestra de Salzburgo (cidade natal do compositor austríaco)”, conta o maestro.

“Mas desta vez queríamos explorar um pouco a música francesa. E os organizadores nos deixaram livres para programar. Então nasceu este programa maravilhoso com Ernest Chausson, Maurice Ravel e – não pode faltar também – um pouco de Mozart”, diz.

Fazendo jus ao “soloists” (solistas) no nome da orquestra, o concerto terá dois deles: o próprio maestro ao violino e o premiado pianista Phillippe Raskin, diretor artístico do César Franck International Piano Competition (Bruxelas) e do Festival Ressonances Musique de Chambre (França).

Skou-Larsen fundou a SCS em 1991, como uma forma de honrar a memória e o trabalho do pai, Gunnar, que também era maestro.

“No fundo, foi meu pai que, em 1972, fundou uma orquestra de câmara em Salzburgo. Como ele morreu três anos depois,  senti uma certa obrigação de continuar a ideia dele quando alcancei a idade de tomar responsabilidades”, conta.

“Então recomeçei tudo em 1991, que aliás também foi o ano do jubileu dos 200 anos da morte de Mozart”, lembra.

Maestro Lavard Skou-Larsen, foto Fabio Borquez
Brasileiros eruditos

Com diversas gravações (com e sem a SCS) no currículo, Skou-Larsen (em duo com o pianista Alexander Mullenbach) registrou em 1997 três sonatas para violino do compositor brasileiro Camargo Guarnieri (1907-1993) – um belo serviço prestado à música de concerto brasileira e latino-americana, ainda pouco apreciada mesmo por aqui.

“A música latino-americana está conquistando cada vez mais os palcos internacionais da música erudita. Sobretudo quando é tão boa como a de Camargo Guarnieri”, afirma.

“(A música de concerto brasileira é) Muito bem vista. Sobre tudo Guarnieri, Villa-Lobos, (Radamés) Gnatali, (Claudio) Santoro, (Edino) Krieger, (Alberto) Nepomuceno, (Carlos) Gomes etc”, enumera.

Tendo conduzido dezenas de orquestras dos dois lados do Atlântico, o maestro diz não ver diferenças entre músicos americanos ou europeus: “O que é mais diferente é trabalhar com orquestras livres, que se reúnem para realizar um trabalho idealista, muitas vezes com músicos sem contratos fixos, ao invés de orquestras institucionalizadas, aonde o músico é mais um funcionário público e não tão envolvido na escolha do repertório ou no espírito da orquestra”, diz.

“Com as orquestras livres se tem mais prazer, mais empolgação e mais entusiasmo vindo dos músicos. Mas isto em todo mundo é a mesma coisa”, conclui.

Salzburg Chamber Soloists / Sexta- feira, 21 horas / Sala Principal do Teatro Castro Alves (Praça Dois de Julho, s/n) / Cadeiras Fila A à P: R$ 100 R$ 50 / Cadeiras Fila De Q a Z11: R$ 80 e R$ 40 / Vendas: Bilheteria do Teatro, postos SAC dos shoppings Barra e Bela Vista e no site www.ingressorapido.com.br

COM LOQUI IN MOUSIQUI, ALEX POCHAT COMEÇA A DESAGUAR SUA VASTA PRODUÇÃO NA REDE

Alex Pochat. Foto Margarida Neide
Um vendedor de picolé passa pela rua anunciando seu produto. Todos os dias, no mesmo horário, o músico Alex Pochat o ouvia passar.

O pobre do vendedor não sabia, mas sua ladainha diária atormentava o artista. Um dia, Pochat resolve tomar uma atitude para fazer as pazes com seu próprio incômodo.

Chamou o vendedor à sua casa, gravou seu pregão (“Chegou o pi-colééé!”) e começou a criar uma obra em cima dele.

O resultado é Gelatus Adventus, uma peça erudita / dadaísta   de quase oito minutos para piano, clarinete, violoncelo e vendedor de picolé.

“Parece que a arte é um ótimo meio não só de criação, mas também de colocar um ponto final nas coisas. Se você não consegue abstrair algum som de sua cabeça, junte-se a ele”, ensina Pochat.

“No caso, o pregão virou o tema de um trio de clarinetas, e a interpretação da obra por parte de Jorge, o vendedor de picolé, o colocou como agente solista principal em um concerto para quarteto misto de uma nova peça. O compositor e o interpretador, juntos e em alternância, criando e interpretando músicas”, acrescenta.

Gelatus faz parte do álbum Loqui in Mousiki, já disponível nas plataformas digitais e que reúne as principais peças de música de concerto do versátil artista.

"As peças desse trabalho tratam justamente sobre a interpretação que alguém tem de alguma música, seja um performer, um ouvinte ou um crítico musical. E mais: o que se pode fazer criativamente a partir dessa interpretação. Um 'ouvinte casual, como você diz, ao apreciar uma obra, pode gostar ou não daquela música, pode entender ou não as pretensões do seu compositor, mas parece impossível que ele seja imune ao ato de interpretar aquilo que ouve. O que tanto ele faz com essa interpretação quanto o que o compositor faz com a interpretação de sua própria obra, é que é, paradoxalmente, tão fértil e tão negligenciado", observa.

Baixista da banda Cascadura por quase dez anos, Pochat é um estudioso de música (Doutorado pela Ufba), meditação e Yoga (via movimento indiano Brahma Kumaris).

Membro do vanguardista grupo OCA (Oficina de Composição Agora), já participou da organização de duas edições do MAB (Música de Agora na Bahia), que trouxe à cidade alguns dos maiores nomes da música de concerto atual.

Que arcos? São extensões do meu braço! Foto Margarida Neide
Versatilidade = Pochat

Louqui é seu primeiro movimento no sentido de desaguar sua produção na internet – incluindo o espetacular Alex Pochat & Os 5 Elementos (2007), álbum solo de rock.

“Vou lançar ainda as produções com a OCA, os trabalhos como produtor musical  de grupos de candomblé e capoeira,  trabalhos com o Viratrupe (grupo de artistas espalhados no Brasil que faz música, dança, audiovisual e meditação) e os 5 Elementos – com novo álbum saindo da fornalha. E ainda um álbum instrumental para meditação com sitar”, enumera. Tá bom ou...?

“Tomei vergonha e subi na rede o disco dos 5 elementos​. Antes do Carnaval subo o Viratrupe e o de sitar. E  que depois venha o disco novo dos 5 Elementos”, promete.

Ainda sobre o Loqui, no álbum Pochat pratica a música de concerto moderna, um gênero difícil para quem não está acostumado, já que parece prescindir de melodias - e muitas vezes, de instrumentos convencionais - para se constituir enquanto obra.

Ouvindo-o, ficam as perguntas: Os padrões convencionais da música não fazem mais sentido? Partindo disso, o que é música para você?

"Tudo, mais ou menos convencional, faz sentido em música. E as apenas aparentes divergências, de estilo, de instrumental, de gênero, de forma, etc, podem se fundir tanto na mesma música quanto em músicas distintas de um mesmo compositor. Essa é que é a graça. E se eu lhe responder o que é música... vou perder a chance de saber o que você pensa a respeito — pra daí fazer uma musiquinha depois", conclui.

Grande Pochat.

Ouça: www.alexpochat.com



NUETAS

Lucilia e Shirtsleeves

Lucilia In The Music Box e Shirtsleeves fazem a Noite NHL no Quanto Vale o Show? de hoje. Dubliner’s, 19 horas, pague quanto quiser.

Matita Perê no Sesi

A banda Matita Perê faz o show Reino dos Encourados amanhã, no Teatro do Sesi. 20 horas, R$ 30. Recomendo!

