quarta-feira, fevereiro 19, 2020

PRETO, PESADO, NORDESTINO E VIRADO NA PORRA

Boa promessa do rock baiano, Agrestia estreia no Palco do Rock neste domingo

Agrestia em ação, foto Cycero Tavares
O fatídico 31 de agosto de 2016 – data do golpe jurídico-parlamentar que nos legou um país em estado de desmonte e vale-tudo institucional – foi também o dia em que o guitarrista Adrian Knock Down se reuniu pela primeira vez para tirar um som com Jiraya (baterista) e Paulo Porciúncula (baixo).

“O Agrestia nasceu num clima de tensão política”, percebe Adrian. Não à toa, as letras da banda são todas no estilão “dedo na ferida”.

Neste domingo, o quarteto soteropolitano se apresenta no festival Palco do Rock, podendo muito bem fazer um dos melhores shows desta edição – a categoria demonstrada em singles como Força!, Curandeiro e Tragédia Em Todo Gueto os credencia para isso.

Reformada em 2018 com Adrian, Alesandro Colonnezi (bateria), Daniel Moura (baixo) e o ex-baixista Paulo assumindo os vocais, a banda parece ter encontrado um bom caminho ali entre o Sepultura (Paulo manda muito bem na linha Derrick Green) e sua veia rebelde negra e nordestina.

" Com essa formação, desde janeiro de 2019, o Agrestia deu um salto qualitativo, amadurecendo a sonoridade numa crescente e constante evolução. Nosso lance regional tem muito mais a ver com a atitude, o discurso, o texto das letras, e a identificação com a cultura nordestina. Somos uma banda de rock pesado da Bahia, Nordeste, e as conexões com elementos musicais regionais surgem de forma natural nas nossas jams experimentais, não há uma obrigação em ter que soar de tal forma, mas esse sotaque é quase inevitável, é espontâneo”, conta Adrian.

“Apesar de todos os integrantes terem mais de 40 anos, somos uma banda muito nova. Iremos lançar nosso primeiro EP este ano. O que a Agrestia quer é ter relevância com seu som e as mensagens. Podemos ser um Raimundos mais sério, uma Nação Zumbi mais pesada, um Faith No More nordestino, um Sepultura mais leve, um Zé Ramalho distorcido ou tudo  junto”, emenda o baterista Alesandro.

Olodum agreste

O quarteto na selfie do batera Alesandro Colonnezi
Fortemente politizada, a banda reflete em suas letras o pensamento dos seus integrantes sobre o atual momento sócio-político do Brasil.

"O país está sendo governado pelo que existe de pior. O presidente foi eleito à custa de fake news, ódio e ignorância. É claro que não poderia dar certo. O resultado tá aí pra todo mundo ver. Cresce a intolerância, o desrespeito, o radicalismo e a estupidez. Há uma legião de brasileiros que se auto intitulam cidadãos de bem e patriotas, se sentindo cada vez mais à vontade para agirem de forma cretina e violenta. O judiciário se tornou um partido político de extrema-direita, as instituições públicas estão cada vez mais desacreditadas. A economia em estado de crise permanente - não há diretrizes, planejamento, nada. Reformas foram feitas em nome e benefício do poder econômico e são verdadeiras tragédias para o trabalhador e os desvalidos. A educação, um caos completo e absoluto. Cultura ganhou status de peçonha e malefício. Recorde de queimadas na Amazônia, óleo nas praias, desemprego, crescimento da fome e da pobreza, um pandemônio. A impressão que se tem é que ninguém ali tem a mínima noção do que está fazendo. Desconhecem completamente o que é o Brasil e seus gigantescos problemas. O ministério é um congraçamento de sabujos e beócios. Some-se a isso os casos obscuros envolvendo o presidente e seus filhos. Acho que podemos dizer em claro e bom tom que somos governados por milicianos do escritório do crime. Só Sérgio Moro não vê isso. O comportamento humilhante desse sujeito é praticamente um espelho para o 'cidadão de bem'. Inclusive, estamos na fase final de gravação de uma música com esse tema, em breve estará disponível nas principais plataformas digitais. Ao menos pra ser ridicularizado o cidadão de bem' tem serventia", analisa Colonnezi.

