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segunda-feira, outubro 16, 2017

SIR PAUL ESTÁ CHEGANDO

Show de Paul McCartney no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, não desanima sob a chuva insistente e dá uma prévia do que vamos ver na Arena Fonte Nova sexta-feira. O repórter esteve lá e conta como foi, tim-tim, por tim-tim

Sir Paul, o baixo Hofner e a casaca de sargento.  Fotos Marcos Hermes / T4F
Paul McCartney pode não ter feito uma insistente chuva fina parar na noite da sexta-feira (13) em Porto Alegre, mas mesmo as nuvens baixas e carregadas sobre o Estádio Beira-Rio acabaram contribuindo para o show, absorvendo os fachos dos canhões de luzes coloridas, formando uma espécie de "aurora boreal" (austral, no caso do hemisfério Sul).


Clima psicodélico instalado, Sir Paul subiu ao palco pouco depois das 21 horas, pontual como o lorde inglês que de fato é.

Maroto, passou um dedo na língua e o dirigiu a plateia, testando a temperatura do público. Com uma careta de quem tinha se queimado, tratou logo de mostrar a a que veio com A Hard Day's Night.

Foi o bastante para a cerca de 50 mil pessoas no estádio comprarem um Ticket to Ride (que não foi tocada) a um tempo que parece nunca ter acabado.


Depois da menos conhecida Junior's Farm (do álbum London Town, com os Wings), atacou de Beatles de novo com Can't Buy Me Love.

Voltou aos Wings com a espetacular Jet, que sempre tem um grande impacto no público, que grita "Jet!" e faz o uu-uu-uhh! do refrão a plenos pulmões.

Depois dessa, começou a falar em português com o público, ajudado por uma cola em teleprompter (no chão do palco): "Adoramos estar de volta ao Brasil. É muito bom poder voltar". E mandou Got To Get You Into My Life na sequencia.


Depois tirou o casaco escuro com a faixa de Sargento Pimenta e ficou só de camisa branca o resto do show. 

Entregou o clássico baixo Hoffner ao roadie (uma figura que sempre animava o público quando aparecia) e recebeu uma linda Gibson SG multicolorida para tocar Let Me Roll It (do LP Band on The Run).

Auxiliado pela mesma super banda que o acompanha há uns 20 anos (um show à parte), voltou aos Beatles com I've Got a Feeling (do Let It Be). Agradeceu aos gaúchos e fez uma pausa: "E às gaúchas!", acrescentou piscando um olho.


Na sequência, os telões passaram a exibir os atores Johnny Depp e Natalie Portman, estrelas do clipe de My Valentine (do LP Kisses on The Bottom, de 2012). "Eu fiz essa música para minha esposa, Nancy, que está aqui hoje. Essa é para você, Nance!", disse, sentado ao piano, para o público que gritava. 

"A próxima é para os fãs do Wings", avisou, fazendo um gesto de asas (wings) com as mãos, antes de manda 1985, outra do Band on The Run, o disco pós-Beatles com mais canções no show.


A música que veio em seguida é, sem dúvida, um dos (vários) pontos altos do show: a monumental Maybe I'm Amazed (do LP McCartney, de 1970).

A força desta canção é tal que chega a faltar voz ao senhor de 75 anos no palco na hora do refrão, a despeito da energia sobrenatural que ele demonstra ao longo de 2 horas e quarenta minutos de show). Mas a emoção, a entrega é evidente, a execução dele e da banda é arrasadora - e isso é o que importa.


Após levantar do piano e pegar um violão, We Can Work It Out dos Beatles veio na sequencia. Depois disse que íamos fazer uma viagem no tempo, e mandou a primeira canção que os Beatles gravaram: In Spite of All The Danger, ainda dos Quarrymen, banda de John e Paul pré-Beatles, recuperada nos álbuns Anthology, lançados nos anos 1990. Ao fim, fez a gauchada delirar ao dizer: "Tribom!".


Faixa pouco lembrada do Rubber Soul, mas belíssima em sua melancolia latente, You Won't See Me pegou muitos beatlemaníacos de surpresa, uma das muitas emocões de uma noite inesquecível.


Love Me Do veio em seguida, dedicada ao produtor dos Beatles, Sir George Martin. "Essa foi a primeira canção que gravamos com ele nos estúdios Abbey Road", lembrou, colando depois com a balada And I Love Her.