Bigbands 2017 é já!

O festival Bigbands 2017 começa quinta-feira, com três nights  para começar: a primeira é da  Metal Union, com  Electric Poison, Graveren e Tyranno (RJ). A sexta é do NHL, com Antiporcos, Kalmia, Macumba Love e  Grupo Porco de Grindcore Interpretativo (MG). E sábado é noite Supernada,com Tangolo Mangos, Molho Negro (PA), Aldan (MG) e Djalma. Dubliner’s, 18 horas, R$ 30 (acompanha uma rifa!).

segunda-feira, outubro 30, 2017

A DURA VIDA DE UM CINEASTA BURGUÊS REVOLUCIONÁRIO

Em Cartaz: Jean-Luc Godard vira comédia em O Formidável, um olhar afetivo de Michel Hazanavicius ao ídolo intelectual francês

Godard (Garrel) e Wiazemsky (Martin) correm da polícia no Maio de '68
Esfinge humana e  ponta de lança da Nouvelle Vague, movimento que renovou o cinema francês (e mundial) em meados do século 20, o cineasta Jean-Luc Godard é o personagem principal do ótimo O Formidável, filme em cartaz em algumas salas da cidade.

Ambientado entre os turbulentos anos de 1967 e 1968, a obra do oscarizado Michel Hazanavicius (O Artista) centra sua narrativa em dois temas: o relacionamento do cineasta (na pele do ator Louis Garrel) com a atriz Anne Wiazemsky (Stacy Martin) e seu engajamento na “revolução”, obsessão de Godard na época.

Na época, protestos pela liberação dos costumes e contra a guerra do Vietnã e as ditaduras na América do Sul e Europa varriam o mundo, especialmente em Paris, culminando na greve geral de Maio de 1968, com estudantes, proletários e intelectuais erguendo barricadas e tacando pedras contra a Gendarmerie (polícia) no Quartier Latin.

Nesse contexto, Godard lança seu filme mais revolucionário, A Chinesa (La Chinoise, 1967), estrelado pela jovem e bela Wiazemsky.

De maneira hábil, o roteiro de Hazanavicius alterna a narrativa entre a recepção do filme com a militância do casal (mais dele do que dela) e o relacionamento difícil, dada a índole complicada de Godard, que fazia questão de ofender todos (conhecidos ou desconhecidos) que o abordavam – afinal, ninguém entendia de cinema e de revolução tanto quanto ele.

Tudo bem ser um alienado de direita, mas por favor não quebre meus óculos
Revolução sem óculos

A abordagem de Hazanavicious é leve e divertida, com o próprio Godard, quem diria,  como alívio cômico (involuntário) em diversas cenas.

Nesse sentido, o diretor marca pontos ao utilizar o recurso de uma piada que se repete ao longo do filme – no caso, a dos óculos do cineasta, que toda hora alguém dá um jeito de pisotear.

A ironia também parece escorrer pela tela em momentos divertidos de metalinguagem, como quando Godard, nu em pelo, reclama da obsessão de alguns cineastas em mostrar gente pelada nos filmes – ou quando ele diz que odeia atores: “Você os manda chorar, eles choram. Você os manda rir, eles riem. Você os manda dizer que odeiam atores, eles dizem! Odeio isso!”.

Fôrra Temerr! Fôrra Temerr! Fôrra Temerr!
Cineasta que faz filmes sobre o cinema em si (vide O Artista), Hazanavicious oferece em O Formidável um olhar afetivo ao ídolo dos cinéfilos intelectuais dos anos 60 e 70, preocupando-se pouco em dramatizar a complicada relação Godard / Wiazemsky.

Esta escolha lhe rendeu críticas de sexista, já que baseou seu roteiro na autobiografia da atriz, Un An Après (Um Ano Depois), além de raso na abordagem do Maio de 68 e episódios como o cancelamento do Festival de Cannes daquele ano, a pedido de Godard e outros cineastas.

Retratado como um marxista confuso e estridente, o Godard de O Formidável deve ser visto antes como comédia. O biográfico saiu devendo.

O Formidável (Le Redoutable) / Dir.: Michel Hazanavicius / Com Louis Garrel, Stacy Martin / Sala de Arte Cinema do Museu, Sala de Arte Cine Paseo, Sala de Arte Cine XIV e UCI Orient Shopping da Bahia / 14 anos

sexta-feira, outubro 27, 2017

PODCAST ROCKS OFF: A VELHICE NO ROCK E RIP FATS DOMINO

Ilustração de Kagan McLeod
É possível envelhecer bem sendo roqueiro?

O podcast Rocks Off (com Nei Bahia e Osvaldo Braminha Silveira Jr.) faz um rescaldo dos recentes shows de veteranos da terceira idade (ou chegando nela) do rock no Brasil (e na Bahêa): The Who, Macca, Guns 'n' Roses, The Cult.

Entra na roda também o disco novo do Sparks, duo dos veteraníssimos irmãos Mael.

Fechando, uma breve apreciação do recentemente falecido pioneiro do rock 'n' roll, Fats Domino.

Ao lado, a belíssima ilustração do artista canadense Kagan McLeod.

Enjoy!






BÔNUS: FATS DOMINO: AIN'T THAT A SHAME

terça-feira, outubro 24, 2017

EVOLUÇÃO DA ROCKSCOLA, CTRL X JÁ NASCE GRANDE, COM ÁLBUM LANÇADO PELA MAYNARD MUSIC

Lucas, Matheus, Johnny e Werner. Foto Flávio Guaraná
Febre de juventude, o rock – qualquer manifestação artística, na verdade – necessita de sangue novo para oxigenar e seguir vivo.

Boa notícia então, o show de lançamento da CTRL X (Control X), banda formada por quatro garotos de 14 anos, evolução da Rockscola, um cursinho musical para crianças voltado para o rock, criado pelo músico Flávio Guaraná.

Alunos aplicados, Lucas Marques (vocal), Johnny de Castro (guitarra), Matheus Benevenuto (baixo) e Werner Guaraná (bateria) formaram a banda Rockscola, que chegou a se apresentar por dois anos no Palco do Rock, no Carnaval de Salvador.

"Somos amigos de escola desde pequenos e sempre ouvimos música, principalmente o rock. Aí entramos em um projeto do pai do Werner, baterista da CTRL X, chamado Rockscola, que depois deu origem a banda", conta Lucas.

Tomaram gosto pela coisa e, com o apoio dos pais, resolveram seguir em frente.

"(Na Rockscola) aprendi a ter rotina de ensaio, assumir compromissos e estudar cada vez mais Aprendi que cada um tem sua importância na banda, nas composições das letras, dos arranjos e das melodias, e que também aprendemos muito um com o outro. Resumidamente, foi um processo de amadurecimento muito gratificante", relata o garoto.

Entra em cena o produtor Luis Fernando Apu Tude, que, apostando no talento dos meninos – que realmente compõem as próprias músicas e tocam os próprios instrumentos – enviou o material de demonstração deles ao empresário Marcos Maynard, ex-presidente de gravadoras como EMI, Polygram e Sony Music.

Resumindo: daqui a alguns dias, o selo Maynard Music Artmix lança em todo o Brasil o primeiro álbum da CTRL X.

Para esquentar, fazem neste domingo, em esquema matinê, um show com a banda (também de garotos) Ander Leds – que aliás, conta em sua formação com Luiz Gustavo Mullen, filho do Camisa de Vênus (ou ex-Camisa, vai saber) Gustavo Mullen.

“A expectativa é grande e a ansiedade também”, admite Lucas.