No PdR, o quarteto promete um show surpreendente, com direito a uma homenagem ao Olodum – algo inusitado, em se tratando de PdR, mas muito bem-vindo.

“O Palco do Rock é uma oportunidade de nos apresentarmos para um público maior, estamos ansiosos para sentir como essa galera vai responder ao nosso som. Tocaremos oito músicas: sete autorais e uma versão completamente diferente de um clássico do Olodum! Vamos aproveitar para gravar o show com o intuito de lançar nosso primeiro material audiovisual ao vivo. Na nossa visão este festival poderia ser bem maior e melhor, algo até de nível internacional, mas com o recurso disponibilizado para o projeto, uma verba ridícula”, afirma Adrian.

“Sem dúvida, será uma experiência de grande valor para a Agrestia. É a nossa primeira vez no Palco do Rock, e queremos deixar nossa marca. Preparamos um set list enxuto, mas bastante vibrante, pesado e agreste (risos). O tempo de apresentação é curto, vai ser uma porrada atrás da outra. O público pode se preparar pra receber aquele tapão de mão aberta no pé do ouvido, no bom sentido, é claro. O Palco do Rock é uma grande vitrine. Muita gente já passou por ali, é uma espécie de ritual e requisito pra quem quer fazer rock pesado em Salvador e na Bahia. Tem que passar pelo Palco do Rock, que antes de qualquer coisa, é representação de resistência. Um festival que já está aí há 25 anos fazendo um contraponto ao axé em pleno Carnaval na terra do axé. Isso tem grande significado e importância. Claro que existem  críticas, mas preferimos elogiar”, conclui Colonnezi.

Agrestia no Palco do Rock / Domingo,  17h / wwwfacebook.com/agrestia.rock



NUETAS

Alopre-se no BB

O Circuito Tony Lopes – leia-se Bardos Bardos – bota na avenida o Grito de Carnaval da casa com show do Professor Doidão & Os Aloprados. Quinta-feira, 19 horas, colabore.

Destaques PdR ‘20 

Então é Carnaval, e o Palco do Rock ressurge em meio aos coqueiros de Piatã. Infelizmente, até o  fechamento da coluna, a produção ainda não havia divulgado a grade completa das 40 atrações previstas. Pouco mais da metade foi anunciada. Vamos ao que interessa. Além da Agrestia aí do lado, recomendamos Dona Iracema (uma das melhores coisas do rock baiano recente), Drearylands, Marília Gabriela (SP), Electric Poison, Maldita (RJ), The Cross, Bruma. Oxalá daqui até sexta-feira sai a grade completa. De sábado até terça-feira de Carnaval, no Coqueiral de Piatã, 17 horas, gratuito.

9 comentários:

Yoga Santosha disse...

Show!!!! Agora é tempo de AGRESTIA!!!!!!

Anônimo disse...

Boa Banda!!!
Energia e Atitude... vale a pena conhecer!!!

Deko disse...

Excelente Banda. Som pesado, com letras inteligentes e muita atitude. Força Agrestia. Parabéns Rock Loko, pela matéria.

Vinicius disse...

AGRESTIA é aquela explosão que esperamos do Rock Pesado, atitude, letras pesadas e inteligentes, sou fã dessa banda.

Gisa disse...

Som irado! Instrumental gritante e letras vibrantes, guitarras distorcidas com pedais pesados passando verdades na cara dos desavisados! Tapa na cara!! Show!

Anônimo disse...

Excelente banda! Letras e instrumental muito bons!

Kinha disse...

Excelente banda, composições de alta qualidade!

Unknown disse...

Empolgante matéria! Na espectativa para vivenciar essa experiência do rock da AGESTIA! Tô colada!

Unknown disse...

É disso que precisamos. A música como forma de protesto político, tão esquecida em nosso país. Fico feliz com a iniciativa. Vida longa a banda.