Juraci Tavares, foto Marina Cardos |
No palco, o cantor e sua banda ainda recebem muita gente boa como convidados: Nelson Maca, Vera Lopes, Grupo Maringinca, Jota Pê, Ângelo Santiago, Pedro Amorim Filho e Mariana Marim.
Com apenas um álbum lançado, Umblical (2015), Juraci vai incluir no repertório faixas desse disco, composições feitas para os blocos, canções inéditas e releituras: “Ouviremos algumas do Umbilical, outras que não estão nesse disco e também músicas do Maestro Moacir Santos e do Milton Nascimento”, conta Juraci.
"A África Subsaariana é o cordão umbilical do mundo. O Homo Sapiens nasce no continente africano, (hoje com) 56 países, portanto diversidade é a marca desse continente. Esta diversidade me permite fazer a minha arte sem preocupação definitória (de estilos musicais). Eu gosto de construir canções que permitam que o meu leitor e ouvinte construa as suas imagens a partir da sua visão de mundo. Na minha opinião eu não tenho o direito de fazer do meu olhar o olhar do outro", observa.
Centro de Humanidades
Profundamente comprometido com suas lutas (que são as mesmas de todos nós que desejamos um país mais justo e humano), Juraci conta estar trabalhando nas composições para um segundo álbum: “Está sendo construído, até porque precisamos continuar erigindo valores que contribuam com a melhoria da humanidade, principalmente para aqueles que marginalizados pelo topo da pirâmide econômica e social”, afirma.
"Na minha condição de sujeito inacabado, não pronto e sempre questionando: quem eu sou, de onde vim e onde vou, me lanço diuturnamente buscando a minha ampliação. Continuo compositor de blocos afro como Ilê Aiyê, Malê Debalê, Cortejo Afro, pois continuam minhas escolas de música e cidadania. Ainda atuando nestes blocos comecei a minha terceira licenciatura em música na Universidade Federal da Bahia e a partir daí comecei a estudar canto. Faço até os dias de hoje, me preparando para assumir a condição de cantor. Nós vivemos em um país em que, na maioria das vezes, as pessoas que fazem ficam invisíveis. Eu afirmei anteriormente a minha condição consciente de ser não pronto e nessa condição o aprendizado foi quase que compulsório. Nestes dez anos eu tenho convivido com grandes pessoas, particularmente, artistas, parceiros, parceiras e me melhorei bastante na música assim como pessoa. Continuo gerundiando a minha condição de sujeito não pronto buscando e construindo caminhos sem me preocupar aonde vou chegar", filosofa.
Morador do bairro do Santo Antônio, Juraci criou lá mesmo o Centro de Humanidades Ossos 21 (por ser localizado na Rua dos Ossos nº 21), onde promove cursos, oficinas e eventos ligados à valorização da cultura afrobaiana.
“A medida que fui tomando consciência de que o Estado Brasileiro nasceu escravista e não cuida de nós, negros, resolvemos entrar em campo para cuidar de nós mesmos. O centro é uma realização coletiva pois ‘Eu sei, só não consigo nada, paralela sem fim, nua rua, reta crua dá em nada’, como diz Nelson Maca. Acredito que o Centro cumpre o seu papel buscando dar aos nossos, negros, formação de pessoas cidadãs capazes de andar com suas próprias pernas”, afirma.
Em um tempo estranho, onde há pessoas que insistem afirmar que não existe racismo no Brasil, Juraci acredita que há pelo menos duas razões para este tipo de comportamento.
“É porque alguns usam isso como conveniência exploratória, enquanto outros não têm um olhar crítico. A canção Por que é Assim?, de minha autoria e Luís Bacalhau, diz: 'Vieram da mesma origem do mesmo coro, do mesmo DNA. Pense neste fato, por que um é chinelo e o outro sapato?'. A engenharia do racismo leva-nos a vê-lo como algo natural e não cultural, Basta olharmos para o topo das pirâmides: econômica, social, educacional etc, para vemos que o Brasil é racista", dispara.
"Um dos grandes exemplos de crueldade da Casa Grande, o Estado Brasileiro, é quando insiste em reduzir a maioridade penal, ônus que recairá somente sobre nós, negros. O estado sabe que educando resolve os males da sociedade, mas não o faz para continuar aumentando a riqueza alicerçada na exploração”, conclui.
Juraci Tavares: Dez Anos de Música e Poesia Afro Diaspórica / Sexta-feira e sábado, 19h30 / Teatro Sesc-Senac Pelourinho / R$ 20 e R$ 10
NUETAS
O Quanto Vale o Show? de hoje é a Noite da Trinca Literária,com Todo Meu Ódio (banda punk de Shinna,da Pancreas) e Professor Doidão & Os Aloprados. Dubliner’s, 19 horas, colaborativo.
Muddy Town quinta
O country blues arretado da Muddy Town é a atração de quinta-feira na Tropos. 21 horas, pague quanto quiser.
Esqueleto, Laia
ExoEsqueleto & Laia Gaiatta temperam o som na Rango Vegan (Pelô). Sexta-feira, 19
horas, R$ 10, R$ 15 (lista).
Cine Horror na RV e na Walter
Off topic: mostra Cine Horror, não perca que a programação está assim... um horror! (No bom sentido, claro!) www.cinehorror.com.br.
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