Foto Flávio Guaraná
“Fizemos esse disco com bastante carinho e estamos apostando todas as cartas nele. São, no mínimo, 9 horas de ensaio que temos por semana. Próximo do show, isso aumenta um pouco”, acrescenta.

Dedicação não falta, pelo visto. Mas na tranquilidade: estão todos na escola (não só a do rock).

Trabalho conjunto

Gravado nos Estúdios WR e produzido por Apu, o disco da CTRL X tem onze faixas: “Sim, são todas nossas. A construção das músicas é bem coletiva. Um traz a letra, outro pensa no arranjo, outro na melodia, de forma que em cada faixa todos nós participamos”, conta.

"Somos do rock. Inicialmente, ouvíamos muito os clássicos, bandas como AC/DC, Guns 'n' Roses, Bon Jovi, Led Zeppelin, Iron Maiden, Mettalica sempre nos influenciaram muito. Atualmente, temos tido novas influências da nova cena do rock, como Scalene, Far From Alaska, Supercombo, Thrice, Foo Fighters, Mastodon e várias outras, mas sem abandonar os clássicos. Além do rock, temos inspiração em outras bandas de outros estilos musicais,como por exemplo a Baiana System. Também tem uma banda chamada Animals As Leaders que curtimos bastante", enumera Lucas.

“Foram muitas horas de estúdio, repetição, aprendizado. O resultado é muito gratificante, é a realização de um sonho. Apu é um produtor experiente, um cara que está há bastante tempo no mercado  e sempre acreditou na banda”, diz.

Então é isso: se o rock baiano tem futuro, ele deve começar domingo no Groove Bar.

"Rock pra mim é a forma mais pura e agressiva de expressar o que está dentro de você. E eu,como cantor, me expressando em cima de um palco, não tem nada melhor", conclui.

CTRL X e Ander Leds / Groove Bar / Domingo, 16 horas / R$ 20 / www.facebook.com/bandactrlx



NUETAS

Crueldade, Unkiller

As bandas Crueldade e Unkiller fazem a noite Terça de Peso no Quanto Vale o Show? de hoje.  Dubliner’s, 19 horas, pague quanto quiser.

Osba faz Brahms

A nossa querida Orquestra Sinfônica da Bahia faz o terceiro  concerto do Ciclo Brahms no Teatro Castro Alves. Quinta-feira, 20 horas, R$ 20.

Via Sacra, Ato 5 e Cadinho

Via Sacra, Ato 5 e Cadinho tocam sábado, 20 horas, no Buk Porão. R$ 10.

Retro_Visor, Pirombeira e TransBatukada

A banda Retro_Visor convida Pirombeira e TransBatukada para show na  Casa Preta. Domingo, 15 horas, R$ 10.

segunda-feira, outubro 23, 2017

PAULINHO, VOCÊ TAMBÉM É MASSA!

O show de Paul McCartney na Itaipava Arena Fonte Nova só poderia ter sido melhor se tivesse sido dos próprios Beatles

So live and let die! Foto Breno Galtier / T4F
Foi tudo o que os baianos (e milhares de turistas) esperavam – e mais um pouco.

O show de Paul McCartney na Itaipava Arena Fonte Nova na noite de sexta-feira preencheu todas as expectativas com louvor.

Ninguém se importou com a chuva que caía, parava e voltava.

Ninguém pareceu notar que o homem estava ligeiramente rouco.

Ninguém estava nem aí com aperto na pista premium (na área mais próxima do palco).

Ninguém nem tchuns com o atraso de 15 minutos pra começar.

O clima geral foi de felicidade e incredulidade: um Beatle, Paul McCartney, estava em Salvador, cantando para os baianos, falando em português e mandando gírias locais, como "Ave Maria!", "Vocês são massa" e até "Ó paí, ó!", quando uma moça bonita de shortinho subiu ao palco para dançar com ele, em Birthday, próximo ao fim do show.

O show em si foi rigorosamente igual ao apresentado em Porto Alegre no último dia 13 (e coberto pela reportagem de A TARDE a convite da produtora Time 4 Fun): começa com A Hard Day's Night, passa por Jet, All My Loving, I've Got a Feeling, Maybe I'm Amazed, revisita os Quarrymen com In Spite of All The Danger, volta aos Beatles com You Won't See Me, Love Me Do, And I Love Her e Blackbird.

Traz novidades como New, Queenie Eye e Four Five Seconds, homenageia os Stones com I Wanna Be Your Man, George Harrison com Something (de chorar), lembra os 50 anos de Sargeant Peppers com Being For The Benefit of Mr. Kite e A Day in The Life.

Joga as mãos do povo pra cima com Hey Jude e Let It Be, provoca explosões e chamas com Live and Let Die e encerra quebrando geral com Helter Skelter, Birthday e Golden Slumbers.

Uma revisão monumental (com quase três horas de duração) de uma carreira irretocável, de um dos maiores artistas da cultura ocidental do século 20.

Seu Paulinho e sua sua banda. Foto Breno Galtier / T4F
Para Salvador, foi um privilégio sem tamanho poder testemunhar ao vivo um deus do rock deste porte – ainda vivo e cheio de energia, do alto dos seus 75 anos.

Ao final, os  rostos das pessoas expressavam um misto de felicidade, incredulidade e (claro) cansaço.

"É inacreditável um senhor desta idade fazer um show de 3 horas desses. Estou muito surpresa", disse Katucha Bastos.

"Rapaz, estou pasmo. Paul estava ali, ó", admirava-se, ainda incrédulo, seu marido, Ricardo "The Flash" Alves, ex-guitarrista da banda local Cascadura. "Paul estava ali e eu estava aqui. Nem acredito. É tudo o que posso dizer", afirmou.

O químico Nei Bahia, um veterano de shows internacionais no Brasil, e que já tinha assistido ao show do ex-Beatle em São Paulo em 2011, considerou o de sexta-passada ainda melhor: "Seis anos depois desse show, ele parece até mais novo. É um show que consegue ser, ao mesmo tempo, super estudado, mas sem ser mecânico, sem perder a espontaneidade".

Na volta para casa, só restava uma certeza: o sonho nunca  acabou. Ele permanece vivo no coração de quem ainda acredita no poder da música feita com verdade de intenções e (muito) talento.

Volta logo, Paul!

Bônus: Birthday, com Yasmin dançando para Sir Paul. Enviado ao You Tube por Hans Freaks

sexta-feira, outubro 20, 2017

É HOJE!

Fim da espera: Sir Paul McCartney está entre os baianos para um show inesquecível na Arena Fonte Nova

Crédito: MPL Communications 2017
Preparados? O esperado dia chegou. Um dos músicos mais amados de todos os tempos finalmente chega à cidade para um show único e imperdível.

Sir Paul McCartney traz consigo hits imortais, seu carisma irresistível, uma banda absurda de boa e um show que permanecerá na memória de todos que o assistirem.

Quem for pode ficar tranquilo: cavalos de batalha como Hey Jude, Yesterday, Let It Be e Live and Let Die (um dos auges do show, com muitas explosões e fogos de artifício) estão garantidos no set list.

Mas como um grande show não se faz só com os hits mais conhecidos, beatlemaníacos de carteirinha podem preparar o lenço para chorar durante clássicos como You Won’t See Me, Sargeant Pepper’s Reprise, I’ve Got a Feeling, We Can Work It Out, Blackbird, Something (uma linda homenagem a George Harrison), A Hard Day's Night,  Got To Get You Into My Life e outras.