Marcos Hermes / T4F
Sob a chuva fina que não parava de cair, uma plataforma em que Paul se encontrava se ergueu sobre o palco para um recado importante: "Essa próxima canção é sobre civil rights", acrescentando em português: "Direitos humanos. Believe them, right now (Acredite neles, agora mesmo"), exortou, quase sobre um palanque, antes de tocar e cantar, sozinho, Blackbird, faixa do Álbum Branco.

Possivelmente, a veemência se dê por conta da triste associação dessa música com os assassinatos bárbaros ordenados pelo psicopata Charles Manson na Califórnia, nos anos 1960, que em seu delírio pseudomessiânico, dizia ver na sua letra um prenúncio de guerra racial.


Ao fim da canção, um dos momentos mais surpreendentes do show: Paul começou a batucar no corpo do violão em um ritmo muito familiar aos brasileiros, que imediatamente mataram a charada, passando a berrar "Fora Temer!" no estadio. Uma forma sutil de chamar o coro, onipresente.

Duas faixas do álbum mais recente, de 2013, vieram na sequência: Queenie Eyes e New.


Sentado ao piano, atacou com Lady Madonna para delírio do público, que aliás, não poderia ser mais eclético, com crianças de oito, dez anos a idosos de 70 e lá vai fumaça - como o próprio Paul, diga-se de passagem.

Outra surpresa no repertório veio quando ele anunciou: "Esta, eu John fizemos para os Rolling Stones gravarem", com mais uma performance arrasadora da banda para I Wanna Be Your Man.


Comemorando os 50 anos do clássico Sargeant Peppers, emendou com a ultrapsicodélica Being For The Benefit of Mr. Kite!, adornada por grafismos alucinantes nos telões ao fundo do palco.


Ukulele em punho, avisa que dedica a próxima a George. O povo começa a gritar "Olê, Olê, Olê, Olêêêê Georgê, Georgêêêê". E tome Something no juízo, outro momento de forte emoção no estádio - emoção amplificada pelo arranjo, que começa com Paul solo ao ukulele e depois é atacada pela banda inteira, com aquele solo de guitarra arrepiante. De chorar.

Mais uma do Sargeant Peppers veio em seguida: a suíte A Day in The Life, com sua cacofonia orquestrada dividindo as duas partes da música, uma alucinação em technicolor.


Give Peace A Chance veio colada, com Band on The Run (outra suíte monumental de sua lavra) e a maravilhosa Back on The USSR, sem tempo para respirar.


A essa altura o povo já se admira: esse homem tem 75 anos mesmo? É muita energia. Rá! Ainda não vimos nada.

Mas vemos imediatamente na sequência, com Live and Let Die, um show de explosões, chamas subindo da beira do palco e fogos de artifício, um desbunde multicolorido e calorento.

Hey Jude vem com muitos balões escritos Na Na Na Na flutuando sobre a plateia. Paul e a banda saem, mas todo mundo tá ligado que eles voltam.


Me larga, mulher!


Marcos Hermes / T4F
Não demora, olha eles aí de novo, prontos para começar tudo de novo, carregando bandeiras do Brasil, do Reino Unido e da diversidade sexual (arco-íris), um bom lembrete de que o rock, ao contrário da recente pecha de conservador que tentam lhe pregar, sempre esteve na linha de frente da luta pelas liberdades individuais.

Depois da inevitável Yesterday, o filé de encerramento: Sargeant Peppers (Reprise), anunciando o final, a apoteótica e apocalíptica Helter Skelter e Birthday. Nesta, ele chama um grupo de moças à beira do palco, todas vestidas com seu uniforme azul do Sargento Pimenta.


"Get off of me!" (Me larga!), grita ele, de um jeito engraçado, para mais afoita do grupo, que tenta agarra-lo.


Ele pergunta o nome de cada uma e de onde elas vem. "São Paulo", diz a primeira, que recebe muitas vaias do público gaúcho, fazendo Paul cair na gargalhada. Depois disso, todas do grupo viraram gaúchas. Na saída, ganharam beijinho e abraço do ídolo. 


O show é encerrado com Golden Slumbers e The End, do Abbey Road, com as clássicas palavras: "And in the end, the love you take is equal to the love you make". E no fim, o amor que você leva é igual ao amor que você faz.


Prometendo um "até a próxima", Sir Paul e banda deixam o palco definitivamente, ovacionados.


Mas para nós, soteropolitanos, o show ainda vai começar, nesta sexta-feira, 20. O aviso é muito simples: Salvador nunca viu um show deste porte, escopo e importância. Nunca.


Não esqueçam o balão de oxigênio. Vamos precisar.

O repórter viajou, representando o jornal A Tarde, a convite da Time 4 Fun (produtora do show)

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