Da carreira solo, o repertório do show de Sir Paul cobre canções desde o primeiro álbum (McCartney, 1970), até o último single, FourFiveSeconds (2015), uma colaboração com Kanye West e Rihanna.

Clássicos como Maybe I’m Amazed, Band on The Run, Junior’s Farm, Jet e Let Me Roll It se misturam a faixas mais recentes, como Queenie Eyes, New e My Valentine.

No palco, Sir Paul se faz acompanhar por uma banda compacta, mas experiente, extremamente competente e carismática: Rusty Anderson (guitarra, violão, backing vocais), Brian Ray (guitarra, baixo, violão, backing vocais), Paul Wickens (guitarra, violão, backing vocais, bongôs, percussão, gaita, acordeon) e Abraham Laboriel Jr. (bateria, percussão, backing vocais).

Bom para a economia

Crédito: MPL Communications 2017
Com esse megashow – e o aparente sucesso que ele já constitui – o que se espera é que Salvador entre, de uma vez por todas, no circuito dos shows internacionais que vem ao Brasil – sejam eles de grande ou médio porte.

Como se sabe, até para a economia local eventos como este são benéficos.

Não a toa, o próprio Governo do Estado é o responsável pela vinda da turnê à Salvador, por meio da Superintendência de Fomento ao Turismo da Bahia (Bahiatursa), após negociações com a Time For Fun (leia-se Luiz Oscar Niemeyer, o papa dos grandes shows internacionais no Brasil), produtora oficial dos shows de Paul no país.

Segundo a  Associação Brasileira da Indústria de Hotéis - Bahia (ABIH-BA), a taxa de ocupação dos hotéis de Salvador chegará a 84% neste fim de semana, com turistas vindos de Aracaju, Maceió, Recife, Brasília e diversas cidades do interior do estado.

Então é isso: prepare seu inglês, beba água, coma alimentos saudáveis, use roupas leves e deixe aquela vibração beatle tomar conta. Give peace a chance e let‘s rock.

Paul McCartney: One on One / Hoje,  21h30 / Abertura dos Portões: 17h30 / Itaipava Arena Fonte Nova / Classificação: Menores de 10 anos não são permitidos. De 10 a 15 anos permitida a entrada acompanhado de responsável

Se ligue nas dicas e curta o show de Paul na boa

Ingressos
Não comprou ainda? Ainda há alguns à venda, mas só para os setores mais baratos: Superior (R$ 190, inteira), Norte Intermediário (R$ 280) e Pista (R$ 380). Evite comprar na mão de cambistas. Adquira na bilheteria da própria Arena

Estacionamento
Se insiste em ir de carro, a Arena disponibiliza duas mil vagas. Paga R$ 50 nos estacionamentos internos e R$ 40 nos  externos. A partir das 9 horas, você já pode comprar sua vaga, no estacionamento EDG da Arena Fonte Nova. Aceita cartão e dinheiro

Metrô
Vamos de metrô? Saia tranquilo, mas sem perder tempo no estádio depois que o show acabar: a CCR Metrô Bahia informa que a Estação Campo da Pólvora estará aberta até a 1 hora. Uma dica é estacionar no Shopping da Bahia e de lá pegar o trem. Acesso até às 23 horas através do estacionamento D. O valor não foi divulgado

Não leve ao show
Vasilhames, copos de vidro ou qualquer outro tipo de embalagem contendo líquidos. Qualquer tipo de objeto de vidro, plástico ou metal. Substâncias tóxicas. Fogos de artifício. Inflamáveis. Armas de fogo ou armas brancas. Paus de selfie. Guarda-chuvas de qualquer tamanho (use capa, no caso de chuva). Capacetes. Correntes, cinturões e pingentes. Alimentos, só industrializados e ainda lacrados. Frutas, só previamente cortadas. Máquinas fotográficas profissionais (do tipo que troca lente)

Saia cedo de casa
A organização do evento, a Polícia Militar da Bahia e a Transalvador orientam que o público comece a se deslocar para o local com quatro horas de antecedência. Dê preferência ao transporte público

Seja feliz
Limpe o gogó e grite muito yeah yeah yeah!

terça-feira, outubro 17, 2017

FERNANDO NUNES E A ALTA ARTE DO BAIXO

Fernando Nunes, foto Marcos Hermes
Um dos mais habilidosos e requisitados baixistas brasileiros, Fernando volta à Salvador esta semana para o show Meu Playlist, quinta-feira, na Varanda do Sesi

Ele é alagoano, mas poderia muito bem ser baiano. Afinal, foi aqui que Fernando Nunes aprendeu, como ele mesmo diz, “a ser profissional”.

Acompanhado do guitarrista Tony Augusto e do baterista Igor Galindo, Fernando vai fazer um passeio nos seus mais de 30 anos de carreira, desde que começou acompanhando o forrozeiro humorista Renato Fechine (o inesquecível “Embaixador da Paz”) até vir para Salvador em plena explosão da axé music, tocando com Sarajane, Luiz Caldas e Margareth Menezes, seguindo para o Rio onde se tornou baixista de Ivan Lins, Cássia Eller e por fim, de Zeca Baleiro, a quem a quem acompanha há anos.

“Meu Playlist é justamente as coisas que eu gosto de ouvir e as músicas que compõem minha carreira, os lugares em que vivi, os artistas com que toquei. Um playlist pessoal, de minha experiência com a música e que ela me proporcionou”, resume Fernando.

"É um show instrumental. As pessoas me conhecem como baixista, então as melodias todas saem do meu baixo. O 'cantor' é o baixo", acrescenta.

Vai que o Paul aparece?

Nesse repertório entram, além de músicas de todos esses artistas citados, os Beatles e Carlos Moura. Quem? “Cantor alagoano que fez muto sucesso com Minha Sereia (aquela do ‘Mergulhar / no azul piscina / do mar de Pajuçara’), que foi meu trabalho como músico profissional”, conta.

“E os Beatles foram o estopim do meu interesse pela música. Eu queria ser o Paul McCartney (baixista dos Fab Four). E no dia do show é  capaz do Paul já estar em Salvador. Então, tudo a ver tocar Beatles. Vai que ele aparece no meu show, sei lá né?”, ri Nunes.

Cheio de amigos na cidade, Fernando ainda recebe no palco o tecladista Luizinho Assis para um participação. Assim, assim como Fernando, é um dos pioneiros da axé.

"Quando saí de Maceió aos 17 anos fui para Pernambuco e fiquei entre Recife e João Pessoa (na Paraíba). Foi lá que conheci o Renato Fechine, que me chamou para tocar com ele. Por coincidência, o baterista era o Toinho Batera (músico de Ivete Sangalo por muitos anos), fiquei quase dois anos tocando com eles por ali, quando o Renato me chamou para Salvador. Aí vim para cá com 19 anos e nunca mais voltei para casa. Eu era muito novo, mas a Bahia me deu régua e compasso. Aprendi a ser profissional ali", relata.

“Quando cheguei em Salvador no meio dos anos 80 fiquei maravilhado com o que estava rolando. Teve duas músicas que determinaram minha permanência na cidade: Jubiabá (Gerônimo) e Ajayô (de Luiz Caldas e Jorge Dragão)”, diz.

“Tinha um lance diferente, uma magia africana, caribenha. Os artistas tinham identidade própria, era uma cena  muito rica. Depois axé virou rótulo e todo mundo se enquadrou”, conclui.

Fernando Nunes: Meu Playlist / Quinta-feira, 22 horas / Varanda do Teatro do Sesi / R$ 30

BÔNUS: ENTREVISTA COM FERNANDO NO PROGRAMA SÍNTESE, DA TVE ALAGOAS



NUETAS

E Colé Mermo?

Hoje é a Noite Colé de Mermo no Quanto Vale o Show?, com Nanashara Vaz e Zuhri. Dubliner’s, 19 horas, pague quanto quiser.

NHL apresenta + 3

Amanhã tem NHL Apresenta, com Soft Porn, Aurata e Las Carrancas. Dubliner’s, 20 horas, R$ 10.

IPA Hop é blues rock

Formada por Rex, Maurício Uzêda e Cândido Amarelo Neto, a Ipa Hop faz show de blues rock quinta-feira na  Rhoncus. 21 horas, R$ 10.

Luedji Luna no TVV

A sensacional Luedji Luna canta no Teatro Vila Velha domingo, 19 horas, R$ 20 e R$ 10.

segunda-feira, outubro 16, 2017

JESUS HIPPIE

Alegoria do mito cristão, clássico Um Estranho Numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein segue atual em tempos de manipulação da opinião pública e conservadorismo hipócrita

Trinca: Heinlein, L. Sprague de Camp e Isaac Asimov. Foto USNavy/Wikicommons
Leitores habituais de ficção científica estão bem familiarizados com o conceito, mas nunca é demais repetir: quase sempre, o que parece uma extravagância com naves espaciais, robôs e alienígenas é na verdade  alegoria que aborda temas de política, filosofia, religião, sexualidade, cultura.

Lançado em 1961, Um Estranho Numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein (1907 - 1988) é um dos melhores e mais bem acabados exemplos da utilização da ficção científica para descrever e quem sabe, tentar modificar a realidade.

Autor de clássicos como Tropas Estelares, O Dia Depois de Amanhã e O Planeta Vermelho, Heinlein é considerado pelos estudiosos um dos Big Three, o conjunto dos três maiores escritores de FC de língua inglesa, sendo os outros dois Isaac Asimov (Eu, Robô) e Arthur C. Clarke (2001).

Em Um Estranho Numa Terra Estranha, Heinlein fez uma exaustiva releitura do mito cristão (ou de Prometeu, aquele que traz o fogo da sabedoria), adaptado para uma visão do futuro  humano.

A trama acompanha a trajetória de Valentine Michael Smith, filho de um casal de pesquisadores pioneiros que o concebem na viagem até Marte.

Pouco depois de chegar ao planeta, o casal morre pelos rigores da viagem e o menino é adotado pelos marcianos.

Uns 30 anos depois, o humano criado em Marte é trazido à Terra para facilitar as relações diplomáticas entre os planetas.

A partir daí o romance entra em uma verdadeira espiral psicodélica por meio do choque cultural entre o marciano e os terráqueos.

Absolutamente desprovido de maldade, Mike, como é chamado, se envolve com uma enfermeira (que se torna sua amante), um médico / advogado / romancista (que se torna seu guru) e diversos outros personagens à sua órbita, um mais exótico que o outro.

Amor livre


A certa altura, Mike resolve fundar sua própria religião, promovendo ideias “revolucionárias” como amar ao próximo e uma certa bondade intrínseca. Seus iniciados – na língua marciana – acabam desenvolvendo poderes psíquicos similares aos dele.

Estas particularidades, além do amor livre pregado – e fartamente praticado pelos iniciados – escandaliza os adeptos das religiões tradicionais e – claro – políticos oportunistas.

O fim dessa história não é difícil de adivinhar.

Cultuado nos anos 1960, Um Estranho... influenciou de forma decisiva a contra-cultura hippie, realmente ajudando a modificar a realidade da cultura ocidental.

No fim do livro, um ensaio defende que Mike é, na verdade, o Arcanjo Miguel.

Um Estranho Numa Terra Estranha / Robert A. Heinlein / Aleph / Tradução: Edmo Suassuna / 576 p. / R$ 69,90

SIR PAUL ESTÁ CHEGANDO

Show de Paul McCartney no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, não desanima sob a chuva insistente e dá uma prévia do que vamos ver na Arena Fonte Nova sexta-feira. O repórter esteve lá e conta como foi, tim-tim, por tim-tim

Sir Paul, o baixo Hofner e a casaca de sargento.  Fotos Marcos Hermes / T4F
Paul McCartney pode não ter feito uma insistente chuva fina parar na noite da sexta-feira (13) em Porto Alegre, mas mesmo as nuvens baixas e carregadas sobre o Estádio Beira-Rio acabaram contribuindo para o show, absorvendo os fachos dos canhões de luzes coloridas, formando uma espécie de "aurora boreal" (austral, no caso do hemisfério Sul).


Clima psicodélico instalado, Sir Paul subiu ao palco pouco depois das 21 horas, pontual como o lorde inglês que de fato é.

Maroto, passou um dedo na língua e o dirigiu a plateia, testando a temperatura do público. Com uma careta de quem tinha se queimado, tratou logo de mostrar a a que veio com A Hard Day's Night.

Foi o bastante para a cerca de 50 mil pessoas no estádio comprarem um Ticket to Ride (que não foi tocada) a um tempo que parece nunca ter acabado.


Depois da menos conhecida Junior's Farm (do álbum London Town, com os Wings), atacou de Beatles de novo com Can't Buy Me Love.

Voltou aos Wings com a espetacular Jet, que sempre tem um grande impacto no público, que grita "Jet!" e faz o uu-uu-uhh! do refrão a plenos pulmões.

Depois dessa, começou a falar em português com o público, ajudado por uma cola em teleprompter (no chão do palco): "Adoramos estar de volta ao Brasil. É muito bom poder voltar". E mandou Got To Get You Into My Life na sequencia.


Depois tirou o casaco escuro com a faixa de Sargento Pimenta e ficou só de camisa branca o resto do show. 

Entregou o clássico baixo Hoffner ao roadie (uma figura que sempre animava o público quando aparecia) e recebeu uma linda Gibson SG multicolorida para tocar Let Me Roll It (do LP Band on The Run).

Auxiliado pela mesma super banda que o acompanha há uns 20 anos (um show à parte), voltou aos Beatles com I've Got a Feeling (do Let It Be). Agradeceu aos gaúchos e fez uma pausa: "E às gaúchas!", acrescentou piscando um olho.


Na sequência, os telões passaram a exibir os atores Johnny Depp e Natalie Portman, estrelas do clipe de My Valentine (do LP Kisses on The Bottom, de 2012). "Eu fiz essa música para minha esposa, Nancy, que está aqui hoje. Essa é para você, Nance!", disse, sentado ao piano, para o público que gritava. 

"A próxima é para os fãs do Wings", avisou, fazendo um gesto de asas (wings) com as mãos, antes de manda 1985, outra do Band on The Run, o disco pós-Beatles com mais canções no show.


A música que veio em seguida é, sem dúvida, um dos (vários) pontos altos do show: a monumental Maybe I'm Amazed (do LP McCartney, de 1970).

A força desta canção é tal que chega a faltar voz ao senhor de 75 anos no palco na hora do refrão, a despeito da energia sobrenatural que ele demonstra ao longo de 2 horas e quarenta minutos de show). Mas a emoção, a entrega é evidente, a execução dele e da banda é arrasadora - e isso é o que importa.


Após levantar do piano e pegar um violão, We Can Work It Out dos Beatles veio na sequencia. Depois disse que íamos fazer uma viagem no tempo, e mandou a primeira canção que os Beatles gravaram: In Spite of All The Danger, ainda dos Quarrymen, banda de John e Paul pré-Beatles, recuperada nos álbuns Anthology, lançados nos anos 1990. Ao fim, fez a gauchada delirar ao dizer: "Tribom!".


Faixa pouco lembrada do Rubber Soul, mas belíssima em sua melancolia latente, You Won't See Me pegou muitos beatlemaníacos de surpresa, uma das muitas emocões de uma noite inesquecível.


Love Me Do veio em seguida, dedicada ao produtor dos Beatles, Sir George Martin. "Essa foi a primeira canção que gravamos com ele nos estúdios Abbey Road", lembrou, colando depois com a balada And I Love Her.


Marcos Hermes / T4F
Sob a chuva fina que não parava de cair, uma plataforma em que Paul se encontrava se ergueu sobre o palco para um recado importante: "Essa próxima canção é sobre civil rights", acrescentando em português: "Direitos humanos. Believe them, right now (Acredite neles, agora mesmo"), exortou, quase sobre um palanque, antes de tocar e cantar, sozinho, Blackbird, faixa do Álbum Branco.

Possivelmente, a veemência se dê por conta da triste associação dessa música com os assassinatos bárbaros ordenados pelo psicopata Charles Manson na Califórnia, nos anos 1960, que em seu delírio pseudomessiânico, dizia ver na sua letra um prenúncio de guerra racial.


Ao fim da canção, um dos momentos mais surpreendentes do show: Paul começou a batucar no corpo do violão em um ritmo muito familiar aos brasileiros, que imediatamente mataram a charada, passando a berrar "Fora Temer!" no estadio. Uma forma sutil de chamar o coro, onipresente.

Duas faixas do álbum mais recente, de 2013, vieram na sequência: Queenie Eyes e New.


Sentado ao piano, atacou com Lady Madonna para delírio do público, que aliás, não poderia ser mais eclético, com crianças de oito, dez anos a idosos de 70 e lá vai fumaça - como o próprio Paul, diga-se de passagem.

Outra surpresa no repertório veio quando ele anunciou: "Esta, eu John fizemos para os Rolling Stones gravarem", com mais uma performance arrasadora da banda para I Wanna Be Your Man.


Comemorando os 50 anos do clássico Sargeant Peppers, emendou com a ultrapsicodélica Being For The Benefit of Mr. Kite!, adornada por grafismos alucinantes nos telões ao fundo do palco.


Ukulele em punho, avisa que dedica a próxima a George. O povo começa a gritar "Olê, Olê, Olê, Olêêêê Georgê, Georgêêêê". E tome Something no juízo, outro momento de forte emoção no estádio - emoção amplificada pelo arranjo, que começa com Paul solo ao ukulele e depois é atacada pela banda inteira, com aquele solo de guitarra arrepiante. De chorar.

Mais uma do Sargeant Peppers veio em seguida: a suíte A Day in The Life, com sua cacofonia orquestrada dividindo as duas partes da música, uma alucinação em technicolor.


Give Peace A Chance veio colada, com Band on The Run (outra suíte monumental de sua lavra) e a maravilhosa Back on The USSR, sem tempo para respirar.


A essa altura o povo já se admira: esse homem tem 75 anos mesmo? É muita energia. Rá! Ainda não vimos nada.

Mas vemos imediatamente na sequência, com Live and Let Die, um show de explosões, chamas subindo da beira do palco e fogos de artifício, um desbunde multicolorido e calorento.

Hey Jude vem com muitos balões escritos Na Na Na Na flutuando sobre a plateia. Paul e a banda saem, mas todo mundo tá ligado que eles voltam.


Me larga, mulher!


Marcos Hermes / T4F
Não demora, olha eles aí de novo, prontos para começar tudo de novo, carregando bandeiras do Brasil, do Reino Unido e da diversidade sexual (arco-íris), um bom lembrete de que o rock, ao contrário da recente pecha de conservador que tentam lhe pregar, sempre esteve na linha de frente da luta pelas liberdades individuais.

Depois da inevitável Yesterday, o filé de encerramento: Sargeant Peppers (Reprise), anunciando o final, a apoteótica e apocalíptica Helter Skelter e Birthday. Nesta, ele chama um grupo de moças à beira do palco, todas vestidas com seu uniforme azul do Sargento Pimenta.


"Get off of me!" (Me larga!), grita ele, de um jeito engraçado, para mais afoita do grupo, que tenta agarra-lo.


Ele pergunta o nome de cada uma e de onde elas vem. "São Paulo", diz a primeira, que recebe muitas vaias do público gaúcho, fazendo Paul cair na gargalhada. Depois disso, todas do grupo viraram gaúchas. Na saída, ganharam beijinho e abraço do ídolo. 


O show é encerrado com Golden Slumbers e The End, do Abbey Road, com as clássicas palavras: "And in the end, the love you take is equal to the love you make". E no fim, o amor que você leva é igual ao amor que você faz.


Prometendo um "até a próxima", Sir Paul e banda deixam o palco definitivamente, ovacionados.


Mas para nós, soteropolitanos, o show ainda vai começar, nesta sexta-feira, 20. O aviso é muito simples: Salvador nunca viu um show deste porte, escopo e importância. Nunca.


Não esqueçam o balão de oxigênio. Vamos precisar.

O repórter viajou, representando o jornal A Tarde, a convite da Time 4 Fun (produtora do show)

quarta-feira, outubro 11, 2017

DOGS IN SPACE

No dia 3 de novembro o mundo lembrará (ou não, vai saber) da cachorrinha Laika, ejetada há exatos 60 anos para o espaço sideral no interior da cápsula russa Sputnik 2.

Na HQ Laika, lançada pelo selo Barricada (Editora Boitempo), o quadrinista britânico Nick Abadzis faz uma espécie de biografia afetiva da bichinha, que teve triste destino.

Muito provavelmente uma das melhores HQs lançadas no Brasil este ano, Laika consagrou Abadzis, que ganhou um caminhão de prêmios pelo trabalho, entre eles o Eisner Awards (Oscar dos quadrinhos americanos), o Publisher’s Weekly, o Micheluzzi (na Itália) e até o de Melhor Roteiro em um certo Festival do Livro Aeronáutico (oi?) de Le Bourget, na França.

A HQ é um primor de narrativa, deixando bem claro o amor do autor pela personagem principal e os muitos humanos que a orbitam em sua breve trajetória pela Terra.

Com habilidade, ele costura os destinos de Laika, Sérgei Pávlovich Koroliév (engenheiro ucraniano responsável pelo programa espacial soviético), Oliég Gazenko (biólogo russo que selecionava os bichinhos utilizados nos testes) e Elena Dubrovskaia (técnica veterinária) em uma trama perfeitamente equilibrada entre os fatos históricos e a ficção.

Vítima da Guerra Fria

Tirando a parte mais fictícia, em que Abadzis imagina uma mirabolante trajetória para a cachorrinha nas ruas – digna de um filme de Walt Disney – até ser capturada pela carrocinha de Moscou e encaminhada ao programa espacial soviético, a HQ é mais centrada nestes personagens e suas relações antes e durante os testes do programa espacial  que acabaram por levar Laika em sua viagem sem retorno.

A personagem mais interessante, curiosamente, é também fictícia (não há qualquer registro sobre ela na internet), a veterinária Elena Dubrovskaia, que acaba por desenvolver um afeto quase maternal pela cachorrinha – e por isso mesmo sofre  muito com o processo todo de treinamento e por fim com seu descarte em órbita da Terra.

Esta abordagem  poderia ter resultado em uma narrativa piegas, pesada, chorosa. Mas aí é que está a habilidade de Abadzis: em suas mãos, o sofrimento – de Laika, Dubrovskaia e mesmo de Gazenko – é trabalhado de forma sutil.

Vítima de uma engrenagem gigantesca de disputa de poder em plena Guerra Fria que jamais compreenderia, Laika se tornou símbolo da luta contra a crueldade aos animais.

Na época, as autoridades soviéticas disseram que ela teria sobrevivido alguns dias em órbita, mas em 2002, Dimitri Malashenkov, do Instituto para Problemas Biológicos de Moscou, revelou que ela morreu em questão de horas, vítima do estresse causado pelo barulho e pelo calor.

Em 2008, uma estátua foi erguida em Moscou para homenagear a cachorrinha que foi o primeiro ser vivo em órbita da Terra.

Laika / Nick Abadzis / Barricada - Boitempo/ Tradução: Rogério Bettoni / 208 p. / R$ 59

terça-feira, outubro 10, 2017

POETA, MÚSICO E ATIVISTA JURACI TAVARES FAZ DOIS SHOWS PARA COMEMORAR UMA DÉCADA DE ATIVIDADES

Juraci Tavares, foto Marina Cardos
Compositor dos blocos afro Ilê Aiyê, Malê Debalê e Cortejo Afro, o poeta, cantor, compositor e ativista Juraci Tavares faz sexta-feira e sábado o show Dez Anos de Música e Poesia Afro Diaspórica, comemorando uma década de música.

No palco, o cantor e sua banda ainda recebem muita gente boa como convidados: Nelson Maca,  Vera Lopes, Grupo Maringinca, Jota Pê, Ângelo Santiago, Pedro Amorim Filho e Mariana Marim.

Com apenas um álbum lançado, Umblical (2015), Juraci vai incluir no repertório faixas desse disco, composições feitas para os blocos, canções inéditas e releituras: “Ouviremos algumas do Umbilical, outras  que não estão nesse disco e também músicas do Maestro Moacir Santos e do Milton Nascimento”, conta Juraci.

"A África Subsaariana é o cordão umbilical do mundo. O Homo Sapiens nasce no continente africano, (hoje com) 56 países, portanto diversidade é a marca desse continente. Esta diversidade me permite fazer a minha arte sem preocupação definitória (de estilos musicais). Eu gosto de construir canções que permitam que o meu leitor e ouvinte construa as suas imagens a partir da sua visão de mundo. Na minha opinião eu não tenho o direito de fazer do meu olhar o olhar do outro", observa.

Centro de Humanidades

Profundamente comprometido com suas lutas (que são as mesmas de todos nós que desejamos  um país mais justo e humano), Juraci conta estar trabalhando nas composições para um segundo álbum: “Está sendo construído, até porque precisamos continuar erigindo valores que contribuam com a melhoria da humanidade, principalmente para aqueles que marginalizados pelo topo da pirâmide econômica e social”, afirma.

"Na minha condição de sujeito inacabado, não pronto e sempre questionando: quem eu sou, de onde vim e onde vou, me lanço diuturnamente buscando a minha ampliação. Continuo compositor de blocos afro como Ilê Aiyê, Malê Debalê, Cortejo Afro, pois continuam minhas escolas de música e cidadania. Ainda atuando nestes blocos comecei a minha terceira licenciatura em música na Universidade Federal da Bahia e a partir daí comecei a estudar canto. Faço até os dias de hoje, me preparando para assumir a condição de cantor. Nós vivemos em um país em que, na maioria das vezes, as pessoas que fazem ficam invisíveis. Eu afirmei anteriormente a minha condição consciente de ser não pronto e nessa condição o aprendizado foi quase que compulsório. Nestes dez anos eu tenho convivido com grandes pessoas, particularmente, artistas, parceiros, parceiras e me melhorei bastante na música assim como pessoa. Continuo gerundiando a minha condição de sujeito não pronto buscando e construindo caminhos sem me preocupar aonde vou chegar", filosofa.

Morador do bairro do Santo Antônio, Juraci criou lá mesmo o Centro de Humanidades Ossos 21 (por ser localizado na Rua dos Ossos nº 21), onde promove cursos, oficinas e eventos ligados à valorização da cultura afrobaiana.

“A medida que fui tomando consciência de que o Estado Brasileiro nasceu escravista e não cuida de nós, negros, resolvemos entrar em campo para cuidar de nós mesmos. O centro é uma realização coletiva pois ‘Eu sei, só não consigo nada, paralela sem fim, nua rua, reta crua dá em nada’, como diz Nelson Maca. Acredito que o Centro cumpre o seu papel buscando dar aos nossos, negros, formação de pessoas cidadãs capazes de andar com suas próprias pernas”, afirma.

Em um tempo estranho, onde há pessoas que insistem afirmar que não existe racismo no Brasil, Juraci acredita que há pelo menos duas razões para este tipo de comportamento.

“É porque alguns usam isso como conveniência exploratória, enquanto outros não têm um olhar crítico. A canção Por que é Assim?, de minha autoria e Luís Bacalhau, diz: 'Vieram da mesma origem do mesmo coro, do mesmo DNA. Pense neste fato, por que um é chinelo e o outro sapato?'. A engenharia do racismo leva-nos a vê-lo como algo natural e não cultural, Basta olharmos para o topo das pirâmides: econômica, social, educacional etc, para vemos que o Brasil é racista", dispara.

"Um dos grandes exemplos de crueldade da Casa Grande, o Estado Brasileiro, é quando insiste em reduzir a maioridade penal, ônus que recairá somente sobre nós, negros. O estado sabe que educando resolve os males da sociedade, mas não o faz para continuar aumentando a riqueza alicerçada na exploração”, conclui.

Juraci Tavares: Dez Anos de Música e Poesia Afro Diaspórica / Sexta-feira e sábado, 19h30 / Teatro Sesc-Senac Pelourinho / R$ 20 e R$ 10


NUETAS

Ódio, Aloprados

O Quanto Vale o Show? de hoje é a Noite da Trinca Literária,com Todo Meu Ódio (banda punk de Shinna,da Pancreas) e Professor Doidão & Os Aloprados. Dubliner’s, 19 horas, colaborativo.

Muddy Town quinta

O country blues arretado da Muddy Town é a atração de quinta-feira na Tropos. 21 horas, pague quanto quiser.

Esqueleto, Laia

ExoEsqueleto & Laia Gaiatta temperam o som na Rango Vegan (Pelô). Sexta-feira, 19
horas, R$ 10, R$ 15 (lista).

Cine Horror na RV e na Walter

Off topic: mostra Cine Horror, não perca que a programação está assim... um horror! (No bom sentido, claro!) www.cinehorror.com.br.

quinta-feira, outubro 05, 2017

MISSÃO CUMPRIDA

Sequência do maior filme cult de todos os tempos, Blade Runner 2049 se beneficia da visão fresca do diretor e da experiência do roteirista 

K (Ryan Gosling) e seu batmóvel - ops, carro voador mesmo...
Há mais de 30 anos, Blade Runner: O Caçador de Androides (1982) paira no imaginário cinéfilo como o filme sci-fi perfeito, uma espécie de unicórnio: feito por um grande estúdio (portanto, comercial), mas cheio de pretensões artísticas e profundidade filosófica.

Com o passar dos anos, Blade Runner ganhou dimensão mítica, tornando-se, muito provavelmente, o filme mais cultuado de todos os tempos, a própria definição de "filme cult".

Algo assim não deveria jamais ser conspurcado por uma continuação, algo muito arriscado em mãos erradas.

Que bom então, poder trazer pelo menos uma boa notícia em tempos tão sombrios: Blade Runner 2049, a temida (e tardia) sequência, caiu em mãos mais do que  hábeis  para tão arriscada tarefa – no caso, as  do diretor franco-canadense Denis Villeneuve.

Ana de Armas. Me chama pra Cuba que eu vou!
Aclamado por filmes espetaculares como A Chegada (2016) e Incêndios (2011), Villeneuve soube tanto honrar o legado de Ridley Scott – diretor do original e produtor da sequência –, quanto conseguiu imprimir sua própria marca.

Na verdade, isso não deve ter sido tão difícil assim: além de ter o mentor Scott colado na produção, o roteirista também é o mesmo do clássico de 1982: Hampton Fancher – desta vez em dupla com Michael Green (em 1982, a parceria foi com David Peoples).

A forma certeira como o fio da meada é retomado no roteiro, a reconstrução do ambiente noir futurista (imitado à larga desde 1983), o timing mais lento da edição, as atuações intimistas – tudo remete à produção original e colabora na verossimilhança, suspendendo a descrença e tornando possível que cinéfilos e fãs embarquem na viagem: sim, esta é, de fato (finalmente!), a continuação de Blade Runner.

K e Luv (Sylvia Hoeks), ainda civilizados, levando um papo de boa
Transposta esta cancela, é só alegria.

Amplificar, não replicar

Ambientada 30 anos depois dos eventos do primeiro filme, a trama de Blade Runner 2049 acompanha um novo caçador de androides na Los Angeles pós-apocalíptica, chamado apenas K (Ryan Gosling), que, em uma missão de rotina, topa com um segredo que, naturalmente, pode virar o mundo de cabeça para baixo etc.

Em sua investigação, auxiliado por uma espécie de concubina virtual, Joi (a belíssima cubana Ana de Armas), K discute muito com a chefe (Robin Wright, exalando autoridade como em House of Cards), apanha adoidado da replicante Luv (Sylvia Hoeks, implacável) e eventualmente se encontra com o Blade Runner original, Rick Deckard (Harrison Ford).

Harrison Ford reencontra seu Rick Deckard 35 anos depois e manda bem
Aparecendo menos, mas de forma marcante, há ainda o oscarizado rock star Jared Leto (Esquadrão Suicida) no papel de Niander Wallace, o todo poderoso magnata / gênio da Corporação Wallace, a fabricante dos replicantes após aquisição da Corporação Tyrell, vista no primeiro filme – e devidamente explicada no decorrer da trama.

Como não poderia deixar de ser, as questões filosóficas acerca da dualidade homem / inteligência artificial, marca de Blade Runner, continuam aqui, abordadas em diálogos e monólogos sem muito hermetismo – ou mesmo através de símbolos, como o cavalo que aparece aqui e ali desde a versão do diretor do primeiro filme, lançada em 1992 (além do origami feito pelo policial interpretado pelo magistral Edward James Olmos, que volta em 2049, em breve aparição).

Não dá para ser injusto e exigir uma repetição da carga dramática de cenas retumbantes, antológicas, como a morte do replicante Roy Batty (Rutger Hauer no melhor momento de sua carreira) – ou mesmo a perseguição à replicante Zhora (Joanna Cassidy) em meio à chuva e à multidão das ruas de Los Angeles, em 1982.

Jared Leto, RyanGosling, Harrisão e Ana de Armas
Até porque Villeneuve é, de fato, mais contido nesse sentido. Mas o filme é plenamente bem sucedido em engajar o espectador interessado na trama e intriga-lo com certas falas (especialmente as de Niander Wallace, personagem que lembra um pouco o de Anthony Hopkins na série Westworld).

No fim das contas, Blade Runner 2049 não “replica” Blade Runner – mas o amplifica.

Blade Runner 2049 / Dir.: Denis Villeneuve / Com Ryan Gosling, Harrison Ford,  Ana de Armas, Sylvia Hoeks, Jared Leto, Robin Wright,   Mackenzie Davis / Cinemark, Cinépolis Bela Vista, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Cinesercla Shopping Cajazeiras, Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Shopping Paralela

ALAÍDE COSTA, A MÃE DA BOSSA NOVA, NESTE FIM DE SEMANA NO RUBI

Alaíde Costa, foto Clarissa Lambert
Apreciadores da Música Popular Brasileira digamos, de raiz, tem um encontro muito sério com duas lendas vivas: a cantora Alaíde Costa, conhecida como  “mãe da bossa nova”, e o pianista e arranjador Gilson Peranzzetta.

A dupla se apresenta amanhã e sábado no Café-Teatro Rubi, com participação do cantor João Senise.

Com Peranzzetta ao piano, Alaíde apresentará  um repertório escolhido a dedo por ela mesma e seu produtor / pianista, com canções eternas de Tom Jobim, Dori Caymmi, Sueli Costa, Ivan Lins,  Fátima Guedes e do próprio Peranzzetta.

“É um repertório bem variado”, afirma Alaíde, por telefone, de São Paulo.

Peranzzetta acaba de produzir o quarto álbum para a cantora, com previsão de lançamento para dezembro.

“Recentemente gravei Gilberto Gil, Se Eu Quiser Falar Com Deus. Deve sair até o final do ano em um disco novo, Harmonias Que Soam e Ressoam”, conta Alaíde.

“Já temos um bom tempo trabalhando juntos, este já é o quarto CD que faço com ele. O penúltimo, Tudo o Que o Tempo Me Deixou (2005) teve letras do Paulo César Pinheiro. E agora, com o Harmonias... que é uma música dele com letra do Nelson Valencia”, diz.

Satisfeita, Alaíde não mede elogios ao parceiro musical. “Ah, eu acho o máximo trabalhar com o Gílson. Me sinto muito à vontade e feliz de te-lo comigo. Além de um grande músico, maestro e pianista, ele é também um grande amigo”, afirma.

O terceiro elemento deste encontro é o jovem cantor João Senise, que aos 28 anos, já gravou quatro CDs e também já foi produzido por Peranzzetta: “O João é um jovem muito talentoso e que tem muito bom gosto na escolha do seu repertório. Vai ser muito legal participar com ele desse encontro com o Gílson”, diz.

“Vamos cantar juntos Eu e a Brisa, do Johnny Alf – com quem gravei a versão original”, lembra Alaíde.

Movimento anônimo

Aos 81 anos, Alaíde está na ativa desde 1955, quando começou como crooner na night carioca.

Logo se enturmou com os músicos da bossa nova, e em 1959 lançou um dos primeiros LPs do gênero: Gosto de Você, com composições de João Donato e João Gilberto (Minha Saudade), Tom e Vinicius (Estrada Branca) etc.

Alaíde seguiu  carreira ligada ao movimento – bossa novista de primeira hora, portanto, fez por merecer o epíteto maternal.

Apesar de aceita-lo sem problemas, a própria Alaíde acha que é também uma grande responsabilidade.

“É um pouco um peso. E nem acho justo. Fui apenas uma das que começou com eles lá, mas tudo bem. (Ainda assim) É muita responsabilidade que as pessoas jogaram em cima de mim né?”. observa, lúcida.

Testemunha ocular de um momento de renovação da MPB, Alaíde lembra que se surpreendeu quando a bossa ganhou o mundo.

“Comecei com ela, era tudo o que eu queria e não tinha. Só não esperei que fosse fazer tanto sucesso como faz até hoje”, afirma.

“Quando eu comecei a bossa nem tinha nome, eram só os encontros dos compositores. Cada um mostrava sua música. Aí de repente alguém, nem lembro quem foi, pôs o nome de bossa nova”, conclui.

Alaíde Costa e Gilson Peranzzetta, com João Senise / Amanhã e sábado, 20h30 / Café-Teatro Rubi (Sheraton da Bahia Hotel) / R$ 80